Resenha | Star Wars: Ascensão da Força Sombria – Timothy Zhan

Ascensão da Força Sombria 1

A começar pelo estranho planeta minerador Mykr, lugar que em si já possui personalidade própria dadas suas condições e características únicas, Ascensão da Força Sombria – segundo volume da trilogia Thrawn lançada pela Editora Aleph –  também tem sua introdução dentro da Quimera, mostrando que Pellaeon é a visão primordial desta nova trilogia, como eram os droids. Timothy Zhan parece ter um vicio introdutório de sempre apelar para a condição epitelial azulada de seu protagonista, como se aludisse o tempo inteiro para o racismo do Império e para a grande condução do grão-almirante Thrawn, capaz de vencer tal paradigma e ainda ser a principal figura herdeira dos espólios imperiais.

O crescimento da ambientação e cenários é interessantíssimo, mas a trama ainda tem medo de se mostrar inovadora, sendo bastante comedida. Já no começo, são citados os AT-AT e AT- ST, máquinas terrestres, que evidenciam a precariedade do restante do Império Galático, necessitando de entrosamento e treinamento para retornar aos tempos gloriosos vistos no Episódio V – O Império Contra-Ataca e Episódio VI – O Retorno de Jedi. No primeiro capítulo, a parceria de Talon Karrde e Mara Jade é aludida como versão de Han Solo e Luke Skywalker em Episódio IV – Uma Nova Esperança, mas por vias menos maniqueístas, já que ambos flertam com uma posição vilanesca clássica. O capítulo também mostra o local onde o mestre “jedi Joruus C’Baoth, está, no aguardo de seus possíveis pupilos, guardando em si uma intenção dúbia.

A acusação de traição do almirante Ackbar é uma manobra covarde, primeiro por ser um bocado incabível, segundo pelo desperdício de carga dramática de, realmente, modificar os personagens antigos em tons mais escuros, já que Lando esteve prestes a morrer e não pereceu, além de que não haviam provas suficientes para imputar culpa sobre o calomariano. A tentativa de gerar nuances narrativas, pondo dúvidas em Leia quanto a inocência do antigo general faz todo o argumento soar ainda mais oportunista e barato.

A nave Wild Kaarde alude ao nome de batismo original do primeiro volume (Wild Card), o que ajuda a determinar a importância de seu piloto, o caçador de recompensas que parece ter herdado a complexidade que Solo antes tinha. É na persona de Kaarde que residem os melhores em momentos dos livros, em especial na parceria com Jade, já que um evoca no outro um interessante sentimento de confiança, algumas vezes se assemelhando a uma leve tensão sexual, ainda que o foco seja maior em desconstruir a figura de uma vilã puramente má.

A desculpa para Luke estar inseguro em Herdeiro do Império é revelada e intimamente ligada ao personagem ancião de Joruus C’Baoth, uma versão embrionária de Conde Dooku, tendo muitos dos seus elementos coincidindo com a versão de Christopher Lee de como seria um jedi da Força Negra, já que se diz que Jorus teria sido muito próximo do então Senador Palpatine.

O encontro de Luke e C’Baoth serve para reprisar a tentativa de selecionar Luke para o lado negro, bem como trata os opositores como Jedi Sombrios, e não Sith, como seriam conhecidos após. É nesta interação que há discussões mais maduras dentro da trilogia, até então, incluindo a rocambolesca discussão a respeito dos rumos da Nova República. C’Baoth começa a treinar seu novo pupilo e tenta fazê-lo alterar através da força o livre arbítrio de alguns aldeões de Jomark, planeta onde estão localizados. A experiência serve de eco mais adulto aos termos ditatoriais que tentam se insurgir após a queda do Império.

A briga política e acusação a Mon Mothma através do conselheiro Borsk Fey’lya poderia ser melhor construída, pois, caso ocorresse, a discussão a respeito dos rumos políticos seria mais coerente e inédita na história do universo Star Wars. A possibilidade de instaurar uma ditadura, perpetrada por personagens canônicos – Mothma e Ackbar – se mostra suspeita aos olhos dos rebeldes ilustres, e quase não causa dúvida em seu leitor, dada a falta de consistência nessa ambiguidade.

Problemas circunstanciais pontuam a história, bastante plausíveis, aliás, em vista do quadro econômico e político pós Retorno de Jedi, como complicações com câmbio entre moedas do Império e Nova República. Outro fator interessante é a revelação de Mara Jade junto a Thrawn, como a dita mão do Imperador, revelando que sua principal motivação era evidentemente fracassada, já que ela falhou em assassinar Luke Skywalker e ainda começa a se afeiçoar ao jedi.

Ascensão da Força Sombria ajudou a fomentar uma velha discussão entre os fãs, envolvendo a completa falta de coesão entre o Universo Expandido e o controverso conceito de cânone dentro da franquia. O primeiro dos fatores, certamente, é a regra de dois vista no comportamento dos sith – conceito que, por si só, não era solidificado ainda na trilogia Thrawn – já que, no mínimo, Darth Vader e Mara Jade eram alunos do Imperador. Outro grave problema era a questão da clonagem, as “guerras clônicas”, anunciada por Leia em Nova Esperança, gerou em quase todas as cabeças pensantes do UE a necessidade de inserir este conceito em seus escritos, mesmo que a ideia não tenha sido explicitada ou amadurecida, sequer por George Lucas. O advento de Joruus C’Baoth, apesar de primitivo em conceito, ainda não sofria como um clichê comum, uma vez que ao ser escrito, ainda não havia estourado o “clonexploitation” visto especialmente nos quadrinhos, tanto na versão do Universo Marvel quanto nos quadrinhos de Star Wars da Dark Horse, fomentando péssimas situações, como a cópia genética de personagens fortes dos filmes, ressuscitado unicamente para fazer ainda mais vergonha aos já combalidos antigos guerreiros – leia-se trilogia em quadrinhos Império do Mal.

Os capítulos finais servem para solidificar as mudanças de postura de Mara Jade, fazendo-a discutir os desígnios que recebeu de seu antigo mentor e treinador e se aproximando sentimentalmente de Luke, personagem que claramente evolui junto a ela, sendo essa a justificativa para sua desolação no livro anterior. O desfecho por parte dos inimigos reúne Thrawn e C’Baoth novamente, em um evento que, a priori, parece oportunista e conveniente, ao mesmo tempo em que emula a reunião de Luke e Leia no final de Império Contra Ataca, com muito menos dramaticidade nesta encarnação, é claro.

A sensação de que a trilogia se aproxima mais de  Star Trek do que com Star Wars se intensifica na batalha final desta narrativa, não pela boa urdição militar, e sim pela falta de um embate mais épico e carregado de emoção. A batalha não é exatamente morna, mas carece de emoções mais fortes, como foi em Yavin, Bespin ou Endor. A alusão a clonagem, via Spaarti (que servia de embrião ao que Kamino representaria em Episódio 2: Ataque Dos Clones) é interessante, e serve de gancho para o derradeiro capítulo, o qual deveria amarrar as pontas soltas deste que é basicamente uma narrava de interligação desta trilogia. De qualquer maneira, a composição segue tão competente quanto em Herdeiro do Império, uma vez que Timothy Zhan é um escritor bastante experimentado, empregando nesses livros um talento narrativo único e um apreço por tramas militares bem construídas.

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