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  • Resenha | O Fantasma: O Fantasma Vai à Guerra

    Resenha | O Fantasma: O Fantasma Vai à Guerra

    Parte da iniciativa da Editora Pixel em publicar histórias antigas do Espírito que Anda em cores, O Fantasma Vai à Guerra é mais uma parceria de Lee Falk e Ray Moore (roteiro e arte, respectivamente) apresentando tramas mais longas, em um encadernado simples. Esse é mais um exemplo do esforço de guerra que boa parte dos heróis clássicos fizeram nos anos 1940, com o personagem participando do conflito contra o Eixo de Adolf Hitler, em uma época anterior até ao ataque a Pearl Harbor.

    A história mostra Bengala sendo invadida pelos japoneses, e contém os mesmos problemas ao retratar os selvagens, fato que já ocorreu em O Tesouro do Fantasma e tantos outros momentos do herói. Para fortalecer a ideia de que o Fantasma é o auge do homem civilizado, os pigmeus são mostrados como pessoas tolas e sem evolução mental e civilizatória. O protagonista defende os acordos para lidar com reféns iguais aos do Tratado de Genebra, humanizando os inimigos encarcerados.

    O roteiro surpreende por ser maduro para sua época, ainda mais se posto em comparação com outras aventuras do personagem. Quando chega para a ação, demonstra sua humanidade e sentimentalismo, sendo a exceção das outras pessoas “comuns”. Já os japoneses são mostrados como cruéis, como era de se esperar, afinal, eram tempos de guerra e essa era uma revista de propaganda também. Mesmo o herói sendo benevolente, lamentando a morte de seus adversários, há momentos que ele precisa assassinar os vilões, fato que o deixa claramente sensibilizado.

    Após 50 páginas a ação passa a ser frenética. Os combates entre aviões são bem feitos, Moore desenha bem momentos de tiroteios e veículos blindados. Dentre os gibis de esforço de guerra, O Fantasma Vai à Guerra não é dos mais escapistas, brinca bem com os clichês e até é bem sério se comparado com outras histórias dessa mesma época envolvendo Superman, Batman ou Capitão América. Lee Falk, mesmo fazendo tramas pueris, não tem receio de condenar veementemente o fato desse conflito armado, e propaga sua mensagem de maneira bastante sóbria.

  • Resenha | Tarzan: Contos da Selva

    Resenha | Tarzan: Contos da Selva

    Tarzan, Homem-Macaco, Demônio das Árvores… impossível nunca ter ouvido falar deste icônico e centenário personagem pulp criado por Edgar Rice Burroughs. Incontáveis adaptações já foram feitas, mas hoje falarei de uma história em quadrinhos muito interessante e que surpreende pelas diversas qualidades.

    Confesso que, ao receber esta obra, não dei a devida atenção, pois Tarzan nunca foi um personagem que despertou meu interesse. Por outro lado,  seria uma ótima oportunidade de conhecer um pouco mais sobre este ícone. E que bela surpresa! Convido você, leitor, a deixar de lado qualquer ideia negativa sobre Tarzan dos Macacos e conhecer esta pequena grande obra em quadrinhos.

    Tarzan: Contos da Selva, publicado pela Pixel Editora, reúne 12 histórias curtas. A arte de cada uma das delas ficou a cargo de um artista diferente, o que dá uma variedade interessante no visual de cada uma. Todos foram bem competentes em retratar a história proposta e, certamente, contribuíram para a fluidez e o dinamismo da leitura.

    Porém o ponto que mais me chamou a atenção foram os roteiros. Todas as histórias são assinadas por Martin Powell, que se mostrou um ótimo escritor. As histórias, inclusive, funcionariam muito bem em formato de contos, sem a necessidade das ilustrações, uma vez que Powell descreve tudo que está acontecendo no ambiente e, claro, na mente do nosso herói. Não significa que as imagens são dispensáveis, muito pelo contrário, elas engrandecem ainda mais o texto de Powell. As narrações são enfáticas, sempre com aquele ar de grandiosidade, dando uma pompa bem interessante às histórias.

    As doze histórias curtas relatam aventuras diversas de Tarzan, algumas cheias de ação e perigos, outras mais intimistas e reflexivas. Um bom exemplo desde último tipo é a história O Deus de Tarzan, em que ele tenta descobrir quem ou o que é Deus, palavra que ele encontrou em um livro de seu falecido pai. Não há discussões filosóficas ou teológicas, mas sim a tentativa de compreender de acordo com a observação do mundo ao seu redor. Outra sutileza é o fato do livro pertencer a seu falecido pai, ou seja, esta informação simples já nos mostra que o personagem é órfão e daí vamos entendendo cada vez mais a seu respeito.

    Ao mesmo tempo que Tarzan é ingênuo e primitivo, também é bom e justo. Tudo isso sob a ótica da lei da selva, onde apenas os mais fortes sobrevivem. O Homem-Macaco não hesitará em matar uma fera caso ela ataque seus amigos ou a ele próprio. Martin Powell consegue trazer muitos elementos interessantes a partir de premissas extremamente simples, afinal estamos falando de um homem que vive na selva entre animais. Esta simplicidade é o que impressiona.

    Recomendo fortemente esta compilação de histórias para conhecer o personagem e quebrar algum tipo de preconceito em relação a ele, que foi o meu caso. Tarzan é um personagem simples, mas não simplório, tampouco unidimensional.  Conheça-o que valerá muito a pena.

  • Resenha | O Fantasma: O Tesouro do Fantasma

    Resenha | O Fantasma: O Tesouro do Fantasma

    As publicações de O Fantasma tem formatos variados no Brasil desde a primeira publicação. Entre elas se destacam a recente publicação da Editora Mythos, que publica historias clássicas do criador Lee Falk (o mesmo que criou também o Mandrake) e Ray Moore, além de outras publicações anteriores, da década de 90 e 2000, que tentaram introduzir novamente o personagem em nosso mercado. A Editora Pixel Media investiu na personagem de 2013 a 2016 e este O Fantasma: O Tesouro do Fantasma é um desses volumes. Uma aventura mais longa, em cores, sem se preocupar em falar da origem do Espírito que Anda.

    A historia mostra, além do seu protagonista, alguns companheiros típicos das historias clássicas, o lobo Capeto, o cenário de Bengala, a tribo de pigmeus de Bandar, e mulheres que se interessam pela figura sedutora do herói. Os vilões são homens comuns, que manipulam um pobre pigmeu e, obviamente, a historia gira em torno do tesouro guardado pelo herói. Os personagens são planos, meros condutores das curvas do clima de aventura escapista proposto por Folk. Isso se vê principalmente em uma personagem não muito conhecida, uma mulher, que trabalha em um cabaré e que perverte seu próprio código ético, passando a ser honesta e a resgatar seus bons sentimentos pela influência do personagem-título. Inconscientemente, Falk trata seu personagem como o elemento transformador de status quo.

    As histórias antigas do Fantasma são comumente criticadas pela representação de tribos africanas, e essa não é uma exceção. Os pigmeus são oprimidos, e mostrados de maneira preconceituosa, como seres de condição e inteligência inferior. Mas ao menos na questão de representação da mulher, a historia é vanguardista, quebrando certo paradigma machista comum aos quadrinhos dos anos 30 e 40 do século XX.

    A trama tem muitas idas e vindas, e claro, sabotagens.  O tom da narrativa é ingênuo, e seus  personagens são igualmente inocentes e fáceis de enganar, exceto claro o homem acima do sistema, o Espírito que Anda.  O Fantasma: O Tesouro do Fantasma é simples e direto. A escolha da Pixel em publicar em cores e em um formato diferente pode causar estranhamento no leitor/colecionador. Mas claramente a arte de Moore se torna mais fácil de entender nessa versão, dado que os quadros não ficam exprimidos. Esses momentos clássicos do personagem merecem um cuidado maior da parte das editoras brasileiras, assim como Mandrake, Spirit e outros heróis clássicos e fora do escopo da DC e Marvel. Ainda assim, esse número serve para introduzir o leitor que jamais teve contato com o poderoso líder de Bengala.

  • Resenha | Flash Gordon no Planeta Mongo

    Resenha | Flash Gordon no Planeta Mongo

    As coisas estavam difíceis em 1929. Pela primeiríssima vez, o capitalismo explodiu igual uma casca de ovo e executivos se jogavam de cima de seus prédios, perdendo suas fortunas na pior crise de todas. Os danos na sociedade espalharam-se para bem além das muralhas de Wall Street, impactando a zona rural dos Estados Unidos e o mundo inteiro por anos. O baque nacional não foi nada pequeno, também devido a ressaca que os EUA ainda curavam desde 1918, após a Primeira Guerra Mundial. A realidade estava fétida, o pão cada vez mais difícil de conseguir, mas o circo, como bem sabe os donos do sistema, não pode parar. Principalmente nas crises.

    Flash Gordon foi a mais prodigiosa resposta escapista aos problemas que cercavam Alex Raymond, demitido de Wall Street no auge da Crise de 29. Com essa porta fechada para ele, Raymond, um jovem sonhador e criado em fazenda, sempre desenhando seus sonhos de criança ao ser inspirado por livros de fábulas, e contos de fadas, enxergou no seu desemprego a oportunidade de tentar algo novo (e absurdo): se lançar de cabeça no ainda experimental mercado das histórias em quadrinhos. Na época, eram só tirinhas de jornais, distribuídas principalmente pela King Features nos EUA, empresa do ramo de palavras cruzadas, charges e, é claro, histórias dominicais bem curtas. Foi lá que o jovem Raymond cresceu feito um titã, numa aposta editorial que iria mudar para sempre os rumos da cultura pop.

    Muito confundido hoje em dia com o velocista Flash, da DC, Flash Gordon era mais um atleta da universidade de Yale que, junto da desconhecida Dale Arden, são sequestrados pelo cientista Hans Zarkov e obrigados a entrar num foguete com ele, em direção de um meteoro que irá se chocar com a Terra. Ao pousarem no cometa e desviarem sua rota, os três percebem que o corpo celeste é na verdade o planeta Mongo, e são logo atacados por monstros e criaturas locais, lutando separadamente por sua sobrevivência – com o terrível imperador do universo Ming complicando tudo, para os estrangeiros. Ao longo de aventuras extremamente velozes e divertidas, e um gosto inebriante de nostalgia, Flash Gordon foi o primeiro grande sucesso da ficção científica na história do entretenimento de massa, com muita ação e leves toques de fantasia no que tange certos elementos das tirinhas, como dragões e outros recursos surrealistas.

    Ao usar de ótimos coadjuvantes, e da vasta mitologia de Mongo para expandir os limites da longa história do nosso herói e sua amiga Dale (por quem Flash vira e mexe tem de salvar com seus músculos e inteligência [a história carrega certas conotações machistas, racistas e supremacistas muito evidentes, banalizadas pelo senso comum da época]), Flash Gordon tornou-se uma grande alegoria gráfica do homem branco lidando com inúmeros perigos. Obstáculos aqui metaforizados nas figuras de homens-tubarões (que influenciaram Aquaman e Namor), homens-falcão (Gavião Negro, Mulher-Gavião) e pela feiticeira Azura (muito parecida com o Doutor Estranho e a Zatanna). Em paralelo aos antagonistas, temos a filha de Ming, a imprevisível Aura obcecada por Flash, sem contar o príncipe dos homens-leão, o fiel amigo Thun, e claro, o cientista Zarkov, cuja loucura de salvar a Terra com seu foguete levou a todos na maior aventura interplanetária de todas.

    Flash Gordon no Planeta Mongo, da Pixel Editora, compila as tiras de jornal de 1934 a 1937 e a jovialidade e o ritmo atemporais do álbum permanece intacta, em páginas horizontais cujo relevo ressalta o brilho e o frescor dos painéis ultra coloridos de Raymond. Nota-se em seu traço a obsessão do cartunista pelo realismo na ilustração, chegando até a usar modelos vivos em vários momentos, algo que seus colegas de trabalho desprezavam em histórias “descartáveis” de jornal, feitas para crianças. Contudo, para o visionário artista do interior e agora trabalhando em Nova York, nada era demais a fim de deixar a sua marca e inspirar mentes e corações no mundo dos quadrinhos, cinema, literatura, videogames, etc. Ademais, Raymond adaptava o encanto dos livros de contos de fada na nona-arte, produzindo ao todo um espetáculo realista e inteligente, galgando assim o seu espaço no hall das lendas até sua morte, em 1956. Seu legado já estava pronto.

    Influenciando de Superman, Zagor e Capitão América a Star Trek, de Duna a O Elo Perdido e Star Wars, e mais um sem números de criações pop, Flash Gordon é simplesmente a mais importante obra de ficção científica e fantasia em língua inglesa, em paralelo histórico com O Senhor dos Anéis (também lançado a partir de 1935). Por conta disso e muito mais, Raymond ganha neste épico compilado de histórias para colecionador um prefácio escrito por Alex Ross, o colosso da Marvel e DC. A veneração em cima do trabalho revolucionário de Raymond não tem fim entre todas as lendas das HQ’s que vieram após ele – Stan Lee e Jack Kirby deviam ter feito suas homenagens a Raymond enquanto vivos, uma vez que muitas das suas ideias vieram dele. Como já disse Pablo Picasso: “bons artistas copiam; grandes artistas roubam”.

    Compre: Flash Gordon no Planeta Mongo.

  • Resenha | Príncipe Valente: Nos Tempos do Rei Arthur – Vol. 1

    Resenha | Príncipe Valente: Nos Tempos do Rei Arthur – Vol. 1

    A importância de Hal Foster para a história e o refinamento dos quadrinhos, enquanto forma de arte, é tão imprescindível quanto a de Charles Chaplin para o cinema. Ambos artistas refém de um tempo ainda primário para as mídias que ajudaram a aprimorar, e das condições de trabalho ainda simplistas as quais dispunham para se eternizar, a partir de suas criações. Agindo como um farol nas brumas reputacionais que envolviam a produção de tiras de quadrinhos, vistas na época como ilustrações banais e sem muita importância artística e/ou estética, o escritor e desenhista Hal Foster, na vida real tão aventureiro quando seu personagem mais querido e celebrado da carreira, fez iniciar seu legado em fevereiro de 1937 com a primeira tira de Príncipe Valente, nos divertidos e inspiradores tempos do Rei Arthur.

    Ao longo de 43 anos, Foster supervisionou sua tira tal um pai a acompanhar os primeiros passos de seu filho. Assim, o artista se tornou o idealizador de toda uma mitologia própria e irresistível, sempre entre o realismo dos idos dos cavaleiros da távola redonda, e o surreal que esses mesmos homens acreditavam existir em um mundo ainda inexplorado, e portanto, repleto de abismos, dragões e a magia que no século XXI, por bem ou por mal encontra-se perdida. Nesse equilíbrio temático irresistível, tanto pela narrativa graciosa quanto pelas clássicas ilustrações de igual prestígio, conta-se a história do Rei Aguar que, expulso de seu trono, se refugia com esposa, seu único filho e seus servos fiéis para os pântanos selvagens da Bretanha, uma península montanhosa no extremo noroeste da França – notável como Foster se mostra um mestre da narração visual desde os primeiros quadros de introdução a história, influenciando várias outras lendas das HQ’s que viriam, a seguir.

    Mas este é apenas o início de Príncipe Valente – Vol. 1: Nos Tempos Do Rei Arthur. Uma publicação ambiciosa e que reúne o primeiro ano das tiras coloridas do Príncipe Valente, a fim de evidenciar todo o esplendor e a dinâmica ímpar do trabalho de Foster, em um compêndio gráfico em tamanho extra-grande e com um apreço estético simplesmente impressionante – cortesia da editora Ediouro/Pixel Media, contando ainda neste volume com uma educativa retrospectiva da vida e obra do autor, e uma entrevista de cinco páginas com o próprio artista, dono de uma imaginação delirante. Ao folhear suas gloriosas páginas ilustradas, somos transportados para um pântano sombrio que serve apenas como palco para a mutação de um menino curioso, em uma lenda. Com a morte de sua mãe, e a profecia que seu futuro será cheio de tragédias, Val (como passa a ser chamado o príncipe) deixa seu pai para trás e parte em busca de ser um legítimo cavaleiro em aventuras mundo afora, negando as facilidades que seu sangue real poderia trazer, e toda a dor que remete a ele.

    Intenso, e confiante, Val passa a ser um desses personagens que adoramos acompanhar em suas brigas, derrotas e triunfos em um sem-número de situações traiçoeiras, já que o mesmo parece atrair para si toda a sorte de problemas, missões e perigos que existem. O menino então vira adulto, e com ele, aliados, donzelas e inimigos se juntam como coadjuvantes de uma história de palácios, e monstros; espadas mágicas e amaldiçoadas, e poderosas oráculos que, com o dom da palavra, ditam o caminho de todos que a elas se submetem. Príncipe Valente reúne o que de melhor os quadrinhos dos anos 30 produziam, num encanto elementar que merece ser assegurado e cultuado com o passar do tempo em publicações colecionáveis tão inestimáveis, quanto esta. Não tão famoso quanto Will Eisner, criador de Um Contrato com Deus, e Jerry Siegel e Joe Shuster, pais do Superman na década de 1940, Harold Rudolf Foster é um dos maiores quadrinistas de todos os tempos, e não apenas no mundo ocidental das obras. Sua herança vive, intacta, e agora, melhor do que nunca.

    Compre: Princípe Valente – Vol. 1: Nos Tempos do Rei Arthur.

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  • Resenha | Popeye: Clássico

    Resenha | Popeye: Clássico

    “Macacos me mordam!”

    O marinheiro Popeye é, certamente, um dos personagens mais icônicos a habitar o imaginário popular criado pelos desenhos mais clássicos já transmitidos pela TV, no Brasil. Conhecido por inúmeros motivos, desde sua silhueta inconfundível a seus bordões, e coadjuvantes de luxo, pouca gente ainda lembra (ou sabe) que Popeye, assim como A Turma da Mônica e outros que também ganharam desenhos animados na telinha, veio dos quadrinhos há muito tempo – e bota tempo nisso. No intuito de reunir suas grandes histórias que resumem todo o seu carisma, essa publicação da Ediouro (Pixel Media) faz total justiça as origens do personagem, um dos azes de ouro de uma era em que criatividade e diversão pareciam ser sinônimos nas criações, mundo afora.

    Em pouco mais de cem páginas, Popeye – Clássico está para nós, assim como vários outros compilados também estão para juntar grandes momentos de uma figura já célebre, e consolidada na cultura pop mundial. Todo mundo sabe quem é Popeye, o que ele gosta, o que ele não gosta (talvez isso seja o mais importante, rendendo mil e um conflitos engraçados para o personagem), seus antagonistas e companheiros de tantas aventuras, seja na ilha dos fantasmas ou em casa, num dia quente de verão onde tudo, absolutamente tudo dá errado. Popeye faz parte de um tempo que achava graça de si mesmo, quase que sem limites, respeitando claro seu público infantil, e esse tempo merece ser visitado pelas gerações mais novas que desconhecem qualquer coisa que veio antes dos anos 2000.

    Isso porque o cartunista Bud Sagendorf foi muito feliz quando assumiu a vaga criativa do verdadeiro criador de Popeye, o americano Elzie Crisier Segar, anos após o gênio Segar já ter morrido de leucemia, e a extinta editora Dell ter escolhido Bud como o desenhista oficial do nosso marinheiro, sempre viciado em espinafre – e em sua querida Olívia Palito. Por cinquenta anos, Bud ainda é o artista que mais tempo desenhou Popeye, assumindo o legado de Elzie até 1994, revitalizando e criando centenas de novas histórias para o personagem, há 90 anos sendo publicado em um sem-número de jornais e revistas em tirinhas que conquistaram o público, sem fronteiras. Na terra, ou no mar, suas encrencas carregam um gosto de infância e irreverência que só é igualado por uma matinê sábado de manhã no sofá, vendo nossos desenhos favoritos na televisão.

    O tempo passou, como para tantas outras criações, e hoje vemos que Popeye – Clássico expõe as mazelas éticas que muitas sociedades já superaram, e outras ainda estão buscando superar – como o machismo, e um leve politicamente incorreto que pode ferir alguns. Se antes tudo isso era normatizado, muitos dos leitores hão de perceber como algumas coisas de fato mudaram – e outras, nem tanto, já que Popeye é o típico valentão que age quase sem pensar, ou primeiro esmurra alguém e depois pergunta. Porém, por trás de suas mãos enormes, e sua cara de mal, há o coração de um bom amigo, um pai prestativo, e um cara rabugento que adora velejar e se envolver nos problemas dos outros para tentar resolvê-los, e é claro, só piora as coisas.

    O traço típico e as cores vivas e chapadas do universo de Popeye são tão simples quanto deliciosos, e nos divertem do primeiro quadrinho ao último com total facilidade. Hoje, após quase um século de existência da marca Popeye, sua figura já é considerada em muitos países de domínio público – no Brasil, o prazo é de 70 anos após o lançamento de uma criação. “Qualquer um pode utilizá-lo em camisas ou pôsteres, mas se você vender um boneco ou uma lata de espinafre do Popeye, pode estar infringindo uma marca registrada”, explica Mark Owen, especialista em propriedade intelectual. Todos querem ter Popeye, e com essas historinhas nos apaixonando mais uma vez por ele, podemos finalmente ter o nosso marinheiro atrapalhado e seus amigos na nossa mão – e bem mais de uma vez.

    Compre: Popeye – Clássico.

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  • Resenha | Mandrake: O Mundo do Espelho e Outras Histórias

    Resenha | Mandrake: O Mundo do Espelho e Outras Histórias

    Criado por Lee Falk, o mágico Mandrake é uma daquelas figuras que quase todo mundo já ouviu falar, porém quase ninguém nos dias de hoje realmente conhece. Provavelmente nossos pais ou avós se depararam com revistas do ilusionista encartolado ou, puxando pela memória, podemos lembrar dele do desenho animado Os Defensores da Terra, da década de 1980, onde ele formava uma equipe com Flash Gordon e o Fantasma. Mas poucos com menos de 40 anos podem dizer que realmente acompanharam suas aventuras em quadrinhos quando criança.

    Entre outubro de 2013 e junho de 2015, a editora Pixel Media publicou uma série de três encadernados com histórias do Mandrake, adaptando o formato de tiras de jornal para acomodá-lo à forma de revista. Publicado em capa cartão e papel do miolo de alta qualidade, Mandrake: O mundo do espelho e outras histórias é a primeira das três edições da Pixel a apresentar ao público de hoje as histórias da época.

    O álbum apresenta quatro histórias do personagem, sendo as duas primeiras maiores, com 40 páginas e as duas últimas com cerca de 20 páginas cada. O mundo do espelho do título da edição é a primeira história, e nela Falk se vale de uma antiga lenda que diz que tudo refletido no espelho é, na verdade, parte de uma outra dimensão. Nessa dimensão, todas as noções de bem e mal, certo e errado, são invertidas. Entre um show de mágica e outro, Narda (noiva e assistente do mágico) percebe que há algo errado do outro lado espelho. Mandrake e seu fiel amigo Lothar acabam descobrindo um meio de visitar esse mundo invertido e frustrar os planos de dominação de suas contrapartes malignas. Como de praxe em uma história da época, fica impossível saber se a aventura realmente aconteceu ou “foi tudo um sonho” (spoiler: aconteceu mesmo, pois existe uma continuação).

    Na história seguinte, O Colégio de Mágica, aprendemos um pouco sobre o passado de Mandrake quando ele faz uma viagem astral ao santuário místico tibetano onde aprendeu as artes do ocultismo. Devido a um ataque sofrido pelo Colégio, Mandrake se vê obrigado a viajar até o local para ajudar. É interessante notar algumas resoluções de roteiro da época que hoje soariam bastante estranhas, como o próprio Lothar que é um estereótipo ambulante, um homem negro que não só é servo do protagonista branco como também perambula por aí sem camisa e com “trajes tribais”. Além disso, estar armado em um avião comercial, saltar de paraquedas no meio da viagem e matar um exemplar de um dos grandes felinos em extinção não parecem ser atitudes condenáveis na história.

    As outras duas histórias do especial não são movidas pelo protagonista, mas trazem esse ar de inovação que era necessário na época. As histórias do Mandrake dessa edição são praticamente todas baseadas em close-ups, o que pode facilitar a vida do desenhista, mas atrapalha em muito a compreensão da trama, que fica presa aos diálogos. É sempre bom lembrar que é um produto de sua época, mas mesmo assim não parece agradar aos mais jovens devido à trama fácil, rápida e, em alguns momentos, rocambolesca.

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  • Resenha | Mutts: Cães, Gatos e Outros Bichos

    Resenha | Mutts: Cães, Gatos e Outros Bichos

    De 1994 pra cá, é impossível que alguém não tenha rido, refletido ou mesmo se emocionado com as tirinhas de “cão e gato”, a ponto de ter o autor de Peanuts, o famoso Charles Schulz, como um de seus maiores admiradores. Fato é que a criatividade de Patrick McDonnell impressiona e não é de hoje, sendo responsável por um sem-número de quadrinhos inspirados no dia-a-dia de meia-dúzia de animais, sempre enxergando o mundo sob o seu ponto de vista simples, leve e poético, ligado a natureza e aos seus instintos naturais inseparáveis – domesticados nem mesmo na cadência do seu lar.

    Já publicada em mais de setecentos jornais mundo afora, e traduzida em mais de vinte idiomas, a série Mutts pode ser considerada um clássico das histórias em quadrinhos,aclamada por grandes nomes e por uma legião de fãs que fizeram seu valor ser devidamente reconhecido, seja neste maravilhoso encadernado de capa dura da editora Pixel, seja em alguma página de um jornal qualquer. O caráter universal das pequenas grandes histórias, sempre com um traço inconfundível e um humor ultra leve, refletindo sobre as pequenas coisas da vida, cativam com facilidade aquele(a) que estiver a procura, mesmo que sem saber, de um humor desenhado para todo o tipo de público.

    Seja com as aventuras do curioso cãozinho Earl, do preguiçoso gato Mooch, ou do peixe existencialista Sid, sempre preso num aquário e examinando o ambiente ao redor, as tirinhas lidam com temas como solidão, família e filosofia da forma mais espirituosa e objetiva possível. Numa visão mais atenta, investigando o que está escondido sob essa graça e todo esse apelo popular aqui presente, é incrível como McDonnell descomplica certos assuntos em situações de entendimento imediato, e com um alto grau de subjetividade para quem deseja se aprofundar no que está por trás dessa aparente despretensão em forma de quadrinhos.

    Na praia ou no quintal de casa, no açougue ou perdidos na neve (e sendo resgatados pelo Papai Noel em pessoa), há sempre espaço para a reflexão. Às vezes sem a ajuda de diálogos, e outras com as palavras completando desenhos que poderiam falar por si só, as aventuras desses pets, explorando o mundo e os hábitos estranhos dos humanos, é a própria definição do adorável que esconde “algo a mais” para aqueles aceitam o desafio de interpretar o óbvio. A editora Pixel entende isso, e trouxe para o Brasil uma coletânea imperdível dos trabalhos de um artista reconhecido globalmente por extrair a grandiloquência do lado mais singelo da vida de um bando de criaturas fofas.

    O livro Mutts (conhecido nacionalmente desde os anos noventa como Os Vira-Latas) apresenta um tratamento editorial minucioso, com episódios dedicados a cada um dos temas e/ou personagens debatidos nas tirinhas. É divertido ver compilados, em seções diferentes, os momentos de ócio da dupla Earl e Mooch, este último sempre trocando o ‘C’ pelo ‘X’, ou a relação dos dois com oitenta e sete coelhos, um pássaro orgulhoso, ou com um caranguejo boca suja nas férias da família. Assim, com uma velocidade incrível,nos conectamos emocionalmente com este universo de animais falantes, mais perspicazes e carismáticos que muita gente, e que o mundo, há muito, já aprendeu a amar.

    Compre: Mutts.

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  • Resenha | Super Popeye

    Resenha | Super Popeye

    Presente na lista do TV Guide que elegeu os 50 Melhores Personagens de Desenhos Animados de Todos os Tempos, o marinheiro Popeye foi uma presença constante na vida daquelas que nasceram na década de 80 e nas anteriores. Criado por Elzie Crisier Segar em 1929 como um personagem coadjuvante na tira Thible Theatle, aos poucos, o marinheiro ganhou popularidade e se tornou a estrela principal do autor. A partir de uma série de curtas metragens inspirados em suas tiras, Popeye se consagrou como um icônico personagem.

    Conhecido como um super-herói antes do tempo, devido ao espinafre que lhe dá superforça, o público atual pouco conhece suas aventuras. As últimas animações lançadas foram no final de 1988. Salvo alguma reprise televisiva e o resgate em algum canal televisivo ou no YouTube, há informações de que a Sony desenvolve um longa-metragem animado com o marujo desde 2010.

    Por outro lado, nos quadrinhos, a personagem ganhou uma nova série recente pela IDW, seguindo a tônica de outros personagens clássicos como O Sombra ou The Spirit que foram revisitados por outros autores, mesmo sem o sucesso de outrora. Lançado no país pela Pixel Media, Super Popeye reúne as cinco primeiras histórias dessa nova versão produzida pela IDW e lançada em 2012.

    Ao contrário de muitas novas versões que intendam dar uma nova roupagem para a personagem, os roteiros de Roger Langridge são propositadamente nostálgicos, apoiando-se nos elementos clássicos e, a partir deles, narrando novas histórias. Como um misto de humor non sense, as tramas apresentam situações pontuais que se expandem para absurdos engraçados enquanto apresentam o panteão de personagens conhecidos como a namorada Olivia Palito, o inimigo Blutus, bem como o fanático por hambúrgueres, Dudu.

    Como personagem, Popeye representa o clássico homem bruto de bom coração. Embora seja um sujeito simples, tem um carater sólido ainda que, as vezes, o lado correto se revele pela força dos próprios punhos. Aliado a um discurso sobre a importância da boa alimentação, principalmente a dos vegetais, o espinafre se tornou um aliado sempre constante nas tramas, garantindo na época do lançamento do marinheiro uma alta nas vendas de espinafre e que hoje se mantém como um de suas características fundamentais.

    Diante de uma personalidade bem definida e carismática, cada história desenvolve um humor de situação, sempre com inimigos que desejam ou destruí-lo ou algo que prejudique outros e seus fieis amigos que mais atrapalham do que ajudam. O humor em cena é bem desenvolvido, natural diante do universo de personagens, sem que a leitura soe como datada ou como uma homenagem pontual.

    Ainda que a edição tenha a intenção de conquistar um novo público, são os leitores antigos que devem se divertir mais ainda com a leitura, recordando-se de um grande personagem de sua infância. A Pixel fez um bom trabalhado nesta edição composta em papel brilhante e acrescida de uma pequena introdução sobre a personagem, bem como uma explicação do porquê o famoso inimigo de Popeye se chama Bluto e não Brutus como ficou conhecido no desenho. Há erros pontuais em algumas cenas, com as falas de alguns personagens mal diagramadas no balão, nada que atrapalhe a leitura, porém. Infelizmente, este compilado foi o único número lançado dessa nova fase. O número dois foi dedicado ao Popeye Clássico.

    Compre: Super Popeye.

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