Crítica | Sinônimos
Filme de Nadav Lapid, o longa Sinônimos começa com um plano sequência bem curto, acompanhando o movimento de deslocamento de Yoav (Tom Mercier) um mochileiro viajante que tem uma caminhada vacilante, inseguro por estar em um lugar novo e por ser um estrangeiro israelense em terras francesas. De estética naturalista, boa parte do início do filme se dá quase sem sons, ecoando a mudez típica da solidão e da problemática de não ter conhecimento sobre o cenário que se está explorando.
Yoav caminha quase sempre nu pela grande casa onde está hospedado, mas não sem cometer trapalhadas. Ele escorrega, tem pequenas lesões, sem saber muito o que fazer, e já nesse início já se estabelece bem a aura de angustia e aflição que correrá as quase duas de filme, que emulam não só as dificuldades de habitar uma terra estranha, como experiências do próprio cineasta, em seus primeiros anos na Europa.
O primeiro infortúnio do protagonista – ele sofre tanto frio que quase congela – é um resumo das dificuldades que a maior parte dos imigrantes tem ao se mudarem para lugares diferentes do que é a sua terra natal. Sua trajetória quase tem um fim precoce, mas logo ele consegue se encaixar, e até arruma um emprego, que traz a ele indagações complicadas, com direito a vazão para preconceitos contra imigrantes, fato que não só ativa uma rejeição normal entre pessoas ligadas ao caráter humanitário, como em nível pessoal, pois ele também vem de fora.
A atuação de Mercier é ótima, ele parece de fato um sujeito anestesiado pela situação comum que lhe ocorre, assim como parece desesperado ante a falta de oportunidades que lhe ocorre. Sua jornada prima pela miséria existencial e melancolia, que às vezes é driblada por um gasto de tempo em festas, como é típico dos jovens que tem a idade de Yoav. No entanto, mesmo passando por algumas humilhações, retornar não parece ser uma opção, o que faz crer que seu passado esconde ainda mais dores, ou ao menos, dores mais difíceis de lidar do que o comum a si.
A parte do hino francês, que recita que o sangue impuro preencheria o chão dos locais de guerra é entoado com autoridade pelo personagem central, mas o mesmo vira de costas para a câmera, como se não quisesse assumir com a face limpa o que falava, uma vez que o atinge diretamente essa questão. Este trecho é o responsável por boa parte dos esportistas que defendem as seleções francesas e que tem origem árabe, africana ou de outro local não se sentirem a vontade para cantar junto a torcida, e obviamente incomoda também Yoav e outras pessoas que vem de fora.
Sinonimos é uma resposta intimista ao egoísmo e egocentrismo produzidos pelo capitalismo na sociedade ocidental atual, mas não reflete só sobre questões econômicas, mas também em como é difícil lidar com o cotidiano globalizado e cosmopolita, tocando em assuntos pesados como a negação da pátria e a dificuldade de aceitação que o estrangeiro comum normalmente tem quando adentra outra nação, em especial se esse país é mais desenvolvido em riquezas materiais que o seu.