Crítica | Rodman: For Better or Worse
Antes do documentário Rodman For Better or Worse começar, o diretor Todd Kapostasy conversa diretamente com o espectador, como é bem comum nos longas da série 30 for 30 da ESPN, onde ele fala sobre a imagem do ex Ala-pivô Dennis Rodman e como ele é uma figura além das paródias a que ele é atribuído, mostrando o quão complexo ele é. A proposta é ousada e rivaliza com a personalidade do astro do Detroit Pistons e Chicago Bulls, que brinca com sua origem e com o formato edificante desse tipo de filme.
O início do filme mostra atores, um mirim, um adolescente e um adulto, andando de costas, pelos cenários onde o jogador fez sucesso e por onde passaram seus dias mais sombrios também, e a narração do ator Jamie Foxx ajuda a dar um tom ainda mais dramática para essa jornada louca e viajante que seria apresentada.
Em determinado ponto, o filme volta a fórmula típica desse tipo de filme documentário, resgata a infância onde o jovem Dennis, ainda sem altura, que pulou de 1,75 para mais de dois metros, se vestia de mulher e sentia prazer nisso, a diferença deste para Fab 5 ou Free Spirits, é que o ritmo é mais frenético, e a narração de Foxx o faz parecer mais fluído e até faz simpatizar pela figura de Rodman, então o simples decorrer de uma conversa sobre a época de faculdade do rapaz em Southeastern Oklahoma parece mais interessante, e o coloca ao lado de O Efeito Carter.
A parte em se estuda a transição de Oklahoma para Detroit soa até poética, e as comparações de seus primeiros anos como jogador ( onde se jogava de maneira irresponsável na bola e nos adversários) com 2001 de Stanley Kubrick é tão louca em ideia que chega a funcionar, afinal o modo como se entregava em quadra era tão misterioso quanto vários dos plots pensados por Kubrick e Arthur C. Clarke, e se precisava de tanto contexto para entender seus intentos quanto se necessitava para entender como funcionava sua mente ainda jovem, entre outros fatores, por ele agir como uma criança, já que não teve infância.
Esse filme conversa bem demais com o Os Bad Boys de Zak Levitt, também da iniciativa 30 for 30, que destaca todo o desempenho do primeiro apogeu de Rodman, nos Pistons, e as muitas vitorias deles sobre o Bulls de Michael Jordan. Há um tom muito confessional nesta obra, Rodman e os entrevistados falam muito sobre sua condição emocional conturbada, sobre os problemas com sua filha, sobre as frustrações no Pistons e até sobre o quase suicídio. A brincadeira com as cores de cabelo diferente, primeiro em sua estréia no San Antonio Spurs, após ver o visual de Wesley Snipes em O Demolidor, e depois em diversas colorações eram só uma das demonstrações de vida desregrada e divertida que levada, até os ídolos da franquia como David Robinson falam bem dele, pois após esses desafogos emocionais ele voltava a jogar em altíssimo nível.
Todo o episódio sobre Madonna é incrível, tanto na repercussão da época, como o mostrado no filme. Os motivos que fariam dele alguém interessante para a rainha do pop era o fato dele ser incomum, iconoclasta e rebelde. Ela invadiu a concentração do time antes da final de 93/94. A maioria dos amigos encara que ele só se tornou um personagem da cultura pop graças a cantora.
De certa forma, isso não é mentira, pois foi depois dessa relação que ele falou sobre suas visitas a bares gays, sobre se sentir a vontade em vestir roupas femininas. Toda essa falação acontecia no meio da disseminação primária da Aids. A forma como a vida pessoal e dentro de quadra se equivaliam em questões de fama, a vida de Rodman era sempre muito animada e repleta de emoções fortes, seja nos rompantes de violência e anti jogo, ou quando colocava o jogo no bolso ou quando falava a imprensa, ele parecia sempre buscar atenção, mesmo que fosse de um jeito destrutivo.
A edição que Kapostasy emprega aqui faz questão de colocar todos seus amigos – incluindo o ex pivô Robinson – falando em sequencia, “não sou psicólogo, mas…”. As pessoas o julgavam muito, e nem era por maldade, talvez fosse um mecanismo de defesa. Seu futuro era incerto, e curiosamente a chegada dele a Chicago, sobre a batuta de Phil Jackson seria uma outra boa chance a sua carreira, mesmo que Scottie Pippen, o segundo astro do time, fosse contra por conta da rivalidade com ele dos tempos de Detroit, para além até de sua reputação. É curioso notar que foi Michael Jordan que falou a esse respeito, que detalhou até as reclamações de Pippen, e deve ser ainda mais surpreendente para o espectador que não sabe o quão certo deu a combinação dos Bulls com Dennis.
A Rodmania foi um fenômenos estranhíssimo e muito engraçado, ele era um astro multimídia, até maior que o maior jogador da historia, um superstar que em quadra, passava a bola para o maior de todos os tempos, mas que concentrava ainda mais holofotes que seu referencial técnico.
O mesmo sujeito que era capaz de malhar pós jogos em Chicago e logo depois tomar uma dúzia de cervejas, praticava excessos, ao ponto de ter livre transito na Coreia do Norte e acesso direto a Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Os excessos e emoções de Rodman são muito bem retratados por Kapostasy, seu espírito livre é muito louvado pelos amigos, pelos parentes e por quem o admira e o admirava. Toda a mística em torno do ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, referente a roles aleatórios serve para exemplificar como foi e é a vida de Rodman dentro e fora das quadras, da maneira ainda mais exemplar, e Rodman For Better or Worse traduz em tela muito bem, em seus pouco mais de 100 minutos.