Logo na primeira cena o cinegrafista é enquadrado no espelho, que já caracteriza o filme em primeira pessoa no formato de mockumentary, estilo muito em voga e utilizado a exaustão nos últimos, The Last Exorcism é de 2011, muito após Bruxa de Blair, Cloverfield e Rec. O personagem central é Cotton Marcus (Patrick Fabian), jocoso, um showman do “credo cristão” que não tem vergonha de se valer da ignorância de seus fiéis. Apesar disso, no início, ele não deixa claro se seu caráter é de charlatanice pura ou mesclada com um pouco de fé em Deus. Ele declara que não acredita em demônios, mas quando faz os exorcismos ele tem de fingir acreditar.
A fé do protagonista é abalada devido a doença do seu filho, mas a manteve minimamente acesa pelo menino ter sobrevivido. Após algum tempo, através de notícias em jornais, descobriu sobre um caso de exorcismo em que um rapaz autista morrera, e Cotton decide fazer uma cruzada contra a escola de Exorcismo que o Vaticano abrira, através do documentário que estivera gravando.
A “vítima” é mostrada como uma menina criada em um lar cristão fundamentalista, mas ainda assim, é atormentada pelo diabo – ao menos é o que acredita o seu pai. Nell, interpretada por Ashley Bell, torna toda a feitura do filme em algo relevante, aliás as atuações são pontuais em quase todos os casos, especialmente com Louis Herthum, Patrick Fabian e Calebe Landry Jones.
Lá pelos 27/28 minutos o reverendo é mostrado montando suas arapucas de exorcismo, como cordões invisíveis, sons emulando Satanás em aparelhos de mp4. A “pilantragem” é muito semelhante a de muitos iguais brasileiros, que se utilizam da ignorância alheia e alta superstição para encher seus bolsos de dinheiro.
Os relatos dos cidadãos comuns prestam um serviço de verossimilhança à obra, mas já foram usados tantas vezes que torna-se um recurso exaustivo. Daniel Stamm dirige seu segundo longa-metragem e até consegue prender a atenção de espectador, mesmo que seu horror movie não contenha muitos sustos.
No segundo ato as coisas mudam, e Nell passa a dar indícios de medo, aparentemente ligada à figura paterna. O patriarca diz achar que as ações são demoníacas, mas o testemunho do irmão e do pastor local fazem levar a possibilidade para uma criação de métodos medievais, agressivos e violentos, o que causaria na menina problemas de ordem psiquiátricas, que se agravam com a descoberta de sua gravidez, especialmente com a possibilidade de incesto.
Na última meia hora o ritmo acelera drasticamente, o que torna a trama ainda mais interessante. O conjunto de possibilidades apresenta hipóteses interessantes, que remetem até à perda da inocência, mas que se provam como falácias puras e simples. O plot twist à la Bebê de Rosemary é legal, mas falta a si a ambiguidade do clássico de Polanski. O Último Exorcismo, em última análise, é uma exploração competente do tema, mesmo sem recorrer a todos os clichês do gênero filme de exorcismo, apelando para as repetições típicas dos mocumentários.