Os Cavaleiros do Zodíaco é um anime japonês que chegou ao Brasil há exatos 20 anos. O desenho contava a história de cinco amigos que se tornaram protetores da Deusa Atena e, apesar da violência, tinha como foco, basicamente, a amizade, o perdão e a superação, já que era recorrente que os os protagonistas não se davam por vencidos, sacrificando (muitas vezes) suas vidas em prol do próximo. Juntando estes três conceitos numa disputa de poder bem elaborada e bem amarrada, não tinha como dar errado.
O enredo ambientado na Grécia teve como ponto de partida a fuga de um cavaleiro chamado Aiolos, que carregava um bebê que acreditava ser a reencarnação de Atena. O bravo guerreiro acabou sendo morto a mando do Mestre do Santuário, que o acusou de ser um traidor. Porém, ainda vivo, Aiolos consegue entregar o bebê ao senhor Mistumasa Kido, o qual promete criá-lo, além de guardar sua armadura da constelação de Sagitário para o cavaleiro mais honrado quando este tiver a idade necessária. Com isso, a Fundação Kido foi criada, abrigando crianças órfãs das mais diversas nacionalidades. Posteriormente, cada uma das crianças foi enviada a várias partes do mundo para ser treinada. Assim, cerca de 10 anos depois, a jovem Saori Kido, dando continuidade ao legado de seu avô, Mistumasa, realizava a Guerra Galáctica, um torneio, disputado entre todos os cavaleiros do orfanato, cujo prêmio era a bela armadura de Sagitário de Aiolos.
Essa simples premissa mudou para sempre a vida de Seiya, Shiryu, Shun, Hyoga e Ikki, além de ter mudado a vida de muita gente (inclusive deste que vos escreve). O anime fez um sucesso estrondoso no Brasil e no mundo.
O arco seguinte ao da Guerra Galáctica faz com que Seiya e os outros percebam exatamente onde eles estão metidos, uma vez que os cavaleiros que cresceram no orfanato não são os únicos cavaleiros existentes. Eles apenas fazem parte de um universo de 88 cavaleiros, cada um sendo protegido por uma constelação do zodíaco, sendo que sua maioria acredita que Saori Kido é uma impostora, o que coloca os outros cavaleiros como traidores, dando início a uma saga de mais de 50 fantásticos episódios.
E é exatamente dessa saga que se trata A Lenda do Santuário, dirigido por Kei’ichi Sato e roteirizado por Chihiru Suzuki simplesmente para homenagear os 40 anos de carreira do mestre Masami Kurumada, criador e desenhista do mangá Os Cavaleiros do Zodíaco. Com isso, a animação em CGI buscou condensar, em apenas uma hora e meia, mais de 50 episódios na tentativa de fazer com que um novo público conhecesse o anime, além de trazer aquela nostalgia a todas aquelas crianças que hoje estão na casa dos 30 anos. Mas foi em vão.
Partindo do princípio de que o filme se chama A Lenda do Santuário, significa que a história, por ser uma lenda, não precisava ser contada exatamente do jeito que aconteceu, o que tornariam plausíveis as muitas alterações na história. Mas, infelizmente, não foi isso que aconteceu. Não há problema algum no fato de todas as armaduras terem sido alteradas; ou até mesmo a manifestação do cosmo nos cavaleiros ter sido reduzida a brilhos nos detalhes de suas armaduras; ou o cavaleiro de ouro de Escorpião ser uma amazona (que mostra o rosto). O problema está justamente onde não houve alteração. Aqui no Brasil, a Diamond Films, que cuidou da distribuição, fez um esforço tremendo e competente para trazer os dubladores originais da saga, mas, ainda assim, Seiya (Hermes Baroli), Shiryu (Élcio Sodré), Shun (Ulisses Bezerra), Hyoga (Francisco Bretas) e Ikki (Leonardo Camilo) se tornaram completos estranhos, talvez por terem muito pouco tempo de tela, visto que o filme é centrado em Seiya, deixando muito pouco espaço e diálogos para os outros. Ikki só aparece duas vezes e isso é um absurdo.
As lutas também sofreram pesadas alterações e muitas das consideradas clássicas nem chegaram a acontecer, tornando a transposição das 12 casas algo relativamente fácil. Talvez o maior absurdo tenha sido a luta entre Shiryu e Máscara da Morte, de Câncer, o cavaleiro mais cruel das 12 casas que, aqui, foi reduzido a uma cópia barata da pior imitação de Jack Sparrow já vista (ele tem até o cavanhaque com miçangas). Se no anime a casa do Cavaleiro de Câncer é toda adornada com os rostos agonizantes das pessoas que ele matou, em A Lenda do Santuário, os rostos são coloridos, alegres e cantam, ajudando o cavaleiro em um número musical ridículo, buscando emular de forma pífia o que a Disney faz de forma competente.
E não é só. Tirando as partes que foram mal aproveitadas da versão original, não há nada que seja nostálgico no filme. Por mais que todos os cavaleiros gritem seus golpes conhecidos, não se vê, em nenhum momento, por exemplo, os movimentos que eles fazem antes de tais golpes, como o “balé do cisne” de Hyoga ao soltar seu Pó de Diamante ou os movimentos de Ikki ao invocar a Ave Fênix.
A trilha sonora é péssima e muito baixa, reduzida sempre à mesma música, não remetendo em nada à ótima trilha sonora original, que consistia em poucas músicas empregadas em momentos certos na história. Pegasus Fantasy só toca no trailer.
Porém, o filme não é um desastre completo. O Santuário não é localizado na Grécia e fica numa outra dimensão. Tanto que, para chegar lá, os cavaleiros precisam unir seus pingentes onde estão suas armaduras para que os personagens possam se teletransportar. De qualquer forma, o Santuário é lindo. O visual respeita bastante a série clássica, mas traz detalhes grandiosos que a animação dos anos 80 não tinha qualidade técnica para mostrar. Há uma população que mora lá, o Mestre se reporta à população e é escoltado pelos imponentes Cavaleiros de Ouro. As 12 casas são enormes e bem distintas umas das outras, como no anime, e aparentemente são casas de verdade, como as sensacionais mansões dos sheiks árabes que estamos acostumados a ver, o que faz com que as batalhas, portanto, sejam nos saguões dessas mansões.
E, finalmente, as armaduras. Quando as primeiras imagens começaram a ser divulgadas, percebeu-se que as armaduras sofreram muitas alterações, porém ainda é possível reconhecê-las vestindo os cavaleiros de bronze, cada qual com sua cor predominante. O acabamento é caprichado e conta com uma gama maior de tons. Elas não brilham tanto como no desenho, mas contam com detalhes incríveis, e o destaque fica para as armaduras de Pégaso e Fênix. Já no que diz respeito aos Cavaleiros de Ouro, suas armaduras foram as mais alteradas. Consegue-se reconhecer as ombreiras de Shaka de Virgem ou o chifre de Mu de Áries, mas alguns cavaleiros, como Aiolia de Leão, tiveram suas vestimentas totalmente reformuladas, sendo o destaque (presente em todos os cavaleiros) a adição de um capacete que se fecha durante a batalha, o que deixa o visual dos cavaleiros bem agressivo.
Infelizmente, Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário deixou muito a desejar, porém, embora o desempenho nas bilheterias tenha sido modesto, mas chegando a liderar por algum tempo aqui no Brasil, o filme deverá ganhar uma continuação, conforme confirmado pelo produtor Iosuke Asama (também responsável pela Saga de Hades), o que é bom, considerando que os defensores de Atena poderão ganhar uma segunda chance e mostrar a que vieram.
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Texto de autoria de David Matheus Nunes.
Concordo com a crítica, foi exatamente isso q achei. Como fã assumido, me encaixando na faxetária dos 30, achei o filme um desastre. O começo foi empolgante mais o resto do filme foi uma tortura. E aquela última luta, ridículo issa ideia dos cavaleiros enfrentarem monstros gigantes.