Resenha | Divinity
A visualmente belíssima história de Divinity, nos faz lembrar de muitas coisas – muitas mesmo. Que, se o ser humano não fosse tão ignorante, sua ambição poderia ser melhor aproveitada, ou que nunca aprendemos (de fato) com os nossos erros. Divinity enviado ao espaço, aonde nenhum homem jamais foi, um Star Trek de um cara só, pelo governo soviético, a fim de compreender o funcionamento e os segredos do universo antes dos Estados Unidos. Uma missão política de trinta anos, a bordo de um foguete, nos rincões mais assustadores das estrelas. E o que poderia ser um conto de ficção científica bem-sucedido para o currículo profissional de Abram Adams, acaba se tornando uma nova vida para ele – bem aos moldes de um Dr. Manhattan, personagem de Watchmen, menos poderoso e frio. Antes, um homem, agora, um Deus onisciente e cheio de coração.
Porque a gente nunca aprende. É claro que a missão poderia dar errado, arriscar a vida de um homem, mesmo sendo muito inteligente e fisicamente saudável, numa viagem tão longa dessas em território desconhecido. Divinity é uma história do Astronauta, do Maurício de Sousa, levada a sério, e com uma carga dramática realmente densa, muito influenciada por Arthur C. Clark, e outros mestres da ficção científica. Abram deixa sua esposa e sua filha (prestes a nascer) e sobe numa linha reta, sem parar, passando pelos planetas e rumo as fronteiras da nossa “pequena” galáxia – tudo pela Mãe Rússia, servindo a um governo que expõe seus melhores cidadãos ao cosmos (que consegue ser mais perigoso que qualquer um de nossos sete mares). E lá vai Abram, que ao se expor a uma espécie de supernova (alô, Quarteto Fantástico), recebe poderes psíquicos além até dos sonhos de Dalí.
Agindo como um carma à ganância do homem (que em sua maioria, ao errar, faz todos pagarem o preço), Abram retorna a Terra como uma ameaça aos governos do mundo, que logo precisam reunir alguns dos seres mais poderosos do universo da Valiant Comics, para parar Abram, que está mais solitário que um nerd dos anos 80. Neste ponto, a criação de Matt Kindt, e cia, flerta com a filosofia sem se aprofundar demais no debate, de forma rápida mas interessante e divertida, sobre questões como livre-arbítrio, culpa, responsabilidade e política, temas que fazem de Divinity uma boa experiência de leitura, exuberante sobretudo nas soluções visuais modernas e dinâmicas de Trevor Hairsine. Uma boa alegoria de fantasia, ainda que com gosto de aperitivo, para com as consequências de se usar alguém de forma desmedida para conseguir o que se quer. Governos fazem isso o tempo todo. Principalmente isso.