Crítica | Fúria Incontrolável
Um dos primeiros filmes lançados nos cinemas após o relaxamento das medidas de segurança contra a pandemia, Fúria Incontrolável se pinta como um novo Um Dia de Fúria no seu trailer, ainda que a tal fúria seja direcionada a uma só pessoa. Logo que o filme se inicia, já fica claro que a situação é muito mais grave do que se imagina em um primeiro momento. O que se sucede após isso, é um filme frenético com uma atuação assustadora e onipotente do sempre ótimo Russell Crowe.
Na trama, Rachel é uma mulher que está tendo um dia horrível. Ela acaba de perder sua maior cliente, seu ex-marido a ameaça com o pedido de guarda do filho do ex-casal, ela se atrasou para levar o garoto para o colégio e ainda precisa lidar com questões de saúde da sua mãe. Quando pega um caminho alternativo para chegar mais rápido na escola do seu filho, se envolve em um pequeno incidente de trânsito com o personagem não identificado interpretado por Russell Crowe. Ao se recusar a pedir desculpas ao homem, passa a ser implacavelmente perseguida por ele.
Já nos créditos iniciais, uma montagem de fatos e eventos mostra a deterioração das relações humanas, além da escalada da violência. Fazendo analogias, as personagens de Crowe e Caren Pistorius funcionam como representações do que é mostrado nos créditos. Entretanto, o roteiro de Carl Ellsworth falha ao não explorar o máximo que essa premissa permitiria. Ao se resumir como um grande jogo de gato e rato, o filme perde profundidade, ainda que se mostre divertido. As situações vão se sucedendo em ritmo vertiginoso, sem dar tempo para o espectador respirar. Porém, ao se aproximar do final, uma razão para a fúria do Homem fica como uma tentativa de justificar o injustificável, ou pior, procuram estabelecer uma relação de empatia entre o espectador e o maníaco.
A direção de Derrick Borte tem mão pesada em muitos momentos. A premissa fica subdesenvolvida em favor de um filme frenético. Nesse ponto, temos que elogiar o diretor. As sequências de ação são carregadas de tensão e fazem o espectador ficar colado na cadeira. Outro ponto muito bem explorado são as atuações dos protagonistas. Devido ao filme ser 85 por cento centrado somente neles, seria fácil que o espectador ficasse entediado. Ao contrário, a onipotência de Russell Crowe, aliada à sua atuação fantástica fazem do psicopata ser quase uma força da natureza. Nem mesmo a sequência final que parece saída de um filme slasher é demérito aqui. Já Pistorius se sai muito bem como a vítima da fúria do antagonista. Sua saída do status de mocinha em perigo para alguém que sabe revidar ocorre naturalmente.
Mais um desses casos em que um roteiro com potencial é mal desenvolvido, Fúria Incontrolável acaba servindo como uma boa diversão escapista para uma tarde tediosa de sábado. Apesar da brutalidade contida no filme, a falta de profundidade do roteiro faz com que seja esquecido em breve, ficando apenas o divertimento.