De 1994 pra cá, é impossível que alguém não tenha rido, refletido ou mesmo se emocionado com as tirinhas de “cão e gato”, a ponto de ter o autor de Peanuts, o famoso Charles Schulz, como um de seus maiores admiradores. Fato é que a criatividade de Patrick McDonnell impressiona e não é de hoje, sendo responsável por um sem-número de quadrinhos inspirados no dia-a-dia de meia-dúzia de animais, sempre enxergando o mundo sob o seu ponto de vista simples, leve e poético, ligado a natureza e aos seus instintos naturais inseparáveis – domesticados nem mesmo na cadência do seu lar.
Já publicada em mais de setecentos jornais mundo afora, e traduzida em mais de vinte idiomas, a série Mutts pode ser considerada um clássico das histórias em quadrinhos,aclamada por grandes nomes e por uma legião de fãs que fizeram seu valor ser devidamente reconhecido, seja neste maravilhoso encadernado de capa dura da editora Pixel, seja em alguma página de um jornal qualquer. O caráter universal das pequenas grandes histórias, sempre com um traço inconfundível e um humor ultra leve, refletindo sobre as pequenas coisas da vida, cativam com facilidade aquele(a) que estiver a procura, mesmo que sem saber, de um humor desenhado para todo o tipo de público.
Seja com as aventuras do curioso cãozinho Earl, do preguiçoso gato Mooch, ou do peixe existencialista Sid, sempre preso num aquário e examinando o ambiente ao redor, as tirinhas lidam com temas como solidão, família e filosofia da forma mais espirituosa e objetiva possível. Numa visão mais atenta, investigando o que está escondido sob essa graça e todo esse apelo popular aqui presente, é incrível como McDonnell descomplica certos assuntos em situações de entendimento imediato, e com um alto grau de subjetividade para quem deseja se aprofundar no que está por trás dessa aparente despretensão em forma de quadrinhos.
Na praia ou no quintal de casa, no açougue ou perdidos na neve (e sendo resgatados pelo Papai Noel em pessoa), há sempre espaço para a reflexão. Às vezes sem a ajuda de diálogos, e outras com as palavras completando desenhos que poderiam falar por si só, as aventuras desses pets, explorando o mundo e os hábitos estranhos dos humanos, é a própria definição do adorável que esconde “algo a mais” para aqueles aceitam o desafio de interpretar o óbvio. A editora Pixel entende isso, e trouxe para o Brasil uma coletânea imperdível dos trabalhos de um artista reconhecido globalmente por extrair a grandiloquência do lado mais singelo da vida de um bando de criaturas fofas.
O livro Mutts (conhecido nacionalmente desde os anos noventa como Os Vira-Latas) apresenta um tratamento editorial minucioso, com episódios dedicados a cada um dos temas e/ou personagens debatidos nas tirinhas. É divertido ver compilados, em seções diferentes, os momentos de ócio da dupla Earl e Mooch, este último sempre trocando o ‘C’ pelo ‘X’, ou a relação dos dois com oitenta e sete coelhos, um pássaro orgulhoso, ou com um caranguejo boca suja nas férias da família. Assim, com uma velocidade incrível,nos conectamos emocionalmente com este universo de animais falantes, mais perspicazes e carismáticos que muita gente, e que o mundo, há muito, já aprendeu a amar.
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