Resenha | Batman Anual 4
Uma das poucas publicações da Editora Abril em formato americano (17 x 26 cm), lançada em julho de 1995 e fugindo do esquema da mega-saga Queda do Morcego, Batman Anual 4 traz quatro histórias, sendo três delas enfocando o retorno de um dos vilões que se tornaram emblemáticos após o lançamento do seriado animado do Batman. Antes de Batman: The Animated Series quase não havia notoriedade no personagem Ventríloquo e seu “boneco” Scarface. Talvez pelo desenho fazer sucesso que a editora decidiu lançar este microarco na mesma publicação.
A primeira parte conta com roteiro de Alan Grant, que escreve toda a trilogia, e desenhos de Norm Breyfogle. A história A Morte do Chefão, publicada em Batman 475, em 1992, contém uma abordagem caricatural, por causa do lápis de Breyfogle, que, mesmo deixando de lado a seriedade do Morcego, consegue acentuar de modo interessante os contornos nonsenses do títere. Quando uma gangue rival alveja Scarface e ele é “morto”, Rhino, um de seus capangas, toma o objeto desmorto, contrariando a instrução do seu patrão, que diz ser tarde para levá-lo. O respeito do encarregado é tanto que ele pretende fazer um velório decente para o seu mandante, o que demonstra que os delírios do Ventríloquo são tão grandes que corrompem até quem não está dentro de sua mente.
Como objeto de curiosidade, é nesta edição em que Rene Montoya estreia na polícia de Gotham, atuando também como assistente do Comissário Gordon. Sua participação ainda é tímida, mas bastante pontual na trama. O Ventríloquo passa a refutar sua contraparte, negando toda a importância que Scarface tinha em sua exploração criminal. Tal atitude tenta esconder o incômodo que o titereiro tem em ser dominado por sua anomalia mental, sendo esta tão presente que o personagem, mesmo falando sem manejar o fantoche, troca as letras, atrapalhado pelo som não anasalado, já que o nariz de Scarface está danificado. Logo, ele retoma o poder novamente, invertendo (mais uma vez) o papel de escravo e escravizador.
Ao menos na parte 2, Exclode Coração (a grafia é esta mesma), os desenhos vão para as mão de Jim Amparo, que era o responsável pelo lápis da Detective Comics na época, e logo no início percebe-se a diferença da abordagem, especialmente por ser muito mais séria. Um pequeno drama – repetido à exaustão em toda a jornada do herói – envolve a sua amada Vicki Vale, que quase é morta por suas peripécias enquanto jornalista. O Cruzado Encapuzado decide então revelar sua identidade secreta à mulher, convalescente no hospital. Ela prontamente diz, aliviadíssima, que ficava feliz em saber que ele não era “o idiota fracote que fingia ser”, sinceridade esta somente aceita por quem ama de verdade e somente mostrada graças a um delírio do milionário, que apenas sonhou com tal situação.
De dentro do hospital, Wayne vê o Bat-Sinal e vai correndo à emergência, tendo de deixar a moça de lado e de abandonar seu coração e seus sentimentos ali, naquele quarto de repouso. Mesmo com duas fortes demonstrações – uma de sentimentalismo de Wayne em relação a Vale, ainda que o herói não tenha sido capaz de contar seu segredo, e outra de vingança, em que Scarface se vinga violentamente de um inimigo, jogando-o vivo ao mar para que se afogasse –, não há grandes menções à possibilidade de ser esta uma história extraordinária.
Após uma pin-up de Jim Lee – belíssima por sinal – segue-se outro momento da vida do herói, destacando-se que o emblema no peito de Batman ainda nem possuía a elipse amarela. Era um recordatório que remetia aos anos iniciais da carreira de Batman. Os autores James D. Hudnall (argumento) e Brent Anderson (desenhos) mostram o herói se embrenhando na mata, em terras estrangeiras, em busca de um raptado Alfred. Como na primeira história, quase não há nada que ultrapasse a linha da mediocridade – como muitos dos exemplares do Morcego dos anos 90, nas historinhas publicadas pelo grupo Abril de comunicação –, mesmo que essa “edição especial” tenha esse formato diferente e com 100 páginas de conteúdo.