Crítica | O Legado Bourne

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Era grande o desafio da Universal Pictures ao continuar sua lucrativa franquia Bourne, uma vez que tanto o diretor Paul Greengrass quanto o astro Matt Damon decidiram não retornar após o terceiro filme. Sobrou então para Tony Gilroy, presente desde o início na trilogia como roteirista e produtor, assumir também a direção e descascar o abacaxi. Felizmente, ele não optou por transformar de vez Jason Bourne em James Bond, trocando simplesmente o intérprete e contando uma história qualquer. Isso jamais funcionaria num série tão bem amarrada quanto esta. A solução foi partir para uma trama paralela e, entre a necessidade de conectar-se ao que veio antes e ao mesmo tempo desenvolver vida própria, pode-se dizer que O Legado Bourne tropeçou um pouco mas conseguiu esse complicado equilíbrio.

A história começa em paralelo aos eventos de O Ultimato Bourne, quando a merda cai no ventilador e a imprensa começa a divulgar informações sobre Jason e o Projeto Treadstone. Uma equipe governamental chefiada pelo Coronel Eric Byer (Edward Norton) se encarrega do controle de danos, e o principal temor é quanto à exposição de outros projetos secretos destinados à criação de super-espiões. O mais ameaçado deles é o chamado Outcome, que, além das técnicas de reprogramação psicológica vistas nos filmes anteriores, envolve até mesmo alterações genéticas nos pacientes. Quando começa a queima de arquivo, um dos agentes, Aaron Cross (todo espião tem nome maneiro, isso é regra), e a Dra. Marta Shearing se unem na fuga pela sobrevivência.

Seria inevitável comparar este filme com os anteriores, sendo eles tão bem conceituados pela crítica. Mas o quarto capítulo não faz feio diante dos demais, principalmente por apresentar uma história mais complexa, com mais cenários e desdobramentos políticos. Ponto positivo: dessa vez não ficamos limitados a ver perseguições e incessantes cenas da central de monitoramento. Os dois protagonistas são desenvolvidos antes de se encontrarem, e mesmo depois têm um objetivo mais claro do que puramente fugir e buscar informações. Por outro lado, essa preocupação comprometeu um pouco o ritmo do filme, que oscila entre o interessante o maçante. Também questionável é a decisão de eliminar de forma radical o Projeto Outcome: ficou a impressão de que uma abordagem mais cirúrgica eliminaria os riscos e permitiria manter o programa.

Jeremy Renner segue tentando se firmar como astro de ação e, após várias participações como coadjuvante após Guerra ao Terror, finalmente tem um filme pra chamar de seu. Ainda não foi dessa vez que ele chegou lá – não tem o carisma de um Tom Cruise ou Jason Statham -, mas se mostrou competente e conseguiu segurar o rojão. Está bem à frente de Sam Worthington ou Taylor Kitsch, por exemplo (não que isso seja algum mérito, mas enfim). Edward Norton, se é que alguém tinha alguma dúvida, interpreta ele mesmo e o faz bem, mesmo com o espaço limitado. Rachel Weisz, já meio veterana mas ainda linda, até no automático é uma atriz fantástica, e ganha como bônus alguns momentos para brilhar. De resto, uma pena que Joan Allen e David Strathairn tenham aparições relâmpago; seria legal ver mais desses ótimos atores.

Em linhas gerais, este poderia ter sido um filme à parte, já que Jason Bourne serve simplesmente como uma desculpa para tudo acontecer. Só que aí seria quase um plágio, pois o plot de projetos secretos de aperfeiçoamento de agentes e o clima de conspiração política justificam (ou quase) o “Bourne” no título. E, próximo ao final, temos as célebres marcas da franquia: parkour numa cidade exótica, perseguição no trânsito com a câmera fechada, e a música Extreme Ways, do Moby, chamando os créditos. Só faltou, e esta foi provavelmente a maior falha do filme, o épico combate mano-a-mano com um rival do mesmo nível, apesar da finalização desse inimigo ter sido muito inspirada. Com o final aberto, claramente deixando a intenção de prosseguir a franquia dentro da franquia, é triste que O Legado Bourne passe um tanto despercebido em meio aos vários lançamentos do verão norte-americano. Mas, como sonhar não custa nada, bem que Matt Damon podia mudar de ideia pra termos Jason Bourne ao lado de Aaron Cross num quinto filme.

Texto de autoria de Jackson Good.

Comments

9 respostas para “Crítica | O Legado Bourne”

  1. Avatar de luis augusto
    luis augusto

    Jackson de volta aos blockbusters finalmente XD. Boa critica vou tentar assistir nem que seja nas lojas torrent kkkkkkkkkk.

    1. Avatar de anderson.nascimento
      anderson.nascimento

      O filme é interessante, mas eu acho que o Jeremy Renner tem estilo de vilão não consigo ver ele como protagonista de uma grande franquia.

      1. Avatar de luis augusto
        luis augusto

        sei la a ultima vez que eu vi ele como vilão foi no SWAT aquele “filmaço” com o collin farrel, num deu mto certo, mas ai ja num sei se o problema foi ele ou a produção inteira.

        1. Avatar de anderson.nascimento
          anderson.nascimento

          Vou assistir nas lojas torrent e depois comento.É bom avaliar com os fatos e não com o achismo.

  2. Avatar de Sr. Delete

    Jackson, confesso que não é bem o meu estilo de filme, mas sou mega fã da trilogia Bourne, comprei até o livro depois que eu os vi. Eu não iria ver esse quarto filme, mas depois da crítica acho que vale a pena passar na Torrent Shop e adquirir um exemplar.

    1. Avatar de Jackson
      Jackson

      Opa, confere lá e depois diz o que achou. Pelo que vi, os fãs da trilogia não foram muito com a cara desse quarto filme… talvez eu tenha gostado justamente por não estar nesse grupo.

  3. Avatar de Vinícius
    Vinícius

    Esse filme parece que foi feito com o diretor emulando o diretor da trilogia Bourne, quase chegou lá, faltou pouco. Filmão, com certeza, mas não chegou a animar tanto quanto a trilogia.

  4. Avatar de Mohammed
    Mohammed

    Putz, esse é outro filme, o Bourne do título parece até ter sido usado só pra chamar público. Se o filme não foi bem de bilheteria é porque não é continuação propriamente dita, mas um filme diferente mesmo, não acham? No sentido de como tudo se desenrola.

    As motivações das personagens são diferentes, o clima de perseguição é mais relaxado do que nos outros, a trama política já é conhecida em grande parte pelo público (o filme inicia onde os outros pararam)…

    Achei o filme bom, mas me deu uma sensação de ter sido um pouco enganado quando comecei a ouvir o Moby, especialmente pela falta de um antagonista à altura com uma cena de luta em que os dois poderiam exibir todo o potencial do soro do supersoldado.

    Apesar de tudo, dá pra recomendar tranquilo assistir no cinema: valeu meus 4 reais de meia entrada da sessão vazia de segunda-feira do UCI.

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