Crítica | Minha Mãe é Uma Peça 3
Minha É Uma Peça 3 começa com mais um dia comum de Dona Hermínia, de Paulo Gustavo na feira fazendo graça com os vendedores, discutindo sobre a solidão típica de uma mãe mais velha, sendo boca suja nesse processo. O filme de Susana Garcia começa leve, apelando para a gritaria típica de Gustavo como ator e apresentador, além do carisma do mesmo e de sua personagem, que já é vivida por ele há tanto tempo que se confunde em sua origem, variando entre a inspiração do autor em sua mãe e a persona que ele foi construindo desde a peça e também nos filmes, Minha Mãe é Uma Peça e Minha Mãe é Uma Peça 2.
Os eventos desencadeiam de maneira muito rápida, e só funcionam pelo fato de Gustavo estar muito a vontade e afiado com o papel de Hermínia. Todo o conceito dela ter sido apresentadora de televisão e famosa é deixado de lado, aqui, ela é uma mulher comum, com receio de envelhecer sozinha e de não fazer mais parte do cotidiano de seus três filhos.
Por mais bobo que o filme soe, há um exercício bem sério e maduro, onde Paulo Gustavo exorciza os demônios de seu passado, seja em pequenos momentos como a aparição de seu esposo como figurante, ou nos momentos em que ele lida com a infância de menino efeminado, utilizando claro o Juliano de Rodrigo Pandolfo como avatar desse receio. Toda a trilogia lida muito com o sentimentalismo, mas o texto é especialmente apurado neste, explorado de uma forma bem pensada e amadurecida.
Susana Garcia reutiliza conceitos de Minha Vida em Marte, até reciclando piadas de choques de complicações com a língua estrangeira, incluindo nisso o mesmo Paulo Gustavo que fez Aníbal naquela versão, mudando pouco ali, basicamente a caracterização e com quem o ator contracena, já que até a situação é a mesma, a dificuldade em pedir comida. Já as piadas de protagonista sendo intrusiva na intimidade dos filhos mais novos soam ótimas, pois se equilibram entre a inconveniência e a super proteção típica de mães que amam muito seus filhos.
Minha Mãe é Uma Peça 3 apela para o saudosismo, esbarra em alguns pontos no pieguismo mas consegue se salvar. Gustavo faz um filme para ele brilhar, mas também é muito reverencial a sua mãe, e mesmo o final super expositivo é driblado por todo o carisma com que a obra cinematográfica é conduzida, resultando num produto mais bem pensado e realizado que seus anteriores.