Crítica | Braddock: O Super Comando
Nos anos 80, os heróis do cinema eram os brucutus das fitas de ação, filmes esses cuja violência e combates eram desenfreados, onde homens musculosos e de aparência desleixada (a maioria tinha cabelos grandes e barbas que cobriam todo o rosto) que agiam basicamente como atiradores loucos, que mantinham metralhadoras na altura do abdome. Esse resumo prova que tudo que era feito era o exato oposto do que um soldado de verdade faria, e dentre esses, um dos maiores símbolos estéticos certamente é o Braddock de Chuck Norris, junto a John Matrix de Comando Para Matar, que fez Schwarzenegger ser encarado como um homem boçalmente musculoso, e claro, o Rambo de Sly.
Missing in Action é um bom nome, mas a tradução Braddock: O Super Comando acerta demais na ideia de mostrar um exercito de um homem só em ação. O Coronel que Norris vive não é original, há vários personagens iguais a si antes e depois do ano de 1984, que foi quando este chegou ao cinema. A premissa passa pela desculpa de que veteranos da Guerra do Vietnã ainda estariam como prisioneiros do país asiático, e isso serve de pretexto para denunciar um conflito armado extremo onde os “americanos” sofreram e foram injustiçados. Essa derrota estratégica martela na cabeça de Braddock e na opinião pública americana, e essa crença se os prisioneiros existiam ou não era real, fruto de uma paranoia que pegou inclusive figuras famosas como Clint Eastwood e William Shattner. Depois de muito pensar, ele aceita a missão de ir ao país, para tentar provar que ainda existem campos de prisioneiros, mesmo que os burocratas políticos não queira isso.
James Braddock não aceita desaforos, responde aos senadores e superiores, e até se recusa cumprimentar o General Trau (do famoso James Hong, de Aventureiros do Bairro Proibido), um homem que agora é diplomata. Ao chegar, alguns flashbacks ocorrem, aludindo as mesmas questões que motivaram Rambo: Programado Para Matar e Bem Vindo de Volta Frank, com o Justiceiro, mas sem uma lição mais elaborada por trás, aqui, é só ação e ressentimento, como a maioria dos filmes da Cannon Group e Golan-Globus faziam, fitas de ação pura e simples, maniqueístas e pachequistas.
James é um homem compreensivo, fala na língua natal com os inocentes que foram usados para lhe acusar e os perdoa. Em compensação não tem qualquer educação diplomática, maltrata os burocratas e pega uma cerveja na garrafa e a toma no gargalo sem receio de ser encarado como um selvagem. Ele é fruto da paranoia da Guerra Fria, a vive intensamente e seus métodos são esses, até em seu flerte ele é pouco sutil, aliás, ele é canastrão até para fingir um álibi, fazendo uma expressão de quem não tem medo de ser culpado por ter ameaçado de morte uma autoridade local. O roteiro de James Bruner também não é sutil, é expositivo e discute todos os passos de James, principalmente pela boca de Ann Fitzgerald (Lenore Kasdorf), a diplomata que acompanha a excursão a Ásia,
Talvez o maior erro do filme de Joseph Zitto seja o de se levar a sério demais. Braddock é um herói em resgate nada sutil, e nota-se que o filme é barato, dado que as armas e roupas que ele usa não lembram em nada o que utilizavam na época do Vietnã. Ao menos os prisioneiros aparecem sujos e surrados, fato que faz com que haja alguma conexão do filme com a realidade, embora o discurso dos mesmos seja risível e super otimista. Pessoas que ficaram presas tanto tempo jamais pegariam em armas.
A versão dublada do Brasil salva ligeiramente o filme, já que pois tanto Darcy Pedrosa quanto José Santana iam muito bem e tinha vozes mais imponentes que as de Norris, mas nem mesmo isso salva o horror ufanista que é a invasão do discurso oficial das autoridades vietnamitas para a imprensa e para o mundo. O herói forçando a entrada no palácio, com os prisioneiros causa riso, evidentemente, de uma maneira tão tosca que chega a fazer esse Braddock soar charmoso até em seus defeitos propagandistas e nas evidentes dificuldades orçamentárias que o estúdio e produção tiveram, ainda assim, ele se tornou um clássico consideravelmente elogiado por quem gosta do gênero.
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