Exibindo uma face documental e informativo Irã, brincando com a metalinguagem de manter ligada uma câmera junto ao volante do táxi, enquanto o próprio diretor dirige, Taxi Teerã começa como uma nova aventura de mergulho na identidade dos conterrâneos de Jafar Pahani, tão íntima quanto Cortinas Fechadas e Espelho, dois dos filmes anteriores do cineasta.
Os passageiros que habitam o ambiente de trabalho de Panahi falam sobre assuntos diversos, embarcado normalmente por pessoas importantes do âmbito social do país, não tendo essa importância levada graças a serem “figurões” do cenário político, e sim por serem apenas populares que possuem opinião própria. As conversas travadas revelam detalhes e meandros dos iranianos. Sem saber que fazem parte do filme, elas falam abertamente sobre questões graves, como por exemplo, o fato de serem o segundo país que mais mata seus próprios habitantes, só perdendo em nível global para a China.
Apesar de ter um tom bem mais leve do que seus filmes anteriores, Panahi ainda apresenta uma face dura de seu país, ainda que sua intenção seja a de resgatar nuances comuns também ao mundo ocidental, tentando humanizar Teerã, desmistificando a visão xenófoba normalmente enquadrada para a cidade. O investigar de Panahi é a pessoas comuns, apresentando ao mundo o ordinário e pacato cidadão de seu país, fator que em termos otimistas, ajudaria a desconstruir a islamofobia tão em voga atualmente, em especial após mais uma série de atentados terroristas assinados por extremistas religiosos.
A intimidade do homem e de mulher comum vai muito além do espectro religioso ou do fundamentalismo normalmente associado ao iraniano. O exercício narrativo de Panahi tem uma premissa interessante, mas não segue seus quase noventa minutos de duração com a mesma toada entusiasmada, ao contrário, carece de encanto em muitos momentos, tendo até problemas com o ritmo durante a sua execução.
Taxi Teerã apesar de não muito inspirado, serve bem a discussão recente sobre os detalhes dos povos de países árabes, mostrando uma a afinidade e similitude por eles mesmos, sem filtros e sem barreiras e preconceitos estrangeiristas, funcionando como um ensaio sobre o que importa e o que não importa na normalidade da população do Irã, feito inclusive com esforços e verbas dos populares do país, servindo de manifesto contrário ao que a imprensa estrangeira costuma usar como estereótipo sobre o país.