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  • Resenha | Princesa Leia

    Resenha | Princesa Leia

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    Com o intuito de lançar um novo universo expandido a partir da Marvel Comics, o universo Star Wars vem explorando todas as vertentes possíveis em espaços-temporais distintos. Ao leitor que acompanha Star Wars e Darth Vader, por exemplo, as histórias se situam após Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança. Outras aventuras como a mini-série, Star Wars: Império Despedaçado e Kanan: O Último Padawan enfocam em outra época com o intuito de fundamentar este novo universo canônico. Em comum, há uma base sólida de grandes autores e desenhistas.

    Escrito por Mark Waid com arte de Terry Dodson, Princesa Leia foi uma mini-série de cinco parte situando uma das personagens centrais da saga logo após a explosão da primeira estrela da morte. Publicada no país pela Panini Comics na mensal Darth Vader #2 a #6 a série tenta aprofundar as motivações da princesa, principalmente após a missão bem sucedida de destruir a poderosa arma do Império. Indecisa sobre seus passos futuros, Leia decide procurar pela galáxia a população refugiada de Alderaan, planeta destruído pela Estrela da Morte.

    Ainda que a Marvel tenha procurado grandes roteiristas para dar início a um novo universo canônico, é perceptível a delicadeza da situação desta expansão, afinal, é necessário conduzir um caminho para os personagens sem desvirtuá-los de sua essência. Waid tenta desenvolver uma personalidade ativa para a princesa mas é perceptível o quanto sua narrativa parece presa a regras que seriam melhores se quebradas. Devido a necessidade do roteiro em seguir um caminho previamente orientado, a trama se vale de recursos básicos para atrair o público como a fundamentação de uma parceira de missão para Leia como uma espécie de sidekick que surge em cena com incredulidade sobre a princesa, achando-a incapaz de manter a tradição de seu planeta destruído. Após um laço de amizade, elas realizam pequenas missões de salvamento enquanto tem de lidar com uma possível traição dentro do círculo da princesa.

    Dessa maneira, as edições seguem pequenas aventuras da dupla a procura da população dispersa pela galáxia, envolvendo, sempre que possível, pequenos personagens que foram destacados pelos filmes em algum momento. Porém, exceto pequenos trechos sobre a infância da princesa, a narrativa não causa nenhum efeito, bem como a composição de Leia vacila entre uma princesa perdida a uma aventureira inconsequente, fator que poderia ser bem explorado se houvesse profundidade na história. Além disso, há uma clara ausência de cenas de ação excessivas como se os atos grandiosos tivessem de ser poupados para os momentos chave da saga. Em certos momentos, a ação é encerrada abruptamente como se cortasse o clima narrativa e, devido a brevidade da história em cinco partes, fosse apressada propositalmente para inserir o máximo de informação possível. Efeito semelhante visto em Star Wars: Império Despedaçado, um desnecessário desdobramento inserido logo após Star Wars – Episódio VI: O Retorno de Jedi.

    Como série que pretende expandir a personalidade de uma das figuras importantes da saga, Princesa Leia falha e parece uma narrativa contida, tentando se manter em uma possível linha narrativa que mais a prende do que produz uma história de qualidade.

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  • Review | Star Wars: Guerras Clônicas

    Review | Star Wars: Guerras Clônicas

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    Animação pensada por Genddy Tartakovsky, criador do cartoon que misturava elementos futuristas com o classicismo da Japão Feudal, Star Wars – Clone Wars (ou Star Wars – Guerras Clônicas) iniciou-se de modo despretensioso, com episódios bem curtos, quase como vinhetas, que apesar da duração diminuta acrescentavam bastante em termos de roteiro, ao canône do que se veria na nova trilogia, na maioria dos pontos, adicionando muito mais a trama do que os combalidos dois filmes anteriores, A Ameaça Fantasma e O Ataque dos Clones.

    Nesses episódios que se vê a evolução da relação entre Palpatine e Anakin, com a nomeação do ainda aprendiz a comandante, onde finalmente ocorre sua liderança em uma batalha aérea, fato que finalmente justificaria sua fama como bom piloto. Elementos clássicos também seriam resgatados, como a exploração da raça dos Mon Calamaris, os crustáceos que tem no Almirante Ackbar de O Retorno de Jedi o seu maior expoente.

    Muitos outros elementos visuais são reutilizados, com a do caçador de recompensas Durge, que serve junto atropa do Gen’Dai, sendo este um ser bastante poderoso, com uma capacidade de regeneração fator que o transforma em quase indestrutível. O bodyhunter decide se alistar aos separatistas de Conde Dooku e aos separatistas. A exploração de sua figura se daria em outras mídias, assim como a da díscipula sith, Asajj Ventress, uma darthomiriana perita no lado sombrio da força, que empõe dois sabres de luz e que supostamente participaria de A Vingança dos Sith dirigido por George Lucas.

    Os defeitos das sequências envolvem a sub utilização dos androides como elemento narrativo – fator comum ao programa de tv homônimo, com animações em 3D lançado em 2008 – além de subestimar algumas figuras retratadas com respeito, como o Capitão Panaka, facilmente persuadido pelos truques de controle mental jedi. No entanto, alguns bons momentos são flagrados, como uma utilização melhor da ação de Yoda em batalha, ainda que sua disposição em lutas seja algo contraditório para o arquetipo de mentor/mestre zen.

    O acréscimo do General Griveous como figura de ameaça era estupendo, tanto que gerou nos fanáticos pela franquia a expectativa de um  bom opositor, promessa jamais cumprida. O líder da Confederação de Sistemas Independentes se mostra um assassino voraz, encerrando a carreira de muitos jedi, em combates bastante violentos, mesmo para um desenho animado.

    A proposta desta versão de Clone Wars é servir de prólogo, nem resultar em algo conclusivo por si só, já que o caminho do meio entre dois episódios fechados, mas curiosamente consegue resgatar mais alma principalmente em Anakin Skywalker, do que a versão em carne e osso de Hayden Christensen. As representações de povos nativos fazem lembrar até sucessos posteriores, como em Avatar. As três temporadas fariam tanto sucesso, que inspirariam mais spin offs, com direito a um longa-metragem, lançado em 2008, e mais uma série, de seis temporadas e 121 episódios, cuja proposta se tornou bem diferente do originalmente pensado por Tartakovsky.

    O fato de algo organizado apenas para ser um entretenimento entre atos funcionar melhor e conter mais substância e material para discussão do que longas metragens inteiros, concebidos para passar na tela grande, demonstra não só a força de Guerras Clônicas, mas também a decadência terrível pelo qual passava George Lucas, que via em produtos feito por outros uma melhor interação com o universo que ele criou para si. No mais, a animação conseguia com quase palavra nenhuma resumir o caos que a galáxia estava em meio à guerra, não ignorando os inocentes que sofriam pelo estado bélico além de ter um conteúdo divertido e com aventuras escapistas bem interessantes e leves.

  • Resenha | Star Wars (2015)

    Resenha | Star Wars (2015)

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    Após a compra da Lucasfilm pela Disney, e o consequente anúncio de novos filmes para o cinema, começou-se um novo Universo Expandido de Star Wars, que serviria de background ao cenário dos filmes e que a priori, teria todos as publicações consideradas canônicas. Os primeiros momentos desse reboot no segmento quadrinhos seriam ainda distantes do tempo visto em O Despertar da Força, e evidentemente deveria explorar as lacunas iniciais da saga, como todo o resto da Nova Marvel fazia com o universo da Casa das Idéias.

    A série regular que leva o nome da franquia começa com um arco que se passa pouco após a Batalha de Yavin, em Uma Nova Esperança. Skywalker Ataca tem roteiros de Jason Aaron (Scalped) e desenhos de John Cassaday (Planetary) e começa com uma estranha transação comercial entre os imperiais e caçadores de recompensa de Jabba the Hutt, evidentemente sendo isto, um ardil da carismática figura de Han Solo.

    Nesta primeira edição existe uma tensão absurda nestas tratativas, com o Império tratando os colaboradores como escória, sem se importar inclusive com os detalhes da recompensa posta sobre a cabeça de Solo. Tal sensação aparentemente bem construída rui muito facilmente após a revelação de quem seria a tripulação do caçador recompensas, com o encarregado Agaadeen cedendo informações vitais ao seu Império após uma ameaça de choque via R2-D2, o que faz perguntar quais os métodos de treinamento do estado tirânico junto aos seus alistados, uma vez que quase todos soam como covardes estúpidos.

    Um aspecto interessante é a formação do trio Luke, Han e Leia de novo em ação conjunta, o que ajuda a construir a ideia de urgência e precariedade nas fileiras de rebeldes, ao ponto de alistar uma membra da antiga realeza alderaniana como parte de uma tribulação de resgate, bem como um exímio piloto entre as forças de invasão. Apesar de pouco afeito aos desígnios da força, Luke segue intuitivo, e é a espiritualidade que o leva a encontrar os cativos. A ideia de mostrar os imperiais fazendo uso de escravos ajuda a aproximar ainda mais os vilões as figuras dos nazistas alemães, que se valiam das riquezas daqueles que julgava inferior, com a diferença de que os opositores em Star Wars são mais enérgicos, explorando a mais valia dos oprimidos de modo mais taxativo.

    Os graves problemas dessa história começam a partir do ponto massa véio do roteiro, onde se introduz Lord Vader como o negociador dos poderosos. Antes de encarar os rebeldes frente a frente, Chewbacca recebe a ordem direta de Leia para que atirasse nele, exibindo que a necessidade de obliterar um inimigo grande e simbólico. A saída desta situação é que não é propriamente condizente com o visto nos filmes, uma vez que o Darth está com um poder imenso.

    O cúmulo ocorre a partir do final do número 1 e prossegue pelo segundo, onde Vader encara Luke, antecipando um duelo que resultaria somente no próximo filme. Os defeitos deste “conceito” começam pelo fato do lord sith não ter qualquer noção de que o homem a sua frente é o destruidor da Estrela da Morte e claro, seu filho, fatos que lhe seriam relatados mais tarde. A gravidade está no quão genérica é a situação, tendo até uma tentativa esdrúxula de salvar este momento, fazendo referência a morte  de Dooku em Vingança dos Sith, já que o vilão está pronto para matar Luke do mesmo modo.

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    Os desenhos de Cassaday são irregulares, já que ele acerta nas feições de Han Solo e traz um Chewbacca em nada parecido com o original. As cenas de batalha ao menos são bem executadas, tanto na dilaceração de seres, como na destruição de naves e equipamentos. Nem mesmo a arte-final consegue resgatar da mediocridade o trabalho, que no geral, demonstra uma arte  desleixada e pouco inspirada, aquém dos melhores momentos do desenhista.

    O fato de postar a introdução como os letreiros amarelos verticais é um easter egg pequeno e bobo, mas bem significativo, por demonstrar de certa forma toda a reverência aos filmes, semelhante ao que ocorreu em Império do Mal. As referências prosseguem, retornando a Tatooine, com Vader visitando Jabba atrás de suprimentos para o seu império e de informações sobre os rebeldes que de lá saíram, a bordo da Milenium Falcon. É nesse interim que surge um personagem misterioso, de motivação extremamente forçada. A trama também envolve a figura de Boba Fett, que já demonstra uma estreita e clandestina relação com Vader.

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    A procura e os combates no planeta arenoso soam forçados, e pouco condizente com o já estabelecido no canône através do audiovisual, fator comum ao antigo Universo Expandido, mas agravado nesta versão em que todo o material derivado é considerado oficial para a historiografia dos personagens residentes dessa galáxia tão tão distante. A necessidade de tornar Boba Fett em um personagem mais atuante e enérgico segue nesta versão, sendo ele o responsável por tentar descobrir a identidade do homem que disparou o tiro fatal em Yavin 4. O texto parece querer esconder a falta de conteúdo através de um apelo barato ao sensacionalismo, envolvendo os personagens populares todos no mesmo curto espaço de uma história que deveria ser. A apelação em volta de Luke envolve ele sobrevivendo a um ataque direto de Vader, para depois inseri-lo cego, na casa de Obi-Wan, conseguindo revidar um ataque de Boba Fett, fator que faz o bodyhunter mal encarado fortificar sua posição como arquétipo e piada pronta, além é claro de contradizer toda a fanboyzice habitual que costuma idolatrá-lo.

    Há tantos problemas na concepção deste final que torna quase impossível decidir qual é o pior, se é Boba Fett derrubado, a mercê da bondado de um semi jedi incapaz de enxergar, se é o encontro de um diário de Kenobi, fato que evidentemente não faz sentido, já que estava em um lugar que qualquer imperial poderia achar, além do que o fantasma do velho poderia transmitir qualquer fato “novo”; ou a chegada de Sana Solo, que se revela a estranha figura que rondava as edições anteriores. A motivação da mulher era encontrar seu marido foragido, apresentando uma subtrama patética.

    O fechamento do arco é pifio, assemelhando Skywalker Ataca a um prólogo, de algo maior, no entanto, abre precedente para uma espécie de prólogo, protagonizado pelo jovem Obi Wan chegando a Tatooine, retirado de seu diário. Os desenhos de Simone Bianchi (Sete Soldados da Vitória e Pecado Original) funcionam quase a perfeição, captando os detalhes de uma máfia expansioanista, agravada ainda mais pela queda da República. Toda a carga de sentimentos, completamente avulsos no outro arco, tem sua redenção aqui, com o eremita e ex-jedi observando o pequeno Luke , sem poder treiná-lo, graças aos tios, que temem que ele tenha o mesmo destino do pai.

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    A grande seca que assola o planeta ajuda a explicar o envelhecimento avançado de Kenobi, aliado claro a preocupação e culpa que sente por não poder se redimir e por não conseguir resolver a questão da morte de dezenas de habitantes do seu atual lar. Também se nota um completo desprezo do Império dos planetas centrais como este, uma vez que não há preocupação alguma com as necessidades dos nativos por parte das autoridades espaciais. A parceria do infante Luke com Obi Wan funciona a perfeição, bem como a rebeldia do garoto, postura diferencial da aparente apatia e comodismo de quando ele é adulto, fase onde os recalques psíquicos e o medo sobrepujam normalmente a bravura. A mudança de espírito de Luke faz sentido de um modo que não foi igual nos seis números anteriores, justificando até o retorno do herdeiro da Força ao estado de bravura e busca por aventura.

    Aaron claramente se sente melhor escrevendo histórias com tons mais escuros, de tiro curto, que remetem em espírito ao auge de sua carreira, a frente dos volumes de Hellblazer. O segundo arco, Confronto na Lua dos Contrabandistas, começa a partir da onde terminou o número seis. Incrivelmente, as situações envolvendo a esposa e Han Solo rendem discussões engraçadas, desmontando qualquer encanto barato que o pirata lançara sobre a Princesa.

    Os desenhos de Stuart Immonem (Superman: Identidade Secreta e Nova Onda) combinam muito mais com o clima descompromissado de aventura, que segue Luke em sua tentativa de descobrir mais sobre os jedi do passado. Seu caminho é cortado por Grakkus o Hutt, um mafioso que possui uma coleção extraordinária sobre os resquícios dos jedi, tendo em sua posse os holocrons, objetos que armazenam informações sobre os jedi e que somente são abertos por quem tem afinidade com a força.

    O herói é feito prisioneiro, e enquanto cativo, informações interessantes sobre o passado da classe jedi são revelados, incluindo a instrução de uma figura misteriosa, que se assemelha aos instrutores de gladiadores da velho Império Romano. É interessante notar a inabilidade de Luke, bem como sua busca pela sabedoria dos seus antepassados. É neste interim que o paladino descobre que os templos jedi foram destruídos em sua totalidade, o que certamente o inspirou a fazer a busca que o faria “desaparecer” como visto no Episódio VII.

    Chega a ser engraçado notar Chewie como um detetive mal encarado, a procura dos seus amigos. A escolha por não utilizar como vilão os “medalhões” dá espaço para uma maior criatividade do roteiro, que evidentemente melhora muito, acrescentando fatos muito curiosos, dando origem até ao caçador de recompensas Dengar, visto em Império Contra Ataca e explorado pouco em comparação ao bodyhounter clonado mais famoso.

    O fato de ser usado como gladiador aproxima Luke do arquetipo de escravo que o jovem Anakin tinha em Ameaça Fantasma. O acréscimo de “auxiliares” do jedi, como o Mestre dos Jogos, demonstra que a luta contra a tirania não é exclusividade dos rebeldes. A construção desta figura serve também para explicar a habilidade de Finn em O Despertar da Força, quando maneja um sabre de luz sem qualquer afinidade com a força, já que isso já ocorria com outros lutadores exímios.

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    O motim que derruba o mafioso despótico em meio a arena é catártico e significativo, mas não é uma solução fácil ou maniqueíst, ao contrário, já que há algumas reviravoltas com os personagens novos que além de fazerem sentido, traçam um paralelo com a antiga alcunha de Mara Jade em Herdeiro do Império, ainda que o “membro” do imperial seja relacionada a Vader e não ao Imperador.

    A metade final é tão bem construída que quase faz justificar os enormes tropeços do começo dos arcos, e de fato esse reboot se inicia bem tendo em vista o ano como um todo, ainda que a metade destes lançamentos sejam de qualidade muito inferior aos bons momentos da  fase em que a Dark Horse era responsável pelos quadrinhos de Star Wars. A fórmula de unir quadrinistas talentosos não necessariamente garante uma sobriedade as publicações, como o visto no começo da trajetória de Aaron e Cassaday, mas com o tempo, o texto melhorou bastante, assim como a arte se adequou aquele momento histórico, desta nova roupagem do universo Star Wars.

  • Resenha | Star Wars: Império Despedaçado

    Resenha | Star Wars: Império Despedaçado

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    A partir da compra da Lucas Films pela Disney, um novo universo Star Wars foi promovido, dando nova potência a saga agora comandada pelo estúdio do Mickey nos cinemas e nos quadrinhos pela Marvel Comics. Nas HQs, grandes equipes foram selecionadas para os títulos iniciais como Jason Aaron, John Cassaday, Kieron Gillen, entre outros, demonstrando o cuidado da Casa das Ideias para o vasto universo criado por George Lucas.

    Com o lançamento de Star Wars: O Despertar da Força em 2015, apresentando um novo capítulo cinematográfico para a franquia, capítulo aguardando pelos fãs, era natural que produções especiais fossem lançadas em sintonia, unindo uma parcela do público tanto leitor de quadrinhos quanto cinéfilo.

    Star Wars – Império Despedaçado foi lançado originalmente entre setembro a dezembro do ano passado em quatro edições especiais com a clara intenção de ser um prelúdio para o novo Star Wars. Tanto que esta edição, bem como o livro Star Wars – Marcas de Guerra, apresentam na capa a chamada de “Jornada  para Star Wars: O Despertar da Força”, pressupondo histórias anteriores interligadas à nova aventura. Um apelo para incentivar a compra da edição. Lançado pela Panini Comics em edição capa dura com roteiro de Greg Rucka e desenhos de Marco Checchetto, esta história está mais próxima de um estratégico produto mercadológico do que uma aventura com bom desenvolvimento narrativo do universo Star Wars em uma nova casa.

    Império se inicia após Star Wars – Episódio VII: O Retorno de Jedi, ou seja, com um longo distanciamento temporal entre esta trama e a nova história cinematográfica. Conforme visto no terceiro filme da trilogia clássica, o Império foi derrotado e a Aliança Rebelde comemora a vitória. Porém, devido a extensão do Império, pequenas células ainda resistem sem saber da derrocada do sistema imperial. Neste cenário, a história apresenta dois personagens do fronte de batalha: a piloto Shara Bey e seu marido, Kes Dameron.

    A intenção de aproximar espaços-temporais distintos entre uma história e outra promove uma narrativa ineficaz devido a obrigação de mostrar os personagens centrais da trilogia clássica ao mesmo tempo em que desenvolve futuras relações. Rucka seleciona um momento ingrato da cronologia para inserir a trama, suspendendo o desfecho definitivo do Episódio VII para mais uma aventura que, embora potencialmente boa, é desenvolvida de maneira breve e com pouca sustentação.

    O enredo evita possíveis conflitos maiores para entregar uma história fácil somente para manter a expectativa do leitor diante do novo filme. Um trama de fôlego curto que se desgasta rapidamente e contém mínimos pontos de conexão entre as histórias (A ligação é apresentar a mãe de Poe Dameron e uma possível influência da força sobre o piloto). A necessidade de ir além das sagas mensais e desenvolver mais um produto explícito para atrair leitores reduziu um bom argumento que poderia ser melhor executado em um futuro do novo cânone ou em um romance. Além da brevidade narrativa, a inserção de todos os personagens fundamentais da saga original prende a trama no limite entre a homenagem e a demanda de agradar aos leitores.

    Compre: Star Wars – Império Despedaçado

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  • Resenha | Star Wars: Império do Mal

    Resenha | Star Wars: Império do Mal

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    Em 1991 o Universo Expandido de Star Wars começava, tendo como pontapé inicial Herdeiro do Império, livro de Timothy Zhan. A publicação em quadrinhos analisada se passa cronologicamente após os eventos da já citada trilogia Thrawn, ainda que não leve todos os eventos da trilogia em conta, uma vez que Ascensão da Força Sombria e Último Comando ainda não haviam sido lançados. Dividida entre partes, essa história tinha os roteiros de Tom Veitch, que anos mais tarde, seria conhecido por escrever também o Homem Animal.

    A primeira parte do triunvirato chamava-se Império do Mal (Dark Empire no original) foi lançada como mini-série em 3 partes no Brasil (originalmente eram 6 números). Após o fracasso do grão almirante Thrawn, seis ex-comandantes de frota atacaram a capital Coruscant, tirando das mãos da Nova República o poder recém adquirido. Pouco tempo depois, uma ideia “secreta” é levada a frente, para que o que restou do Império se solidifique em cima das forças democráticas ligadas a Luke, Leia, Han Solo e os outro heróis da trilogia clássica.

    Os desenhos de Cam Kennedy mostram os personagens clássicos tentando resistir ao poderio do antigo conglomerado, o problema é que as feições destes não lembram os respectivos atores, ao contrário do visto nas capas Dave Dorman, talvez por uma questão de direitos de imagem, além de ter uma arte mias hachurada e de tom anárquico. A composição de cores por sua vez é sofrível ao ponto de fazer a leitura desprazerosa. O argumento por sua vez mostra Luke como um jedi poderoso, que treinou sua irmã Leia e que vê nos seus sobrinhos a possibilidade de um futuro para a ordem jedi. Ao ser emboscado, ele aceita se deixar levar pelo inimigo, a fim de poupar seus companheiros e também entender como funciona esse misterioso rival.

    As antigas edições brasileiras contem partes da tradução bastante engraçadas, por citar R2-2D como Erredois, e por flexionar a palavra jedi com plural (jedis). Logo, a figura de vilão do Imperador é reintroduzida, ainda sem uma explicação plausível, uma vez que este morreu em O Retorno de Jedi.

    A arte como conjunto tem uma qualidade no mínimo controversa, mas certamente não supera a falta de qualidade da história, que soa incongruente e bastante banal. A ideia tanto de ressuscitar o imperador não faz sentido, uma vez que nos livros de Zhan uma das coisas que funcionou à perfeição foi a substituição do vilão. Outro aspecto que soa bobo é a decisão súbita de Luke em tentar sabotar o lado negro entrando para as fileiras desta facção soa gratuita, não é minimamente bem trabalhada. A vantagem de Império do Mal em relação aos seus pares do Universo Expandido mora na participação de Han Solo, que não é sub aproveitada, fato que ocorre demais em tantas outras histórias.

    Quase tudo em Dark Empire soa oportunista, tanto a tentativa de seduzir Leia para o lado negro, quanto o resgate gratuito de Boba Fett. A ignorância de praticamente tudo o que havia ocorrido na fase de Thrawn assusta, em especial a ausência de Mara Jade. De positivo, há a primeira menção ao Holocron, um artefato jedi que mistura elementos tecnológicos e mágicos, que guarda informações importantes e que só podem ser abertas pelos membros da ordem. Ainda assim, a demonstração do objeto não acrescenta nada a trama, parece mais um teaser para o futuro universo expandido.

    Apesar de estar muito poderoso, Luke só consegue se ver livre do domínio do lado negro graças a presença de sua irmã, que também é poderosa na força. O jedi tenta enfrentar seu inimigo destruindo os clones, mas é tarde, uma vez que Palpatine já se teleportou para um corpo mais jovem, fato que faz perguntar o porquê de não ter feito isso antes, e é nesse interim que acontece uma primeira luta do Darth com sabre de luz. A derrota definitiva do antagonista é anti-climática, sem luta, com uma inversão da liberação poder típica em Dragon Ball na técnica Genki Dama com o caráter invertido, uma vez que a perda do controle de seu próprio poder faz o próprio Imperador se ferir mortalmente, ainda que não haja qualquer lógica nesta prática. Império do Mal mira alto e resulta em um exercício pueril, infantil e oportunista.

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    Três anos depois (a revista foi publicada entre 94 e 95) a mesma equipe criativa retorna, para mostrar um cenário onde mais uma vez no vácuo entre uma historia e outra, surgiu mais uma organização que faz a função de posteridade do Imperador, dessa vez com sete jedi do lado negro, que misteriosamente jamais foram mencionados antes, fazendo essa história se assemelhar demais ao visto na franquia Kickboxer de Jean Claude Van Damme e Sacha Mitchell.

    O espírito por trás da Operação Mão Sombria faz lembrar demais a Primeira Ordem introduzida em Star Wars O Despertar da Força, inclusive com uma hierarquia que lembro até Kylo Ren e os cavaleiros de Ren, sendo esta contraparte liderada pelo misterioso Sedriss. O grande problema é que, apesar de uma introdução longa desses novos personagens – os antigos somente aparecem decorrida da metade da primeira revista – ainda se há a estratégia estúpida de mais uma vez trazer Palpatine de volta a vida, usando mais uma vez a muleta da famigerada clonagem.

    Pelo lado dos rebeldes, Luke encontra o jedi que havia se escondido Kam Solusar, que era filho de outra grande jedi Nik Solusar, fato que ajuda a fomentar que a questão do celibato não parecia estar nos ideais de George Lucas desde sempre, uma vez que ele autorizava todo o material adicional antes de ser comercializado. Ao utilizar o holocrom roubado por Leia, Luke percebe a presença dos outros jedi e tenciona tentar persuadir cada um a retornar ao lado correto e bom, como o mesmo fez, mas tais interesses esbarram com a inteligência militar da nova república, fato que demonstra a fragmentação do discurso dos que tentam reerguer a democracia galáctica.

    Além de ignorar tanto os siths enquanto instituição, a regra de dois e demais paradigmas instituídos em 1999 em A Ameaça Fantasma, ainda há a terrível lacuna cronológica indefinida neste volume como no primeiro, uma vez que se passa temporalmente semelhante ao livro Ascensão da Força Sombria. O universo expandido neste ponto é bem confuso,

    Tentativa de soar diferente resulta no inverso, em uma história genérica que contradiz o paradigma de que uma boa história começa por uma base for te congruente. O firmamento dos novos vilões do lado negro são a prova cabal a completa falta de qualidade textual, já que não há qualquer lógica na existência desses sem que houvesse qualquer menção deles em Império Contra Ataca por exemplo, onde se começa a falar da hierarquia dos ditadores soberanos. Thimothy Zhan conseguiu com maestria introduzir um vilão que não estava na ribalta, um outsider tão bem encaixado que até se tornou canônico em Star Wars Rebels recentemente, diferente de todos esses personagens.

    Uma das incongruências vistas na trilogia original era o fato de Luke ter o mesmo nome de batismo de seu pai, ao passo que era escondido no planeta natal de seu pai aos cuidados de seu meio irmão. Leia segue essa tradição, escondendo seus filhos Jacen e Jaina num planeta conhecido como Nova Alderaan, ainda que essa questão soe bem menos forçada que todo o resto dos problemas da revista. A junta jedi formada por Luke soa boba e o embate contra os jedi lacaios de Palpatine também aparenta infantilidade, sem um climax minimamente interessante, deixando quase todas as resoluções para Empires End.

    Império do Mal II começa melhor que seu antecessor e conclui pior, com a mesma impressão deixada por filmes do meio, como De Volta Para o Futuro 2 e Matrix Reloaded, sem qualquer resquício de brilhantismo desses exemplos citados e claro ignorando a bela condução que Irvin Kershner havia feito em Império Contra Ataca, driblando até a formula de sucesso de outro objeto de transição do canône de Star Wars. Poucas coisas soam positivas, a exemplo da arte de Kennedy, que parece mais fluídas, além de imagens que remetem a profecias relacionadas ao futuro de Jacen, Jaina e do recém nascido Anakin Solo.

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    No terceiro tomo, Empires End (Fim do Império em algumas traduções brasileiras) as esperanças pelo lado dos antigos rebeldes reside na filiação de Leia, e no nascimento do último filho, enquanto o clone imperial se mune da Uma Leth, uma outra arma semelhante a Estrela da Morte, com poderio de destruição planetária. Os desenhos agora estão a cargo de Jim Baikie, acostumado a desenhar hqs de Star Trek.

    A questão da raça sensitiva a força dos yasanna é reutilizada neste número e um pouco mais detalhada do que na história anterior, e a exploração da raça passa a ser do interesse do Palpatine também, que tenta arrumar a questão dos seus próprios clones defeituosos. Quando a trama aparenta que se tornará finalmente congruente na última parte da trilogia, mais uma vez o roteiro de Veitch tropeça em seus próprios pés, mais uma vez apelando para um argumento bobo, de tentativa de troca do Imperador como clone envelhecido para o corpo do bebê Anakin.

    A parte I é até encontrada em alguns sebos, da época em que a Editora Abril tentou a empreitada de comercializar o material de Guerra nas Estrelas no Brasil, mas a trilogia só foi trazida a terras brasileiras na sua totalidade na coleção da Planeta Degostini, nos números 42 e 43, sob o título de Império Negro 1 e Império Negro 2, infelizmente ambos fora de catálogo.

    A questão da clonagem defeituosa coincide com o dito na trilogia Thrawn, mesmo que a tradição em Império do Mal seja ignorar por completo esta outra obra. Até pela pouca distância entre uma e outra, Empires End tem muito mais semelhança com Império do Mal II do que entre a primeira e segunda parte, fazendo o gancho deixado nos últimos momentos valerem algo.

    A aproximação do Imperador de seu alvo é executada a um modo absolutamente patético, conseguindo passar pela guarda rebelde unicamente por ser um ancião, que inclusive é chamado de amável pela pessoa responsável pela segurança de Leia, Jacen, Jaina e Anakin. Além de trazer uma versão grotesca, decrépita e que se assemelha a forma decadente do antagonista dos Thundercats Mun-Rá, as ações de Palpatine não condizem em nada com o vilão que outrora dominou a galáxia.

    Os jedi mostrados nas revistas são descartados em sua maioria, mostrando um cenário para Luke muito semelhante ao visto antes de toda essa micro saga começar. O desfecho melancólico do antigo déspota é repetida com suas tropas, perecendo enfim após um estranho ataque da Milenium Falcon, cobrindo o último quadrinho, sem maiores enrolações ou festas posteriores como foi visto ao fim O Retorno de Jedi por exemplo, com Veitch ao menos assumindo o quão pequena e pouco ambiciosa é a sua história, que termina acrescentando pouco ao recém criado universo expandido de Star Wars, além de não fugir da linguagem em quadrinhos medíocre e típica dos anos noventa.

  • Resenha | Star Wars: O Último Comando – Timothy Zhan

    Resenha | Star Wars: O Último Comando – Timothy Zhan

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    O capítulo derradeiro da trilogia de Timothy Zhan retoma o personagem principal em posse de uma importante arma estratégica já que, finalmente, o grão-almirante Thrawn usa a tecnologia de clonagem utilizada pela antiga República. O primeiro tomo se inicia como manda a tradição, a bordo da Quimera, embora exista neste O Último Comando uma maior divisão de ações, entre vilões e mocinhos. A disputa ideológica entre Joruus C’Baoth e Grão-Almirante Thrawn é o aspecto mais interessante, pontuado com um desafio travado entre ambos, com o militar encarregado de tentar levar Leia grávida ao ponto onde está o jedi sombrio.

    O argumento dos livros de Zhan decaem muito mas ainda guardam bons momentos como a mostra da resignação e batalha sentimental de Mara Jade ao se aproximar da figura de Luke Skywalker. Além disso, há uma boa repercussão sobre a libertação do Almirante Ackbar que, em momentos anteriores, foi acusado de alta traição pela Aliança Rebelde.

    O ancião C’Baoth fica cego em relação a busca pelo poder, tencionando tomar a força os gêmeos Jacen e Jana, herdeiros de Leia. Sua necessidade de ter os rebentos a fim de treina-los eles e torna-los seus alunos na força sombria o deixa arrogante, subestimando e tentando impor seus ditames até mesmo  a Thrawn que o mantém perigosamente perto. Caso esta motivação fosse clara, poderia haver um sentido, mas logo o velho homem se contenta com a possibilidade de ter Luke, ou Leia ou Mara Jade com discípulos, demonstrando que suas motivações são pequenas.

    Por sua vez, o almirante azulado da raça Chiss segue sóbrio e dominador. Deixando-nos com a impressão deque ele é o grande almirante indicado para tentar remontar o Império, o único capaz de gerar confianças nas tropas que restaram além de possuir inteligência estratégica para tal.

    Outra trama evoluída são os sonhos de Mara Jade com seu antigo mestre que lhe ordena assassinar a pessoa por quem se apaixonou. Apesar de repetir o clichê de Ascensão Sombria, o plot é consistente, em especial porque quase todas as tramas secundárias finalizam de forma boba.

    Os personagens periféricos tentam a duras penas aparecer neste combate, mas a maioria é apenas citada. Han Solo e Chewbacca prosseguem tentando alistar esforços de contrabandistas e clandestinos em geral, como vinham fazendo antes e participam de algumas ofensivas. A questão dos clones defeituosos também tenta soar interessante mas resulta em algo banal – que pode ou não ter inspirado os eventos de Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith. A análise sobre a saúde desse clones justificaria a questão dos kaminoanos na nova trilogia, grupo que seria os melhores neste ramo. A exploração do tema da raça dos Noghri ganha contornos mais sérios do que antes, um ponto positivo na trama, ainda que haja uma supervalorização evidente próximo ao desfecho.

    O esquadrão Rogue é apresentado com uma maior ingerência nos fatos ao ponto de interferirem na batalha política de Leia com o botano Borsk Fey’lya, discussão esta que demonstra que não havia unanimidade sobre o que seria o embrião da Nova República, além de evidenciar as problemáticas de um cenário político verossímil. O livro ajuda a aprofundar a tramóia social desta nova fase, elevando o “combate” ao maniqueísmo barato, utilizando subterfúgios de Luke junto aos Noghri em um comportamento moralmente discutível e pragmático, mas ainda aceitável diante do cenário caótico.

    Exceto pelos exageros em seu desfecho, estes fatos são bem executados na história. Zhan consegue estabelecer uma aura interessante, bem menos aventuresca do que aquela apresentada nas películas e mais caucada no militarismo. É no resgate destes conceitos que se nota o principal problema do livro, já que repete aspectos dos filmes da trilogia –  em especial O Retorno de Jedi – incluindo até mesmo um ambiente florestal onde Jade e Skywalker discutem a sua relação e a morte do mandatário do Império.

    As escolhas do autor para o embate entre Luke e C’Baoth são complicados e com péssimas ideias. Apelar para a emoção em Mara Jade era esperado mas clonar o herói da jornada é uma saída boba e pueril. A versão duplicada de Luke se assemelha ao conceito bruto do Super-Homem Bizarro, mas não tem em sua volta o background que torna o vilão do kriptoniano em algo digno de uma boa discussão, apesar das suas características paródicas. A ideia por trás de Luke banaliza a clonagem e faz a ideia de Timothy Zhan sobre as Guerras dos Clones parecer terrível.

    O fim de de ciclo de Joruus C’Baoth é igualmente fraco, imitando os momentos finais de Jedi, tendo como único ponto positivo o encerramento da maldição de Mara Jade. No entanto, o jedi do lado negro – lembrando que o conceito de sith não estava estabelecido ainda – era um adversário secundário, o vilão mais poderoso e bem construído da história teria um fim súbito e anticlimático, mas condizente com toda sua trajetória.

    A trilogia Thrawn é um divisor de águas, não só na questão do Universo Expandido, hoje chamado de Legends, mas como no universo de Star Wars em geral, uma vez que diversos elementos dos livros foram agrupados nos filmes de Lucas. O bom caráter bélico iniciado em Herdeiro do Império segue bem sustentado, assim como o carisma e força de seu personagem vilanesco, mas o texto não corresponde a expectativa criada em seu lançamento, tampouco o nível se iguala aos momento icônicos anteriores.O legado de Thrawn  se destaca devido aos personagens, porém, sua condução foi prejudicada devido a necessidade comercial, resultando em uma quantidade excessiva de clichês. Pouco para aquilo que era uma espécie de Episódio IX de Star Wars. Dentro das restrições impostas, Zhan fez o possível para manter a harmonia entra a plausibilidade da história política do universo – aliás, nunca antes tão desenvolvida como agora – e a expectativa de aventura escapista, que claramente perde para os episódios do cinema, mas em comparação melhor construída nesta trilogia do que em outros momentos do Universo Expandido.

    Compre: Star Wars: O Último Comando – Timothy Zhan

  • Resenha | Lordes dos Sith – Paul S. Kemp

    Resenha | Lordes dos Sith – Paul S. Kemp

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    O livro Lordes dos Sith escrito por Paul S. Kemp, pertencente ao universo canônico de Star Wars, conta uma história que fazem os fãs de Star Wars babar, a trama envolvendo o Imperador Palpatine e Darth Vader, coloca os dois personagens em uma situação bem complicada. Nós vimos a dupla frequentemente juntos na trilogia nova (episódios A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith) como Chanceler Palpatine e Anakin Skywalker, vemos o Chanceler tentando trazer Skywalker para o lado negro e eles retomam a parceria na trilogia antiga também, o livro de Paul S. Kemp mostra um olhar mais próximo da dupla de mestre e aprendiz.

    Lordes dos Sith acontece no planeta Ryloth, entre o filme Vingança dos Sith e livro Tarkin. Na trama do livro, o Império está explorando o planeta natal dos Twi’leks (espécie de humanoide) à procura do minério Ryll e ao mesmo enfrentando a rebelião considerável liderada por Cham Syndulla, que vimos pela primeira vez na animação Star Wars: The Clone Wars, Syndulla é pai de Hera que aparece na animação Star Wars Rebels. A intenção do grupo de Cham é causar bastantes problemas para chamar a atenção do Imperador Palpatine e Darth Vader. A viagem dos Siths a Ryloth não sai como planejada e eles encontram-se tendo que lutar por suas vidas.

    Vendo Palpatine e Vader neste particular período nos fornece um bom contexto da dupla. Vader continua tentando achar seu caminho, aprendendo a como deixar seu passado para trás e entendendo o poder aparentemente sem limites de Palpatine. É fascinante ver Vader descobrir como lidar com o medo e o ódio, tornando o personagem mais atrativo e entender o por que ele é do jeito que é, compreendendo qual é o papel de Palpatine na vida de Vader. Combinar o que é mostrado no livro com o que sabemos através dos filmes mostra um perfil mais completo do incrível vilão.

    Eu gostei muito de acompanhar a jornada de Vader, mas também fiquei bastante interessado em ver como Palpatine manipula as pessoas que estão a sua volta, sua inteligência e paciência também ficam bem evidente no livro, os momentos nos quais ele manipula Vader são bem impressionantes, “Lordes dos Sith” mostra toda a potência de Palpatine em ação. Palpatine não fica sentado em seu trono em Coruscant, ele vai cuidar dos assuntos do Império pessoalmente no meio da selva de Ryloth. As cenas de Kemp são vívidas, deixando muito fácil de imaginar o livro como um complemento dos filmes.

    No entanto as cenas de ação ficam um pouco a desejar no livro, elas são grandiosas, mas demoram muito a acontecer. Em alguns pontos do livro, eu me peguei calculando quantas páginas faltavam para finalmente chegar à cena da luta e em certos momentos eu tentei pular algumas partes, mas me contive e segui lendo o livro na íntegra.

    Durante a jornada de Vader e Palpatine tentando conter a rebelião podemos testemunhar a política interna do Império, onde podemos comparar o Império com uma grande corporação, com pessoas preguiçosas tentando tirar vantagem de todas as situações possíveis. No livro nós conhecemos a Moff Delian Mors, personagem cânone e a primeira personagem homossexual do universo Star Wars, e ela desenvolve um papel importante no curso do livro.

    No lado da rebelião, encontramos a continuação de uma história iniciada em Clone Wars. Os cidadãos querendo serem independentes do Império. Cham Syndulla líder da causa rebelde e é devoto a ela, enfrenta conflitos, toma decisões difíceis e carrega todo peso da causa. Você consegue sentir o peso das vidas perdidas nos ombros de Syndulla, toda decisão dele tem um impacto profundo e isso adiciona uma carga dramática ao livro.

    O livro conta outros personagens como Isval e Belkor tão importantes para a história assim como os personagens já citados. O ponto de vista muda entre os personagens durante a trama e isso funciona muito bem para a história. Kemp fez um trabalho excelente ao entrelaçar as histórias dos personagens, dando espaço a todos eles.

    Sem dar muito spoilers do final de cada personagem, o livro termina de uma forma bastante abrupta. Ainda assim, Lordes dos Sith é uma leitura obrigatória, se você é um fã do Imperador Palpatine e/ou Darth Vader e estiver interessado em entender melhor sobre a dinâmica da dupla. O livro é um retrato da galáxia em um momento em que o Império está no seu auge, demonstrando força extrema e crueldade ao enfrentar a Aliança Rebelde.

    Texto de autoria de Tiago Cesar.

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  • E se o Cinema Desprezasse Super-Heróis?

    E se o Cinema Desprezasse Super-Heróis?

    E se o Cinema Desprezasse Super-Heróis

    “Não há espaço para super-heróis, nunca houve. Filmes baseados em HQ’s sempre foram um problema pra indústria. Tipos como Superman, Homem-Aranha, Flash e os X-Men simplesmente não conseguem respirar fora dos quadrinhos – imaginem um filme sobre Os Vingadores, com heróis e mais heróis pipocando na tela; impossível. A plateia iria recusar salvadores criados para crianças, principalmente por se sentir inferiorizada diante de outros tão poderosos. Não iria ter identificação com o mundo real, não como acontece nas revistas. Aliás, não há como convencer as pessoas a pagar pra ver um bando de adultos vestindo uniformes e lutando contra o crime, certo? Rapidamente essa fórmula iria se esgotar, o encanto teria prazo para acabar, e, antes de encontrar o fim, é melhor que essa mania de adaptar tudo nem comece! Já bastam os filmes do Superman que, de bom mesmo, só os dois primeiros e o Batman, do Tim Burton. Chega! Quem precisa de super-heróis fora do gibi?”

    Hollywood, e mais do que nunca. A indústria está carente, feito um solteirão trancado num apartamento com dez gatos por uma semana, ou até mais que isso. As grandes ideias ou simplesmente caíram da ampulheta, ou estão sendo poupadas há décadas nas gavetas dos poderosos produtores da Warner, Fox, Disney e cia., com medo do futuro caso de fato boas ideias sejam coisa do passado, ou se a moda de reciclar tudo em infinitas sequências não colar mais e todo mundo começar a pedir algo diferente de Velozes e Furiosos 98 ou Star Wars – Episódio 50. Uma hora vai cansar, né? Tudo cansa, ou melhor, muita coisa já cansou, tipo Transformers, que número está, 78º filme? Nem Optimus Prime dá conta. Mas se a Sociologia explica tudo (quase tudo), nesse caso nem vamos precisar ir fundo na análise… Não é só o Cinemão, que um dia foi comandado pelos grandes cenários de Victor Fleming e William Wyler, e hoje se nutre pelos efeitos visuais de James Cameron que precisa da Marvel e da DC: A sociedade também.

    Precisamos de parâmetros, de espelhos, e precisamos a todo momento. Alguém sem ídolos, como deixa claro O Mestre, de Paul Thomas Anderson, praticamente não existe. Todo mundo precisa de um fôlego, de um “Você me representa!”. Por isso a utopia apresentada no começo, em que os super-heróis jamais seriam aceitos pelo público, é pura mentira, mas se aplica diretamente aos filmes baseados em videogame, os quais, se realmente querem ser aceitos, irão precisar jogar do jeito que Bryan Singer, Sam Raimi e Christopher Nolan fizeram (amém), pavimentando o caminho. Não pode vencê-los? Junte-se ao modo Marvel-DC de fazer as coisas (editoras que hoje estão na Disney, Fox e Warner, e o resto que corra atrás de livros famosos, rápido!). Ainda na exibição de Batman vs Superman, ou em Capitão América: Guerra Civil, é nítido o prazer de assistir a pessoas iguais a nós salvando o mundo. Fazendo a diferença! Nos dá quase um gosto de missão cumprida, não é? Isso não cansa nunca, ou pelo menos demora pra gente dar um O.K., e procurar algo melhor para fazer, para assumirmos que vale a pena.

    Beleza, mas E SE, brincando no universo paralelo das conjecturas, aquele cenário (apocalíptico) fosse uma realidade, tal qual a situação ainda indecisa e inexpressiva dos filmes de videogame, e o primeiro X-Men, dos anos 2000, ou o Homem-Aranha de 2002 e Batman Begins de 2005 tivessem sido enormes fracassos, e ninguém ousasse mais vestir um ator com capa na Comic-Con de San Diego?! Nesse caso, então, a indagação suprema seria outra: como estaria o Cinemão americano, todo lindo e divertido, em 2016, se a gente nunca tivesse chamado a galera pra assistir a quadrinhos numa tela gigante? Muito doente, obrigado.

    Mas calma, estaria vivo SIM, com roteiristas a preço de ouro. Mas seria um sobrevivente como sempre foi, desde muito antes de Spielberg mostrar aos poderosos que dá pra fazer MUITA grana fazendo as pessoas se divertirem, e não apenas se emocionarem como ficou provado com … E O Vento Levou, a maior bilheteria da história levando-se em conta a inflação (três bilhões e meio de dólares, quer mais?). Como imaginar numa situação saudável, tranquila e good vibes, dependendo de franquias como 007, Piratas do Caribe e Avatar, uma indústria com a Marvel faturando 10 bilhões em uma década, e um personagem sozinho feito Batman com mais de quatro bilhões em caixa, com apenas oito filmes? Seria a mesma coisa de tirar o Chaves do SBT, resumindo. Hollywood viciou e nos fez viciar mais ainda nessa gente que voa, é diferentona e solta raios (foi a melhor coisa a fazer), e que essa fonte dure bastante, caso contrário…

    Movimentos em forma de filme, como Avatar (O 3D duplica o valor do ingresso, o mercado está salvo de novo), Central do Brasil (num país pós-retomada do cinema nacional) e Pulp Fiction (ensinando Hollywood que “somos pobres mas somos limpinhos”) tiveram uma importância tão grande para o Cinema que, apagando-os da história recente ou da antiga da arte, iríamos sentir em demasia os efeitos de uma utopia positiva agindo sobre nós; no cenário das hipóteses, tudo pode acontecer. E fica fácil prever uma hipótese dessas se julgarmos o impacto na cultura pop caso George Lucas nunca tivesse criado Star Wars, em 1977. Se a saga dos sabres de luz resumiu uma geração (e levou a veneração à cultura pop, mundo afora, calcando bases sólidas no mercado do entretenimento em massa), sua inexistência deixaria Hollywood órfã de representação e adoração a longo prazo, inclusive na memória de todos nós, já que é isso o que realmente importa no jogo. Mais do que isso: Muito da identidade de uma época nunca teria existido, como aconteceria se o cinema não curtisse o Deadpool.

    Sem a Marvel e DC na jogada, o jeito da cultura pop no Cinema seria apelar para franquias melhores que os tapa-buracos de hoje em dia (Divergente, Maze Runner, Jogos Vorazes, etc), desenvolvendo a qualidade de produtos de um jeito muito mais profundo e menos descartável do que atualmente faz, o que, dada a quantidade de estreias a cada semana, torna-se impossível de realizar em grande escala. A esperança é a última que morre, e sem heróis para fazer o povo continuar saindo da Netflix e indo ao Cinema, talvez teríamos até mais sequências que já temos (“Alice – A Vingança do Chapeleiro Maluco” poderia estrear semana que vem), além da usual avalanche de remakes que só iriam aumentar, obrigando a molecada a descobrir os filmes originais do passado. Outro “talvez” cabível seria o reinado, FINALMENTE, dos filmes de videogame, com ‘Diablo – Parte 4’ estreando em julho. Por que não? Tudo seria possível se a Marvel não reinasse, soberana, e se a DC não tivesse no comando uma ameba chamada Zack Snyder.

    Levando o cinema a experimentar novas possibilidades de contar histórias, em 1977, lá em cima no espaço, Lucas passou o bastão para J.J. Abrams porque, agora, tudo parece ter mudado. Com as histórias de Stan Lee e Bob Kane, de 2000 pra cá, o que os super-heróis nos levam a sentir? Poder, auto-engano em massa, um chamado para salvarmos o mundo… O inconsciente e imaginário populares têm um trabalho importante nisso, e num mundo atacado com terrorismo, aquecimento global e o fim da privacidade, numa realidade dessa e cada vez mais cética sobre quem realmente tem poder nesse mundo (Oi, Google), seríamos nós nossos próprios heróis? O que representa a identidade do século 21 se não salvarmos a nossa própria pele? Isso explica porque eles não são suficientes no gibi, porque precisaram ir para a tela grande, e porque seu maior feito é salvar Hollywood. Isso explica muita coisa.

  • Resenha | Star Wars: Ascensão da Força Sombria – Timothy Zhan

    Resenha | Star Wars: Ascensão da Força Sombria – Timothy Zhan

    Ascensão da Força Sombria 1

    A começar pelo estranho planeta minerador Mykr, lugar que em si já possui personalidade própria dadas suas condições e características únicas, Ascensão da Força Sombria – segundo volume da trilogia Thrawn lançada pela Editora Aleph –  também tem sua introdução dentro da Quimera, mostrando que Pellaeon é a visão primordial desta nova trilogia, como eram os droids. Timothy Zhan parece ter um vicio introdutório de sempre apelar para a condição epitelial azulada de seu protagonista, como se aludisse o tempo inteiro para o racismo do Império e para a grande condução do grão-almirante Thrawn, capaz de vencer tal paradigma e ainda ser a principal figura herdeira dos espólios imperiais.

    O crescimento da ambientação e cenários é interessantíssimo, mas a trama ainda tem medo de se mostrar inovadora, sendo bastante comedida. Já no começo, são citados os AT-AT e AT- ST, máquinas terrestres, que evidenciam a precariedade do restante do Império Galático, necessitando de entrosamento e treinamento para retornar aos tempos gloriosos vistos no Episódio V – O Império Contra-Ataca e Episódio VI – O Retorno de Jedi. No primeiro capítulo, a parceria de Talon Karrde e Mara Jade é aludida como versão de Han Solo e Luke Skywalker em Episódio IV – Uma Nova Esperança, mas por vias menos maniqueístas, já que ambos flertam com uma posição vilanesca clássica. O capítulo também mostra o local onde o mestre “jedi Joruus C’Baoth, está, no aguardo de seus possíveis pupilos, guardando em si uma intenção dúbia.

    A acusação de traição do almirante Ackbar é uma manobra covarde, primeiro por ser um bocado incabível, segundo pelo desperdício de carga dramática de, realmente, modificar os personagens antigos em tons mais escuros, já que Lando esteve prestes a morrer e não pereceu, além de que não haviam provas suficientes para imputar culpa sobre o calomariano. A tentativa de gerar nuances narrativas, pondo dúvidas em Leia quanto a inocência do antigo general faz todo o argumento soar ainda mais oportunista e barato.

    A nave Wild Kaarde alude ao nome de batismo original do primeiro volume (Wild Card), o que ajuda a determinar a importância de seu piloto, o caçador de recompensas que parece ter herdado a complexidade que Solo antes tinha. É na persona de Kaarde que residem os melhores em momentos dos livros, em especial na parceria com Jade, já que um evoca no outro um interessante sentimento de confiança, algumas vezes se assemelhando a uma leve tensão sexual, ainda que o foco seja maior em desconstruir a figura de uma vilã puramente má.

    A desculpa para Luke estar inseguro em Herdeiro do Império é revelada e intimamente ligada ao personagem ancião de Joruus C’Baoth, uma versão embrionária de Conde Dooku, tendo muitos dos seus elementos coincidindo com a versão de Christopher Lee de como seria um jedi da Força Negra, já que se diz que Jorus teria sido muito próximo do então Senador Palpatine.

    O encontro de Luke e C’Baoth serve para reprisar a tentativa de selecionar Luke para o lado negro, bem como trata os opositores como Jedi Sombrios, e não Sith, como seriam conhecidos após. É nesta interação que há discussões mais maduras dentro da trilogia, até então, incluindo a rocambolesca discussão a respeito dos rumos da Nova República. C’Baoth começa a treinar seu novo pupilo e tenta fazê-lo alterar através da força o livre arbítrio de alguns aldeões de Jomark, planeta onde estão localizados. A experiência serve de eco mais adulto aos termos ditatoriais que tentam se insurgir após a queda do Império.

    A briga política e acusação a Mon Mothma através do conselheiro Borsk Fey’lya poderia ser melhor construída, pois, caso ocorresse, a discussão a respeito dos rumos políticos seria mais coerente e inédita na história do universo Star Wars. A possibilidade de instaurar uma ditadura, perpetrada por personagens canônicos – Mothma e Ackbar – se mostra suspeita aos olhos dos rebeldes ilustres, e quase não causa dúvida em seu leitor, dada a falta de consistência nessa ambiguidade.

    Problemas circunstanciais pontuam a história, bastante plausíveis, aliás, em vista do quadro econômico e político pós Retorno de Jedi, como complicações com câmbio entre moedas do Império e Nova República. Outro fator interessante é a revelação de Mara Jade junto a Thrawn, como a dita mão do Imperador, revelando que sua principal motivação era evidentemente fracassada, já que ela falhou em assassinar Luke Skywalker e ainda começa a se afeiçoar ao jedi.

    Ascensão da Força Sombria ajudou a fomentar uma velha discussão entre os fãs, envolvendo a completa falta de coesão entre o Universo Expandido e o controverso conceito de cânone dentro da franquia. O primeiro dos fatores, certamente, é a regra de dois vista no comportamento dos sith – conceito que, por si só, não era solidificado ainda na trilogia Thrawn – já que, no mínimo, Darth Vader e Mara Jade eram alunos do Imperador. Outro grave problema era a questão da clonagem, as “guerras clônicas”, anunciada por Leia em Nova Esperança, gerou em quase todas as cabeças pensantes do UE a necessidade de inserir este conceito em seus escritos, mesmo que a ideia não tenha sido explicitada ou amadurecida, sequer por George Lucas. O advento de Joruus C’Baoth, apesar de primitivo em conceito, ainda não sofria como um clichê comum, uma vez que ao ser escrito, ainda não havia estourado o “clonexploitation” visto especialmente nos quadrinhos, tanto na versão do Universo Marvel quanto nos quadrinhos de Star Wars da Dark Horse, fomentando péssimas situações, como a cópia genética de personagens fortes dos filmes, ressuscitado unicamente para fazer ainda mais vergonha aos já combalidos antigos guerreiros – leia-se trilogia em quadrinhos Império do Mal.

    Os capítulos finais servem para solidificar as mudanças de postura de Mara Jade, fazendo-a discutir os desígnios que recebeu de seu antigo mentor e treinador e se aproximando sentimentalmente de Luke, personagem que claramente evolui junto a ela, sendo essa a justificativa para sua desolação no livro anterior. O desfecho por parte dos inimigos reúne Thrawn e C’Baoth novamente, em um evento que, a priori, parece oportunista e conveniente, ao mesmo tempo em que emula a reunião de Luke e Leia no final de Império Contra Ataca, com muito menos dramaticidade nesta encarnação, é claro.

    A sensação de que a trilogia se aproxima mais de  Star Trek do que com Star Wars se intensifica na batalha final desta narrativa, não pela boa urdição militar, e sim pela falta de um embate mais épico e carregado de emoção. A batalha não é exatamente morna, mas carece de emoções mais fortes, como foi em Yavin, Bespin ou Endor. A alusão a clonagem, via Spaarti (que servia de embrião ao que Kamino representaria em Episódio 2: Ataque Dos Clones) é interessante, e serve de gancho para o derradeiro capítulo, o qual deveria amarrar as pontas soltas deste que é basicamente uma narrava de interligação desta trilogia. De qualquer maneira, a composição segue tão competente quanto em Herdeiro do Império, uma vez que Timothy Zhan é um escritor bastante experimentado, empregando nesses livros um talento narrativo único e um apreço por tramas militares bem construídas.

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  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (3)

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (3)

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    Maior fenômeno da cultura pop, maior franquia da história do cinema e com o filme mais esperado do ano (possivelmente da década), Star Wars dispensa comentários sobre sua importância. A decepção dos fãs com a nova trilogia encerrada em 2005 era nítida. Tamanha expectativa com a estreia de A Ameaça Fantasma em 1999 só foi igualada pelo tamanho da decepção com filmes tão ruins e que desrespeitavam praticamente todas as premissas estabelecidas na trilogia original. É dentro desse turbilhão de emoções que a franquia ganha em 2015 o primeiro de seus novos episódios, chamado “O Despertar da Força”, dessa vez sob o comando da Disney e direção de J.J. Abrams, com roteiro de Lawrence Kasdan, Michael Arndt e do próprio Abrams.

    Atingir uma expectativa tão grande não era tarefa fácil, e ciente da cobrança (provavelmente injusta) em cima de si, Abrams desde o início resolveu focar justamente onde a nova trilogia falhou: o respeito pela saga original, sua mitologia e simbologia. Dentro deste aspecto, o Episódio VII é muito eficiente. O visual se assemelha muito aos filmes originais, tanto nas cores, vestimentas e designs, como nos pequenos detalhes de botões em centros de comandos, luzes de painéis e toda a arquitetura interna e externa da chamada “Primeira Ordem”, que se assemelhava a do Império, quanto do restante da galáxia.

    A história gira em torno basicamente de dois personagens, Rey e Finn. Rey (Daisy Ridley), residente do planeta Jakku e que sobrevive juntando peças de antigas naves caídas em seu planeta, tanto do império quanto da aliança rebelde, em troca de rações de alimento. Dotada de um espírito perseverante e determinado, Rey sofre naquele cotidiano árduo, ela sonha com a volta de sua família para resgatá-la, já que vimos um flashback onde ela é ali abandonada. Finn (John Boyega) é um stormtrooper que deserta por se recusar a cumprir as ordens que recebe para executar habitantes de Jakku em sua primeira missão, que era recuperar o mapa da possível localização do antigo Jedi Luke Skywalker, em posse do piloto rebelde Poe Dameron (Oscar Isaac) e também buscado pelo vilão do filme, Kylo Ren (Adam Driver). Dameron o esconde em uma unidade BB, chamda BB-8, que encontra Rey, que encontra Finn, que encontram a Millenium Falcon, que é encontrada por Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew/Joonas Suotamo), e de onde a história principal se desenvolve como apresentada nos créditos iniciais: o objetivo é encontrar Luke Skywalker. Os rebeldes querem o retorno do antigo Jedi para ajuda-los, e a Primeira Ordem quer encontrar para destruí-lo, afinal enquanto um jedi estiver vivo, é uma ameaça a seus objetivos.

    Um ponto que o novo filme acerta em cheio é na escolha do novo elenco. Daisy Ridley e John Boyega possuem uma química raras vezes vista em filmes do gênero, o que mostra a noção perfeita dos produtores no casting, e como eles sabiam exatamente o que estavam buscando no filme (ponto positivo para escolherem como protagonistas um negro e uma mulher, tentando tornar o universo de Star Wars mais diverso). Atores mais conhecidos como Oscar Isaac e Domhnall Gleeson (General Hux) também agregam um enorme valor devido a seu talento, mas sempre ajudados por cenas construídas especificamente para os atores darem vida a seus personagens da melhor forma possível. Já Harrison Ford não consegue transmitir de novo o mesmo carisma do Han Solo que vimos na trilogia original. Notório carrancudo a respeito de Star Wars, Ford parece a todo tempo estar em modo automático, e apesar de seu papel funcionar bem na maior parte do tempo, parece não ver a hora de tudo acabar, até mesmo seu figurino demonstra essa preguiça, se assemelhando mais a um cosplay de Han Solo do que o legendário piloto. Tanto que seu destino no filme parece até mesmo saído de uma sugestão sua. Também retornam a seus papéis clássicos Carrie Fisher como a agora General Leia Organa e Anthony Daniels como C-3PO, além de R2-D2 (Kenny Baker).

    Star Wars: The Force Awakens Ph: Film Frame ©Lucasfilm 2015

    Porém, se em todo o respeito ao universo o novo episódio é irretocável, onde ele falha é justamente no excesso de cautela na fórmula da franquia. O Episódio VII recicla praticamente inteira a trama principal do Uma Nova Esperança de 1977. De novo vemos planos escondidos em um robô por um membro da resistência que é capturado pelo vilão principal e por ele torturado. De novo (pela terceira vez) temos uma arma grandiosa capaz de destruir planetas usada como forma de impor a força da “Primeira Ordem” no universo. De novo o plano dos rebeldes é montado em um diálogo expositivo rápido em frente a uma projeção. De novo o plano constituído é destruir essa arma com um ataque aéreo. De novo alguém precisa desabilitar um escudo internamente. De novo temos uma sequência aérea com direito a voos em uma trincheira e a arma é explodida. Tudo filmado de forma muito eficiente e empolgante, sem o marasmo dos episódios I, II e III. Porém, que ainda deixa o fã, lá no fundo, um pouco decepcionado, porque parece que tudo em Star Wars gira em torno de uma arma que precisa ser destruída. Se nos primeiros filmes ao menos o desenvolvimento dessa trama seguia um andamento mais lento, neste capítulo da saga o ritmo frenético do filme mal deixa o espectador respirar para absorver tudo o que está vendo na tela. Não há um momento de pausa, e talvez seja sinal dos tempos, mas um equilíbrio maior neste sentido poderia ter dado mais espaço aos personagens para se desenvolverem de forma mais subjetiva.

    Outro ponto também mal explicado é a origem da “Primeira Ordem”, organização que substituiu o antigo Império. Também não é falado nada a respeito de Kylo Ren e sua ordem, assim como seu mestre, Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), o que reflete não uma tentativa de não contar muito da história, e sim um certo descuidado com o roteiro, afinal, essa falta de informação faz com que ambos os vilões não representem uma ameaça tão grande quanto Darth Vader no primeiro filme. Porém, a relação entre o braço militar da Primeira Ordem, representado pelo General Hux (em alusão clara ao nazismo) e o braço místico representado por Ren é muito bem construída, e a crescente tensão e disputa entre os dois personagens pela aprovação de Snoke serve como catalisador para diversas situações interessantes no filme, especialmente para Ren, que mostra uma fragilidade interessante ao se dizer tentado pela luz. Mesmo Adam Driver não entregando uma atuação maravilhosa, seus melhores momentos ainda ficam enquanto usa a máscara e entoa a voz mecanizada e assustadora que emula, propositalmente, Darth Vader. Outro personagem muito esperado pelos fãs, a Capitã Phasma (Gwendoline Christie), possui uma participação reduzida no filme, o que se pode extrair daí dois pontos: a menção a Boba Fett, personagem construído pelos fãs e que nunca fez muita coisa nos filmes, e que ela irá voltar nos próximos episódios, possivelmente com um papel maior.

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    Mas, mesmo com esses pontos negativos, o principal objetivo do filme é mantido, que era resgatar o espírito da franquia e a magia de se contar uma história dentro da mitologia que cativa tanta gente ao redor do mundo. A excelente cena de Rey tocando no sabre de Luz de Luke e tendo seu primeiro contato com a força utiliza de efeitos especiais como deve ser, em favor de se contar uma história. A Força é explicada a ele na cena seguinte por Maz Kanata (Lupita Nyong’o) relembrando os ensinamentos de Yoda em O Império Contra-Ataca, deixando de lado a bobagem pseudo-científica dos midi-chlorians inventada por Lucas em “A Ameaça Fantasma”. Outras pequenas homenagens ao universo também são feitas, quando Finn enfrenta com o sabre de luz um stormtrooper que empunha uma arma que lembra uma vibroblade em um duelo muito bem construído. A opção de Abrams pelos cenários reais ao invés do tão criticado CGI foi louvada por praticamente todos, e o resultado é nítido. Tudo parece real (e é!), nos fazendo acreditar em todo momento em tudo o que está acontecendo na tela. Em momento algum da projeção a credibilidade do filme é quebrada por conta de algum efeito especial mal acabado. Tanto os monstros mais simples quanto as excelentes e bem trabalhadas sequencias de confronto entre as X-Wings e os TIE Fighters passam um realismo que o fã de Star Wars sempre quis ver novamente, mas devidamente atualizado. A leveza do humor também consegue apagar o marasmo das tramas políticas da nova trilogia, e tanto BB-8 (sabiamente utilizado) quanto Finn (e também várias cenas com os stormtroopers) possuem cenas que tiram risos naturais da platéia.

    As cenas de luta também são outro ponto positivo, sendo muito bem feitas e distantes do balé estéril mostrado na nova trilogia, como o próprio Abrams havia deixado claro que iria fazer. Com pouco treinamento, não seria possível os personagens exibirem tamanha técnica nos duelos, o que torna a emoção e a visceralidade dos golpes e defesas ainda maiores. O duelo entre Rey e Kylo Ren, apesar de causar estranhamento inicial (afinal, como ela empunhando um sabre pela primeira vez iria competir com um mestre da ordem Ren?), consegue transmitir em poucos minutos uma carga dramática muito grande, e a superação de Rey utilizando a Força estabelece-a como o que era desde o início, um campo de energia que depende da pessoa usá-la e canalizá-la corretamente, não importando você ter décadas de treinamento de esgrima. O que importa é a Força, sua vontade, determinação e o quanto você acredita fielmente nela. Neste filme a Força é realmente importante e um de seus maiores méritos é justamente mostrar como ela é poderosa. Kylo Ren parando no ar um raio do blaster de Poe Dameron é fenomenal. O uso que faz da Força a todo momento nos mostra mais detalhes do que a saga havia mostrado até então. O mesmo acontece com Rey conforme ela vai descobrindo seus poderes enquanto vai sentindo-os.

    Portanto, “O Despertar da Força” entrega justamente aquilo que os fãs esperavam tanto. Um filme fiel as suas origens e que tratasse todo o seu legado com respeito. J.J. Abrams se declarou fã da franquia por diversas vezes, e talvez esse excesso de respeito tenha tornado o filme seguro demais, sem praticamente tomar nenhum risco sob o ponto de vista narrativo. Porém, com o tamanho estrago feito pelos três filmes anteriores da franquia, essa escolha é perfeitamente compreensível. O que podemos esperar agora é, com o universo novamente consolidado, que novos objetivos sejam traçados e que possamos ver novas histórias ser contadas de outras formas. O Império Contra-Ataca é o que é justamente porque a sua frente tem alguém que entende a linguagem cinematográfica mais do que entende de Star Wars. Entende a motivação por trás de cada personagem e as ações condizentes que eles deveriam tomar. Entende que pequenos detalhes fazem a diferença entre algo comum e algo fenomenal. Não fosse Irvin Keshner, Han Solo nunca teria dito “Eu sei” ao ouvir que Leia o amava. É isso que a franquia precisa.

    O Episódio VIII já tem seu diretor contratado, o novato e promissor Ryan Johnson, que sempre carrega uma atmosfera noir em seus filmes. Com tempo, um bom roteiro e um pouco de sorte, talvez tenhamos algo novo neste sentido. As expectativas agora estão mais altas do que nunca (ainda mais pela cena final do Episódio VII), pois a comparação da sequência ser melhor que o anterior, relembrando os episódios IV e V, será feita. Ao menos agora estaremos felizes esperando o próximo, e não mais apreensivos.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Star Wars: Holiday Special

    Crítica | Star Wars: Holiday Special

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    Versão defenestrada por George Lucas,  misturando estilos diversos, Star Wars Holiday Especial teria “tudo” para ser considerado canônico, exceto é claro a qualidade do filme anterior. O elenco que protagonizava todo o filme premiado estava de volta, claro, em cenas isoladas, para compreender a agenda de cada um dos astros, acrescido também das curiosas criaturas, Malla, Itchy e Lumpy, mais tarde apresentados.

    A história começa com Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew) cruzando o espaço, a bordo da Millenium Falcon, para chegar ao planeta Kashyyyk, onde o Wookie comemoraria junto a sua família, o Dia da Vida, um claro equivalente ao natal terráqueo. As mudanças começam pela chamada, que inclui a nomeação do elenco, ator por ator, diferente dos créditos de toda a saga, que só elencava o cast após o término dos filmes, tradição que seria ratificada em 1980 com Império Contra Ataca.

    As criaturas que interpretam os novos personagens, citadas anteriormente, são parte da família de Chewie, e estão ávidas a espera do seu ilustre parente. O trio protagoniza cenas horrendas, na sua casa na árvore, conversando abertamente sem qualquer legenda. O cúmulo ocorre quando elas dialogam através de um holograma com Skywalker (Mark Hammil, com um penteado risível), que deixa claro não entender qualquer palavra daquele balbucio, mas que ao final, percebe que a dupla de caçadores de recompensas eram perseguidos pelo Império, claro, com cenas repetidas do primeiro filme, se valendo do orçamento anterior. O detalhe são os diálogos pífios entre o pretenso Jedi e a Senhora Wookie.

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    Os absurdos começam pela programação “televisiva” que os wookies consomem, com programas de dança, de cozinha e musicais, protagonizados por humanos, que produzem cenas vergonhosas, dignas de riso em um primeiro momento, mas que se perdem dentro da sua própria comicidade, podendo causar uma sensação semelhante ao desejo por suicídio no fã mais extremista da saga. Para surpresa geral, o personagem Saun Daunn (Art Carney), o mesmo que comunicou a família que Chewie estava sendo perseguido pelos imperiais, aparece na porta da casa com os presentes natalinos, chegando ao cúmulo de pedir “bons modos” aos wookies. A sequência é fechada com uma situação catastrófica, onde o ancião Itchy (pai de Chewie) assiste a um clipe musical horroso, que seria uma versão de pornografia via hologramas imaginários, suavizados em sensualidade por ser uma produção televisiva.

    Toda a aura tosca de Holiday Special, torna-se curiosa e até charmosa, visto a vergonha que o criador da franquia tem por ela. A cultura de ódio a George Lucas torna a obra uma coqueluche rara e até abraçada por alguns fãs, que veem nela um protótipo da quantidade de absurdos que ocorreram nos filmes dos anos 90 e 2000.

    Há outras cenas com música, que ocorrem em meio a invasão do Império a cada de Chewbacca, além de inserções de cenas animadas, que claramente foram feitas para reunir os personagens dos atores que não puderam participar mais ativamente das gravações, por questões de agenda ou por simples vergonha. A explicação para a mudança de estilo, é a visualização da criança Wookie, em um visor especial, que faz ele enxergar Luke, C3PO (Anthony Daniels) e R2 (curiosamente não creditam o ator)  viajando a bordo de uma Y-Wing (fato jamais ocorrido na saga original) para interceptar a “perdida” Milenium Falcon. É dentro deste segmento que é apresentado Boba Fett, que mais tarde se tornaria em um boneco da Kenner, antes mesmo de sua aparição nos filmes. O tom de obviedade faz o personagem já ser encarado como vilão desde o começo, o que era de se esperar em uma produção tão mal feita.

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    Próximo do final, ocorrem momentos ainda mais toscos, como a ida a cantina de Mos Eisley, em cenas e cenários completamente diferentes do feito no filme original, seguidos da chegada de Han e Chewie a casa do wookies, onde Solo declara a um modo tão vergonhoso, dizendo que o clã é importante para si, que Ford chega a corar de vergonha, situação piorada por não haver qualquer menção anterior a tal família, ratificando que coerência não é um pré-requisito para a produção.

    Mas o melhor certamente foi guardado para o final, onde os wookies usam túnicas vermelhas – evidentemente inúteis, já que os pelos cobrem quaisquer de suas “vergonhas” – pontuada pela chegada de Luke, Leia(Carrie Fischer), os droids e demais personagens, repetindo as músicas de John Williams, executadas ao final de Uma Nova Esperança, para permitir que Leia celebre o tal Dia da Vida, cantarolando no mesmo ritmo das canções tema, para nem meia dúzia de homens fantasiados de macacos gigantes felpudos, com fantasias tão mal feitas que certamente seus interpretes não aguentariam assumir a autoria dos personagens.

    Star Wars Holiday Special tinha um potencial tão destrutivo, que o autor da saga “caçou” todas as cópias deste produto, o que tornou a visualização do filme na íntegra um trabalho árduo, por anos, especialmente para quem não tinha o domínio da língua inglesa. Em sua curta duração, a fita consegue agredir quase todo o cânone da saga e irritar profundamente qualquer pessoa que já tenha gostado da jornada de Luke e dos outros.

  • Os Bastidores, Detalhes e As Mudanças de George Lucas em Star Wars

    Os Bastidores, Detalhes e As Mudanças de George Lucas em Star Wars

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    Desde 1997,  passados 20 anos da primeira vez em que a abertura da 20th Century Fox quase se mesclava com a música de John Williams e os letreiros amarelos prenunciando o intenso conflito entre rebeldes e o Império, há ainda o mesmo assombro do público com o Star Destroyer Cruzader invadindo o espaço atrás da nave Tative IV ao perceber novas mudanças em meio aos três filmes clássicos – e canônicos – de Mister George Lucas.

    O aspecto que talvez não esteja claro para o aficionado atual – ainda mais o alienado – era todo o cenário cinzento que ocorria nos anos 1970. Graças a fatores como Watergate, a Guerra do Vietnã e muitos outros eventos históricos, a maior parte do público americano consumia fitas protagonizadas por anti-heróis, homens talhados pela vida, que se valiam de drogas e bebidas para fazer aplacar a sua miséria existencial.

    Em meio a tantos outros expoentes do futuro cinema, com De Palma, Coppola, Scorsese e De Palma, Lucas surgia como um homem que apontava para outras vertentes, ainda que seu THX-1138 – tanto o curta, quanto o longa- fossem produtos da mesma depressão emocional que inspirava os seus contemporâneos, havia nele a vontade de resgatar tempos mais simples, o que o fez realizar seu American Grafitti – ou Loucuras de Verão, na tradução brasileira. No entanto, ainda faltava algo, já que o jovem diretor não gostava das interferências e intervenções que os produtores faziam em seus dois longas-metragens lançados.

    A descoberta de Joseph Campbell e seu livro O Herói de Mil Faces ajudou o contador de histórias a organizar sua epopeia, se valendo do monomito para tal, um conceito que resume a tradição retórica e oral no “contar histórias”, usando arquétipos que facilitariam o diálogo com o público, ainda que alguns desses detalhes fossem ligeiramente diferentes em Star Wars, especialmente em relação à “donzela em perigo” da Princesa Leia de Carrie Fischer, que, apesar de estar encarcerada, não era exatamente a figura feminina sem ação.

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    Mesmo os terríveis erros de direção, especialmente nas cenas de tiroteios, onde charmosamente se apresentavam dois droids praticamente invulneráveis – e que serviriam de alívio cômico durante três filmes e, claro, a pontaria sempre certeira da cônsul e princesa Leia Organa – traziam um extrema simpatia para a versão de 1977 de Uma Nova Esperança. Misturadas ao caráter dúbio da perseguição de Darth Vader aos resquícios da Aliança Rebelde (até então um rumor, aos olhos do poderoso governo totalitário), as coincidências convenientes se diluíram, não precisando ser desnecessariamente revistas e remontadas.

    Curioso é que George Lucas não mexeu nos erros mais crassos de seus roteiros, e sim no que poderia soar flagrante aos olhos do público mais conservador. A falta de coragem e dificuldade em seguir em frente acabaram por fazer o antes promissor cineasta se tornar um bilionário enfadado, entediado, sempre preocupado em agradar às plateias que o rejeitaram antes, em detrimento do público que sempre lhe foi fiel, e que se agigantou graças à popularidade.

    Lucas se tornaria o avesso de Luke: enquanto o jovem fazendeiro buscava a possibilidade de novas aventuras, lutando contra o status quo, seu criador faria basicamente o exercício de regurgitar o trabalho que o tornou famoso, não conseguindo sair da prisão em que ele próprio se impôs. As boas ideias de Star Wars teriam vindo de criadores mais inteligentes e experimentados, na concepção de alguns fãs ranzinzas, reunindo as intenções dignas de Kurosawa, Flash Gordon, Frank Herbert e afins.

    As dificuldades em gravar começaram pelos problemas com clima, com uma tempestade de areia terrível na Tunísia, que destruiu grande parte dos cenários de Tatooine. O caos se instaurou e por pouco a franquia não parou antes mesmo de começar, já que a maioria dos atores reclama o tempo inteiro, exceção feita a Alec Guinness, que apesar de não acreditar em nada na história, era o mais profissional e experiente do elenco.

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    A versão “desespecializada”, compilada a partir de rips dos Blu-rays da antiga trilogia executada por fãs inconformados com tantas mudanças em pós lançamento, faz lembrar o quão épica era a ideia inicial do jovem diretor e roteirista nascido em Modesto Califórnia. Desde a tragédia que acometeu os tios adotivos de Skywalker, até o encontro com Obi-Wan “Ben” Kenobi – que emula os grandes mestres dos samurais, ainda que seja muito mais ativo do que o costume dos homens sábios –, e, claro, o caminho até Alderaan, incluindo a recusa de Luke e aceitação de seu destino, algo já desejado antes, são elementos que deram forma aos escritos de Campbell, um manifesto que ainda não era tão banalizado quanto atualmente é.

    A burocracia tomou conta daquele universo e manifestou-se de forma brutal através do conselho que responde ao almirante Grand Moff Tarkin, de Peter Cushing, um dos homens fortes do governo tirânico e que acabou de dissolver o conselho de senadores, talvez o último bastião da antiga república. A derrubada deste era na verdade um ato simbólico, uma última desculpa que visava justificar os desmandos do autointitulado Imperador.

    Skywalker era um personagem com o caráter em formação, tão inseguro quanto seu intérprete Mark Hammil, propenso a fugas e desobediências, e até a não ceder a desaforos. Tal característica seria comum – e ainda mais exacerbada – no Han Solo de Harrison Ford, que não sequer pensa em não desferir o primeiro “golpe” em seu opositor, Greedo, ao se ver na mira da morte. A atitude mais enérgica era pouco sutil e representava a mudança mais esdrúxula e criticada por quase todos os fãs, fator que retiraria do caçador de recompensa (e cafajeste) toda a sua atitude de anti-herói arrependido. O Solo que “atira depois” seria incapaz de improvisar junto a Luke e Chewie uma invasão a uma estação espacial impenetrável, bem como planejaria raptar a senadora que já era refém. A trinca de protagonistas ganharia o acréscimo da ardilosa Leia, que, sem saída, encontra uma rota improvisada, uma atitude típica de uma inconformada política.

    A fuga da Estrela da Morte abre precedente para duas questões interrogativas, a primeira em relação ao legado de Kenobi e a segunda em relação ao grupo de rebeldes, que ao se despedir do esquadrão Rogue usa a famosa frase “que a força esteja com você”, como incentivo para os pilotos/atiradores. É sabido que a religião dos Jedi estava em desuso, praticamente sepultada após a extinção da ordem anos antes, tendo em Vader seu único remanescente, ao menos de modo oficial. Os membros da aeronáutica rebelde teriam dito aquilo como mais uma atitude de resistência, onde o apego ao Divino seria o maior ato de revolta possível, em comparação com a burocracia adotada pelos que restaram da República.

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    Paul Hirsch e Richard Chew seriam fundamentais para o sucesso da empreitada de Lucas em Star Wars. Depois de terminar suas filmagens, e após deixar a maioria dos atores decepcionados com sua direção frouxa, que basicamente pedia mais intensidade e velocidade, George Lucas se via com problemas de prazo e com um corte de filme terrível em mãos. A saída foi demitir seu então editor, que se recusava (por motivos certos) a fazer o que ele queria, e então a dupla começou a “salvá-lo”. O problema maior é que este mérito premiado no Oscar fez ele criar o hábito de agir como diretor dentro da sala de direção, e não no set, fato que se agravaria de 1999 em diante.

    O resultado das primeiras impressões da recém-criada Industrial Light and Magic era terrível, e as acusações iam desde desleixo puro e simples até o desperdício de tempo somente com substâncias ilícitas, dada a caracterização hippie da maioria dos operários. A pressão fez o cineasta acelerar ainda mais os processos, além de encontrar em Ben Burtt e sua edição de som primorosa um fator que garantisse a maior parte da alma da trilogia. O maior mérito de Lucas, aliado a persistência do produtor Alan Ladd Jr., que quase perdeu seu emprego pela Fox por causa do filme, certamente foi conseguir reunir todas essas mentes inteligentes em torno do mesmo propósito, conseguindo harmonizar tudo isso de modo que ficasse realmente lendário, tão escapista quanto ele queria no início.

    A vitória dos mambembes soldados revoltosos sobre os ditames dos poderosos e bem armados membros do reinado sombrio é simbólico, remete a uma época mais simples, de luta entre o bem e o mal, como era na época da Segunda Guerra Mundial, em que aliados e o eixo se digladiavam. O resgate a essa temática se via necessário, diante da grande depressão que os Estados Unidos passavam, fato que também fez da série Rocky um sucesso. A ressalva resulta na questão do simplismo que seria imposto ao recém criado gênero de “blockbuster”, tencionado por Tubarão de Steven Spielberg, e fundamentado neste pelo merchandising que Lucas garantiu a si antes do fechamento de contrato, expandindo o conceito que se iniciou em Planeta dos Macacos e tornando profissional a comercialização de “bonecos” e demais produtos.

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    Em 1978, George Lucas parecia ter um cuidado maior com exposição de sua marca, já que Star War Holiday Especial foi defenestrado e recolhido, execrado por ele e negado sempre que se levantava a possibilidade da obra ter existido. Para todos os efeitos de discussão a respeito do que é cânone e do que é universo expandido na franquia, uma vez que o especial continha o elenco do primeiro filme. Dois anos após, a trajetória de Luke, Leia, Han, Chewbacca e os droides prosseguiria, com o anúncio de novos personagens a serem explorados.

    O Império Contra-Ataca começa nas planícies geladas de Hoth, provando que no universo Star Wars os planetas têm normalmente um só clima. A arenosa e calorenta Tatooine fora gravada na Tunísia, enquanto o planeta gelado que servia de base para os rebeldes, localizava-se em Finse, Noruega.

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    Dois fatores ajudaram a fundamentar mudanças na franquia, primeiro, o acidente que vitimou Hammil, deformando seu rosto, e outro dentro da própria trama, com o tema Marcha Imperial estreando, no que é possivelmente o maior marco musical de toda a saga. A entrega do roteiro nas mãos de Leigh Brackett e Lawrence Kasdan foi uma saída excelente, bem como a direção de Irvin Kershner, que suplanta muito bem os defeitos de George Lucas em ambos os aspectos. É na abordagem do trio que acontecem as cenas com maior tensão sexual da saga, entre Solo e Organa, além da lendária figura do mentor, vista na diminuta criatura que se apresenta para Luke.

    Dagobah serve de avatar da caverna de preparação do herói, o lugar para onde o protagonista recorre a fim de acumular conhecimento e se preparar para a grande batalha. Luke é um aluno arredio, complicado e incrédulo; possui vícios como a teimosia e arrogância, que não ficavam tão gritantes antes, mas que em ambiente isolado pioram demais. Com Yoda, Skywalker percebe que seu pior inimigo é ele mesmo, e ainda assim se deixa levar pela pressa e pela aproximação do perigo. A imprudência o faz agir instintivamente, indo atrás de seus amigos emboscados.

    A figura criada por Stuart Freeborn teria que ser mais convincente do que qualquer ator humano, e a liga de plástico só fez sentido graças ao ótimo manuseio de Frank Oz, que trazia sua experiência em Muppets para orquestrar um mestre zen esverdeado, diferente de tudo o que já existia. As lições de Yoda ecoariam pela eternidade, no personagem mais inspirado pensado por Lucas – ao menos no lado do Bem.

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    Grande parte dos méritos do segundo filme se dá pela distância de seu criador, que procurava outras locações. A bifurcação da trama, dividindo as ações em duas frentes, se assemelhava à divisão da Sociedade do Anel, no livro As Duas Torres, de J. R. R. Tolkien. Toda a parte passada em Bespin faz discutir as intenções de Han Solo, especialmente por compará-lo com o caráter de seu antigo amigo e aliado, Lando Calrissian (Billy Dee Williams), um antigo apostador que, por ter se “endireitado”, teme perder seus feitos.

    O roteiro de Empire Strikes Back é formado por sucessivos movimentos de traição, primeiro de Lando com Solo, depois, Lando com os lacaios de Vader – evidentemente por arrependimento, dada a quebra do acordo entre ambos – depois, no discurso do Darth junto ao seu filho, tencionando juntar as forças familiares contra o Imperador. A motivação dos personagens é carregada de duplicidade de pensamento e incertezas, gerando uma carga de ambiguidade até então desconhecida pelo maniqueísta projeto inicial. Além disso, o suspense e a tragédia são muito presentes nos momentos finais, deixando em aberto a sensação de que as forças malignas venceram, sem mais espaço para o otimismo desenfreado da encarnação anterior.

    Apesar da relação antiga entre Kershner e Lucas ser baseada no mesmo mote visto entre Obi-Wan e Luke, a cisão ocorreu, com acusações de “ruína do filme”, atrelada às mudanças que Kershner havia feito dentro da trama. Envolvido com outros aspectos da produção, o cineasta decidiu por seguir na descentralização de funções. A saída obrigatória do nome de Lucas do quadro do sindicato de roteiristas e diretores, se fez como represália à realização de seu filme de modo independente. O ressentimento por ter a audácia retribuída com isso fez com que Lucas se isolasse ainda mais, tendo de abrir mão de ter Spielberg como diretor, optando então por Richard Marquand, o mesmo de O Buraco da Agulha, baseado no livro de Ken Follet.

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    O Retorno de Jedi se inicia com o anúncio de que o Imperador visitará as instalações da nova Estrela da Morte – ainda em construção – e claro, o retorno da aventura a Tatooine, para encontrar Jabba the Hutt, que tem em seu poder o Capitão Solo, preso em carbonita, argumento utilizado no filme anterior para o caso de Ford não aceitar renovar seu contrato.

    A exploração do submundo de crimes de Tatooine é interessante, mostrando uma nova gama de personagens e criaturas, com um conjunto estranhíssimo de alienígenas, fato que deixa ainda mais claro o intenso racismo do Império, visto que quase não há criaturas não-humanas nas fileiras do exército dos poderosos, somente nas bordas da galáxias, nos subúrbios do universo.

    Outro ponto curioso é notar a evolução postural de Luke, tão convincente que se faz perguntar se ele não retornou ao planeta pantanoso nesse meio tempo. Fator destacável é a fraqueza de mente dos subalternos de Jabba, quase todos facilmente manipuláveis, exceção feita ao próprio chefão do crime e ao caçador de recompensas de visual interessante Boba Fett. A fragilidade é tanta dentro da instituição que a maioria dos personagens se infiltra sem quase dificuldade nenhuma,

    O decréscimo de qualidade é bastante notado, desde a descida de Skywalker a Dagobah, onde o antigo “mestre zen” está convalescendo, se despedindo melancolicamente do seu aluno, até a conclusão de que o treinamento que jamais foi findado, não o será graças a esta saída – metalinguagem para a decadência cinematográfico do tomo anterior para este. A aura de Retorno é muito mais sombria, não no aspecto fotografia, mas sim dos figurinos. O traje de Luke é negro, sua nova espada reluzente é esverdeada, e quase todos os cenários onde está são repletos de lodo e escuridão, mesmo quando está na lua de Endor.

    A problemática ocorre graças a gravidade das circunstâncias, algo que claramente poderia ser maior, tendo seu teor banalizado pelas aventuras semi-infantis com o ewoks, os “ursinhos irracionais” capazes de preparar armadilhas para os generais rebeldes e as tropas imperiais. É neste filme também que as cenas de amor constrangedoras começam a ocorrer, ainda que sejam muito menos incômodas do que nos filmes dos anos 2000.

    Outro fator complicado é a desnecessário sexualização de Carrie Fischer de sua personagem. Leia era uma personagem forte, feminina e operante no espectro político, tinha argumentos e justificativas corretas em relação à revolução e no debate da democracia. Se algo funcionava no confuso cenário de Star Wars, transformá-la em um bibelô, vestido em um biquíni dourado, faria ser lembrada mais por isso do que, por exemplo, ter sido ideia dela a fuga bem-sucedida da Estrela da Morte, e ainda seria motivo de piada em filmes B como Mortal Kombat. A diminuição da personagem é de uma covardia sem escrúpulos, fruto de uma ação provavelmente mal pensada da parte dos roteiristas, que não percebiam o sexismo bobo em que enfiavam a personagem, mesmo que tal ato tenha vindo de uma figura nojenta com Jabba.

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    Para compensar tal problema, há a construção da batalha espacial, entre a resistência e o poderoso governo tirânico. Um dos argumentos que justifica a construção tosca do ideário dos rebeldes é a tentativa de fortalecer a figura do Imperador interpretado por Ian McDiarmid, fortificando a teoria de que o Império só poderia perder para ele mesmo, e que o acerto dos “mocinhos” só ocorreu pela arrogância dos opositores, factoide que teoriza um dos motes principais de O Despertar da Força, e que serviu de base para inúmeras aventuras no Universo Expandido posterior à trilogia clássica.

    Star Wars é uma saga familiar, trata dos dramas caros a Anakin e Luke Skywalker, ao contrário do que foi vendido pela “nova” trilogia, de que seria a trajetória trôpega de um jedi que passou por ambos os lados da Força. A vitória final é em conjunto, entre Vader e seu filho, com o Darth derrotando seu antigo mestre, dando finalmente a chance aos revoltosos de acertar o âmago do seu inimigo. Mesmo os finais adocicados e cafonas, reunindo os aventureiros em torno da lua, não fazem o sacrifício dos personagens perder a força simbólica que ostentam. O fechamento da saga merecia um final melhor, o que motivou claramente Lucas a rever tudo, modificar o que achava equivocado, montando  equívocos ainda maiores para criar prequels tão fracassadas quanto os spin-offs focados nos ewoks. A força da trilogia original é tão grande que suplanta mesmo esses delitos e transgressões por parte de seu criador, que claramente tem problemas em perceber que sua história não pertence mas a si, e sim ao público que o fez rico, que trata de forma cara seu objeto de idolatria, e que segue mantendo carinho em um objeto que maltratou demais seus apreciadores, mas que prossegue vivo, claro, graças ao selvagem capitalismo visto nos produtos derivados. A obra se mantém ainda viva graças à magia da fábula que Campbell previu.

    A Força sobrevive, apesar de midi-chlorians, corridas de pods e piadas, além do Universo Expandido, subsistindo, há muito tempo, em uma galáxia distante e no ideário de seus devotos.

    Leia nosso especial sobre Star Wars.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

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    Após um recomeço informal mas ainda assim acertado na franquia Missão Impossível e misturar novidade e reverência a um seriado laureado em Star Trek, J. J. Abrams finalmente dá vazão ao objeto que era seu sonho e o de muitos aficionados. Star Wars – O Despertar da Força começa tradicional, acompanhado do famoso letreiro vertical, iniciando sua trama novamente com uma perseguição espacial desigual, atendendo finalmente ao anseio de uma legião de seguidores, após péssima última trilogia.

    A condução do filme beira a excelência. Se em Star Trek os exageros de Abrams fez torcer o nariz de grande parte dos fãs, em Despertar da Força as injeções de adrenalina funcionaram muito bem. A começar pelo fato de o projeto nascer a partir de um roteiro de Lawrence Kasdan, que também escreveu os textos de O Retorno de Jedi, Império Contra Ataca e Os Caçadores da Arca Perdida, além do trabalho de Michael Arndt.

    O produto final também contou com a colaboração do diretor, que conseguiu imprimir um equilíbrio visual pontual, dando destaque para os restos do império, sobrevoando Star Destroyers caídos sobre a areia, usando o cenário como elemento da narração, e não despiste como nos últimos filmes de George Lucas. O diretor é equilibrado, emulando uma escola de cinema americana clássica, a um estilo semelhante de Clint Eastwood e John Ford, claro, guardadas as devidas proporções ao gênero blockbuster, trazendo harmonia entre visual e textual, fugindo de o histrionismo imagético  que povoou o cinema recente de Star Wars.

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    O argumento trata de um período complicado politicamente, claramente não explicitado em detalhes minuciosos, possivelmente para exploração do novo Universo Expandido autorizado pela Disney, que, a priori, considerará tudo como canônico. As lacunas temporais servem de estofo para o mistério, fomentando a curiosidade de público e de personagens com o paradeiro de Luke Skywalker (Mark Hammill). A história dessa vez é contada a partir do olhar de Finn (John Boyega), um personagem repleto de carisma e ligado ao lado negro. Sem demora, seu destino é entrelaçado com o do exímio piloto Poe Dameron (Oscar Isaac), e de seu “mascote” BB8, em Jakku, um planeta arenoso, como Tatooine. Nesses momentos, são introduzidos também o vilão Kylo Ren (Adam Driver), em cenas belíssimas e repletas do massa véio fan service esperado da parte de um diretor que um dia já foi também um fanboy da saga de Lucas.

    Apesar de Finn  unir o alívio cômico a uma personalidade valente, é a jornada de uma personagem feminina a de maior destaque. A Rey composta pela até então desconhecida Daisy Ridley é a heroína, sendo esta a principal semelhança entre todos os espelhamentos deste roteiro ao de Nova Esperança, já que ela também é orfã,  de profissão simplória (catadora de sucata), habitante de um lugar desolado e sem esperança e que ainda assim, insiste em ter sonhos e anseios. Além das óbvias referências a Luke, lhe cabe também o intervencionismo da antiga princesa Leia e o caráter voluntarioso de Mara Jade, a jedi do lado sombrio introduzida em Herdeiro do Império. Seus enfrentamentos e as surpresas do roteirosão de encher os olhos e a composição de suas características são pontuais, acentuadas pelos closes que Abrams usa em suas cenas, que invadem sua psique e revelam pouco a pouco o seu ideário, além  de claro, trazer uma história detalhada em imagens.

    Talvez o problema mais flagrante – e não o maior – em Despertar da Força seja o cenário político. Nos filmes, a apresentação da sociedade era maniqueísta: existia o Império, malvado e cruel, em contraponto ao mambembe grupo de revolucionários da Rebelião. Quando Lucas tentou tornar complexo, soou pueril, e nesta, os detalhes são muito mais sugeridos do que trabalhados,  soando mais rico do que qualquer filme tocado por seu criador. O pouco que se sabe é que Nova República foi instaurada e sofreu um duro golpe a partir de um traidor que se alistou aos resquícios do Império Galáctico, unidos sobre o nome da Primeira Ordem, que tem no General Hux (Domhall Gleeson) um líder ideológico, e em Kylo Ren a figura religiosa, reprisando a dupla Tarkin/Vader, ainda que bem menos inspirados. Os mistérios ao redor do tal líder supremo Snoke, dublado e executado por Andy Serkis são tão grandes quanto o entorno de Luke, e parecem só ser revelados ao longo desta nova saga.

    As referências ao III Reich são ainda mais escrachadas com a Primeira Ordem do que eram com o Império, com cenas de discursos inflamados que soaram tão semelhantes a persona de Hitler em A Queda: As Últimas Horas de Hitler que pareciam inclusive serem pronunciados no idioma alemão. Apesar da distância ideológica, há uma intimidade implícita entre os distintos lados, com uma revelação familiar revelada logo de início, fugindo da possibilidade de gerar um burburinho de uma cópia do impacto ocorrido no episódio V.

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    A participação dos personagens clássicos varia entre momentos épicos e futuros plausíveis, mas um pouco decepcionantes. Han Solo finalmente retornaria a pele de Harrison Ford, que consegue com maestria expressar sentimentos de remorso e culpa, pelos rumos que a galáxia e que sua vida pessoal tomaram, mas seu ofício atual é muito pouco para o potencial que sempre apresentou, ainda assim, é menos incoerente que os rumos do antigo Universo Expandido. Leia Organa interpretada por Carrie Fischer consegue equilibrar o papel de líder político resignada e mulher forte que sobreviveu a tantas mágoas. Chewbacca (Peter Mayhew) tem menos momentos de ação e mais de comédia, bem como C3PO (Anthony Daniels), que se destaca em uma engraçada cena para os fãs que conheciam a lenda da perna dourada, que permeou os filmes originais. Nenhum destes ofusca a trajetória de Rey, Finn, Dameron e BB8.

    A edição de som é primorosa em mais um trabalho dedicadíssimo de Ben Burtt, que dá consistência e volume a todo o aspecto mecânico da obra, incluindo até sons da fuselagem da Milenium Falcon e outras naves. O equilíbrio entre efeitos práticos também ajuda a textura do filme em relação aos produtos antigos e a propensão de easter eggs soa interessante também.

    J. J. Abrams usa extensivamente planos longos, ao estilo de Terence Malick, ainda que os significados sejam diferenciados, já que os cenários não são exatamente personagens da trama, e sim complementos de um ambiente já vasto. As ligações com o antigo Universo Expandido servem para inserir no antigo fã algum consolo pela destituição de todo o ideário construído por anos e consumido por muitos. A estrutura social que deverá ser explorada em livros e spin-offs tem em sua base o conceito pensado por Timothy Zhan em sua trilogia Thrawn e eventos posteriores, especialmente na figura de Kylo Ren, ainda que sua concepção encontre alguns problemas, não da sedução para o lado da força, e sim por detalhes que precisavam de uma minúcia maior. Ainda assim, nas cenas em que revela seu rosto, Adam Driver consegue soar dúbio e cruel.

    Apesar de não ter uma batalha tão equilibrada quanto em Yavin ou Endor, os momentos finais são carregados de emoção, em especial nas cenas de ação. O final, com clima de cena pós-crédito, sobra em emoção e edificação, trazendo um nostalgia semelhante a vista em toda a postura do Ben Kenobi de Alec Guiness. A ideologia e espiritualidade da força retorna como nunca, repleta de alma, nostalgia e aura lendária, finalmente revivida após trinta e dois anos sem qualquer resquício do rastro dos bravos jedi, da aliança rebelde – chamada agora de resistência – e de todo o ideário que geraram sonhos em tantas gerações. Um capítulo primordial do que pode ser uma saga tão clássica quanto a primeira.

     

  • Crítica | O Povo Contra George Lucas

    Crítica | O Povo Contra George Lucas

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    Usando a fama de John Stewart para iniciar a discussão que achincalha com os “pecados” do cineasta que deu luz aos sonhos de muitos nerds, Alexandre O. Phillipe leva seu documentário à frente dando vazão a um sentimento que perdura até a atualidade. O Povo Contra George Lucas é uma manifesto sério, com pitadas de comédia e deboche como modo de defesa do aficionado em relação ao criador de tudo.

    Phillippe mostra imagens de arquivo da juventude do diretor de Star Wars, desde suas pretensões em cinema, até a mercantilização de sua arte, focando nos métodos que ele usaria para modificar as tratativas dos cineastas junto a tecnologia, inaugurando assim um novo estilo.

    O modo como o documentarista mostra a subcultura iniciada a partir da obra de Guerra nas Estrelas é focando em produtos feitos por seus fãs, desde fan films mais sérios, até iniciativas mambembes e jocosas, que funcionam como tributo à obra tão adorada e laureada, o que serve de extremo oposto às alterações propostas na versão da edição especial de 1997, a qual o grupo de fãs basicamente apoiava graças aos avanços em termos gráficos. O engano começaria a ser desbaratado na cena acrescida com o mafioso Jabba sendo pisoteado na cauda por Han Solo, para depois evoluir ao maior problema, visto em Greedo atirando primeiro, e mais um montante de easter eggs que se tornam realidade, retirando toda a ousadia que fez da trilogia algo único.

    A duvida e insegurança passaram do artista para o público, já que seus filmes pareciam sempre necessitar de novas mudanças. As obras de arte, ao menos aquelas que se dão ao respeito, precisam “findar”, se bastar, pois se não ocorre isso, desdenha-se de seu espírito e caráter, como ocorre nas volumosas edições. O documentário tem argumentos tão bons que se torna impossível não culpar o criador da saga por todos os erros recorrentes, mesmo ao fã mais fiel e pouco contestador, principalmente por causa do desdém em mexer no material original, praticamente extinguindo o trabalho de edição oscarizado em 1977. Sem falar no serviço de inúmeros outros departamentos não premiados e, portanto, pouco lembrados.

    Phillips piora a situação ao lembrar a participação de Lucas em protestos que combatiam a colorização de filmes em preto e branco. O mesmo defensor da memória do cinema mundial seria o sujeito que basicamente remexeria em seus sucessos antigos, e que se impediria de evoluir como cineasta para apenas virar um marqueteiro, um homem que usa sua marca apenas para ganhar dinheiro com brinquedos, camisetas e toda sorte de memorabilia.

    É curioso notar no que o antigo diretor hippie anti-corporações se tornou, além de ver seus produtos estampando toda sorte de merchandising e fazendo parte das atrações do maior parque temático do mundo. Prova do quanto uma ideologia mal construída e mal fundamentada não resiste ao menor sinal de abalo.

    Há um foco especial nas edições organizadas por fãs, bem como nas críticas à nova trilogia. O paralelo estabelecido culpabiliza de certa forma os fãs, por estarem tão ávidos por novas aventuras que sequer se deram ao trabalho de pedir boas histórias. A prova cabal de que o argumento está certo é a horda de fãs que acredita que as histórias eram bons momentos. O Povo Contra George Lucas evoca sentimentos muito fortes a respeito do biografado, sendo o da comiseração o pior deles, mais degradante até do que o ódio que o “personagem” causou nos seus antigos fãs. Mesmo diante da miséria e desprezo, o sujeito segue com algum prestígio junto às mesmas pessoas que foram maltratadas por suas atitudes puramente capitalistas.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

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    A franquia Star Wars talvez seja a maior e mais bem sucedida do cinema. Com o lançamento de Uma Nova Esperança, em 1977, O Império Contra-Ataca, de 1980 e O Retorno de Jedi, em 1983, a saga criada por George Lucas se solidificou de forma poderosa, mudando para sempre a maneira de fazer cinema, devido ao seu pioneirismo nos efeitos especiais, principalmente, além de espetaculares cenas de ação que envolviam batalhas travadas no espaço. A história do jovem órfão Luke Skywalker que, de repente, se vê no meio do embate entre a Aliança Rebelde contra o temido Império Galático, ao lado de icônicos personagens como Han Solo, Chewbacca, Princesa Leia, os simpáticos C-3PO e R2-D2 e o temido Darth Vader, angariou uma horda de fãs espalhados pelo mundo todo. E é assim até hoje.

    No final dos anos 90, para deleite dos fãs, Lucas resolveu mostrar ao mundo como a Galáxia foi dominada pelo Império. Novamente centrando toda carga em cima de um membro da família Skywalker, o resultado foi desastroso. O diretor também foi responsável pelos roteiros e, novamente, foi pioneiro ao usar câmeras digitais, porém, deu um tiro no próprio pé, ao dar uma ênfase maior ao visual, se esquecendo quase que por completo da história. Não adiantou muito contar o que todo mundo já sabia sem ter diálogos ou situações que se sustentassem por si só. Assim, A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith são considerados pelos mais velhos uma mancha na história da franquia.

    Desde o começo, Lucas planejou três trilogias para contar a história da família Skywalker, uma terceira parte que nunca sairia do papel, deixando para os fãs imaginarem o que teria acontecido com os personagens. Contudo, antes mesmo da trilogia prequel, liberou os direitos da história para que o escritor Timothy Zahn desse continuidade à história que se passava alguns anos depois de O Retorno de Jedi.

    Foi então que o inesperado aconteceu. No final de outubro de 2012, a Disney anunciou a compra de todo o grupo da Lucasfilm e, neste mesmo anúncio, foi dada a notícia que, enfim, veríamos na tela do cinema os Episódios VII, VIII e IX, além de filmes derivados. Obviamente a notícia, além de cair como uma bomba na indústria, trouxe mais perguntas do que respostas. Perguntas respondidas aos poucos até a estreia de Star Wars – O Despertar da Força.

    J.J. Abrams foi o encarregado de dar vida ao Episódio VII. Porém, o diretor tinha uma bomba nas mãos: o roteiro de Michael Arndt não era bom o suficiente, além de parecer que o escritor quis desenvolver uma nova história em vez de trazer de volta os velhos conhecidos dos fãs, o que obrigou Abrams a substituir Arndt por Lawrence Kasdan, roteirista de O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Com isso, aos poucos, foi ganhando a confiança dos fãs, o suficiente para que a frase “in J.J. we trust” fosse replicada pela internet. Contudo, Abrams tinha um prazo apertadíssimo nas mãos para faze-lo da forma merecida, com efeitos práticos e uma história justa tanto para aqueles que amam a franquia, quanto para os novos espectadores.

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    Seguindo a “fórmula” das duas trilogias anteriores, o trio de protagonistas foi composto por novatos. A atriz britânica Daisy Ridley nunca tinha atuado em um longa metragem, John Boyega tinha em seu currículo o bom Ataque ao Prédio, cabendo a Oscar Isaac o posto de “veterano” por ser mais conhecido do público. No lado dos antagonistas, temos o ótimo Andi Serkis, Domhnall Gleeson e Adam Driver. O time se junta com Mark Hamill, Carrie Fisher, Harrison Ford, Anthony Daniels e Peter Mayhew, deixando o filme com excesso de personagens, prejudicando, de certa forma, a aparição e o tempo de tela de certos alguns destes.

    Em que pese os créditos iniciais focarem a história no desaparecimento de Luke Skywalker (Hamill), fica claro que a protagonista de O Despertar da Força é Rey (Ridley), uma jovem deixada por sua família no planeta Jakku. Enquanto seus familiares não retornam, Rey sobrevive precariamente no planeta desértico recolhendo sucata em troca de pouca comida como forma de pagamento. O caminho de Rey cruza com BB-8, o robô do piloto da Resistência, Poe Dameron (Isaac). O droide fugindo de um ataque da Primeira Ordem, liderado por Kylo Ren (Driver), esconde informações importantíssimas sobre o paradeiro de Luke Skywalker. A semelhança com Uma Nova Esperança é notória, mas, em momento algum prejudica o desenvolvimento da trama, sendo que em paralelo a estes acontecimentos, também somos apresentados a FN-2187 (Boyega), um stormtrooper sem nome e sem propósito algum para lutar pela Primeira Ordem e que mais tarde é batizado de Finn.

    O primeiro ato é marcado pela química entre os 3 novos protagonistas que funciona bastante. Dameron é cínico e sarcástico, mas de bom coração, Finn é o responsável pelo lado lúdico que a franquia sempre adotou (mas sem soar chato) e Rey é o destaque do filme. Sabe pilotar qualquer veículo, além de ser muito inteligente e conhecer tudo sobre mecânica.

    Demora um pouco para vermos os personagens antigos, porém, a espera vale cada centavo gasto na sala do cinema. Embora a aparição da dupla Han Solo (Ford) e Chewbacca (que não envelheceu um ano sequer, vivido novamente por Peter Mayhew) seja por conta de uma coincidência difícil de acreditar, considerando o tamanho da galáxia (um dos pontos preguiçosos do roteiro), pôde-se perceber que muita coisa mudou desde O Retorno de Jedi. Fato comprovado quando Rey pergunta se o mercenário em cena era Han Solo, a resposta é clara: “eu costumava ser” e a situação a seguir é um divertido momento do filme mostrando um Han Solo mercenário, algo que o espectador nunca tinha visto na prática. Com certeza teremos mais momentos assim se seu filme solo for confirmado.

    Se o lado da Resistência segue na busca por Luke Skywalker, também é esse o objetivo da Primeira Ordem. Aliás, o resquício do Império é um dos pontos mal trabalhados no filme, o que deixa claro que os personagens da Resistência tiveram mais atenção do que os da Primeira Ordem que aparenta ser mais poderosa e mais organizada quando da época do Imperador Palpatine. Aqui, temos a liderança do General Hux (Gleeson, frio, sem nenhum carisma), o cavaleiro Kylo Ren, ambos liderados pelo misterioso Supremo Líder Snoke (Serkis), que ganha este adjetivo por simplesmente ser uma incógnita, uma vez que não faz sentido algum termos um personagem com a magnitude que aparenta ter. Também está presente a Capitã Phasma (Gwendoline Christie), uma stormtrooper imponente com sua armadura cromada, bastante adorada pelos fãs nos trailers, mas que foi uma decepção. A participação de Phasma chega a ser pior que as presenças descartáveis de Bobba Fett e Darth Maul nos filmes anteriores.

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    Kylo Ren é um destaque à parte. Devoto de Darth Vader, jurou destruir o último Jedi e terminar o que Vader começou. O cavaleiro que não pode ser considerado um Sith é poderoso no uso da Força e não pensa duas vezes em se exibir. O curioso é que Kylo ainda é um tanto quanto cru e demonstra não ter habilidade suficiente com seu sabre de luz, além de ser tão jovem quanto Rey nos momentos em que aparece sem sua máscara.

    A história faz um longo desvio do caminho percorrido por Uma Nova Esperança quando a personagem de Lupita Nyong’o, Mas Kanata, surge em tela. A agradável e milenar alienígena consegue enxergar através dos olhos das pessoas e se torna responsável por esclarecer algumas coisas à Rey, o que faz com que a trama tome um belo caminho, enchendo os olhos de quem assiste, preparando um terceiro ato grandioso, repleto de momentos incríveis, ainda que retorne ao paralelo do filme original.

    O Despertar da Força é repleto de ótimos momentos, tanto do que diz respeito às situações mais engraçadas, quanto nos momentos de ação, bem como de tensão. A perseguição de um caça Tie Fighter à Millennium Falcon faz com que você se agarre na cadeira. – podemos perceber que a equipe da ILM – Industrial Light And Magic teve um cuidado especial com a Falcon (uma nave respeitada inclusive pelos membros da Primeira Ordem). Embora Star Wars não respeite as leis da física, é fácil perceber que a nave de Han Solo é bem mais pesada que o Tie Fighter, fazendo esses e outros pequenos detalhes arrancarem sorrisos tímidos vez ou outra.

    A expectativa cresce quando os personagens clássicos entram em cena. A sensação de nostalgia percorre toda a fita. O veterano e mestre John Williams, mais uma vez, é responsável pela ótima trilha sonora, e assim como em todos os filmes, traz uma trilha original onde busca, em alguns momentos, revisar seus clássicos imortalizados na primeira trilogia. O departamento de arte e o design de produção também são certeiros. As naves que todos conhecemos estão lá, assim como o posicionamento das câmeras, tomadas, ângulos e principalmente nos cockpits dos X-Wings e dos Tie Fighters. O mesmo podemos falar das roupas dos personagens. Como Han Solo diz, sua jaqueta é nova, mas podemos perceber sua clássica camisa branca, sua calça militar e seu cinto com o coldre são os mesmos.

    Embora seja um filme de J.J. Abrams, Star Wars – O Despertar da Força, não é um típico filme do diretor, que procurou de forma respeitosa manter o legado brilhante criado por George Lucas. O resultado é um ótimo filme, repleto de ótimos personagens em uma história divertida, cheia de ação e principalmente emocionante. Promovendo mais um marco cinematográfico e apontando novos caminhos para o universo desta galáxia muito, muito distante.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Caravana da Coragem 2: A Batalha de Endor

    Crítica | Caravana da Coragem 2: A Batalha de Endor

    Caravana da Coragem 2 A Batalha de Endor

    Com roteiro de Jim Wheat e Ken Wheat – também diretores – baseado no argumento de George Lucas, Caravana da Coragem – A Batalha de Endor começa um bocado diferente de seu antecessor, com a família Towani habitando ainda a lua, mas com substancial acréscimo de inteligência às criaturinhas peludas, inclusive partindo de Wicket (Warwick Davis) algumas palavras humanas – o que o faz entrar em evidente contradição com grande parte do enredo de O Retorno de Jedi – ao conversar com Cindel (Aubree Miller). Logo a paz do clã é cortada pela invasão dos Marauders, criaturas humanoides com máscaras horrendas que tentam em vão assustar as criancinhas da plateia.

    O ataque engendrado visa roubar equipamentos da nave de “fuga” da família, em conserto desde o primeiro filme. O primitivismo dos opositores é tão grande que mesmo eles tendo acesso a armas laser, não sabem como utilizar os motores de uma máquina voadora. Ainda assim, os comandados do Rei Terak (Carel Struyken) e a “licantropa” – que na verdade transmuta-se em ave – Bruxa Xaral (Siân Phillips) conseguem capturar todos os membros da família, exceto Cindel, que parte com Wicket em fuga.

    Após se deparar com Noa e Teek, um senhor de idade e um bichinho super veloz, executados por Wilford Brimley e Niki Botelho respectivamente, os dois acabam abrigados por um tempo, mesmo com toda ranzinzice do primeiro, que repentinamente deixa de ser um ancião crítico para se tornar super protetor com uma menina que sequer havia visto anteriormente.

    Apesar de terem suas aparições odiadas por grande parte dos fãs, os ewoks são criaturas que pretensamente fazem parte do escopo sério de situações ligadas a Star Wars, e tanto Caravana da Coragem quanto esta continuação, sofrem com erros grosseiros de cronologia, contendo contato entre humanos e ewoks pré-batalha da 2ª Estrela da Morte, com situações tão grotescas e risíveis que se tornam mais parecidas com possibilidades de realidade alternativa.

    A Batalha de Endor consegue ser pior em relação ao seu antecessor, exatamente pelos méritos que tenta sem sucesso alcançar. A seriedade não alcançada, através da organização maior do roteiro, faz rir de tão mal feita que ela se torna. Os Marauder, que deveriam ser opositores minimamente formidáveis, parecem versões diminutas de Zorak, o gigante que maltratou os meninos anteriormente, e mesmo seu rei é fraco para um ancião.

    Até referências visuais a O Poderoso Chefão o filme se presta a fazer, claro, banalizando a cena final entre Michael e sua esposa. O texto, que deveria ser mais explícito, é confuso e não sabe onde se posicionar em relação à sobrevivência da família Towani, deixando o decorrer dos fatos em suspenso e ocasionando uma cruel orfandade de Cindel que não se justifica em momento nenhum da trama, já que não há peso ou receio por parte da pequena, tampouco há necessidade da situação ocorrer em uma história tipicamente infantil. O argumento é repleto de coincidências que não conseguem fazer o tom ficar nem sombrio, nem grave. Surpreende que os irmãos Wheat conseguissem anos mais tarde dar vazão a Eclipse Mortal e toda a saga de Riddick, tão diferentes em qualidade deste produto que mal servem como despiste da atenção do público infantil, tal a qualidade mambembe de seu produto final.

    Caravana da Coragem 2: A Batalha de Endor consegue mostrar personagens ainda mais irreais e oportunistas que seu antecessor, fazendo se perguntar qual seria o alvo ideal do público-alvo, já que não consegue ser nem uma diversão descompromissada e nem algo mais emocionalmente devastador, sendo pífio em ambos os aspectos.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VI: O Retorno de Jedi

    Crítica | Star Wars – Episódio VI: O Retorno de Jedi

    Retorno de Jedi - Star Wars

    (Este texto usará como fonte a versão do filme lançada no Blu-ray em 2011, que somou as alterações feitas em 1997 e 2004 na obra original. Essas mudanças no episódio VI podem ser vistas com detalhes neste video)

    O Retorno de Jedi foi lançado em 1983 com grandes expectativas após O Império Contra-Ataca, de 1980, que é considerado pela maioria dos fãs da saga como seu melhor filme. Tamanha qualidade atingida por seu antecessor colocou em cima de “Jedi” uma enorme pressão, já que tal acerto dificilmente se repetiria.

    Dirigido por Richard Marquand, com roteiro de Lawrence Kasdan e George Lucas, e contando com todo o elenco original (Mark Hamill como Luke Skywalker, Harrison Ford como Han Solo, Carrie Fisher como Leia Organa, Anthony Daniels como C-3PO, Billy Dee Williams como Lando Calrissian, Peter Mayhew como Chewbacca, etc), Jedi muda significativamente o legado de Império ao mexer em pontos chave da saga, como motivações e personalidades de personagens, além de inserir outros elementos na história. Não à toa é o filme mais criticado da saga original.

    A obra começa com a busca por Han Solo, ainda congelado em Carbonite e mantido no palácio de Jabba. Toda essa sequência inicial que nos mostra um Luke Skywalker amadurecido também causa um certo estranhamento, pois não é de fato necessária a trama da saga, ou mesmo deste capítulo dela. Com duração de aproximadamente 37 minutos, parece alongada demais se comparada à sequência inicial de Império, criada com o propósito de explicar as marcas no rosto de Luke Skywalker, já que Mark Hamill havia se acidentado gravemente algum tempo antes. Neste filme aliás, Hamill entrega uma atuação não excelente por causa de suas limitações enquanto artista, mas muito melhorada em relação aos primeiros filmes, enquanto Harrison Ford parece estar a todo tempo brincando de atuar, não parecendo querer estar ali.

    Logo após, o filme se divide entre a jornada de Luke voltando para Dagobah a fim de terminar seu treinamento com Yoda, e lá interage novamente com Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness) a respeito da revelação do filme anterior de que Vader é seu pai. Ao mesmo tempo, a Aliança Rebelde prepara um novo plano de ataque à nova Estrela da Morte que o Império está construindo em Endor. Este ponto vai atrair as duas maiores falhas do filme. O primeiro é reciclar a história de A Nova Esperança, onde o clímax também envolvia destruir a mesma arma do Império em um ataque espacial. O outro ponto é a inserção dos tão mal falados “ewoks” (nome nunca citado no filme) como coadjuvantes no ataque.

    Originalmente a ideia era realizar esta sequência em Kashyyk com os wookies, mas a opção pelos ewoks já mostra alguns sinais de onde George Lucas estava indo. Os ewoks são uma tentativa clara de infantilizar a trama e torná-la mais leve e palatável às crianças, grande nicho consumidor de produtos da franquia. A captura dos membros da Aliança pelos ewoks e seu ataque contra as tropas do Império que guardavam o gerador do escudo da nova Estrela da Morte é definitivamente o ponto mais baixo da trilogia. Os ataques de paus e pedras contra soldados de armaduras parece um esquete de programa de comédia da TV, tornando a ameaça representada pelo Império mais diluída e enfraquecida frente a sua magnanimidade apresentada no filme anterior.

    Porém, o que salva é toda a sequência entre Luke Skywalker, Darth Vader e o Imperador, que, ciente de tudo o que estava acontecendo, arma um engenhoso plano para tentar trazer Luke ao lado sombrio da Força. Se na luta de Império Luke era um brinquedo na mão de Vader, aqui é o contrário, e assim consegue vencê-lo de forma brutal, flertando com o lado negro. Mas ao perceber o quanto se parece com seu pai, o poupa da destruição total, frustrando os planos do Imperador, que decide então eliminar sua maior ameaça, com “force lightning”, até ser salvo por Vader, que se redime (cena estragada na edição especial, que adiciona dois “No” ditos por Vader, como se essa cena precisasse de algo além). Apesar de na cena final estarmos lidando com três sequências diferentes ao mesmo tempo (Endor, batalha espacial e Luke x Vader), não se torna confuso como no Episódio I, que possui quatro.

    Em perspectiva, a luta final entre Vader e Luke, apesar de curta, se mostra intensa, ao contrário dos balés estéreis dos novos filmes. O sabre é apenas uma ferramenta de um jedi (fato afirmado pelo Imperador, que não o utiliza); a Força é algo subjetivo; as batalhas espaciais são bem filmadas, bem colocadas e possuem propósito claro. Apesar de seus defeitos, é uma produção de qualidade, ainda mais se vista a versão lançada no cinema (com Sebastian Shaw na cena final dos “force ghosts”, e não a cabeça digitalmente inserida de Hayden Christensen, a alteração mais polêmica e preguiçosa da saga, já que Luke nunca conheceu ou viu seu pai mais novo, não podendo assim reconhecê-lo). A inserção de outros planetas comemorando uma suposta queda do Império é também questionável, afinal como todos esses planetas ficariam sabendo disso tudo em questão de horas? E, mesmo se soubessem, como iriam desmobilizar as forças remanescentes do Império em tão pouco tempo?

    Retorno de Jedi foi considerado por muito tempo o ponto mais fraco da saga. Porém, a nova trilogia, de tão absurdamente ruim, fez com que ele fosse redimido. Causa um certo desconforto ver os desajeitados ewoks lutando contra o Império, mas a batalha espacial e o confronto dos Skywalkers dentro da estrela da morte acabam pesando a balança a favor da produção, que, se não encerra com chave de ouro a maior saga da história do cinema, ao menos dá a seus protagonistas um desfecho digno, já que ela ainda possui vários elementos dos filmes anteriores, com seus pequenos toques e características que transformaram a franquia em algo tão grande. Além, é claro, de ainda contar com a sorte de um George Lucas não tão egomaníaco.

    (Para ver todas as mudanças feitas em Star Wars desde seu lançamento, acesse aqui – Em Inglês)

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Resenha | Star Wars: Herdeiro do Império – Timothy Zhan

    Resenha | Star Wars: Herdeiro do Império – Timothy Zhan

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    Cinco anos após a destruição da (segunda) Estrela da Morte, a Nova República recém instituída sofre para manter o controle político, tendo de enfrentar os resquícios do antigo regime que tinha em Darth Vader e no Imperador seus maiores expoentes. É a partir dessa premissa que Timothy Zahn introduz sua nova aventura, utilizando de um vilão carismático para aludir aos tempos de ouro do universo cinematográfico de George Lucas.

    Herdeiro do Império é o primeiro volume de uma trilogia, que introduz elementos interessantes e que seriam transportados do universo expandido para os filmes oficiais. O alicerce desta nova fase é o grão-almirante Thrawn, um estrategista militar que estaria nas sombras das conquistas imperiais, motivado talvez por sua compleição azulada de olhos vermelhos, aparência que ia de encontro a todo o purismo pregado pelas fileiras ditatoriais. Seu destróier estelar Quimera serviria de contraponto a Milenium Falcon e demais naves imponentes dos heróis.

    A altura do convite para escrever a trilogia, em 1989, não havia qualquer produto do Universo Expandido que tivesse passado após o O Retorno de Jedi. A recepção ao livro de Zahn foi excelente ao ponto de esgotar as edições em pouco tempo, talvez por curiosidade dos fãs, aumentada é claro pelo burburinho positivo de quem já havia lido. A aventura começa a borda da Quimera, sob os olhares atentos de Pellaeon , que ruma na direção possivelmente de seus opositores, lamentando os erros primários do Império, de investir forças em pontos isolados, como em estações especiais vulneráveis, ao invés de pulverizar os exércitos. A introdução deste personagem é quase como uma desculpa, para elevar o grau do real antagonista a níveis estratosféricos, colocando o grão- almirante em um patamar não visto sequer nos militares ditos nos filmes, talvez somente em um esboço do que seria o Grand Moff Tarkin.

    A trilogia foi descontinuada, tratada recentemente como parte do selo Legends, como parte do antigo Universo Expandido, sem interferir no novo canône da saga de Star Wars. O advento da Disney poderia ser encarado como algo necessariamente ruim, mas se analisado sob um prisma maior, o saldo é positivo, pois caso não ocorresse essa mudança, dificilmente tais publicações seriam reeditadas pela Aleph, além de haver uma criteriosa seleção de títulos antigos a serem traduzidos para o público brasileiro.

    Thrawn é um personagem denso, seu intelecto estrategista o põe em um nível de planejamento ainda inédito em Star Wars. Como o tom do livro passa necessariamente por ele, a literatura parece até mais ligada ao ideário da franquia de Gene Roddenberry do que a de George Lucas,  dada a complexidade de construção do oponente.

    Pelo lado dos rebeldes, Luke Skywalker é mostrado solitário, chorando por se sentir orfão mais uma vez, já que as aparições de Ben Kenobi tornam-se cada vez mais raras – aspecto este levado para outras mídias do universo expandido – pondo o personagem em uma posição de fragilidade imensa. Leia está gravida de gêmeos, e sofre para tentar estabelecer a Nova República em Coruscant, planeta este transportado até para o canône de Lucas, na nova trilogia, como capital também da antiga. Han Solo e Chewbacca correm o espaço atrás de novos pilotos, procurando caçadores de recompensa, que apesar de figuras vis, seriam colaboradores interessantes caso fossem pagos, mas, sem sucesso, uma vez que Talo Karrde ocupa o papel que antes era de Jabba, cujos métodos são ligeiramente diferentes e associações ainda mais dúbias que a monstruosa criatura, tendo até o apoio de um personagem que mais tarde seria importante, Mara Jade.

    A diferença básica deste vilão para os outros, é que sua pauta é inteira na razão, e não na espiritualidade. Thrawn não tem posição ligada ao lado negro da força, ele é “apenas” um militar, que se vale da experiência de Thimoty Zhan como escritor de romances típicos, para juntar forças de característica. Como bom estrategista, o grão- almirante procura formas de lidar com a “religião”, mas sem precisar aderir a ela, através do advento dos ysalamari, que são pequenos animais capazes de anular o poder da força – aspecto que provavelmente inspirou Lucas a criar os odiosos midchlorians, o que por si só já dá um peso negativo a isto – e de posse disto, o sujeito vai atrás do misterioso jedi aposentado Joruus C’Baoth, afastado desde a época das Guerras Clônicas.

    Thrawn é tão implacável e impaciente com fracassos de seus subalternos quanto Vader em Império Contra Ataca, mandando que seus capangas decapitem os mandados que erram. A construção do vilão é muito bem feita, o problema de Herdeiro do Imperio está possivelmente no seu herói. Apesar de estar mais hábil, nas capacidades de luta, a personificação de Luke é torpe, pois está visivelmente mais inseguro do que visto em Retorno de Jedi, cinco anos após o filme, inclusive se distanciando da figura capaz de desmantelar todo o esquema de Jabb te Hutt sozinho, derrotar seu pai e resistir as tentações do Imperador. Não há lógica em ele ser tão carente, acusa golpes tão evidentes e óbvios como outra despedida de seu mentor, ou a solidão fruto da sua dedicação como estudante da força;

    Além de profetizar como seria Koruscant, o livro também ajudou a montar o cenário de Kashyyk, que já havia evidentemente sido retratada de maneira indireta nos filmes, em Star Wars Holiday Special (toscamente é claro) e em Endor, em Retorno de Jedi, como inspiração para a terra dos Ewoks, ainda que a sua descrição não seja copiada a risca. Ao menos no espectro político, o panorama é muito bem engendrado, e comentado mesmo pelos personagens que aparentavam ser um tanto alienados nos três longas anteriores. É da boca de Skywalker, que se destaca a questão de quem o Império, mesmo sem suas cabeças pensantes anteriores, ainda subsiste, ainda que seus números sejam bastante baixos em comparação com o fronte da Nova República.

    Karrde e Jade são personagens bem dúbios, não revelando quais são suas reais interações nem com os resquícios do Imperio, e nem com a nova republica. O ethos do antigo caçador de recompensas é dúbio, discutindo termos comuns a moral, mostrando que há um senso de honra ainda que velado, enquanto a dita “mão do Imperador” não se permite afiliar diretamente a Thrawn e seus subalternos, já que o distanciamento da Força claramente a incomoda, além de sua missão pessoal não ser uma clara prioridade de exterminar o filho de Vader.

    O começo de Herdeiro do Imperio é um bocado morno, mas estabelece um vilão que se não tem a mesma imponência dos dois anteriores, é condizente e verossímil como todo o contexto histórico daquele instante da galáxia, onde as “sobras” dos antigos poderosos tentam insurgir sobre os vencedores da última batalha estratégico, em uma luta de foices cegas, já que nenhum dos lados está no auge de sua construção bélica.

    A perseguição de Mara se torna em algo ainda maior e mais complexo, deixando simplesmente de ser presa e predador para cooperarem mutuamente de modo obrigado, já que nem ela e nem Luke parecem gostar da ideia. É nesse momento em se planta o embrião do que seria o relacionamento de ambos. Jade talvez seja o melhor legado da trilogia Thrawn, já que seu personagem se tornou exemplo dentro de todo universo expandido. Outro aspecto bem trabalhado pelo autor, é o crescimento de importância de Wedge Antilles, que teria sua presença como figura chave da Aliança Rebelde martelada pelos inúmeros jogos do Rogue Squadron, evoluindo do originário grupo que venceu a Batalha de Yavin, se tornando algo ainda mais magnânimo com a mudança de alcunha.

    Além até da boa urdição dos aspectos militares, há um leve problema com as “cenas” de ação, que apesar de protagonizadas por personagens condizentes. O desfecho do romance faz eco com o aspecto positivo pinçado anteriormente, já que o talento do vilão é posto à prova, em uma batalha tática interessante, mostrando que se estivesse no comando nos momentos finais de O Retorno de Jedi, possivelmente a derrota do Império não ocorreria.

    Herdeiro do Império pavimenta de maneira poderosa a continuação da saga de Lucas, trazendo uma luz sobre o destino dos personagens, grafando problemas do espectro político, servindo de base para a discussão de tudo o que foi escrito pós aventuras do cinema. A exceção de Joruus C’Baoth, que será utilizado nos outros volumes, o romance serve para estabelecer os novos personagens, fator que quase justifica as repetições de plots com os carismáticos e antigos caracteres, ainda que a fraqueza de Luke siga sem necessidade, bem como segue incômoda a falta de ambiguidade em Han Solo, fator que se repetiria em quase todo o universo expandido. A vivacidade  e conteúdo ao menos servem de estímulo, para que o aficionado possa imaginar como seriam as continuações dos três filmes primordiais, reprisando inclusive todo o carisma da jornada vista no original, com o mesmo afinco e obsessão pela força que se via nos anos setenta e oitenta.

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  • Crítica | Caravana da Coragem: Uma Aventura Ewok

    Crítica | Caravana da Coragem: Uma Aventura Ewok

    Cavana da Coragem 1

    Lançado um ano após o ultimo filme da franquia lucrativa de George Lucas, O Retorno de Jedi, John Corty, mesmo realizador de Unidos no Silêncio e outros tantos romances, se vale de suas experiência no departamento de animação de Vila Sésamo, para orquestrar o spin off localizado na lua de Endor, e protagonizado pelas doces criaturas que eram os ewoks.

    Os elementos humanos em Caravana da Coragem – Uma Aventura Ewok é representado através dos irmãos Mace (Eric Walker) e Cindel (Aubree Miller), os filhos da família Towani, clã que se perdeu ao aterrissar no planetóide, cujo destino se bifurcou terrivelmente, com os pais sendo caçados por Gorax, um temível monstro gigante. O contraponto alienígena é exibido através de Deej (Daniel Freeshman), Shodu (Pam Grizz) e outros ewoks, que junto aos meninos, superam as desconfianças, apoiando-se mutuamente.

    Caravana possui revelações “bombásticas”, começando por uma narração desnecessária de Burl Ives, o que já denota o caráter infantilóide do roteiro de Bob Carrau, baseado no argumento de (pasmem) George Lucas. Outro fator curioso, é a presença de animais do campo, semelhantes aos da Terra, como cavalos, galinhas e outros bichos da fazenda, habitando a Endor nos mesmos moldes  dos sítios terráqueos.

    A nave em que os Towani chegaram lembra muito o aspecto das Y e X-Wings utilizadas pelos rebeldes, bem como a roupa de Mace faz lembrar os uniformes dos revoltosos, aspectos que seriam boas curiosidades, não fossem as criaduras que fazem os opositores serem tão toscas, feitas com uma qualidade inferior a do Rancor que vivia no subterrâneo do Palácio de Jabba, cuja movimentação em Stop Motion passa longe de ser tão bem orquestrada quanto os efeitos da Industrial Light and Magic.

    Falta liga, motivação e urgência na trama mostrada neste primeiro Caravana da Coragem, filme que permeou as tardes da infãncia de muita gente nos anos noventa e oitenta, sendo este o principal argumento pró filme, vazio de significado além da nostalgia infundada. Nem humanos e nem alienígenas causam empatia no público, ao contrário do visto nos três filme anteriores. Mesmo o opositor pouco assusta, assemelhando Gorax a uma versão do Predador com cabelos lisos ao invés de rastafari.

    A história que se passa entre Império Contra Ataca e o episódio 6, contém uma figura ilustre: Wicket, o ewok que ajudou Leia quando esta caiu em Endor, vivido também por Warwick Davis, o mesmo que protagonizaria Willow, na Terra da Magia. Curiosamente, alguns elementos fantasiosos são mostrados nesta fita, como um misterioso lago que consome e prende as criaturas que nele caem, assim como criaturas cintilantes, semelhantes as fadas de Peter Pan. Guerra nas Estrelas possuía toda uma aura de fábula, travestida de space opera, mas o tom funcionava, ao contrário desta desventura.

    O telefilme ganhou prêmios por seus efeitos especiais, apesar de seu nível fraco em comparação com os outros produtos da Lucasfilms, gerando inclusive sequências e motivando um desenho animado em série com os ditos ursinhos, mas seu resultado final é uma aventura que tenta usar o mesmo escapismo que funcionou anteriormente, mas sob uma ótica imatura, que não consegue se igualar em qualidade nem as fitas mais pobres de sua época.

  • Crítica | Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca

    Crítica | Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca

    Star Wars - Episódio V - O Imperio Contra-Ataca

    Há muito tempo, em uma galáxia
    muito, muito distante…

    Episódio 5
    O Império Contra-Ataca

    É um período crítico para as
    Forças Rebeldes. Embora a
    Estrela da Morte tenha sido
    destruída, as Tropas Imperiais
    conseguem expulsar os
    Rebeldes de sua base
    secreta e os perseguem por
    toda a galáxia.

    Fugindo da terrível Frota
    Imperial, um grupo de
    rebeldes chefiados por Luke
    Skywalker, estabelece uma
    nova base secreta no remoto
    mundo gelado de Hoth.

    O senhor do mal, Lorde Darth
    Vader, obcecado pela idéia de
    encontrar o jovem Skywalker,
    enviou milhares de sondas
    remotas para os pontos mais
    longínquos do espaço…

    Assim são as letras amarelas que fazem a introdução da sequência de Star Wars – Uma Nova Esperança. Tive uma certa dificuldade para criar uma introdução decente para essa crítica, então resolvi apelar um pouco. A primeira parte da saga, com toda a sua aventura e sensacionais batalhas especiais estabeleceu um patamar alto de qualidade, o que gerou uma expectativa do tamanho de uma galáxia para esta segunda parte. Geralmente, sequências no máximo conseguem se equiparar ao seu predecessor. Em casos raríssimos, conseguem superar o original. Este O Império Contra – Ataca é um desses casos raríssimos.

    George Lucas contratou a escritora de ficção científica e roteirista Leigh Brackett, tida na época como a “a rainha da space opera”. Durante algum tempo, os dois discutiram ideias sobre como deveria ser o roteiro. Entretanto, Lucas não gostou do rumo que a história estava tomando e pegou para si a responsabilidade de criar o argumento para o filme. O diretor não teve tempo de discutir com Brackett sobre as novas idéias, pois a diretora morreu de câncer pouco depois. Desenvolvendo sua nova história, Lucas teve a ideia de estabelecer Darth Vader como o pai de Luke Skywalker, num dos plot twists mais chocantes da história do cinema. Alguns outros esboços depois, George Lucas pediu que Lawrence Kasdan desse um trato final no argumento. Juntamente com Gary Kurtz e Irwin Kershner (diretor contratado porque o criador da saga não queria acumular funções) o roteiro adquiriu um tom mais sério, adulto e mais escuro, em oposição ao tom solar do Episódio IV.

    É interessante observar o desenvolvimento do filme. Tudo é muito redondo desde o início, com eventos sucessivos que não deixam espaços para pontas soltas. A partir da espetacular batalha de Hoth, duas vertentes são estabelecidas. Um tom aventuresco e eletrizante com a fuga de Han Solo, Leia e Chewbacca da frota do Império e um tom intimista e quase psicológico com Luke indo treinar com o Mestre Yoda no Sistema Degobah. Aqui, vemos um prosseguimento da saga do herói, ao passo que Luke deixa de ser um garoto mimado e hesitante em sua liderança para assumir o seu papel de símbolo da Aliança Rebelde e principal arma contra Darth Vader e o Imperador Palpatine. Além de Luke estar mais maduro, maturidade é algo evidente em Han Solo e Leia, pelo menos no que diz respeito às suas responsabilidades dentro da Aliança, ainda que Han seja relutante e queira abandonar tudo para limpar a sua barra com Jabba The Hutt e voltar a sua vida de aventuras. Porém, no que tange a sentimentos mútuos, os dois são imaturos, indo das rusgas até um momento romântico impagável antes de Solo ser congelado.

    Kershner se mostra um grande maestro de cenas de ação e aventura na sequência de batalha inicial e na já referida fuga desesperada da Millennium Falcon. Só que mais importante que isso, é o fato do diretor conseguir captar a essência do roteiro e conferir profundidade dramática a todos os personagens, coisa que George Lucas nunca conseguiu. O canastrão Mark Hamill tem aqui o seu melhor momento como Luke Skywalker, possivelmente por influência de Kershner. Outro ponto positivo do diretor Irwin é a ótica dele sobre cada ambiente. Ele consegue transmitir toda a imensidão e a frieza de Hoth, a opressão que Dagobah exerce sobre Luke e a arquitetura labiríntica dos corredores de Bespin.

    Com relação ao trabalho técnico, mais uma vez foi sensacional. Há de se destacar os efeitos criados pela Industrial Light & Magic. Se no primeiro filme a empresa criou eletrizantes batalhas de larga escala, aqui ela compreendeu todo o conceito de dogfight (batalhas aéreas de curta distância – Top Gun explica bem do que se trata) e criou momentos fantásticos como a batalha de Hoth e a fuga da Millennium Falcon através do campo de asteroides. O som e os efeitos sonoros ajudam a envolver o espectador no clima do filme.

    Nas atuações, há uma clara evolução do trio principal. Mark Hamill está bem mais à vontade no papel de Luke Skywalker, transmitindo a maturidade que o personagem adquiriu com o passar do tempo. Isso inclusive ajuda a torná-lo mais carismático. Carrie Fisher continua competente como a Princesa Leia e a faz ainda mais decidida e impetuosa. Porém, o destaque novamente é Harrison Ford. Sua interpretação para Han Solo é brilhante, uma vez que o ator consegue compreender todas as nuances do personagem, sejam suas qualidades ou falhas de caráter. Ele é responsável por um dos grandes momentos do filme, quando Solo está para ser posto em animação suspensa num esquife de carbonita. O ator resolveu improvisar após repetir várias vezes um momento romântico entre Han e a Princesa Leia e terminou por criar algo memorável. Com relação aos novos e importantes personagens introduzidos no filme, Billy Dee Williams conseguiu o tom certo para seu Lando Calrissian, um antigo conhecido de Han Solo e o Yoda mecânico de Frank Oz é excepcionalmente bem manipulado, com expressões faciais muito críveis.

    Tentando resumir em poucas palavras após essa quase monografia: O Império Contra-Ataca é sensacional, supera e muito o original e merece ser reconhecido como um dos grandes filmes da história do cinema, tal como já é feito por inúmeras publicações e críticos.

  • Crítica | Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança

    Crítica | Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança

    Star Wars - Episodio IV - Uma Nova Esperança

    A Teoria do Caos é uma das leis mais importantes do nosso universo. Presente em tudo que nos cerca, faz com que uma mudança na trajetória de um evento altere completamente seu final, podendo trazer as mais variadas e imprevisíveis consequências. E foi da Teoria do Caos que nasceu o Efeito Borboleta, estudo promovido e comprovado pelo meteorologista Edward Lorenz, na década de 60 e posteriormente corroborada por outros estudiosos. Lorenz dizia que o simples bater de asas de uma borboleta poderia causar tufões no outro lado do mundo.

    O diretor e roteirista George Lucas, que veio da mesma “escola” de monstros como Coppola e Spielberg, não tinha nenhuma noção do que estava por vir quando a primeira parte daquele calhamaço de papel que carregava havia sido aprovada para virar um filme. A única coisa que ele sabia é que tinha um prazo apertado e um orçamento limitado para deixar o filme pronto, sendo que tudo parecia conspirar contra a produção que foi muito conturbada e que, após a escolha do elenco, passou por diversas dificuldades no deserto da Tunísia, onde, pelo menos 1/3 do filme foi feito. Passadas todas essas dificuldades, o pior ainda estava por vir, uma vez que o conceito sci fi estabelecido por Lucas, apesar de não ser pioneiro, exigia certa habilidade técnica que os profissionais da época não tinham. E esse, talvez, foi o maior trunfo do visionário diretor, que acabou por criar sua própria empresa de efeitos especiais, Industrial Light & Magic (a maior do mundo), uma empresa de mixagem de som (Skywalker Sound), uma empresa de sistema de som (THX) e a Pixar, com o intuito de desenvolver animações.

    Assim nasceu o efeito borboleta chamado Star Wars, filme que mudou para sempre, não só a história do cinema, mas também a maneira como se faz cinema, algo que teve um impacto impressionante na indústria e na população mundial, o que perdura até os dias de hoje.

    Logo no início, sabemos que a história se passa há muito tempo, em uma galáxia, muito, muito distante e após das clássicas letras amarelas que explicam o que está acontecendo naquele momento, somos abatidos por uma nave colossal que chega a preencher toda a tela, perseguindo uma nave menor. Assim somos apresentados a Darth Vader (David Prowse sendo dublado pela voz imponente de James Earl Jones), o maior personagem da história do cinema, com seu visual ameaçador, além da voz e respiração mecânicas.

    Temendo ser presa por Vader, a Princesa Leia (Carrie Fischer) esconde informações importantes dentro do simpático robô R2-D2 (Kenny Baker) e o despacha junto com outro robô, C-3PO (Anthony Daniel), para o planeta Tatooine, com o intuito de encontrar o misterioso Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness), tido por Leia como sua única esperança. Porém, a incursão dos droides em Tatooine não dá muito certo e eles acabam sendo vendidos ao jovem Luke Skywalker (Mark Hamill) que, sem querer, acaba conseguindo ler a mensagem de Leia. Assim, Luke desconfia que a bela moça esteja falando do “velho” Ben, tido por muitos como um bruxo que vive na região.

    Percebe-se nessa parte do primeiro ato que Luke é bastante curioso e reticente quanto ao seu desconhecido passado. Seus tios escondem ao máximo quem de fato foram seus pais. Assim, ele vê Ben como a última peça do quebra-cabeça ao descobrir que o nobre e sábio Obi-Wan Kenobi  é, na verdade, um cavaleiro Jedi, muito mais próximo de Luke do que ele podia imaginar, uma vez que Obi-Wan lutou ao lado do pai de Luke e encontro poderá mudar o destino da galáxia para sempre.

    Lucas desenvolveu uma história simples, mas funcional, do bem contra o mal, onde o mocinho precisa salvar a princesa, onde a minoria da Aliança Rebelde, com seus poucos recursos, tenta tirar do poder o Império Galático, que, no decorrer dos anos, devido à sua tirania, acabou por juntar muitos dissidentes, dentre os quais o mercenário canastrão Han Solo (Harrison Ford), que, por odiar o Império e, principalmente, por estar precisando de dinheiro, aceita a empreitada suicida de ir resgatar a Princesa Leia, juntamente de seu co-piloto, o wookie, Chewbacca (Peter Mayhew), além de Obi-Wan e Luke, que, detentor da Força, começa seu treinamento Jedi.

    A aventura em questão possui ótimos momentos e o segundo ato é repleto de tensão dentro da base do Império conhecida como Estrela Morte, uma estação espacial gigantesca com poder bélico suficiente para destruir um planeta inteiro e os melhores momentos, com certeza, ficam por conta do resgate de Leia, junto com o embate de Luke, Han e Chewbacca contra os soldados do Império, conhecidos como Stormtroopers. E não podemos esquecer de um dos momentos mais emocionantes da saga, onde Obi-Wan Kenobi enfrenta Darth Vader, numa luta com sabres de luz, mais intelectual do que física.

    Assim, pela primeira vez que está a um passo à frente do Império, os Rebeldes preparam uma investida contra a Estrela da Morte que resulta no melhor título que esse filme pôde ter. A “guerra nas estrelas” na qual Aliança e Império se propuseram é, de fato, muito boa e emocionante, com efeitos especiais nunca antes vistos. Os belos Tie Fighters do Império contra os X-Wings da Aliança Rebelde formam um balé no espaço digno de nota e que ajudou o filme a ser um dos maiores sucessos de bilheteria da história do cinema.

    O mérito de George Lucas não é apenas pelo fato da história ser boa, tão menos pela sua direção (longe de ser um primor e repleta de “homenagens” a Flash Gordon). Acontece que Star Wars beira a perfeição por diversos motivos. A começar pela trilha sonora certeira do mestre John Williams que, responsável por diversos clássicos do cinema, emplacou pelos menos outros 3 grandes sucessos só nesse filme. O jovem Harrison Ford definiu para sempre seu personagem. A elegância de Alec Guiness traz serenidade ao velho Obi-Wan. O ameaçador Darth Vader, o maior vilão da história do cinema. Além disso, a biodiversidade chega a ser absurda. Diversas raças de alienígenas convivendo entre si. Temos também os designs da produção, desde o figurino dos protagonistas, passando por toda a arte proposta ao Império, onde quase tudo é de cor escura, porém muito belo. E o que falar das naves? O Star Destroyer cruzando a tela logo na primeira cena, os Tie Fighters, caças imperiais rápidos, mortais e dotados de nenhuma aerodinâmica e ainda temos a Millennium Falcon, a nave de Han Solo. E também há espaço para destacar a sonoplastia, uma vez que o impacto poderia ter sido bem menor se os sabres de luz, as naves e o restante das armas não tivesses aqueles sons tão característicos.

    Enfim, todo esse conjunto definiu o que seria o cinema do ano de 1977 para frente. Todo esse conjunto definiu que o ser humano pode sim se apaixonar por um filme.

    Texto de autoria de David Matheus.