Crítica | O Efeito Carter
Documentário de Sean Menard, O Efeito Carter (conhecido em redes de streaming pelo nome original, The Carter Effect) fala sobre a influencia do ala-aramdor Vince Carter, um jogador excepcional e que mudou todo o quadro do interesse por basquete por onde passou, em especial no Canadá, onde foi atleta e ídolo do Toronto Raptors durante um período inesquecível de 1998 a 2004. O longa prima por depoimentos que variam entre o sóbrio e o emocional e consegue um belo equilíbrio entre esses dois aspectos.
A historia do filme começa falando sobre o advento do Raptors, da chegada da NBA ao Canadá, em Vancouver e Toronto e em como as crianças e as gerações posteriores foram tomadas por uma mania de basquete após a elevação do maior dos ídolos do esporte no país, em uma época que era difícil para os times de fora dos EUA jogarem, afinal, essa era uma época bem diferente da atual, onde o Toronto de Kawhai Leonard venceu a temporada de 2018-2019, pois até chegar a final era algo inédito.
A participação de Carter, que está ainda em atividade (ao menos até 2019)), falando sobre a própria historia, sobre os feitos e o quão difícil foi chegar onde chegou, dá ao filme um ar de auto biografia bem forte, e o modo como a câmera de Menard se porta faz ele se diferenciar de outros produtos documentais, em especial os televisivos, por mais que use a trilha de maneira manipuladora, por exemplo. Certamente se o documentário de 2014 Iverson fosse conduzido dessa forma, seria um filme bem melhor, pois Allen merecia uma abordagem tão vívida e emocionante quanto esta. Aqui se transborda carisma, não só na personalidade quanto de Vince mas também na cãmera que Menard conduz…
Carter era especialista em enterradas, tinha um jogo muito vistoso e já foi premiado em seu ano de novato na NBA, e alvo de disputados entre grandes franquias (foi escolhido pelo Golden State Warriors, mas acabou indo para o Canadá em uma troca). O filme passa bem pelos momentos marcantes da carreira, como quando ele ganhou a disputa de enterradas no ano 2000, que para muitos, era o melhor campeonato de enterradas da historia, incluindo ai os que Michael Jordan ganhou. O filme ainda se dá ao trabalho de mostrar varias entrevista em que jogadores lendários da NBA afirmam que no quesito “dunk”, ninguém supera o biografado.
O filme é bem pessoal, o mergulho na intimidade do personagens é absurdo e dá vontade de saber mais e de acompanhar o fim da carreira de Carter. O maior mérito do documentário é mostrar o quão querido, carismático e festeiro Carter era e é. A proximidade das figuras famosas do Canadá, dos rappers, entre eles Drake, e pessoas da cultura hip hop, faziam com que ele soasse como um jogador diferente, tendo uma identidade de astro muito forte, de certa maneira, semelhante a vida e obra de Wilt Chamberlain, guardadas as devidas proporções, pois não era tão individualista e tão inserido na cultura pop como o Golias era. Carter era um exemplo do que fazer e do que seguir bastante retilíneo, mesmo não sendo politicamente correto, conseguia se adequar as plateias e públicos mais heterogêneos mesmo com esse caráter gaiato.
Há alguns momentos que vistos hoje, soam bizarros, como uma entrevista com o ainda criança Stephan Curry, falando que se espelhava em Vince, e que seu sonho era se possível tornar-se profissional, mostrando que a influência e legado dele vai muito além do país canadense. O Efeito Carter mostra um personagem idolatrado e ovacionado e reconhecido pelos seus camaradas. Mesmo os momentos mais melancólicos, como a queima de camisas após a saída dele em 2004 é fechada em uma cena bem emocionante, em 2014 sendo ovacionado no Jurassic Park (estádio do Toronto) quando já jogava pelo Memphis, em uma sequência muito bem pensada pelo cineasta. Essa sequência reforça a ideia e o sonho do proprio jogador em voltar a jogar pela franquia, onde fez seu auge antes de se aposentar, embora atualmente, com 42, não haja muitas mostras de que isso acontecerá, no entanto, o registro de memorias e legado de Vince é muito bem mostrado e representado aqui, transbordando alma para um tipo de filme que normalmente é absurdamente protocolar.
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