Começa sem som, sem nenhuma preocupação em explicar os fatos e com a câmera mostrando uma van em chamas. A obra realizada pelo francês Quentin Dupiex viaja por diversos estilos, é um drama que se utiliza de um ar de comédia bastante nonsense, parodiando filmes “sensíveis” como Eu, Você e Todos Nós, de Miranda July.
A história mostra Dolph Springer (Jack Plotnick) um sujeito solitário e deslocado do mundo, que repentinamente perde o seu chão ao perceber o desaparecimento de seu melhor amigo, seu cachorro Paul. Dolph é um sujeito tão afastado de uma vida social saudável e de contatos minimamente satisfatórios com seus semelhantes – leia-se seres humanos – que os fatos que ocorrem com ele no decorrer da trama são até compreensíveis, mesmo com a natureza exagerada da obra. Sua insegurança latente o torna inofensivo, e por isso os outros personagens apresentam-se desarmados e até suscetíveis a suas palavras, mesmo os mais paranoicos e desconfiados, pois ele é um ouvinte convidativo.
O roteiro de Dupiex passeia por um universo ilógico e absurdo, onde imperam a falta de razão e não muito motivo para as ações que se seguem. É uma metalinguagem do nonsense, uma vez que se usa de seus elementos comuns, mas também os satiriza. Tomando como exemplo Victor, o jardineiro (Eric Judor), em sua primeira ação com Dolph, o chama para verificar algo errado no jardim, e ao chegarem lá, observam que uma palmeira transformou-se num pinheiro – a discussão ocorre, eles acham soluções paliativas, mas não há muitos questionamentos, não há nenhuma coerência ou fundamento. Absurdos como esses são bastante comuns, e o efeito delas é quase sempre muito engraçado.
Dolph acaba sendo encontrado por um sujeito curioso, chamado Master Chang (William Fichtner) que possui poderes telepáticos – o que garante inúmeros momentos de hilaridade – e diz ter raptado o cachorro, para prevenir uma possível rejeição por parte do dono. Seu argumento passa pelo princípio de que a perda faz com que se valorize as coisas, inverte-se o “costume” e a “rotina” afim de que o sujeito perceba a necessidade pelo amor de seu animal. Fichtner é impagável, está excelente e é uma das melhores coisas do filme, assim como foi também em Fúria Sobre Rodas.
O protagonista é tão ridiculamente isolado e incompatível com a realidade, que ele simplesmente não sabe dizer não aos absurdos propostos a ele. A possibilidade da quebra de sua rotina parece machucar seus sentimentos. Sua frágil estabilidade mental e emocional é posta em cheque a todo o momento.
Wrong é um ótimo pastiche de comédias nonsense e filmes hipsters – subgênero bastante popular atualmente – tem um subtexto interessante, no entanto o mais importante parece ser a forma e não o conteúdo.