Resenha | A Cozinha: Rainhas do Crime
Conhecido no Brasil por conta de sua versão em longa-metragem (Rainhas do Crime), lançado pela Panini com o intuito de ganhar algumas vendas decorrentes da curiosidade do publico, A Cozinha – Rainhas do Crime é um quadrinho criado por Ollie Masters e Ming Doyle, que mostra um trio de mulheres irlandesas, nos anos 70, moradoras da Cozinha do Inferno, que veem seus maridos serem presos e que vão gradativamente tomando seu lugar como mafiosas e cobradoras de propina. O encadernado inclui toda a mini, de 8 edições, e possui um trabalho de cores excelentes, assinado por Jordie Bellarie.
A historia é bem agressiva, e a arte de Doyle captura magistralmente a sujeira e violência provenientes da cozinha do inferno. Os tons de vermelho que Bellarie impõe nas curvas perigosas de Nova York dão um aspecto de sensacional já no início da historia, onde Kath Raven e Angie são introduzidos, primeiro apenas como esposas dos bandidinhos pé rapados, mas também como mulheres com maiores ambições.
Apesar de não ter compromisso ou necessidade de soar realista, há indícios de bastante verossimilhança na publicação. Kath por exemplo já ajudava com as coletas do marido, Jimmy, fato que explica ela tomar a frente da nova empreitada do trio. O fato da jornada delas se tornar sangrenta é um pouco brusca, mas há limites até para elas, que se recusam a serem cafetinas. No entanto a transição de donas de casa para gangsters é bem rápida, e esse mistério é charmoso dentro da trama.
A série segue violenta, e bem sexual. Como parte da emancipação das personagens, há cada uma delas achando novos rumos amorosos e sexuais para si, mas com limites, uma vez que as mulheres, que são fruto de seu tempo não conseguem enxergar a si mesmas como propriedades dos homens, ora, se elas conseguem prover o próprio sustento, controlando o crime nas suas áreas, e como fazem isso de maneira mais inteligente e estratégica, não existe porque precisarem ser submissas
Os últimos números mostram as personagens sofrendo as conseqüências das decisões que tomam, e elas não são imunes a sentimentalismo. A Cozinha – Rainhas do Crime é uma leitura rápida e dinâmica sobre um submundo criminoso que não tem nada de heroico ou com glamour, uma historia sobre pessoas excluídas e que vivem a margem da sociedade, em uma historia simples, e mostra uma Nova York com a cultura do CBGB em ebulição mas também revela uma cidade que já era decadente nos anos setenta e que piorou com a globalização crescente, só democratizando a exclusão ao invés de aumentar o apego a minorias. O final é trágico, meio tragédia shakesperiana, e é natural que seja assim, Masters sabiamente faz homenagem aos exploitations violentos dos anos 1970 nesse final, misturando os clichês de filmes de máfia de maneira bem inteligente e criativa.