Listas são inevitáveis, mas necessárias, principalmente para estabelecer parâmetros de análise entre melhores e piores de um momento específico. Neste ano, a equipe se reuniu coletivamente a partir de suas listas individuais para compor uma democrática lista de Melhores Filmes de 2015.
Como cada um possui uma formação cinematográfica diferente, alguns destaque permaneceram foram da lista enquanto outros foram unanimemente votados. Destas obras que estiveram ausente, Sniper Americano permaneceu em boa posição, demonstrando a potência de Clint Eastwood. Os blockbusters Missão Impossível 5 – Nação Secreta e Homem Formiga também quase figuraram nossa lista, bem como novas produções de grandes diretores como Jean-Luc Godard e seu Adeus a Linguagem e Roman Polanski com A Pele de Vênus, além do filme nacional de Anna Muylaert, Que Horas Ela Volta?.
Em grande parte, nossa lista alinha produções americanas, explicitando vozes individuais voltadas a filmes em circuito que foram capazes de unir entretenimento e qualidade artística. Em geral, 2015 foi marcado por pequenas grandes obras e um retorno de grandes franquias, dando inicio a mais uma era de revival, apoiada também por outras mídias como séries e bandas que retornam após um hiato, uma nova década de 90 parece nascer.
2016 será marcado pelo retorno de grandes diretores em cena (Martin Scorsese, Terence Malick, Quentin Tarantino, Denis Vileneuve, Steven Spielberg), além das sequências e dos agora tradicionais filmes de heróis. No grande circuito a batalha por uma gorda bilheteria será intensa com Superman, Batman, Capitão América, Homem de Ferro e Star Wars. Frontes diferentes, os quais esperamos entregarem boas produções.
Sem mais delongas, os melhores de 2015 por nossa equipe.
10. Ex-Machina: Instinto Artificial (Alex Garland, 2015) – Por Cristine Tellier
Assistindo Ex-Machina: Instinto Artificial, tem-se certeza de androides não sonham mais apenas com ovelhas elétricas. O conceito de inteligência artificial de Steven Spielberg em A.I. parece muito romantizado quando comparado a Ex-Machina. Apesar de ser uma constante em histórias envolvendo entidades robóticas, o desejo de “ser humano” no filme de Alex Garland atinge uma riqueza de nuances difícil de conceber numa máquina. Torna-se difícil definir um limite para a evolução da mente cibernética, já que o desenvolvimento vertiginoso da tecnologia necessária para dar asas ao conceito parece, por sua vez, não ter limites.
Mesmo não sendo isento de defeitos, diferente de apenas se deslumbrar com a tecnologia, o roteiro de Ex-machina dá margem a questionamentos inerentes à inevitável evolução não só da mente como – e principalmente – da humanidade dos robôs. E a principal questão é levantada quase en passant por Nathan (Oscar Isaac) em um papo regado a álcool com Caleb (Domhnall Gleeson), em que o criador, referindo-se à criatura, comenta: “Um dia, a inteligência artificial irá olhar para nós da mesma forma que olhamos para fósseis nas planícies da África. Um macaco ereto vivendo na poeira, com linguagem e instrumentos rústicos, pronto para extinção.”
9. O Conto da Princesa Kaguya (Isao Takahata, 2013) – Por Karina Audi
Dirigido por Isao Takahata – co-fundador do estúdio Ghibli –, O Conto da Princesa Kaguya é uma produção baseada em uma antiga lenda japonesa. No conto, um bebê é encontrado por um lenhador de bambu no caule da planta, e a criança, depois transformada em princesa, precisa lidar com a separação do ambiente bucólico em que foi criada na infância, e também com o obstáculo que separa o amor aos pais adotivos e o retorno às suas verdadeiras origens. Flertando com o fantástico dos contos de fadas, a obra estabelece um universo em que a princesa é ativa e ciente de seu próprio destino na Terra, mas que precisa curvar-se aos desígnios de entidades mágicas e espirituais, apesar do amor devotado aos seres-humanos – argumento que se diferencia de A Princesa Mononoke, outra obra do estúdio dirigida por Hayao Miyazaki que mostra uma princesa enfurecida pela ação dos homens. Kaguya preza pela beleza gráfica (a animação foi toda desenhada a mão), pelo roteiro riquíssimo e melancólico e por uma bela trilha sonora que remete à tradição do país. Mais uma obra-prima imperdível do Ghibli.
8. Kingsman: Serviço Secreto (Matthew Vaughn, 2014) – Por Pedro Lobato
Com um mercado cinematográfico abarrotado de filmes baseados em quadrinhos, vez ou outra surgem algumas adaptações peculiares que fogem das famosas editoras Marvel Comics e DC Comics. Em 2015, tivemos a honra de ver nas telas Kingsman: Serviço Secreto, adaptação da HQ homônima de espionagem de ação e comédia criada por Dave Gibbons e Mark Millar.
O filme nos apresenta Harry Hart (Colin Firth), um super espião de uma organização secreta denominada Kingsman. Anos após o falecimento de um de seus colegas, o filho deste é escolhido para fazer parte da organização. Porém, para isso, ele vai ter que enfrentar um árduo treinamento da organização. Paralelamente, os Kingsman vão desmascarar os planos malignos de um magnata da tecnologia para dominar o mundo (Samuel L. Jackson). Recheado de ação desenfreada, explosões e um humor digno dos quadrinhos de Millar, Kingsman: Serviço Secreto é com certeza um dos melhores blockbusters de 2015.
7. Expresso do Amanhã (Joon-ho Bong, 2013) – Por Doug Olive
Um multiplot pós-apocalíptico e inter-racial do primo sujo e maldito de Mad Max, ainda mais pauleira, inconsequente e visceral que a ópera de Miller. Do pó, à neve, e da estrada aos trilhos de um comboio alojando em si o resto da humanidade: Uma raça que, sendo tal denuncia um dos grandes trunfos de o Expresso do Amanhã, nunca perderá seus vícios de hierarquia e sua herança de barbárie e instintos de cangaço global. O sensacional Joon-ho Bong, de O Hospedeiro, adianta: O futuro será primitivo, antes ou depois do trem descarrilhar, e filma o começo do fim resultando desde o início num filme escrachado, revigorante ao gênero ação em pleno século XXI, tempo cheio de heróis coloridos que não combinam com as cores de Expresso. Aqui, entre os vagões da nossa espécie, o Superman já foi e só sobrou a gente, carma coletivo e a certeza dum provável clássico moderno, sendo assim absolutamente palpável aos nossos sentidos.
6. Perdido em Marte (Ridley Scott, 2015) – Por Fabio Candioto
Após o desastroso Prometheus, qualquer indício de ficção científica vindo de Ridley Scott despertou uma apreensão nos fãs do gênero, afinal, sua última produção de qualidade datava de 1982. Felizmente, Perdido em Marte mostrou uma qualidade acima do normal não só para Scott, mas para as produções do gênero, tão combalido ultimamente.
Matt Damon entrega um Mark Watney de maneira leve e divertida, de uma forma que talvez não seja tão realista para alguém abandonado em Marte à própria sorte. Porém, sua maior aliada, a ciência, nos faz crer que seu otimismo é viável. Praticamente um panfleto da tão sofrida NASA com seus cortes de verba cada vez mais frequentes, o filme traz de volta em nós aquela criança que vibrava ao ver a missão Apollo 11 e imaginava o que estaria habitando toda a imensidão do Cosmos. Tornar o espaço e a ciência divertidas de novo é um dos vários méritos que o filme tem.
5. Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Alejandro Iñárritu, 2014) – Por Filipe Pereira
Arroubo visual misturado a mensagem metalinguística, Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) não foi elencado pela academia como o vencedor da categoria de melhor filme à toa. Alejandro Iñárritu consegue aludir a arte audiovisual de maneira estilística e muito bela, contando com uma atuação maravilhosa de Michael Keaton, talvez o único ator capaz de representar o drama previsto no roteiro tanto fora como dentro da tela. As acusações de preciosismo narrativo amputadas ao filme por causa do plano sequência em que se enquadra não poderiam ser mais injustas, já que a fotografia, edição de som e montagem são primorosas e ajuda a compor o belo quadro visto no drama do personagem Riggan Thomson e seu antigo alter-ego Birdman. O filme aborda temas como esquizofrenia, dupla personalidade e dificuldade comum ao artista de seguir em frente e de superar o seu próprio trabalho e legado, tudo sob uma égide bastante lírica e pungente, fomentando uma bela história sobre decadência e destino.
4. Whiplash: Em Busca da Perfeição (Damien Chazelle, 2014) – Por David Matheus
O filme parcialmente autobiográfico escrito e dirigido pelo jovem Damien Chazelle foi uma das gratas surpresas no Brasil em 2015. O hype de Whiplash: Em Busca da Perfeição começou de forma tímida, em 2013, ao vencer pela votação do júri o prêmio de melhor curta-metragem do Festival de Sundance, obtendo apoio do próprio festival e do Sindicato Americano de Atores (Screen Actors Guild – SAG) para a realização de um longa-metragem. A oportunidade foi muito bem aproveitada. Chazelle entregou ao público um filme preciso, cativante com destaque à performance de Miles Teller, na pele de Andrew Neiman, um baterista que sonha em ser o melhor no seu instrumento e principalmente pela atuação de J.K. Simmons, seu cruel professor, um personagem tão cruel com seus alunos que chega a dar asco, o que resulta em cenas incríveis de muita raiva, dor e sangue. O filme (e a atuação memorável de Simmons) rendeu prêmios em Sundance, BAFTA, SAG, Globo de Ouro, além de 3 Oscar.
3. Divertida Mente (Pete Docter e Ronaldo Del Carmen, 2015) – Por Thiago Augusto Corrêa
Os bem sucedidos e elogiados filmes da Pixar, levaram-os a um patamar cuja própria trajetória da empresa fazia sombra aos últimos projetos. Quando Divertida Mente foi lançado, o melhor do estúdio estava novamente em cena: um roteiro inédito em um bom argumento e as camadas narrativas abrangendo a emoção de adultos e infanto-juvenis ao mesmo tempo. O resultado foi um grande filme que fazia do sentimento seu cerne.
A obra é original e ousada ao trabalhar com um conceito abstratos de emoções e transforma-las em personagens carismáticas que partem para uma trajetória interna sobre a importância de cada sensação humana, bem como a reflexão do aprendizado e a memória adquirida e vivenciada, parte fundamental de nossa essência. Com um drama sutil e pontual que produz emoção no público, a produção se equipara aos grandes clássicos fundamentais do estúdio e ainda demonstra criatividade e qualidade em suas histórias.
2. Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (J. J. Abrams, 2015) – Por Pablo Grilo
Um dos blockbusters mais aguardados de 2015, Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força acabou se tornando um dos melhores filmes do ano. J.J. Abrahms conseguiu a façanha de reviver Star Wars no cinema com mais qualidade do que o seu antecessor e criador da saga com a trilogia de origem. O diretor conseguiu dar personalidade ao filme e deixou a sua marca nas cenas mais memoráveis, sobretudo na metade para o final.
O roteiro sólido de Lawrence Kasdan está mais atento às situações que movimentam a história, além de criar novos e apaixonantes personagens que estão a altura do desafio de substituir os icônicos. Porém, o roteiro conservador decidiu não correr tanto risco, e o que se viu em tela acabou sendo a repetição de uma estrutura narrativa já vista e algumas homenagens aos filmes antigos. No fundo acabou sendo um filme de ação bem dirigido, e o mais importante, com a essência de Star Wars.
1. Mad Max: Estrada da Fúria (George Miller, 2015) – Por Bernardo Mazzei
George Miller acabou com uma espera de 30 anos em 2015, já que Mad Max: Além da Cúpula do Trovão foi lançado no longínquo 1985. Após passar por vários adiamentos, Miller finalmente pôde entregar mais uma aventura situada no universo pós-apocalíptico criado por ele no ano de 1979. Em espetacular forma, ainda que não tenha dirigido nada do gênero nos últimos tempos, o diretor não decepcionou: entregou um filme que contém, provavelmente, as cenas de ação mais eletrizantes dos últimos anos. Utilizando-se de uma trama aparentemente simples, temas como sobrevivência, vingança, redenção e, principalmente, empoderamento feminino, foram suscitados e muito bem tratados no filme. Contando ainda com um elenco e atuações sensacionais, Mad Max: A Estrada da Fúria foi o melhor filme do ano de 2015. Com todos os méritos.
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Participaram desta votação: Flávio Vieira, André Kirano, Pedro Lobato, Pablo Grilo, Thiago Augusto Corrêa, Karina Audi, Cris Tellier, Carolina Esperança, Doug Olive, Marcos Paulo, Fábio Candioto, David Matheus Nunes, Bernardo Mazzei, Filipe Pereira, Halan Everson e Matheus Mota.
Flávio Vieira, André Kirano, Pedro Lobato, Pablo Grilo, Thiago Augusto Corrêa, Karina Audi, Cris Tellier, Carolina Esperança, Doug Olive, Marcos Paulo, Fábio Candioto, David Matheus Nunes, Bernardo Mazzei, Filipe Pereira, Halan Everson e Matheus Mota.
Essa votação deve ter sido bem divertida, acho que merece um vortecast do papo que tiveram.
Ótima Lista,
Abraços.