Enxaqueca é fruto da epifania criativa de um autor ao abraçar sua arte, a fim de refletir as angústias da vida cotidiana com muito humor escrachado e uma irreverência típica das belas HQ’s independentes do Brasil. A partir de um financiamento coletivo (agradecido logo no final da obra) e muita imaginação, temos um conto que nos faz rir sem limites tendo como base apenas os infortúnios que brotam no nosso caminho, e nos impedem de viver uma vida tranquila, ou como muitos apontam, “perfeita” – no caso, uma terrível dor de cabeça no mais banal cidadão brasileiro, e de origem inacreditavelmente fantástica.
Quando uma entidade interestelar chamada Iamandugarai descobre o planeta Terra, em meio a vastidão espacial, a criatura gigantesca não se aguenta diante da pequenez do globo terrestre, sua fragilidade, e principalmente, seus vampirescos e escrotos habitantes chamados ‘humanos’. Possesso por um ódio infinito, Iamandugarai decide punir a humanidade escolhendo Robson, um pobre desenhista de cobaia, para implantar nele uma onipresente dor que jamais abandona o seu pobre crânio – uma possível metáfora das preocupações que o autor enfrenta, ou que todo artista tem de lidar como qualquer outra pessoa.
Assim, o escolhido não consegue mais trabalhar, tampouco viver mais sua vida, enquanto as estrelas rondam sua cabeça, de maneira e intensidade latentes. Até que, num belo dia, o cara está andando numa calçada quando é atacado pela odiosa entidade e seus soldados em forma humanoide, tendo literalmente as dores da vida materializadas na sua frente num dia de sol – e de uma forma diabólica, e horrenda. Nisso, percebemos como Enxaqueca reproduz em suas alegorias surreais o lado ruim da vida, os desafios e as surpresas aleatórias que nos atacam sem dó nem aviso, e aparentemente, sem um motivo claro também.
O curioso é que Robson, mesmo com todos os seus problemas, jamais olha para cima e pergunta “Por que eu?!”, já que ele acorda e tem que viver o pior dia de sua vida, sob seus possíveis karmas ou seu azar – seja lá como cada um chama as lástimas que nos aparecem, e nos fazem crescer e perceber o valor do otimismo, da força e do sorriso como melhor remédio que existe. Felipe Parucci é sagaz em sua criação, contanto com boas referências da cultura pop e guardando boas surpresas ao longo da história, com um estilo ilustrativo bem expressivo dando o tom de um belo entretenimento, bastante reflexivo, no final das contas.
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