Dia 13 de Julho comemora-se o dia mundial do Rock, e pensando nesta data comemorativa, os redatores do Vortex Cultural preparam uma lista com seus filmes preferidos com a temática do estilo musical mais agressivo de todos. Aperte o play e bata cabeça com muita força.
Rock Star (Stephen Herek, 2001) – David Matheus Nunes
Produzido por George Clooney, Rock Star, inicialmente, contaria a história do vocalista Tim “Ripper” Owens ao entrar para o Judas Priest, sua banda preferida, substituindo o “Metal God”, Rob Halford. Porém, a própria banda resolveu vetar o uso da história e o uso do nome, após ter acesso ao roteiro, muito divergente dos reais acontecimentos. A premissa é bem parecida com a história de Ripper e mostra Chris Cole (Mark Wahlberg) liderando a Blood Polution, uma banda tributo (muito diferente de banda cover) ao Steel Dragon, sua banda preferida. Acontece que os músicos da Blood Polution estão cansados de tributar o Dragon e querem escrever suas próprias músicas e Chris acaba por ser demitido e enquanto começa a procurar integrantes para uma nova banda, junto com sua namorada e empresária Emily (Jennifer Aniston), recebe uma ligação de Kirk Cuddy (Dominic West), guitarrista do Dragon, o convidando para uma audição. A cena do teste em questão é muito bonita e mostra Chris cantando uma das melhores músicas do Dragon, a balada We All Die Young. Até aqui, o filme corre muito bem, mas começa a perder a qualidade, sendo reduzido praticamente ao nível do filme paródia This Is Spinal Tap (muito bom por sinal). As situações e clichês, como o jovem-fã-que-entra-pra-banda-dos-sonhos-e-que-vira-astro-do-rock-e-que-se-perde-na-vida não se sustenta e o que segura, de fato, o filme foi a super produção empregada ao longa. As cenas em que o Steel Dragon está no palco são do mesmo nível de produção dos shows do Kiss, por exemplo. Além do mais, as composições da banda são ótimas e tocadas por grandes astros da música na vida real, como Zakk Wylde, Jason Bonham, Jeff Pilson (respectivamente guitarrista, baterista e baixista do Dragon), Jeff Scott Soto, Miles Kennedy e Michael Matijevic, que emprestaram suas vozes para as músicas do Dragon.
A Todo Volume (Davis Guggenheim, 2008) – Almighty
A guitarra é o símbolo do rock, mas a paixão pela música vai muito além das seis cordas. Neste interessante documentário, temos o ponto de vista de três grandes guitarristas do rock, pertencentes a épocas diferentes: Jimmy Page (Led Zeppelin), The Edge (U2) e Jack White (White Stripes). De início, cada um é mostrado separadamente, expondo suas idéias e preferências. Mais adiante, os três se encontram para conversar sobre música em geral, e aí vemos o quão eles são apaixonados pelo que fazem.
The Doors (Oliver Stone, 1991) – Bruno Gaspar
Numa jornada com alguns pontos de licença poética, o filme de 1991 dirigido por Oliver Stone conta a história do jovem Jim Morrison, vocalista do grupo que forma a banda The Doors, durante sua jornada de ascensão e declínio, levando a alguns pontos de sua infância, os problemas como que viriam a transformar Morrison, interpretado por Val Kilmer, levando-o ao alcoolismo, drogas e feitiçaria. O filme, passado nos meados de 1965, tem início com a chegada do cantor na California e conta com sua passagem pela universidade (UCLA), até a origem da formação da banda, junto com Ray Manzarek, Robbie Krieger, e John Densmore, no que seriam os primeiros shows da banda no clube “Whisky a Go Go“, onde conseguem uma boa popularidade e montam sua base inicial de fãs. Atingindo o sucesso, este sobe a cabeça de Morrison, deixando-o num especie de estase emocional cheio de confiança e poder que chama de “The Lizard King“, fase que inicia o onda de consumo extensivos de drogas psicodélicas, bebidas alcoólicas e até seções de magia negra, tornando-se relapso e um problema para a banda, perdendo gravações e ensaios, até o incidente onde tem seus shows cancelados devido a problemas judiciais. No fim, Jim Morrison é encontrado pela companheira Pamela Courson morto aos 27 anos de idade na banheira do quarto em Paris. O filme tem como base Morrison, focando em fases da vida que dera o nome a ele e a banda com suas influências no Blues, Jazz e Hard Rock, e não tem vergonha de falar sobre sua vida, mostrando sua carreira em um tom mágico e ao mesmo tempo trágico, bem como nas viagens de ácido, encarando seus tropeços como algo bem pé no chão, que realmente aconteceu na vida do artista, sem amenizar sua presença ou exagerar a ponto de tornar as drogas algo bom ou interessante para o público.
Sid e Nancy (Alex Cox,1986) – Bernardo Mazzei
Dirigido por Alex Cox, o filme retrata o destrutivo romance de Sid Vicious, icônico baixista da banda Sex Pistols, com a groupie Nancy Spungen. Com atuações marcantes de Gary Oldman como Sid e de Chloe Webb como Nancy, a fita narra em paralelo o início do romance do casal e a onda punk que tomou conta da Inglaterra no final dos anos 70 e posteriormente toda a espiral de sexo, drogas e punk rock em que a dupla entrou, com a consequente morte de Vicious por uma overdose de heroína e a até hoje nebulosa morte de Nancy. Com uma excelente trilha composta por Joe Strummer do The Clash – que devido a limitações contratuais só deveria contribuir em duas canções, mas acabou participando de muito mais usando nomes falsos de bandas – e pela banda The Pogues, Sid e Nancy é um filme visceral, poderoso e muito triste, mas que merece todo os elogios e o status que hoje possui.
Loki (Paulo Henrique Fontenelle, 2008) – Almighty
O limite entre a loucura e a genialidade se define por Arnaldo Baptista. O músico que fez história n’Os Mutantes tem aqui um belo apanhado de sua vida e carreira, cujo título faz referência ao seu álbum solo mais emblemático. Vários famosos dão seus depoimentos sobre Arnaldo, inclusive o irmão Sérgio Dias, Gilberto Gil, Tom Zé, Nelson Motta, Sean Lennon e muitos outros. Rita Lee se absteve nesta parte, mas permitiu o uso de sua imagem no documentário. É muito interessante que Arnaldo vive em um mundo próprio dele, mas ao mesmo tempo é lúcido, esbanja talento e carisma. Sua história é cativante e sua obra fascinante.
Quase Famosos (Cameron Crowe, 2000) – David Matheus
Mais um road trip e dos bons. Quase Famosos é um filme parcialmente biográfico, escrito e dirigido por Cameron Crowe, onde ele conta a sua história, que, na película, é vivida pelo jovem William Miller (Patrick Fugit), um adolescente que consegue um estágio na revista Rolling Stone e precisa acompanhar a turnê de uma banda de rock em ascensão, a Stillwater (que na vida real, foi o Led Zeppelin), com o objetivo de conseguir uma entrevista exclusiva. O filme ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original, em 2001 e teve mais outras 3 indicações, sendo elas, duas de Melhor Atriz Coadjuvante para a excelente atuação de Frances McDormand (Elaine, mãe de William) e Kate Hudson e outra de melhor edição. A produção cativa do começo ao fim, mostrando a “emancipação” do jovem William que se torna um homem em poucos meses durante transcorrer da fita e a transformação dos personagens que o rodeiam. É possível perceber o crescimento intelectual do garoto por causa do mundo do rock, cheio de drogas, bebidas e sexo, aqui estabelecido muito sutilmente e sem nenhum tipo de apelo (mérito do roteiro e da direção de Crowe) pelas várias groupies que acompanham a banda, entre elas, seu primeiro e platônico amor (e também o primeiro amor de Crowe), Penny Lane, vivida por Kate Hudson e dos diversos momentos em que passou junto de seus editores e, principalmente das diversas (e ótimas) situações ao lado da banda, que aqui, não se resume somente ao Led Zeppelin, já que a Stillwater concentra outras bandas e suas diversas situações em que Crowe passou ao lado delas. Obrigatório se você é roqueiro ou não.
Detroit Rock City (Adam Rifkin, 1999) – Bernardo Mazzei
Dirigido por Adam Rifkin e estrelado pelo eterno John Connor Edward Furlong, Detroit Rock City é situado no ano de 1978 e narra a alucinada saga de 4 amigos fãs da banda Kiss para chegar em Detroit, cidade onde a banda fará um grande concerto. O ponto de partida para a empreitada ocorre quando Jam consegue 4 ingressos para o show que acontecerá no Cobo Hall, mas sua mãe, uma fanática religiosa os destrói e o grupo de amigos resolve que assistirá o show mesmo que isso coloque suas vidas em risco. Com diálogos divertidos, situações engraçadas (incluindo uma perda de virgindade com uma personagem interpretada por Shannon Tweed, musa de filmes eróticos e esposa de Gene Simmons, um dos líderes do Kiss), várias participações especiais e uma trilha sonora composta por covers inspirados da banda, Detroit Rock City é bastante divertido e merece uma conferida.
Pink Floyd – The Wall (Alan Parker, 1982) – Bruno Gaspar
Escrito por Roger Waters e Dirigido por Alan Parker, o filme baseado no álbum homônimo de 1979, conta com uma visão de Waters em cima de sua própria experiência sobre o que seria o sucesso de uma pessoas e como ele pode ser visto por seus seguidores. Utilizando de tons metafóricos ricos em simbologias visuais, a trajetória de Floyd Pinkerton, ou simplesmente Pink, um astro do rock recluso e depressivo é levado ao ponto máximo de sua insanidade e acaba por se isolar do mundo para se proteger, construindo um muro ao seu redor. O filme é um musical, utilizando das canções contidas no álbum com montagens alegóricas filmadas em live-action sendo alternadas por recursos de animações 2D elaboradas pelo cartunista Gerald Scarfe para contar a trajetória do personagem principal. Tendo seu pai morto em combate na Segunda Guerra Mundial, Pink é um garoto de passado conturbado criado por uma mãe super protetora, fontes que dão inicio as desilusões de sua vida, que iriam se manifestar definitivamente quando adulto ao descobrir que sua esposa estaria tendo um caso e acaba perdendo a sanidade. Raspando todos os pelos do corpo, Pink adota uma postura Neo-Nazista por conta de seu estado mental, mas tem suas ações reprimidas com a ajuda de drogas pesadas, aplicadas por seu agente, para que possa se apresentar em seu show. Porém, estas permitem que Pink fantasie em meio a sua apresentação uma realidade a qual se torna um ditador e seus seguidores o público presente, atendendo a ataques e rebeliões de cunho racistas e intolerantes. Pink não consegue conter tanta informação, sufocado pelas drogas e desilusões, acaba se vendo em meio ao julgamento de suas ações em meio àquela realidade ilusória, onde é condenado a ter os muros que o protegem da humanidade destruídos, destruindo assim também a Pink. Apesar de parecer confuso, o filme é uma desconstrução do artista, mostrando suas facetas e idéias deturbadas com a mistura de sucesso profissional e derrota na vida pessoal, uma ideologia apresentada de forma surreal com um toque de didática e comédia, sem ser gratuito, que pode ser encontrada presente na história de tantos grandes artistas reais.
Anvil! A História de Anvil (Sacha Gervasi, 2008) – Almighty
A banda canadense Anvil surgiu no final dos anos 1970, gravou muitos discos, mas nunca atingiu grande sucesso comercial. Pelo contrário, os membros passaram grandes dificuldades para manter o sonho de continuarem na estrada, e quase desistiram inúmeras vezes. O mais bizarro é que incontáveis bandas foram influenciadas por eles e muitos não entendem o porquê do fracasso comercial dos canadenses. É isso que será explicado neste documentário. Iremos acompanhar o cotidiano dos membros do Anvil intercalados com depoimentos de Lemmy (Motorhead), Scott Ian (Anthrax), Slash (Guns’n Roses), Tom Araya (Slayer), dentre outros monstros do rock e heavy metal. O desfecho é, no mínimo, emocionante. Os fãs de música pesada têm a obrigação de assistir a este documentário e, óbvio, correr atrás da discografia do Anvil.
Ainda Muito Loucos (Brian Gibson, 1998) – David Matheus Nunes
O canto dos cisnes do diretor Brian Gibson, falecido em 2004, conta a história da banda fictícia, Strange Fruit, muito famosa nos anos 70, cujo último show nem chegou a passar da primeira música por conta dos desentendimentos de seus integrantes. Muitos anos se passaram até que o tecladista, Tony Costello (Stephen Rea) decide trazer o grupo de volta à vida, chamando os integrantes um a um. No decorrer de sua viagem pelas ilhas britânicas, percebe-se que todos os integrantes estão praticamente falidos e vivem uma vida muito diferente da que levavam como astros do rock, exceto o vocalista, Ray (o ótimo Bill Nighy), o único ainda milionário e um dos causadores dos problemas da banda, uma vez que é orgulhoso e não divide em hipótese nenhuma os vocais com o baixista Les Wickes (o cantor e baixista Jimmy Nail), além de não ter sido muito aceito pelos outros membros do grupo por ter substituído o vocalista original, falecido ainda no auge da banda. O filme não é uma obra prima, mas é uma divertida “história de estrada” mostrando a banda cruzando a Europa dentro de um ônibus velho, todos com a chamada “crise dos 50”, fazendo shows em casas muito pequenas, passando todos os perrengues que as bandas iniciantes passam e o destaque fica pras músicas tocadas pela banda que, infelizmente, sofrem uma dublagem mal feita quando estão no palco. Porém, é possível ter acesso à trilha sonora que é muito boa, com as músicas do Strange Fruit, muitas delas compostas e cantadas por Bill Nighy (um lado desconhecido do ator) e Jimmy Nail, o que vale muito a pena.