“Você e eu, parceiro: à deriva num oceano de estrogênio.”
Toda barba será castigada – ou, no mínimo, perseguida. No segundo volume da saga Y: O Último Homem, nota-se a necessidade de expandir a história e, com isso, enfraquecer sua narrativa central. Se antes o foco era em Yorick e seu macaco, os últimos mamíferos machos da face da Terra, e suas duas amigas vagando pelos Estados Unidos, até um refúgio para “a última fábrica ativa de espermatozoides do planeta”, agora há uma tentativa fraca de construir-se uma mitologia para a situação. Com a mulherada mandando no pedaço, e criando facções em diferentes estados do país, ninguém é de confiança em um cenário de puro suspense e retaliação, tenha você seios, ou não.
A grande série de Brian K. Vaughan e Pia Guerra, devida e extremamente prestigiada entre críticos e leitores, continua a ser uma crítica surreal aos extremos que regem o ser humano, e como eles podem atrapalhar o progresso da nossa coletividade. Em O Último Homem, temos uma sociedade dividida negando qualquer harmonia utópica, para se rebelar em gangues e fortalecer seus poderes de sobrevivência paralelos, enquanto esperam os últimos homens (do espaço) caírem na Terra, e quem sabe, repovoarem a espécie – o que tira um peso enorme dos ombros de Yorick. De repente, o último macho humanoide pode não ser tão especial assim. Ou não, pois quando agentes militares israelenses descobrem que astronautas masculinos vão pousar em solo americano, tentarão de tudo para capturar os barbudos e garantirem a procriação em Israel.
Longe de supervalorizar a figura masculina, Y – O Último Homem debate na ficção como os sonhos de Superman são impossíveis, e a paz mundial já foi condenada pela própria natureza caótica das pessoas. Há muito os menos hipócritas já sabem disso, e em A Senha, conhecemos mais a fundo o passado de Yorick, num mergulho existencial do mais normal dos rapazes, ou melhor: a última esperança viva das próximas gerações. Com suas amigas em sérios apuros na mão de assassinas brutais, uma ex-agente militar brinca com a mente de Yorick enquanto o faz ter alucinações perigosíssimas. Mas por quê? Há algo de podre no reino das amazonas, e a vida não parece mais valer muita coisa no Arizona, ou em qualquer lugar. Talvez porque a Mulher já tenha aceitado que, ao morrer, os golfinhos serão oficialmente os animais mais inteligentes da Terra.
Mas saberão apreciar uma canção, um livro, construir pirâmides? Saberão eles ser racistas, homofóbicos, se matar porque um gosta de mar, e o outro gosta de viver em piscinas? Ou será que a natureza exterminou os homens para dar uma chance a mulher de melhorar as coisas com suas peculiaridades femininas? Os Volumes 3 e 4 ostentam essas e outras questões pela ótica da ação e da aventura, e mesmo ao assumirem-se como extensões um tanto dispensáveis do grande arco de histórias da série, as ilustrações seguem fortes o bastante para nos surpreender, em diversos momentos de pura adrenalina. Há um drama verdadeiro e bem difundido na revista, em uma realidade quase que pós-apocalíptica em que todos foram deixados a própria sorte, e o azar impera – ainda mais se você tiver um pênis e for tão imaturo quanto um homem pode ser.
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