Crítica | Spring Breakers: Garotas Perigosas
Spring Breakers é uma tradição no verão americano, capitaneada por emissoras de segmento juvenis, onde são exploradas imagens de moças semi-nuas se exibindo, bebendo e se entorpecendo, e a chamada de Garotas Perigosas é exatamente essa: a de mostrar musas teenagers como Vanessa Hudgens, Rachel Korine, Ashley Benson e Selena Gomez com pouca roupa se esfregando para a tela.
Logo de cara há uma tentativa através dos signos de associar esse estilo de vida banal ao desespero suicida desta geração pós-criação da MTV, com uma das personagens chupando uma pistolinha d’água. Os belos corpos curvilíneos das quatro protagonistas contrastam com a tristeza que têm por não conseguir a inscrição para o festival de verão. A falta de ambição e ausência de objetivos faz das suas trajetórias caminhadas vazias, caso não alcancem o que querem. O motivo é estúpido e insípido, mas as influi a correr atrás disso a qualquer custo – mesmo que tenham que se inserir em ramos de atividade marginal.
A edição, variando entre o estereótipo do videoclipe dos anos 90 e o do cinema autoral/independente americano, é confusa e não encontra seu ponto ideal durante o filme. O ponto que Harmony Korine defende não é definitivo, ele não escolhe lado, só registra as imagens, como se documentasse o modus operandi das “virgens” suicidas. O filme vai por uma vertente mais séria e opta por abordar algo de forma a fazê-lo parecer uma denúncia, que entrega todas as motivações fúteis de seus personagens, isso o torna deveras pretensioso.
As cenas de farra são filmadas de modo depressivo, não há glamourização, só a explicitação da decadência e vulgaridade, quase sempre partindo da ótica do sóbrio, a câmera analisa a história como um sujeito sóbrio vendo toda a vergonha que alguém ébrio é capaz de produzir, seja por atitudes impensadas e movidas a álcool como também os atos relacionados a ilegalidades. O lifestyle bandido é julgado moralmente o tempo todo e isso é um bocado incômodo.
Há tantas semelhanças com Sucker Punch que chega a ser bizarro, dado o fato de que os gêneros dos dois filmes é completamente diferente. Os paralelos passam pelo grupo de quatro beldades em trajes sumários, mas que não apelam para a nudez, a temática pesada disfarçada com corpos esculturais, a dificuldade em passar ao público a mensagem de denúncia, a protagonista religiosamente resignada que teme sempre pelo pior. Os erros são muito parecidos com os da pérola de Zack Snyder, mas não é tosco e nem tão equivocada quanto, e nem é tão insuportável, mas é até mais pretensiosa.
A nudez, protegida em quase toda a duração do filme só é mostrada em tela em um momento de fragilidade das moças, onde os antigos planos de dominação escoam ralo abaixo – como já se podia prever. As cores quentes e vivas dos biquínis das moças contradizem o estilo de vida bandida que escolheram para si, esse jogo de cena é interessante, mas ainda é pouco.
Korine em alguns momentos até emula o modo de abordar a pequinês do homem como Terrence Malick, além de copiar o registro visual de Scarface de De Palma, louvado e reverenciado por toda a extensão da fita. A proposta é confusamente executada e o roteiro tenta se valer de uma erudição que não combina com o produto final. Korine, acostumado a trabalhar com histórias envolvendo marginalidade juvenil não acerta tanto quanto no passado, especialmente como no roteiro de Kids, Larry Clark. A impressão é de que Harmony ainda precisa amadurecer como realizador se quiser fazer filmes nessa toada, visto que sua premissa era interessante mas a execução ficou aquém do ideal.