Crítica | Inocência Roubada
Os problemas psicológicos da protagonista são explorados aos poucos, ela toma aulas de dança, de balé e tem algumas complicações de aprendizado, principalmente quando se trata de dançar com um par que a toque, mas o filme é conduzido de um modo que não deixa explicitas as dificuldades da personagens, tampouco subestima o seu espectador, ao contrário.
O drama mostra Odette conseguindo se relacionar sexualmente com as pessoas, e varia entre os momentos de apogeu, nos palcos, com muita luz, música e uso contínuo de alucinógenos, e na preparação para os espetáculos, com rotinas de viagens e ensaios maçantes, e essa mudança severa de rotina obviamente afeta a mulher, que não sabe como conviver com estilos tão diferentes de vida que abarcam a prática que a faz se sentir um indíviduo, pois mesmo em meio a essa correria.
A metade final se dedica a desdobrar a montanha russa emocional que envolve o julgamento dos culpados. Tudo que não toca Odette é muito frio e específico, prima pela legalidade ou pela busca de justiça, que vez ou outra carrega emoção mas que vive predominantemente no campo da argumentação. Odette não, seu corpo é um canal para a arte, seu extravaso envolve a dança e a música, mostrando uma clara evolução da personagem, pois o mesmo receptáculo que antes foi alvo de assédio e vilipêndio, agora é receptor de algo inspirador, bonito e comovente, a dor não é mais predominante ali e o filme faz questão de descartar qualquer possibilidade de afirmar que o estupro pode fortalecer a mulher, obviamente.
Inocência Roubada é um filme emocional cujo início não é tão empolgante, mas melhora drasticamente do meio para frente, a participação de Bescond como diretora e protagonista funciona bem e só se crê no drama que se estabelece por conta da participação dela e da composição de Odette, uma vez que o filme contem somente essa nota.