A começar por um drama tipicamente adolescente, Goosebumps: Monstros e Arrepios, filme do diretor de animações Rob Letterman (responsável por Monstros vs. Alienígenas e Espanta Tubarões) adapta o seriado homônimo que tem como foco histórias infantis de antologia envolvendo elementos de histórias de terror com uma abordagem para um público muito moço.
Zach Cooper (Dylan Minnette) acaba de se mudar com sua mãe para uma nova cidade pequena, pessimista em relação ao que o futuro lhe reservava. Logo, ele se interessa pela bela Hannah (Odeya Rush), sua vizinha, filha de R. L. Stine – autor real dos livros de Goosebumps, interpretado pelo mesmo Jack Black que protagonizou o filme As Viagens de Gulliver, também dirigido por Letterman. Logo, mistérios começam a ganhar a tela, como as criaturas que atormentavam os infantes nos livros de Stine, e Cooper junto ao seu novo amigo, o atrapalhado Champ (Ryan Lee), começa a suspeitar de Stine, primeiro achando-o um charlatão, para depois perceberem um segredo ainda mais bizarro.
A reverência que o filme presta à figura do autor é merecida, já que além de escritor dos livros, e consequentemente colaborador de roteiros e argumentos, Stine ainda servia de host do programa de TV que ia ao ar nos 1990. A trama mostrada em tela é repleta de piadas pueris, não agressivas em sua maioria para o público um pouco mais adulto, mas também não tão engraçada para as crianças. A trama segue morna, até a chegada da primeira meia hora, quando finalmente é percebida toda a motivação do chamado da aventura, já que Stine guarda as criaturas que protagonizam seus escritos dentro dos originais que esconde no porão.
A construção em torno do protagonista mais velho é interessante, amarra bem os demônios de seu passado, aderindo a si uma aura de complexidade poucas vezes vistas em comédias rasgadas. As criaturas mágicas são muito bem construídas, com efeitos especiais excelentes. Quase todas acrescentam camadas interessantes à trama, muito além da simples desculpa visual para executar qualquer loucura, especialmente a figura do boneco Slappy, presente no seriado e também dublado – maravilhosamente – por Jack Black, que em quase todas as suas participações consegue fugir do histrionismo que o tornou insuportável em seus últimos filmes.
Apesar de conter alguns problemas de ritmo, o filme funciona muito bem como comédia em torno da paródia biográfica, concentrando graça e carisma em seus vilões e nos personagens veteranos, quase compensando a falta de Zach e sua namoradinha. Até o recurso metalinguístico barato, presente no embate entre Zappy e seu “criador” e próximo do desfecho, soa interessante.
A escolha de palavras para as emoções conflitantes de Stine é mal pensada, pois não deveria ser a revolta que o fez criar seus monstros, e sim a rejeição que sentia desde a infância. Tirando esse mal elemento, a motivação das duas faces do personagem de Black é plenamente crível, resultando em um acerto poucas vezes visto. O desfecho do famigerado casalzinho é tosco, brega e possui uma solução muito fácil e já esperada, mas o resultado final vale o esforço, com um gancho para uma continuação cumprindo a proposta do professor Stine, de que toda a história precisa de um início, meio e uma reviravolta, ainda que este último aspecto não seja tão interessante quanto o restante.