Neil Gaiman construiu uma carreira sólida ao longo de mais de 20 anos de trabalho. Tendo como o grande “pontapé” inicial sua amizade com Alan Moore, o que lhe rendeu contatos no mundo dos quadrinhos e posteriormente o tornou mundialmente conhecido ao escrever a obra Sandman. Atualmente, já mais afastado dos quadrinhos e se ocupando cada vez mais com obras literárias, Gaiman nos apresenta O Livro do Cemitério, história fortemente influenciada pelo clássico, O Livro da Selva, de Rudyard Kipling em 1894, como citado pelo próprio autor. Levando em consideração o tom sombrio de muitas de suas histórias, não é de se espantar que O Livro da Selva de Gaiman se passe em um cemitério…
Na trama, conhecemos um menino chamado Ninguém Owens, que quando ainda era um bebê e teve toda sua família assassinada misteriosamente por um homem chamado Jack. Enquanto o crime era consumado, o bebê engatinha até um cemitério que existia no fim da rua que sobe a colina, o que acaba o salvando de seu trágico destino.
O bebê acaba sendo salvo por um casal de fantasmas da Inglaterra Vitoriana que há muito tempo desejavam um filho, porém, existe uma regra que nenhum humano pode viver em um cemitério, com isso é realizado uma reunião entre os moradores do local e o misterioso Silas (uma espécie de zelador do cemitério), onde concordam em deixá-lo morar ali, e assim, o casal de fantasmas vitorianos se tornam seus pais adotivos e o batizam de Ninguém. Silas se torna seu tutor, já que é o único que pode conseguir alimentos, vestuários e outros bens necessários para o dia-a-dia de uma pessoa comum. E assim, Nin passa a viver no cemitério da colina, entre fantasmas e ossadas, lápides e covas.
A cada página o leitor acompanha o crescimento da personagem, desde bebê até sua adolescência. Cada capítulo é um importante ponto no aprendizado de Nin, seja no aspecto de crescimento dele, como habilidades especiais como atravessar paredes, assombrar, vagar por sonhos alheios, entre outras, tudo isso graças a “liberdade do cemitério”, uma concessão que os fantasmas de lá dão a Nin, pois só assim ele poderia viver com eles.
Contudo, o assassino de seus pais continua a sua procura para terminar o serviço que começou, e não importa quantos anos passem, Jack não irá descansar até terminá-lo e sua chance surge quando Nin completa 15 anos e decide sair para o mundo fora do cemitério e conhecer um pouco da vida. E assim, o destino caminha para um embate entre os dois.
Gaiman compõe uma narrativa fluida, seguindo um padrão bastante similar a contos, já que cada capítulo traz uma história fechada, uma espécie de coletânea de contos onde quando juntos em ordem cronológica formam um romance (se é que algo assim existe). Apesar de ser voltado para o público infantil – pelo menos é o que dizem, não que eu concorde com isso -, O Livro do Cemitério traz momentos sombrios, embora todos belíssimos, quase lúdicos, deixando claro que a obra não é apenas para crianças, como já vimos em Coraline e O Lobo Dentro das Paredes, aqui isso fica ainda mais nítido.
O Livro do Cemitério traz um universo fantástico fascinante, as personagens são cheias de vida (por mais irônico que isso possa parecer), as descrições dos momentos da vida de Nin emocionam qualquer um e claro, as ilustrações magníficas de Dave McKean, parceiro de Gaiman de anos, são lindas e ajudam ambientar esta bela estória. Difícil de acreditar que um cemitério seria um lugar tão cheio de vida como aqui apresentado, não é a toa que Neil Gaiman é um dos maiores escritores da atualidade.
Caramba, como pode alguém ter umas idéias tão malucas mas que acabam se encaixando numa narrativa talvez tão bacana.
Realmente, Tim Burton e Neil Gaiman com certeza são mestres nessa arte, de fazerem coisas sombrias parecerem inofensivas e puras de certo modo. Nunca tinha ouvido falar dessa obra, e também posso dizer que nunca pesquisei muito sobre o Gaiman, além é claro dos trabalhos em parceria com a DC em alguns arcos e séries envolvendo o Batman.
Esse é mais um que vai pra lista de desejos!
Muito bom Flávio!
Puta que pariu!!!
The dark side of Mogli.. ^_^’
Conheço a história do Kipling desde os meus 7 anos de idade.
Mogli, Baloo, Kaa, Shere Khan e todos os outros personagens do livro sempre fizeram parte da minha infância. Fui escoteiro desde os 7 anos de idade e este livro era utilizado pelo ramo lobinho como plano de fundo para ensinar uma porrada coisa que, sem história de fundo, são impossiveis de serem ensinadas a crianças pequenas… Eu adorava aquele livro, e adoro até hoje eu acho… ^_^’
Imaginar, entretanto, a história sendo adaptada para um garoto vivo que é criado por espiritos mortos e ainda mais surreal que acreditar em um garoto que é criado por lobos, ursos, panteras, cobras, etc. Em uma primeira opinião, me parece ridicularizar a história do Kipling e mostrar o quão infantil e impossível ela era… 🙁
Pra falar a verdade, não fiquei tentado a lê-la e fiquei menos tentado ainda a ler O Livro da Selva novamente…
Acho que algumas histórias infantis são… como se diz?? infantis mesmo… :/
Obrigado Flávio!!! O Livro da Selva parecia uma grande história até você me mostrar como ela é infantil e ridicula…
Obrigado mesmo!! Seu ser vil e asqueroso!
Ja ne!
PS: O Ninguém Owens, no original, chama-se Nobody Owens?? Assim, o pelido carinhoso dele não seria Nin, e sim Nob, certo?? estou certo?? 🙂
Ainda não li nada do Gaiman. Quando tiver oportunidade, vou ler esse ou Deuses Americanos, qual vier primeiro na minha mão.