Crítica | Um Lindo Dia na Vizinhança
Um Lindo Dia da Vizinhança é uma cinebiografia, conduzida por Marianne Heller, de Poderia Me Perdoar? e O Diário de Uma Adolescente, que se debruça sobre a história do criador do programa infantil, Mister Rogers’ Neighborhood, veiculado durante décadas na TV norte-americana. Seu início se dá com uma cantoria, onde Tom Hanks, vivendo o apresentador Fred Rogers, começa cantando no cenário super falso do programa, onde se nota que quase tudo que o compõe é simplesmente de isopor e tinta barata.
Já nesse início, é referenciado o jornalista investigativo Lloyd Vogel, interpretado Matthew Rhys, como um sujeito amargo e cínico. Ele dentro do filme é a representação do personagem real, Tom Junod, e sua introdução é bastante humanizada, como a de um sujeito com problemas reais. O seu drama é introduzido do mesmo modo didático com que Fred apresenta seu programa.
A premissa do filme é bastante simples. Lloyd é levado pela revista Esquire a entrevistar e traçar um perfil do apresentador Fred Roger, buscando uma faceta distante das telas da TV, tentando se afastar da figura amorosa e afável de seus programas, mas aparentemente Rogers é realmente uma pessoa livre das imperfeições inerentes aos seres humanos, amado por todos e livre de maiores complexidades. Os que orbitam em torno dele dizem que não gostam da terminologia Santo, especificamente, para o apresentador, mas ele é quase isso, um sujeito que parece estar acima das incapacidades humanas, capaz de inspirar o melhor de nós.
A forma como o roteiro brinca com essa perfeição de faz de contas é bem inteligente, em especial quando Vogel se vê confrontado pelas suas prioridades, em um número que faz lembrar os momentos clássicos do programa do Chapolin Colorado. A forma como isso é mostrado é bem inteligente e repleta de significado.
Hanks é uma pessoa tão afável que é difícil não se afeiçoar por seus personagens, mas no caso de Rogers, se vê uma figura facilmente associável ao heroísmo, mais até do que foi o seu Walt Disney, em Walt nos Bastidores de Mary Poppins. Este Um Bom Dia na Vizinhança acaba variando bem entre a docilidade ingênua e o pragmatismo agridoce típico da vida adulta, mostrando um pouco da vida de um homem que sempre buscou ser uma figura inspiradora, e que dentro de seu microcosmo conseguiu, resultando não só em um legado real, mas também em um filme sobre sua vida que encanta, em especial nas cenas de créditos que mostram a construção dos seus cenários, acompanhados de uma música executada pelo Fred Rogers real.