Como todos pudemos perceber, nesses últimos anos a temática da História Antiga está em alta na literatura. Autores como Bernard Cornwell e Conn Iggulden entraram para o gosto do público, e com muita justiça. A principal razão para a popularidade desses romances sem dúvidas é a perspectiva dos autores na criação dos enredos, que descrevem em nosso passado distante uma realidade que, apesar de fantástica, é surpreendentemente verossímil. Seguindo a linha da fascinante história medieval da Europa, Nicolas Refn deu forma a uma verdadeira pérola meio-dinamarquesa, meio-britânica, sob o misterioso título de Valhalla Rising (“O Guerreiro Silencioso”, na tradução brasileira). O filme ganhou muito hype em 2010, devido a sua participação nos Festivais de Veneza e Toronto, e merece a atenção daqueles que prezam o Cinema bem executado.
Mads Mikkelsen, o ator de perfil macabro que interpretou o vilão do reboot da franquia 007, Cassino Royale, em 2006, protagoniza os 90 minutos congelantes desse tapa-na-cara visual. One-eye, como ele é chamado por ter um dos olhos costurados, é apresentado sujo, acorrentado e enjaulado. Apesar de sua percepção de profundidade defeituosa, One-eye é um guerreiro intrépido e praticamente invencível em sua frieza psicótica. “Sangue no olho” é uma ótima expressão para descreve-lo. Os eventos mostrados no início do filme representam uma espécie de “briga de galo” com seres humanos, em que prisioneiros cobertos de pinturas corporais célticas lutam até a morte pelas apostas de seus senhores. Nessas circunstâncias podemos conferir a força derradeira de One-eye, que mesmo amarrado pelo pescoço consegue vencer o duelo em favor do seu senhor.
Frequentemente trocado entre diferentes senhores, pois ninguém é capaz de mante-lo por muito tempo, One-eye é passado pra frente. Sua natureza brutal garante a alta rotatividade de seus “serviços”. Durante a passagem, ele consegue se libertar com a ajuda do garoto Are, que no grupo de seu antigo dono era encarregado de alimenta-lo. Os dois se tornam livres e formam um pacto silencioso. Pouco depois, eles encontram um grupo de cristãos em Cruzada (peregrinos viajando rumo ao que hoje é a Palestina, em busca de terra e tesouros). Para sobreviverem, juntam-se ao grupo e partem com eles em um barco. A Terra Santa, a terra prometida os aguardava. Jerusalém o reino de Deus, que é deles por direito, direito adquirido por serem cristãos, por seguirem a cruz. Mas o desígnio do acaso discorda e não apoia a sua jornada. Uma forte neblina os engole durante a viagem, e eles acabam em uma terra sombria desconhecida, onde encontram o seu inexorável destino.
Em nenhum momento vemos sinais claros da nacionalidade de nenhum dos personagens. Só se pode especular. O sangue é brilhante e jorra bruscamente. Não há slow motion. Não há trilha sonora: o silêncio acompanha a carnificina. O ponto mais forte do filme é, de longe, a estética. Cenários maravilhosos, figurino impecável e uma direção fria de Nicolas Refn. Pode-se dizer que o roteiro é limitado, mas somente para aqueles que estão acostumados ao cinema excessivamente comercial. Há pouquíssimos diálogos, e apenas alguns deles são esclarecedores em relação ao enredo. É possível que para aqueles que desconhecem o contexto histórico da Europa em 1000 dC o filme não faça o menor sentido. É preciso ter em mente a realidade da Idade das Trevas, o embate entre os cristãos e os pagãos, e também os constantes conflitos entre as diversas tribos e etnias que habitavam a região naquela época. O enredo precisa ser deduzido pelo que se vê, pensa e sabe. Ele não será explicado, mastigado e dado de bandeja por um narrador. Não há uma introdução que situe o espectador no contexto da história. O filme está lá, os acontecimentos são exibidos magistralmente, mas as conclusões finais ficam a cargo exclusivo do espectador. Os detalhes são importantes e o que é dito, embora seja pouco, tem muito significado. O filme é introspectivo e foge completamente do padrão do mainstream. Vale a pena ser conferido por sua indiscutível beleza estética e, acima de tudo, por sua riqueza em simbolismos misteriosos.
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Texto de autoria de Thiago Debiazi.
Excelente análise da obra.
Não conhecia este filme e esta review já me fez ir atrás dele.
brigadinha pela indicação.
muito bom esse em alguns da uns sustos.
kkkkkkk riqueza em simbolismos misteriosos, só faltou dizer, bem tem simbolismo, só não entendi que merda eles representavam. simbolismos misteriosos shuhshusuhshu ótima desculpa para quem não sabe do que se trata. eu tbm não faço a minima ideia.
Cara eu até agora não entendi nada, procurei em vários lugares da net mais ninguém explica nada do final do filme kk
Caro amigo Carlos Vinícius, o fato de você “não fazer a mínima ideia” não significa que o resto do mundo compartilhe da sua deficiência. Admito que não estava presente quando foi decidido que sua opinião seria o parâmetro oficial para a análise desse filme, mil perdões pela minha negligência!
Muito obrigado pela crítica construtiva e bem elaborada!
Tu é foda, cara, almejo atingir seu nível intelectual algum dia.
Eu não entendi muito bem pq no fim os selvagens chegam e ele entrega a vida dele de bandeja parar os caras! Bom o destino dele foi se sacrificar pelo garoto? pq ele não lutou? Eu não entendi bulufas no final do filme. Muito vago não tem uma conclusão para ser tirada.
Porque eles imaginavam que estavam no inferno. Lutar para quê???
Bom, até hoje é o pior filme q vi na vida.
É o pior filme que ja vi na vida. Só o pesquisei porque descobri tem pouco tempo que seu nome em ingles é Valhala Rising e Valhala é uma espécie de paraíso para os antigos guerreiros nordicos. Mas nao me lembro de nada viking nesse filme.
Interpretação minha, mas provavelmente o próprio protagonista era o Deus cristão, por não conseguir falar com os humanos e ter uma enorme força (representada pela força física do filme), e o garoto, jesus, que o tentava decifrar o caolho, e falava com as pessoas, a busca pela terra santa foi uma desromantização, que é muito romantizada pelos católicos/filósofos, guerreiros que queriam conquistar a “Terra santa”… e o guerreiro tem todo um tipo de passagem e tal, bem frequente em guerreiros nórdicos, sentir natureza, etc… “provando” que Deus é propriamente pagão, mais que os homens, ele tem um olho a menos, o que na mitologia pagã nórdica, significaria que ele seria Odin, que também seria o sacrifício pela sabedoria… e muitas vezes ele demonstrou tal sabedoria. De fato existem muitos mistérios no filme que não consegui decifrar diante de anos de estudo do paganismo, mas o trabalho em cinema dos caras foi foda, apesar de não passar uma mensagem muito clara, chega a ser instigante as vezes… mas eu considerei como um escarnecimento ao cristianismo, mostrando que apesar deles creem em Deus, todos templários não passavam de humanos, que tem seu próprio inferno sempre acima de seus pescoços.
Eu preciso rever o filme com a mente mais aberta, pra ver se encontro o que voce achou nele, tem muito tempo que assisti e nao percebi nada, so achei muito ruim
Nada viking? Aí depende de qual tipo de viking tu está falando… O viking de chapéu de chifre que toma hidromel é fantasia e puro estereótipo. Isso não tem aqui mesmo…
Esse filme teve sucesso justamente por representar de forma muito fiel, tanto no conhecimento quanto no comportamento, os nórdicos da idade média…
Quando eles se perderam e foram parar no Canadá (?) achavam que tinham morrido e estavam na pós-vida (ou no paraíso ou no inferno). O filme mostra justamente a loucura e confusão que nasceu na cabeça deles quando concluíram que estavam no inferno… “Valhalla Rising”…
Bah Esse filme eu tinha visto em 2010 e vi novamente agora com novos olhos… É muito louco! kkk
Poh cara, chapéu de chifre é tirar com a minha cara, também né… kkkkk Eu vi esse filme há muito, uns 7 anos, mesmo que eu visse algo relacionada a cultura nordica, não saberia, pois na época não conhecia nada e como disse na resposta ao Eduardo Silva “…preciso rever o filme com a mente mais aberta..” como vou fazer, mas valeu mesmo pelas informações…