Parte da reformulação do homem de aço pós-Crise, este Mundo de Krypton conta com o argumento e roteiro de John Byrne e desenhos e Mike Mignola (criador de Hellboy), acompanhados da arte-final de Rick Bryant. No início é mostrado um jovem kryptoniano, nominado Van-L. O clima e as roupas minúsculas no planeta chegam a tornar a atmosfera nesse início, em algo meio soft-porn. Os habitantes do planeta mostrado são jovens mimados em sua maioria, muito parecido com os Elois – do romance A Máquina do Tempo de H. G. Wells.
Os personagens são referenciados entre si como filhos de “alguém”, o que demonstra a dependência dos indivíduos aos seus clãs – eles só poderiam ser chamados pelo nome após o rito de passagem da maioridade. A preocupação de Van-L com sua cerimônia é tão grande que ele ignora a guerra em Kandor – o que demonstra a alienação que aflige alguns dos cidadãos mais moços. É explanada também uma forma de perdurar as vidas dos mais velhos -experiências com clones – onde se discute os direitos dos mesmos – ou a falta deles, no caso. Estes ensaios criogênicos possibilitaram um crime horrendo, que por sua vez, gerou um enorme escândalo aos olhos da opinião pública. Tais atos fizeram com que todo planeta mergulhasse na guerra.
Em flashback é mostrado como começa o conflito. Iniciado por protestos encabeçados pela Liga da Vida – movimento contra o uso de clones para aumento da longevidade e a favor do modo natural de envelhecimento. Sen-M, líder da Liga, classificava a clonagem como ato de Barbarismo. Os protestos pareciam ter morrido com seu mentor, mas não foi o caso, e um novo perigo parece se apresentou: um artefato bélico chamado Zero Negro, que quase deu um fim ao planeta.
No terceiro número, é dado um salto de mil anos, mostrando Jor-el meditando sobre as “Guerras Clones” – favor não confundir. Byrne utiliza o recurso de brincar com a linha do tempo exaustivamente, e mostra diferentes momentos da história intercalados. Os progenitores de Kal-El são vistos com maus olhos, por se interessarem por história – e eram encarados pelos anciãos como contestadores do Status Quo kryptoniano. Mesmo assim, Jor-El é contemplado, e permitido a procriar, graças à morte de outro cidadão.
Os dois protagonistas, Jor-El e Van-L, começaram suas indagações de forma parecida, mas seus rumos finais foram diferentes. Van-L não resistiu ao sistema, e tornou-se parte dele, até pela inexperiência e despreparo de seu povo em resolver conflitos. Enquanto Jor-El – inspirado pelo próprio Van-L – ia contra a maré que seus semelhantes e superiores pregavam, ansiando por contato humano e um meio de vida mais sentimental.
O quarto e último volume começa já em Metropolis, mostrando o Super-Homem agindo em salvar o prédio do Planeta Diário de um míssil. É passado um ano, desde que o herói começou a atuar na cidade. Num recordatório, o super-herói diz a Lois Lane, por meio de uma entrevista, como seu planeta era – um mundo de alta tecnologia onde arte e ciência se completavam em harmonia.
Superman fala das consequências da guerra, e como Van-L – seu ancestral -reconstruiu o planeta, remodelando-o. A evolução genética deles engendrou o embrião do que seria o estado de “super-homem“, tornando possível os poderes que os kryptonianos vieram a possuir.
No entanto, o contato físico entre eles era zero, o avanço genético evoluiu ao ponto de a concepção kryptoniana ser realizada sem que os pais se conhecessem. Tal controle populacional tornou os nativos daquele mundo em pessoas frias e sem sentimentos, ao passo que Jor-El tomava uma atitude completamente rebelde, se apaixonar por sua cônjuge – algo que nenhum habitante de seu planeta fazia há muito tempo.
As suspeitas de que algo de errado acontecia com o astro começaram com um terremoto, e depois com a notícia de que o pai de Jor-El estava doente – algo impossível para tais padrões de evolução. Após investigar mais, o cientista/historiador descobriu a morte de milhões de kryptonianos, no último ciclo solar, e entendeu que aquilo tinha relação com o Zero Negro – a causa da “Praga Verde” é reação em cadeia, na crosta do planeta, que forma um novo elemento, um metal radiativo, que causaria uma explosão no corpo celeste.
Jor-El não lamenta o fim da vida que eles levavam, na verdade, ele o justifica, culpando a si e a seus semelhantes por ter evoluído ao ponto de chegar a um modo de vida estéril e frio. Kal-el desfrutaria de uma existência que Jor-El somente sonhava em ter, e isso o deixava feliz.
O final para os pais biológicos do herói é emocionante e sentimental, algo impensável para os kryptonianos. Superman chora ao perceber que ele vive o que seus ancestrais não conseguiram, e agradece a eles por esse “legado”. A mensagem final é piegas, mas todo o resto do relato vale a pena ser visto, até por ser uma ótima apropriação de John Byrne da origem do herói.
E ainda assim muitos ainda torcem o nariz para a reformulação feita por John Byrne. Chamam seu Superman de “americanófilo” e frio, estéril em comparação com versão cinematográfica de Richard Donner e que depois foi replicada para os quadrinhos por Geoff Johns.