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  • Resenha | O Fantasma: O Fantasma Vai à Guerra

    Resenha | O Fantasma: O Fantasma Vai à Guerra

    Parte da iniciativa da Editora Pixel em publicar histórias antigas do Espírito que Anda em cores, O Fantasma Vai à Guerra é mais uma parceria de Lee Falk e Ray Moore (roteiro e arte, respectivamente) apresentando tramas mais longas, em um encadernado simples. Esse é mais um exemplo do esforço de guerra que boa parte dos heróis clássicos fizeram nos anos 1940, com o personagem participando do conflito contra o Eixo de Adolf Hitler, em uma época anterior até ao ataque a Pearl Harbor.

    A história mostra Bengala sendo invadida pelos japoneses, e contém os mesmos problemas ao retratar os selvagens, fato que já ocorreu em O Tesouro do Fantasma e tantos outros momentos do herói. Para fortalecer a ideia de que o Fantasma é o auge do homem civilizado, os pigmeus são mostrados como pessoas tolas e sem evolução mental e civilizatória. O protagonista defende os acordos para lidar com reféns iguais aos do Tratado de Genebra, humanizando os inimigos encarcerados.

    O roteiro surpreende por ser maduro para sua época, ainda mais se posto em comparação com outras aventuras do personagem. Quando chega para a ação, demonstra sua humanidade e sentimentalismo, sendo a exceção das outras pessoas “comuns”. Já os japoneses são mostrados como cruéis, como era de se esperar, afinal, eram tempos de guerra e essa era uma revista de propaganda também. Mesmo o herói sendo benevolente, lamentando a morte de seus adversários, há momentos que ele precisa assassinar os vilões, fato que o deixa claramente sensibilizado.

    Após 50 páginas a ação passa a ser frenética. Os combates entre aviões são bem feitos, Moore desenha bem momentos de tiroteios e veículos blindados. Dentre os gibis de esforço de guerra, O Fantasma Vai à Guerra não é dos mais escapistas, brinca bem com os clichês e até é bem sério se comparado com outras histórias dessa mesma época envolvendo Superman, Batman ou Capitão América. Lee Falk, mesmo fazendo tramas pueris, não tem receio de condenar veementemente o fato desse conflito armado, e propaga sua mensagem de maneira bastante sóbria.

  • Resenha | Fantasma – Casamento e Lua-de-Mel

    Resenha | Fantasma – Casamento e Lua-de-Mel

    Imagine um diálogo, com Superman dizendo: “Eu comecei tudo isso”, e o Fantasma, hoje esquecido pela cultura pop, dividida entre DC e Marvel, respondendo: “Eu sou uma piada pra você?”. Em 1936, um dos primeiros “heróis” dos quadrinhos surgiu, quase cem anos antes de vermos Hollywood ser salva (literalmente) pelo mundo das HQ’s. Assim, o Fantasma pode ser encarado como um fóssil dessas aventuras de pessoas estilizadas que lutam pelo bem, a justiça e o patriotismo (algo inserido dois anos depois na figura do Super Homem, 100% americano). Quando a realidade bateu na porta, e as pessoas perceberam que uma guerra, na década de 30, poderia de fato afetar o mundo todo, criou-se então o desejo de medo, de salvação. Não pelos militares, mas pelos novos deuses do homem moderno. Saiu o Hércules, veio o 21º representante dos Fantasmas da Ilha da Caveira.

    E bem antes do Cabeça de Teia, e cia. Os cartunistas Lee Falk e Sy Barry criaram o arquétipo que iria definir, para sempre, o salvador dos oprimidos. Homem forte, inteligente e rápido, e que sempre vence os vilões antes de beijar sua amada, no final das histórias – nada previsíveis, acredite. O Fantasma vem de uma linhagem antiga de outros heróis do mesmo nome, e que ao habitarem a Ilha da Caveira pelos últimos quatrocentos anos, passaram o manto um  para o outro, protegendo o lugar de perigos inimagináveis que o assolam. Assim, nota-se que a criação de Falk e Barry é inseparável da sua mitologia, tal qual Flash Gordon, mas algo diferente do Batman. A própria ilha do Fantasma, seus aborígenes, suas criaturas lendárias e seus desafios são intrínsecos a quem o personagem é, algo que mestres como Stan Lee evitaram de fazer com o Thor, por exemplo. O Deus do Trovão funciona muito bem lutando em Nova York, algo difícil de imaginar com o simpático e um tanto inocente Guardião da Caveira.

    Entenda: O Fantasma – Casamento e Lua de Mel simboliza tempos mais simples, quando a pós-verdade era um conceito distante. No ano da publicação era OK dialogar sobre trágico de drogas, fanatismo religioso e totalitarismo político numa publicação para as crianças, e a polêmica talvez em torno disso poderia ser nula – principalmente devido ao talento de Falk e Barry em traduzir assuntos pesados através da ação, e do viés de uma jornada gostosa e descompromissada do herói. Ao explorar, no início dos primórdios dos quadrinhos de massa, arcos leves e muito expressivos envolvendo o Fantasma e a sua noiva Diana (uma mistura de Jane e Lois Lane) contra ditadores orientais, um deus do mundo antigo, e traficantes malucos escondidos na Ilha, torna-se irresistível acompanhar os triunfos e derrotas de um marco das HQ’s e que clama por ser resgatado para as novas gerações.

  • Resenha | O Fantasma: O Tesouro do Fantasma

    Resenha | O Fantasma: O Tesouro do Fantasma

    As publicações de O Fantasma tem formatos variados no Brasil desde a primeira publicação. Entre elas se destacam a recente publicação da Editora Mythos, que publica historias clássicas do criador Lee Falk (o mesmo que criou também o Mandrake) e Ray Moore, além de outras publicações anteriores, da década de 90 e 2000, que tentaram introduzir novamente o personagem em nosso mercado. A Editora Pixel Media investiu na personagem de 2013 a 2016 e este O Fantasma: O Tesouro do Fantasma é um desses volumes. Uma aventura mais longa, em cores, sem se preocupar em falar da origem do Espírito que Anda.

    A historia mostra, além do seu protagonista, alguns companheiros típicos das historias clássicas, o lobo Capeto, o cenário de Bengala, a tribo de pigmeus de Bandar, e mulheres que se interessam pela figura sedutora do herói. Os vilões são homens comuns, que manipulam um pobre pigmeu e, obviamente, a historia gira em torno do tesouro guardado pelo herói. Os personagens são planos, meros condutores das curvas do clima de aventura escapista proposto por Folk. Isso se vê principalmente em uma personagem não muito conhecida, uma mulher, que trabalha em um cabaré e que perverte seu próprio código ético, passando a ser honesta e a resgatar seus bons sentimentos pela influência do personagem-título. Inconscientemente, Falk trata seu personagem como o elemento transformador de status quo.

    As histórias antigas do Fantasma são comumente criticadas pela representação de tribos africanas, e essa não é uma exceção. Os pigmeus são oprimidos, e mostrados de maneira preconceituosa, como seres de condição e inteligência inferior. Mas ao menos na questão de representação da mulher, a historia é vanguardista, quebrando certo paradigma machista comum aos quadrinhos dos anos 30 e 40 do século XX.

    A trama tem muitas idas e vindas, e claro, sabotagens.  O tom da narrativa é ingênuo, e seus  personagens são igualmente inocentes e fáceis de enganar, exceto claro o homem acima do sistema, o Espírito que Anda.  O Fantasma: O Tesouro do Fantasma é simples e direto. A escolha da Pixel em publicar em cores e em um formato diferente pode causar estranhamento no leitor/colecionador. Mas claramente a arte de Moore se torna mais fácil de entender nessa versão, dado que os quadros não ficam exprimidos. Esses momentos clássicos do personagem merecem um cuidado maior da parte das editoras brasileiras, assim como Mandrake, Spirit e outros heróis clássicos e fora do escopo da DC e Marvel. Ainda assim, esse número serve para introduzir o leitor que jamais teve contato com o poderoso líder de Bengala.

  • Resenha | Mandrake: O Mundo do Espelho e Outras Histórias

    Resenha | Mandrake: O Mundo do Espelho e Outras Histórias

    Criado por Lee Falk, o mágico Mandrake é uma daquelas figuras que quase todo mundo já ouviu falar, porém quase ninguém nos dias de hoje realmente conhece. Provavelmente nossos pais ou avós se depararam com revistas do ilusionista encartolado ou, puxando pela memória, podemos lembrar dele do desenho animado Os Defensores da Terra, da década de 1980, onde ele formava uma equipe com Flash Gordon e o Fantasma. Mas poucos com menos de 40 anos podem dizer que realmente acompanharam suas aventuras em quadrinhos quando criança.

    Entre outubro de 2013 e junho de 2015, a editora Pixel Media publicou uma série de três encadernados com histórias do Mandrake, adaptando o formato de tiras de jornal para acomodá-lo à forma de revista. Publicado em capa cartão e papel do miolo de alta qualidade, Mandrake: O mundo do espelho e outras histórias é a primeira das três edições da Pixel a apresentar ao público de hoje as histórias da época.

    O álbum apresenta quatro histórias do personagem, sendo as duas primeiras maiores, com 40 páginas e as duas últimas com cerca de 20 páginas cada. O mundo do espelho do título da edição é a primeira história, e nela Falk se vale de uma antiga lenda que diz que tudo refletido no espelho é, na verdade, parte de uma outra dimensão. Nessa dimensão, todas as noções de bem e mal, certo e errado, são invertidas. Entre um show de mágica e outro, Narda (noiva e assistente do mágico) percebe que há algo errado do outro lado espelho. Mandrake e seu fiel amigo Lothar acabam descobrindo um meio de visitar esse mundo invertido e frustrar os planos de dominação de suas contrapartes malignas. Como de praxe em uma história da época, fica impossível saber se a aventura realmente aconteceu ou “foi tudo um sonho” (spoiler: aconteceu mesmo, pois existe uma continuação).

    Na história seguinte, O Colégio de Mágica, aprendemos um pouco sobre o passado de Mandrake quando ele faz uma viagem astral ao santuário místico tibetano onde aprendeu as artes do ocultismo. Devido a um ataque sofrido pelo Colégio, Mandrake se vê obrigado a viajar até o local para ajudar. É interessante notar algumas resoluções de roteiro da época que hoje soariam bastante estranhas, como o próprio Lothar que é um estereótipo ambulante, um homem negro que não só é servo do protagonista branco como também perambula por aí sem camisa e com “trajes tribais”. Além disso, estar armado em um avião comercial, saltar de paraquedas no meio da viagem e matar um exemplar de um dos grandes felinos em extinção não parecem ser atitudes condenáveis na história.

    As outras duas histórias do especial não são movidas pelo protagonista, mas trazem esse ar de inovação que era necessário na época. As histórias do Mandrake dessa edição são praticamente todas baseadas em close-ups, o que pode facilitar a vida do desenhista, mas atrapalha em muito a compreensão da trama, que fica presa aos diálogos. É sempre bom lembrar que é um produto de sua época, mas mesmo assim não parece agradar aos mais jovens devido à trama fácil, rápida e, em alguns momentos, rocambolesca.

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