Crítica | Assim Caminha a Humanidade
Em 1956, chegava aos cinemas Assim Caminha a Humanidade, uma obra épica que acompanhava a vida de personagens no Texas ao longo de gerações, passando por conflitos sociais, políticos e étnicos, além do drama pessoal carregado por esses personagens, tudo isso somado a deslumbrantes panorâmicas do oeste dos EUA.
George Stevens, diretor de clássicos como Um Lugar ao Sol, Os Brutos Também Amam e tantos outros, foi o responsável pela adaptação do romance de Edna Ferber, Giant, de 1952. O best-seller de Ferber foi alvo da indignação dos texanos, pela forma como a autora os retratava e pela abordagem que decidiu dar à nova classe de texanos que fazia fortuna de uma hora para a outra, graças ao descobrimento de poços de petróleo em suas terras.
Adaptar o romance de Ferber não seria uma tarefa fácil para Stevens. Por isso, o diretor contou com o apoio de Fred Guiol e Ivan Moffat na adaptação do roteiro de Assim Caminha a Humanidade, que, assim como o livro, sofreu duras críticas durante a pré-produção do longa-metragem.
Na trama, o filme percorre a história de três gerações. Ao longo dos anos, conhecemos seus dilemas, conflitos e comoções. A história tem início em 1923, quando conhecemos Leslie (Elizabeth Taylor) ainda sendo apresentada a Bick (Rock Hudson), um texano dono de muitas posses. Ambos se apaixonam, se casam e partem para o Texas. Chegando lá, Leslie tem de se mostrar uma mulher forte para a irmã durona de Bick, Luz (Mercedes McCambridge), enquanto enfrenta a postura ríspida e tradicional de seu marido. No meio disso tudo, ainda conhecemos o empregado de Bick, Jett Rink (James Dean), que será fundamental no decorrer da trama, deixando de ser um mero coadjuvante para ganhar espaço como um protagonista.
Ao longo de mais de três horas de filme, conhecemos o íntimo desses personagens e como eles são moldados ao longo dos anos. A prepotência da juventude se torna a sabedoria dos mais velhos. O que inicialmente tratava apenas de conflitos familiares, disputas por terras e petróleo, ao longo das décadas dá lugar a temas mais importantes como a intolerância racial. Um dos grandes méritos do roteiro de Assim Caminha a Humanidade é o fato de podermos acompanhar esses personagens e suas constantes mudanças. As relações pessoais se tornam reais, seus personagens criam vida e, com eles, seus problemas.
Nos dias de hoje o filme pode soar um tanto manipulador e maniqueísta em suas escolhas, mas, em plena década de 1950, certamente tocou fundo ao abordar temas como sexismo, exclusão social e, como já citado anteriormente, intolerância social. Algumas dessas críticas surgem com passagens sutis, outra abusam no melodrama, o que de forma alguma invalida sua mensagem.
Elizabeth Taylor faz um papel belíssimo interpretando uma jovem doce, e aparentemente frágil, que abandona sua família para se casar e morar longe de casa. Liz mostra sua personalidade forte e seu feminismo em um ambiente tipicamente masculino. Rock Hudson entrega o papel do fazendeiro texano que possui qualidade dúbias, mas que no decorrer da trama se mostra capaz de mudanças, tudo isso de maneira bastante convincente.
O destaque é sem dúvida James Dean, com apenas 24 anos de idade e em seu terceiro (e último) filme. Jett Rink, interpretado por Dean, cresce em tela cada vez que surge e, assim como Bick, também passa por mudanças ao longo da trama e se deixa levar por sentimentos negativos (mera semelhança com o protagonista de Sangue Negro?). Difícil não ser cativado pelas cenas em que James Dean está presente.
Stevens faz um trabalho de direção que o consagra como diretor de grandes épicos. Apesar da direção clássica, sua câmera discreta captura com muita intensidade as mudanças do Texas ao longo do tempo, tudo isso somado à excelente direção de fotografia de William Melor. Stevens tinha um filme com mais de 3 horas de duração e quem em momento algum se mostra como algo enfadonho, longe disso: o filme é puro sentimento.
Assim Caminha a Humanidade é um grande clássico, obrigatório para todos os cinéfilos, e que ainda serve como aula de como contar uma história longa sem perder seu foco narrativo, tudo isso ainda discutindo temas relevantes até os dias de hoje.
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PS: Não poderia deixar de mencionar uma das minhas cenas preferidas do James Dean. A imagem fala por si só: