O documentário da Netflix, idealizado por Tom Farrell começa no território dos Estados Unidos de Chinle, no Arizona, um lugar de preservação da memória dos índios Navajos. Lá, jogam os Chinle Wildcats, um time de basquete, que foca num estilo chamado Rezball, no entanto os primeiros minutos do piloto se dedicam a louvar a memória da tribo de americanos originais, sua mística, suas crenças, e é claro todo o conceito da Navajo Nation, que aliás, se estende na interseção de três estados Arizona, Utah e Novo Mexico.
A fim de melhorar o desempenho atlético dos jovens jogadores, os diretores dos Wildcast trouxeram o treinador Raul Mendoza, multi campeão nas categorias infantis e juvenis cujos resultados são inegavelmente positivos, tendo inclusive sido auxiliado por Kareem Abdul Jabbar quando o mesmo pensou em se tornar técnico, no passado.
Há uma boa discussão sobre a utilização do Rezball, que é o estilo que favorece a velocidade e facilita o jogo para os navajo, que tem estatura média bem baixa, onde os mais altos tem pouco mais de 1,70m. A correria, quase sem dribles e com muita força é muito baseada em danças, arrancadas e um domínio de bola muito preciso, os passes e arremessos tem que ser sempre muito precisos, sem espaço para quaisquer erros. Mendoza não entende o porquê da utilização do artificio, mas conduz seu time com esse estilo acoplado ao seu próprio modo de conduta no basquete.
Os pontos altos do programa envolve a elucubração sobre as dificuldades dos aspirantes a profissionais, que não eram altos, obviamente, e é um bocado sentimental. O depoimento de torcedores locais, como Mo Draper, que aliás, funcionou muitas vezes como figura paterna dos aspirantes, que são vistos pelas suas aldeias como uma espécie de guerreiros modernos. Os seis episódios mostram a tentativa do Chinle Wildcats no campeonato estadual, que aliás, tem uma boa estrutura.
A persona de Raul é muito rica, ele trabalha sob prejuízo como técnico colegial (seus gastos eram maiores que seu salário), no entanto, para um programa em uma temporada, é muito pouco. O cunho emocional não evolui, e o fato de ter 30 minutos por episódio faz com que boa parte desses capítulos seja preenchido pelas historias pessoais dos jogadores, mas as trajetorias são tão similares que vale pouco a pena acompanhar, não se foca muito nas diferenças entre eles, e não se resume em nada essas partes.
Prestes a ser eliminado da liga, o Chinle começa uma reação, baseando seus ataques em chutes de três. As partes mais emocionantes do programa certamente são os jogos, sempre muito pegados, com administração de pequenas vantagens e desvantagens, portanto, jogos muito parelhos, e normalmente bem jogados tecnicamente. A medida que eles avançam no campeonato, vão jogando com times de brancos, que por sua vez, são bem diferentes dos outros nativo-americanos ou dos navajos.
A tática do rezball funciona fundamentalmente ali, mas eles tem vida curta na competição, e o objetivo de Nada de Bandeja parece ser outro, que não a valorização do desporto, e sim a mostra da intimidade desses meninos, que buscam espaço no meio universitário, mesmo sem condições financeiras para tal, com todas as carência, e alguns deles conseguem. É uma pena que o seriado seja um bocado sentimentaloide e melodramático, caso fosse um pouco mais econômico nesse sentido, poderia ter um exito bem maior em explorar dramas mais universais, ao invés disso, acaba parecendo mais genérico do que mereceria o Chinle, os aspirantes a atletas e Mendoza.