Produzido com ótimas intenções, Les Chevaliers Blancs conta a história de uma ONG, chamada Move For Kids, que ajuda a recuperar crianças órfãs na África, facilitando a ponte entre as famílias francesas e os possíveis beneficiados. A sinopse fria passa longe de exemplificar a situação caótica e real que os envolvidos tem em conduzir tais atos, em um Chade devastado pela guerra. Porém, combina, e muito, com algumas das abordagens utilizadas pelo diretor Joachim Lafosse.
Em Perder a Razão, Lafosse, demonstrou uma sensibilidade que até tenta se manifestar neste novo filme, mas que esbarra em fórmulas comuns que denigrem o produto final. A história é narrada sob olhar de Jacques Arnault, vivido por sua vez por Vincent Lindon, que acumula em si quase todo o aprofundamento dramático do roteiro, fator até comum em filmes que focam em situações complicadas, mas ainda assim um artifício bastante fraco.
As dificuldades, tanto em angariar verba para realizar o abnegado trabalho, assim como a terrível negociação com os chefes de aldeia, é muito bem engendrada, assim como a denúncia relativa aos desmandos dos militares estrangeiros que ocupam o território africano. Obviamente, é válido aventar essas questões, que infelizmente se diluem pela completa falta de substância em qualquer personagem nativo.
A vontade em reproduzir o caos faz com que os aflitos africanos sejam somente isso, quando não pessoas desumanizadas, seja pelo desespero em conseguir emprego ou fazer adotar seus próprios filhos, como fortificar a péssima ideia hollywoodiana de retratar os africanos como pessoas violentas e afeitas a belicidade – fato comum em uma guerra, evidentemente, mas que decai em variação de tom por não ter qualquer pessoa que se salve daquele estado selvagem.
O documental do mal que faz não ter paz é interessante, mas as soluções fáceis deixam evidente há muito qual seria o final de Arnault e dos seus, perdendo importância inclusive por não haver qualquer momento de carisma da equipe, sequer nos plausíveis motivos que os fazem pensar em recuar. Curiosamente, a tentativa dos filantropos resulta no mesmo resultado final de Le Chevaliers Blancs, se diferenciando positivamente apenas por não dar margem a acusações de um possível racismo, como o argumento falaciosamente tem.