Crítica | Bons Meninos
A comédia adolescente e de jovens adultos é um tema explorado exaustivamente pelo cinema americano. Se antes tínhamos filmes com temática exclusivamente sexual como Porky’s e American Pie, nos últimos tempos ganhamos alguns ótimos exemplares como Superbad, filme da mesma equipe criativa de Bons Meninos, que apesar de ter como ponto de partida a perda de virgindade de um trio de amigos, acaba sendo um agridoce filme sobre crescimento, amadurecimento e a perspectiva de uma vida adulta. Já em Bons Meninos, temos uma comédia de pré-adolescentes e o ponto de partida é um pouco mais brando: a molecada só quer aprender a beijar na boca e ser legal aos olhos dos colegas. Porém, nem por isso os roteiristas Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky pegaram leve.
A trama do filme coloca o engraçadíssimo trio formado pelos garotos Keith L. Williams, Jacob Tremblay e Brady Noon em uma encruzilhada: eles foram convidados para uma festa na casa do garoto mais popular da escola onde haverá uma brincadeira que pode levá-los ao primeiro beijo na boca. A partir daí, começa uma jornada que envolve vizinhas mais velhas, um drone, drogas, brinquedos sexuais, a descoberta da pornografia, um encontro com um policial numa loja de bebidas e até uma grande briga com membros de uma fraternidade de uma universidade. Tudo isso entrecortado com diálogos impagáveis entre os três e um ou outro conflito.
O primeiro terço de Bons Meninos é um pouco problemático. A narrativa parece estar com o freio de mão puxado, visto que a edição faz com que o filme pareça uma série de esquetes cômicos e as piadas ficam jogadas na tela, ainda que sejam engraçadas, tanto pelo texto quanto pela molecada falando uma série de atrocidades (o que por si só já é engraçadíssimo). Não há contexto estabelecido e fica uma impressão de que o filme não vai pra frente. Porém, a partir do segundo terço, tudo passa a se desenvolver de forma mais fluida e o filme engrena de vez. Os diálogos e situações vão se tornando cada vez mais impagáveis e fica perceptível o amadurecimento do trio no curto espaço de tempo em que a trama se desenvolve e desemboca em um final que além de emocionar, provoca reflexões.
O roteiro de Greg Stupnitsky e Lee Eisenberg trata os garotos de uma forma bem especial. Em nenhum momento eles são infantilizados. Toda a ingenuidade dos garotos é vista de uma forma quase que reverencial, sendo tratada até mesmo como esperteza e sabedoria em vários momentos, principalmente naqueles que envolvem sexo e o uso de drogas. Isso deixa faz com que o espectador se encante por eles ao mesmo tempo em que dá risada de tudo. O elenco não poderia ter sido melhor escolhido: tanto o trio de protagonistas quanto os seus colegas de escola são impagáveis nas atuações, enquanto que os adultos também tem momentos hilariantes.
Não fossem os problemas de ritmo no início do filme, Bons Meninos seria praticamente perfeito, pois toca em temas espinhosos como abuso, bullying, minorias e feminismo utilizando-se de diálogos e situações dotadas de uma carga crítica e que vão direto na ferida, apesar de serem engraçados, sem usar de caráter panfletário para tal. De qualquer forma, Bons Meninos é um grande filme e uma comédia das mais inteligentes.
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