Crítica | Fernando
Dirigido por Igor Angelkorte, Julia Ariani e Paula Vilela, o documentário Fernando tem uma forma pouco pragmática e bastante lírica, o filme se debruça sobre a vida e carreira do personagem-título, um professor do alto dos seus 74 anos que tenta passar sua mensagem e verve para seus alunos de teatro, enquanto tem que conviver com uma enfermidade mental e com as dificuldades comuns a qualquer brasileiro comum.
A abordagem não faz floreios, é direta ao ponto e narrada pelo próprio biografado. A câmera passeia pelas fotos antigas da família do mesmo. Emulando o estado de espírito de Fernando, o filme não demora a mostrar seu método e seu preparo de elenco, com dinâmicas sinceras, diretas, secas e com atividades intensas e até curiosas em alguns pontos. A maneira como a câmera se aproxima dele é tão intima que até desfoca nos closes, mostrando um homem entregue ao seu oficio, mas ainda imperfeito.
O filme é curto, tem pouco mais de 70 minutos, e dribla incrivelmente bem a monotonia que normalmente recai sobre produtos mais contemplativo. O ritmo frenético dele facilita essa sensação, além é claro do obvio carisma do protagonista.
Há um predomínio grande de espaços curtos explorados pela câmera, Fernando é muito tangível, vive em uma casa pequena, bem aconchegante mas também muito curta. Ele e seu parceiro dividem uma cozinha quase cubicular, que mal dá para ambos se locomoverem sem esbarrar um no outro. As noções de privacidade se confundem com as de intimidade e mesmo sem haver juras de amor nota-se uma cumplicidade tão grande que faz até as partes ficcionais parecerem reais.
Uma das partes mais ricas da exploração dentro do longa é a amostragem de Fernando montando seus personagens, se baseando em arquétipos de temperamentos, dos quatro elementos (água, fogo, ar e terra) e até os cavaleiros do apocalipse, variando claro dentro dessas classificações. A sensação de que um dia acabará é dita com todas as letras pelo mesmo, e ele usa uma boa analogia, de que está em uma fila, que já pegou sua senha mas está deixando as pessoas passarem na sua frente. Essa sensação de finitude, por mais clichê que possa parecer, é executada de maneira tão emocional que ganha uma profundidade natural, que foge por completo da artificialidade e do apelo ao clichê.
Fernando termina sem claque, tal qual a vida real e ao menos nesse momento, ele larga o caráter hibrido meio ficcional para ser só documental, mas sem abrir mão do lirismo e do naturalismo que fizeram de si um produto tão único e singelo, simples em execução mas muito arrojado em discussão dos conceitos básicos da vida.
Facebook – Página e Grupo | Twitter| Instagram | Spotify.