Crítica | Lance Livre
A história de Lance Livre mostra Mike O’Hara (David Stern), um torcedor fanático do Boston Celtics, que divide sua vida treinando basquete com crianças e tentando resgatar o seu casamento que está por um fio, além de também apresentar Jimmy Flaherty (Dan Akroyd), um encanador fracassado e fanático por toda sorte de estatísticas envolvendo esportes. Os dois têm em comum não só o infortúnio da péssima situação financeira e pessoal, mas também a paixão pelos Celtics e o lamento pela demolição do velho estádio do time, Boston Garden, que ocorreria no ano em que se passa a história. Em paralelo a apresentação dos dois amigos, também conhecemos um pouco das ações da famoso jogador do Utah Jazz, Lewis Scott,interpretado por sua vez por Damon Wayans.
Já no começo do filme se nota a paixão pelo time não só nos personagens centrais, mas na comunidade como um todo. Em menos de quinze minutos se referencia as camisas 33 do jogador Larry Bird, os comentários do ex-pivô Bill Walton, entre diversas outras marcas caras a franquia. Boston vive para os Celtics, e o nome original da obra de Tom DeCerchio, Celtic Pride não poderia ser mais repleto de significado.
Wayans mostra alguma habilidade em quadra, e principalmente, frieza, nervos de aço e controle absoluto da situação, ao ponto até de soar como um manipulador, aspecto que seria explorado mais à frente no contato direto com os protagonistas. A câmera registra o jogo com entusiasmo e uma nítida paixão pelo esporte, conseguindo ainda driblar a dificuldade de filmar lances rápidos de perto fazendo uso largo de Slow Motion. Mesmo sem um primor visual, não há praticamente decepção nenhuma nessa condução.
Esse é um filme dedicado a torcida, a superstição e ao valor do trash talk, elementos que não tem muito relação com a habilidade dentro de quadra. O chamado à aventura trata exatamente desse fanatismo, quando os dois homens de origem irlandesa resolvem ir até uma boate, fingir odiar o time do quão são fanáticos, para beber e ter com Scott, após ele acabar com o time deles. Lá, eles se põem a prova, tanto no instinto de se embebedar, quanto como torcedores da franquia, não podendo sequer mostrar para Larry Bird o quanto eles admiravam seu jogo.
DeCerchio conduz bem a comédia e o nonsense presente na obra, e toda a loucura deles só faz sentido pela entrega de Akroyd, Stern e Wayans. A química dos três é absurda. O final do filme tenta agregar, apelando para o sentimentalismo da família dos personagens centrais, mostrando que existem coisas maiores que a paixão por um time, franquia ou esporte. O dito popular ao referir-se ao futebol diz que ele é das coisas menos importantes, a que mais importa, e certamente Lance Livre dá a paixão pelo basquete a mesmíssima sensação.