Ok, vamos falar sobre o Batman. Sobre o Batman que você gostava quando criança, não esse que você passou a idolatrar quando cresceu! Nada contra O Cavaleiro das Trevas, o tom sombrio de suas histórias ou os filmes do Nolan. Mas lembra quando seus amigos, irmãos e primos brincavam de Superamigos? Quando você amarrava uma toalha no pescoço e discutia sobre quem ia ser o Robin, o Coringa ou o Aquaman? Quando a sala da sua mãe se tornava uma Bat-Caverna e o quintal de casa ou o playground do condomínio se transformava em um cenário de aventuras – às vezes o chão era lava e você tinha que pular nos sofás e almofadas para não se queimar, ou subir no escorregador e salvar seu parceiro no combate ao crime? Lembra de como isso tudo era legal?
É sobre essa época que Batman – Os Bravos e Destemidos trata!
Se em 1992 tivemos Batman: A Série Animada, que não só revitalizou as animações do personagem como mostrou um Homem-Morcego mais sombrio e próximo das hqs, dezesseis anos depois o produtor James Tucker nos brinda com uma volta à Era de Prata dos quadrinhos com um desenho mais leve, divertido e aventuresco!
O título da série faz referência à longeva hq The Brave and The Bold, que mostrava aventuras de heróis da DC em parcerias inusitadas. Cada edição apresentava uma dupla de super-heróis que, normalmente, não se encontravam em seus títulos regulares. Batman, durante muito tempo, foi o personagem âncora desse gibi, e suas parcerias eram bastante diversas. Na série animada, ele é o personagem título, mas nem sempre o principal. Os coadjuvantes podem ser bastante conhecidos do grande público ou total estranhos. Um exemplo disso é o Lanterna Verde, que na série é o Guy Gardner e não John Stewart ou Hal Jordan. Além disso, embora reverencie a Era de Prata, alguns personagens são mostrados em suas versões mais modernas, como o Besouro Azul, por exemplo. Já o Flash é apresentado como Jay Garrick, mas Barry Allen e Wally West/Kid Flash também dão as caras.
Os episódios costumam contar com uma introdução que difere muito da história principal. Geralmente, vemos Batman e algum herói de segunda em meio a uma situação inusitada, com algum vilão prestes a derrota-los, até que eles viram o jogo e derrotam o malfeitor. Tudo num estilo bastante rocambolesco que poderia muito bem fazer parte de uma brincadeira com os antigos bonequinhos Super Powers na garagem do seu pai. Após essa curta introdução, entram os créditos iniciais. E que música tema! Uma batida mais acelerada, longe do tom sombrio da música de Danny Elfman, mas também diferente do tema da série live-action de 1966. A música inspira e dá o clima da série, que é de diversão e aventura. E aí vemos o título do episódio, que sempre é uma frase com um ponto de exclamação ao final! E finalmente conhecemos o convidado do dia!
Tanto os maiores super-heróis da DC como os menos conhecidos são contemplados na série. Aquaman, Tornado Vermelho, Pantera, Arqueiro Verde, Homem-Borracha, Os Titãs, Os Renegados… Todos estão lá, e ganham traços que emulam o período em que Dick Sprang desenhava o Batman. As cores vibrantes, os traços simples e fortes ao mesmo e os roteiros absurdos faz dessa a melhor série do Batman para crianças, sem ser imbecilizante. Mesmo nos momentos mais absurdos, um adulto pode perceber uma sacada genial dos roteiristas.
O Batman parece ser o único personagem que realmente se leva a sério. Sim, apesar do tom cartunesco, o Homem-Morcego mantém suas características, e foi definido pelos produtores da série como “um Adam West com colhões”! O uniforme cinza e azul é perfeito para a proposta da série, e todos seus gadgets aparecem e são bem utilizados. Aqui, Batman não é um ser atormentado pela morte dos seus pais, uma figura misteriosa e psicologicamente abalada. Ele é um herói! E como herói, faz o que deve ser feito, inspira e ajuda. É também dele a narração em off, característica de filmes noir, que mostra o quanto ele se preocupa com cada parceiro em cada episódio.
A série é sim, bastante exagerada. Mas faz piada desses exageros, principalmente nos episódios do Bat-Mite (Bat-Mirim nos quadrinhos brasileiros), duende da quinta dimensão que, ao contrário de Mxyzptlk, idolatra o Batman! Nesses episódios nada é sagrado, e até os fãs de quadrinhos na Comic Con viram motivo de piada – bem sacada, por sinal! Os episódios de Bat-Mite podem ser comparados com os especiais de Halloween dos Simpsons: são histórias malucas que não fazem parte da cronologia e brincam até com os produtores da série. Em um deles, há uma homenagem ao clássico encontro de Batman com a turma do Scooby-Doo – inclusive repetindo os erros de colorização frequentes naquela época, deixando o Batman sem calças por alguns frames! Em outro episódio, há a adaptação de Batboy e Bobin, paródia publicada na revista Mad na década de 1960, e até uma versão anime dos personagens!
Batman – Os Bravos e Destemidos é um retorno à época em que ser super-herói era algo mais simples e divertido.