Crítica | American Pop
O cinema de Ralph Bakshi passou pela animação infantil e adentrou algo mais adulto e pesado, a partir de 1971 com O Gato Fritz. Em American Pop ele retoma essa narrativa, ajudado pela música de Ron Thompson que faz uma performance soberba, elucubrando sobre a música, abordando quatro gerações diferentes entre si, viajando por épocas e eras distintas não só pela temporalidade, mas também pelo espaço.
No inicio se vêem quadros estáticos, de traço característico,em homenagem a Louise Zingarelii, Barry E. Jackson e outros artistas. O roteiro de Ronni Kern começa mostrando a Rússia oprimida pelos tiranos czares, antes da revolução popular que teria Vladimir Lênin e Joseph Stalin como expoentes. Quase sem diálogos didáticos, mostra a emigração de estrangeiros para os Estados Unidos e como isso ajudou a formar a identidade musical do povo.
É curioso, pois em Blues, Robert Crumb abordou uma temática parecida, e aqui, Bakshi também toca essas raízes, obviamente sem o mesmo caráter ácido do quadrinista underground, ainda que mergulhe bem nas profundezas sujas das ruas americanas. A variação entre imagens estáticas e outras animadas de fato, com movimento faz assustar um pouco o espectador não acostumado a técnica da rotoscopia, mas dependendo do quadro que apresentam, a fluidez é maior.
A sequência que coloca lado a lado números de dança mil e sequências de cenas de guerra une dois espectros peculiares da vida adulta, interrompem a visão ingênua e infantil do que deveria ser o cerne de um filme animado, para mostrar a face dura e cruel da historia humana e um pouco do divertimento que os adultos tem por ideal.
O fato de não ter um foco definido faz com que alguns momentos sejam mais interessantes e legais por eles mesmos. O passeio pela evolução da musica popular é muito bem feito, seja no Jazz, na evolução do Rock, do Rockabilly até o Punk, passando pelas gerações hippies e de Woodstock de uma maneira rápida, mas não simplista. American Pop é um bom relato da evolução pelo qual passou a cultura norte americana, como uma ode ao legado deixado pelos artistas disruptores que marcaram época, além de exemplificar bem como eram as tribos de consumo cultural.