Crítica | Meu Verão na Provença
Nada é feito apenas de boas intenções. Ao término de Meu Verão na Provença, nada ainda se torna claro, também. Uma família nos é apresentada como desculpa a um embate de gerações que não acontece pra valer, onde, nesse conflito, surgem emoções e reflexos de um passado familiar resultado de outros conflitos de outrora, tampouco apresentados, mas miseravelmente debatidos entre os personagens, figuras mais ralas que uma colher. Por já ter visto esse mesmo filme cem vezes, e creio que o leitor também, inclusive, no meu ponto de vista, Era Uma Vez em Tóquio de Ozu continua como a melhor versão desses dramas hereditários, posto que torna dispensável qualquer outra tentativa que não venha a nutrir algo de novo, numa mesa onde avô e netos, pai e mãe, irmão e irmã, venham a esquentar os nervos à flor da pele sobre “erros do passado”. Filmes que não carregam uma nova proposta a uma ideia já tão reciclada, se ao menos pudessem sair do roteiro que os origina para serem esquecidos, como certamente será a obra em questão, já bastaria.
Mas sacanagem é definição inegável por chamar o pobre Jean Reno, ator de primeira linha, veterano consagrado, para (salvar) dividir o mico e fazer as pessoas lembrarem do filme por estar no seu currículo. Afinal, por qual outra razão seria? Traduzir emoções através da trilha sonora, com músicas de Cat Power e Bob Dylan, e não pela missão de buscar envolver o público com a história, não apenas é subestimar o potencial da mesma, mas é a mensagem de pleonasmo de um diretor tão 100% inútil quanto seu filme é 100% emocional e deficiente de um Kiarostami para torná-lo uma experiência inesquecível, termo que todo filme, sétima-arte, merece impôr: Inesquecível, que aqui encontra seu oposto. Um feel-good movie pra causar náuseas nos parentes do sofá, exceto naquela tia que chorou com Benjamin Button e debulhou o amazonas com Toy Story 3. Essa já encomendou o blu-ray! Tem gosto pra tudo.
Uma terceira fonte de incômodo acerca de Provença, embrião de Cinema que repousa graça e poesia de bar na atuação de Reno (e na fotografia ampla, estilo Malick, cheia de panorâmicas a céu aberto), irrompe feito um soco de como a leveza emocional de uma história de redenção familiar, basicamente afirmando, não procura jamais cativar por buscar uma profundidade na trama, e sim por sua aparência, como se fosse o bastante ter duas camadas de interpretação aparente. Então tá, né? Enquanto isso, Uma História Real, o filme mais doce de David Lynch (acreditem, o mestre do bizarro sabe ser suave), parece ser antídoto a um filme que orgulhosamente extrai sua essência e alma apenas do visual, sendo tal preferência sempre desmistificada a cada vez que olhamos o relógio para a sessão terminar, se apoia nas músicas que embalam suas cenas (A caminhada do avô e neto sob o sol, num campo francês de oliveiras vale a projeção), e ainda por cima, mancha a carreira de Reno. A balança da crítica pende ao lado negro da opinião, quando revolta e faz pensar que, não, um filme não sobrevive só a base de uma boa intenção.