Crítica | Bullet
Ainda na esteira do já clássico filme B Machete, Danny Trejo usa seu recém adquirido “arquétipo” para estrelar algumas fitas de ação de baixo custo. O preço estimado de Bullet, de Nick Lyon, diretor acostumado com tais produções, é de apenas 3 milhões de dólares, o que logo faz com que o nível de exigência com a película não seja muito alto.
Trejo vive Frank Bullet Marasco, um mal encarado mexicano que aparece em um primeiro momento negociando cocaína e assassinando policiais sem qualquer receio, e logo depois é introduzido no mundo das lutas clandestinas, onde dois homens se enfrentam dentro de uma jaula e a multidão em polvorosa assiste ao massacre, cuspindo, extrapolando os níveis de testosterona e apostando no lendário combatente. Não há muito o que pensar, não há muito espaço para nuances na trama, aparentemente, até que após a malfadada luta, a lente flagra um distintivo policial, que seria a justificativa para total falta de medo mexicano. A versatilidade do policial é surpreendente, pois além de ser um ameaçador tira latino, ainda é um excelente interrogador, que busca resolver a questão de uma trama complicada, envolvendo um facínora, filho do dono de cartel, Manuel Kane (Eric Estabari), cuja execução é retardada em virtude de um rapto da filha do governador.
A trama pode parecer pueril, e ela é. O roteiro de Lyon, Ron Peer, Byron Lester e Mathew Joynes parece ser retirado dos melhores filmes de Steven Seagal ou Jean-Claude Van Damme dos anos 90, mas com as arestas aparadas e sem toda a gordura de pieguice típica das fitas antigas, acrescido é claro de uma edição moderna e muito mais bem elaborada. Os vilões são caricatos, especialmente Carlito Kane (Jonathan Banks, em nada parecido fisicamente com seu filho), pois é o mais estiloso e espirituoso destes, até a escolha do seu figurino é pontual e acertada, ele sequer precisa de uma maior construção de caráter para ser carismático, a essência do tosco está inserida em si. A trilha sonora não é algo extraordinário, mas encaixa perfeitamente nas cenas de perseguição – o único pecado neste quesito é total falta de suspense quanto a vulnerabilidade de Bullet, pois como John Matrix e Mario Cobretti, ele permanece indestrutível.
Como não poderia deixar de ser, a vida de Bullet não é perfeita e ele parece ter sido um viciado em determinado momento da vida, além de um pai ausente para Vanessa (Tinsel Korey), e tenta corrigir isso, cuidando de seu pequeno neto, Mario. Ele cai em uma armadilha das mais mal urdidas e tem o menino raptado, forçando-o a se lançar em uma caçada frenética aos Kane, tendo que lidar com a recaída de sua filha nesse ínterim, e também, com a desconfiança de seus superiores, que buscam a sua prisão, ordenada pelo governador, chantageado pelos bandidos, obviamente.
A questão torna-se pessoal para Marasco, e piora quando ele é encarcerado e tem sua honra manchada, ao ser injustamente acusado de ser um matador de tiras, e decide pôr fim a burocracia do sistema, tencionando fazer justiça com as próprias mãos, sem esperar a autorização dos chefes. Ele consegue a liberdade, em troca de seu distintivo, e parte para a sua jornada.
O já violento método de Frank piora, ele mergulha mais fundo na inconsequência de seus atos, constituindo em si um Dirty Harry ainda mais implacável na perseguição de seus alvos. Sua condição de brucutu é afirmada verbalmente, quando ele nega a ajuda de um amigo, dizendo que este é trabalho de um homem só – uma máxima do subgênero. O embate final é como os clássicos duelos de filmes western, aliado a uma fechadura sentimental, executada com música edificante. Não há nada demais na feitura do filme, e é óbvio que ele busca pegar carona em outras produções mais caras, mas dos produtos caça-níqueis, lançados direto para o mercado de home vídeo, Bullet é bem competente em sua proposta de ser um action movie descerebrado, ainda que se saturar de gordura ao vê-lo seja algo desaconselhável.