Mantendo viva a chama escapista vista em alguns especiais do Morcego nos idos dos anos noventa – visando, obviamente, fazer um contraponto à mega-saga A Queda do Morcego –, a revista Batman Chronicles preconizava aventuras do Cruzado Encapuzado em meio a uma Gotham diferenciada. Em Robin: Dia Um, a cidade é apresentada como um lugar mais lúdico, mesmo sendo publicada em meio à saga Terremoto (No Brasil, presente na edição nº 32 da Editora Abril, ainda em formatinho).
Os desenhos de Lee Weeks habitam uma amálgama dos traços de David Mazuchelli, de Batman: Ano Um, e o visual típico da série televisiva sessentista do homem-morcego, emulando elementos dessas duas fases tão distintas. Batman é flagrado em mais uma ronda rotineira, atrapalhando um negócio escuso de uma das quadrilhas que habitam a cidade, mais uma vez desbaratando os marginais sem maiores complicações.
Apesar de o roteiro de Bruce Canwell tocar em pontos-chave, como comportamento mafioso e brechas legais em denúncias não concluídas por parte dos malfeitores, os desenhos de Weeks não abrem margem para uma discussão mais profunda. Isso ocorre também no linguajar do diálogo entre mentor e pupilo, com Bruce Wayne e Dick Grayson conversando bem ao estilo camp das histórias escritas logo no início do surgimento da dupla dinâmica, ainda com arte de Bob Kane. No decorrer da trama, nota-se um clima semelhante ao pensado por Brian De Palma em Os Intocáveis, claro, excetuando a violência gráfica causada pelo antagonista Al Capone, mas permanecendo o mesmo senso de justiça de Eliot Ness – na figura de Batman, logicamente – além de conter uma homogeneidade entre a fotografia do filme e o visual da hq.
As peripécias das primeiras aventuras do parceiro-mirim do Morcego representam a adaptação do terceiro Robin, Tim Drake, ao ofício de menino prodígio, mesmo com os quase dez anos de exercício do manto. Após a morte de Jason Todd e agora com lugar cativo, o webmaster, que não era órfão – em mais um paradigma quebrado -, não havia ainda ganhado a popularidade que se esperava dele, por isso uma aproximação de uma encarnação mais popular era necessária, além de aproximar a iconografia visual de ambas as figuras.
Os primórdios do trabalho em equipe da dupla resgatam muito mais do que o simples escapismo das épocas mais inocentes da Era de Ouro,como comprova a competência de Batman enquanto treinador e o discipulado que fez com seu pupilo. Expõem também uma interação harmoniosa sem sugerir qualquer traço de homo-afetividade subliminar, como Fredric Wertham gostava de destacar. Usando plots parecidos com os filmes de Joel Schumacher, Robin – Dia Um consegue unir a origem do Robin e abordar a confiança mútua e simbiótica da dupla, sem precisar apelar para os clichês cafonas dos filmes e sem subestimar o leitor, apresentando uma aventura divertida e descompromissada.