Em 1999, Paul Dini já havia ganho bastante notoriedade graças a criação de Batman – A Série Animada junto com seu parceiro, Bruce Timm, sendo este o tomo um do chamado Universo Animado Compartilhado da DC Comics, ou DCU. Junto a Alex Ross, Dini havia de escrever uma série com os grandes heróis da DC, sendo o primeiro deles Superman: Paz Na Terra.
Em Batman: Guerra ao Crime, os artistas dedicam o trabalho a Bill Finger, que segundo eles, é o real homem-morcego e a reverência se vê também no classicismo de sua história que remete a alguns elementos vistos na criação do personagem no final dos anos 1930, além do visual se valer das influências dos desenhos de Neal Adams. A violência urbana é vista nesse início em momentos pontuais, como o sangue das vítimas preenchendo o asfalto.
Ross representa Batman como uma figura dantesca, transformando o personagem e seu uniforme como partes da cidade e da noite, simbioticamente e intimamente ligados. Em uma das suas ações, ele tem contato com o jovem Marcus, um garoto que fica órfão após um crime em uma loja de conveniência, e o herói vê sua história se repetir em outrém, resgatando a universalidade de seu destino.
O Bruce Wayne desta versão é mais maduro, conseguindo enxergar até os pontos positivos de ser quem era, uma vez que a morte de seus pais e a fortuna que tinha permitia a ele os meios para impingir justiça a seu próprio modo, coisa essa que dificilmente ocorreria se não fosse tão abastado, como acontece com Marcus. Essa ausência de egoísmo e arrogância é uma mostra muito inteligente da evolução dele como homem e vigilante.
Dini tem muita propriedade ao falar sobre o personagem, em especial nas conclusões que faz Wayne ter, ao perceber que ele não pode ser exclusivamente uma figura de horror para os bandidos, mas também de inspiração para os “novos” órfãos. O vilão da história não é o Coringa, Charada ou qualquer malfeitor genérico, e sim a violência que costuma habitar as grandes cidades, e o embate entre as gerações de desprovidos de família apesar de começar piegas soa emocionante, e ainda que possua um tom otimista neste ponto, o final não é açucarado ou demasiado irreal, ao contrário, mostra uma face pragmática e péssima de nosso sistema econômico. Batman: Guerra ao Crime é um produto fechado e muito competente em apresentar a identidade do cruzado encapuzado, distanciando ele até da violência extrema que permeou sua criação e suas boas histórias, sem perder sua essência mais básica, sendo composta por belas composições de quadros, uma trama original e envolvente para quase todos os leitores.
Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.