O pintor Javier Belmonte contempla a arte urbana, enquanto aguarda na linha telefônica, e fala de maneira ríspida com a pessoa do outro lado da linha. O personagem Gonzalo Delgado é mostrado já nos primeiros momentos de seu filme biográfico como um sujeito passivo agressivo, divorciado, inseguro e ansioso, que tem como um dos poucos objetivos se reaproximar de sua filha, Celeste (Olivia Molinaro Eijo), que mora com seu ex-par.
Belmonte é um filme de Federico Veiroj e é muito engraçado, por explorar um personagem bastante rico, que dá a Delgado a chance de brilhar como um sujeito que é genial no que faz e que tem sérios problemas de relacionamentos no geral. Apesar de ser anti social e repelir alguns contatos humanos mais extremos, ele claramente se sente solitário e carente, e apela para small talk quando se sente extremamente incomodado com o silêncio, fato que contraste e muito com as sucessivas recusas de relações que ele faz. O fato de ele se sentir sozinho não o faz ser um solteiro que procura um par.
Em essência, o personagem é um homem deslocado e com dificuldades sérias de expressar o que pensa e com dificuldades extremas até de lidar com o trabalho que faz. Com o tempo,suas pinturas são recusadas basicamente por conta do excesso de nus que ele costuma fazer, fato que o faz ser comparado a um adolescente.
Seu jeito temperamental e indócil faz com que o público se afeiçoe ainda mais por ele, uma vez que suas falhas, apesar de grandes, são facilmente perdoáveis pela humanidade que elas imprimem nele. Ser simpático ao Belmonte é muito fácil e o modo leve como o diretor uruguaio leva a historia ajuda a embalar ainda mais esse personagem no imaginário cinéfilo, fazendo desse Belmonte uma pequena e carismático perola com uma historia a respeito de um sujeito que não encontrou direito seu lugar no mundo e que termina resignado em alguns pontos da vida e extremamente inquieto em tantos outros, movido mais por pulsão do que por razão.