Dead Set é uma mini-série britânica, ambientada nos anos 2000 e tem a pretensão de mostrar realisticamente como seria uma infestação zumbi. A ideia não é nova, mas poucas vezes foi tão bem executada como neste escrete. A história começa nos bastidores de uma rede de televisão, mostrando os bastidores do Reality Big Brother. Quase todas as analogias e mensagens nas entrelinhas passam pelo cotidiano de participantes destes programas.
É noite de eliminação, mas algo deixa a audiência em polvorosa. A “calamidade” afeta a população, os sinais de celular caem, os meios de comunicação deixam de funcionar, mas quem está dentro do show – sejam os guerreiros da nave ou a equipe de produção – mal sabe o que está acontecendo. Com o decorrer do programa, um dos infectados invade o canal e espalha a “doença” – nada diferente dos inúmeros sub-produtos do gênero, não fosse é claro o nível da produção.
Utilizar-se da alienação dos participantes para desacreditar que o fim do mundo chegou é uma sacada fenomenal. As batalhas são sangrentas e demora a aparecer alguém munido de armas de fogo – são pessoas normais, na maioria civis sem o menor preparo que estão diante de um estado insano. A direção de arte é primorosa, principalmente no que tange o visual das criaturas. A fotografia e filmagem também são um show a parte, com câmeras em primeira pessoa dando maior dinâmica às perseguições, visual escuro nas cenas após a “tomada” dos mortos. Há nudez feminina – muito boa por sinal, enfim.
O ponto alto da série são as pessoas e o que elas são obrigadas a fazer para sobreviver e como cada uma agiria diante da pressão crescente por permanecer vivo a qualquer custo. Um dos personagens mais emblemáticos é Patrick (Andy Nyman) produto do programa, individualista, preconceituoso, egoísta, desprezível e arrogante – que não cai em nenhuma armadilha moral. Ele é escroto do começo ao fim e faz questão de humilhar qualquer um que se ponha em seu caminho. Outra boa caracterização é a da pseudo-heroína Kelly (Jaime Winstone), que começa a série como uma reles estagiária com serviço maçante e sem futuro, envolvida em um triângulo amoroso – de novo não dando ao espectador concessões morais – e que evolui com o decorrer da história, passando a ser líder do grupo de sobreviventes.
A discussão no seriado toca temas como arrogância da parte dos líderes de grupo, mudanças no estado de vida dito normal, rejeição por parte dos seus semelhantes e negação de fatos óbvios como a evolução dos temores humanos – tudo isso utilizando-se de arquétipos típicos de participantes do Big Brother.
As cenas finais se encaixam perfeitamente na ideia geral de Dead Set. As metáforas demonstram que mesmo esse tipo de programa – sem conteúdo ou substância alguma – ainda representa muito da realidade do grande público, que permanece inerte e paralisado diante de todos os acontecimentos fora de seu mundinho particular.
Eu vi faz alguns anos, mas lembro de não ter achado nada demais. Mais uma história sobre uma infecção que se espalha, onde um a um dos protagonistas vão morrendo, como eles se prejudicam pelo egoísmo e no final, ficam sem esperanças. Basicamente o mesmo que Madrugada dos Mortos trouxe alguns anos antes…
Concordo contigo. Quando vi também tive a mesma sensação. Engraçado pensar que o zumbi que era uma crítica agressiva há umas décadas hoje não tem mais essa força e parece até uma saída fácil.
Vcs dois estão loucos!
Há uma diferença básica entre Dead Set e Dawn of the Dead, chama-se construção de personagens. Em Madrugada, o policial malvado se redime a la Stallone, e vira do bem, enquanto em Dead Set os personagens escrotos continuam escrotos e egoístas até o fim – vido o Patrick e aquele outro que parece o Gollum, o velho punheteiro.
Sem falar que não há aquele exagero de todos os personagens acertarem headshots no final, quase não há uso de armas de fogo – coisa muito comum no Madrugada e seus filhotes – isso inclui a série da AMC.
Revejam com atenção, Dead Set é muito bem feito!