A retomada da quarta temporada volta como um autêntico recomeço, a maioria dos personagens está a procura do seu lugar graças a forçada realocação que aconteceu após a malfadada invasão da prisão impetrada pelo Governador. O episódio é mais uma vez dirigido pelo veterano Greg Nicotero (que certamente foi o responsável por prover os mortos de vermes mesmo nos buracos “recém feitos” em seus corpos) é muito competente em mostrar a devastação moral que foi causada nos sobreviventes, especialmente no que restou do clã Grimes. Rick (Andrew Lincoln) e Carl (Chandler Riggs) não conseguem se entender, num misto de pena, desconfiança motivada por falhas físicas, e claro, a não capacidade do pai em salvar os outros membros da família. Para piorar, o ex-policial se mostra deveras inseguro e paranoico, todas as suas atitudes são muito calcadas na inabilidade e na dificuldade em se adaptar ao novo status quo.
O grupo é dividido e tenta se manter vivo, cada um a sua maneira. Os signos visuais melhoraram consideravelmente, os poucos que ainda têm esperança são cercados por abutres, aves que se alimentam de carniça, à espera de que suas presas finalmente sucumbam. Terminus é o lugar para onde os sobreviventes vão, com uma promessa de que nesse oásis, as coisas voltariam ao normal, ou mais próximo disso. Praticamente todo o grupo de protagonistas se encaminha para lá, exceto pelas baixas mostradas da terceira temporada. O roteiro de Robert Kirkman melhorou nos aspectos relacionados a sobrevivência, nada é mais tão fácil, apesar de alguns momentos transbordarem pieguice e o sentimentalismo típico das searas anteriores. A época se diferencia das outras pela descaracterização do grupo e pela trama dividida em núcleos que conseguem gerar o mesmo nível de interesse em praticamente todos eles e sem um antagonista forte na maior parte da temporada.
Uma das sub-tramas mais interessantes é a que envolve Carol (Melissa McBride), Tyreese (Chad L. Coleman), Mika (Kyla Kenedy) e Lizzie (Brighton Sharbino), reprisando o drama semelhante ao da história em quadrinhos, mas sem um desfecho tão palatável e “justiceiro” quanto o original. É ainda mais forte do que o primeiro, ainda que as raízes do problema não sejam tão bem construídas quanto o caso primordial. É no mínimo curioso que a falha de interpretação da menina seja tão semelhante ao delírio da personagem Carol nos quadrinhos. O desfecho das pendências morais da senhora de meia-idade é um ponto muito interessante da trajetória, coerente e competente, além de enriquecer o personagem, mostrando o quão pesada ficou sua consciência.
A jornada de Glenn (Steven Yeun) atrás de sua amada é cortada pela de Abraham (Michael Cudlitz) e seus amigos, que querem chegar a Washington, levando um cientista que saberia a razão do apocalipse zumbi. O trio de aventureiros é bastante parecido com a sua contra-parte original, o que faz deles personagens bastante caricatos até. Para o sino-americano o objetivo que tanto busca é alcançado. As coincidências são enormes, as chances disto acontecer vão aumentando aos poucos, e dados os exageros anteriores, este passa a não ser tão gritante, ainda que tenha em si um bocado de incongruências.
A “nova Canaã” não é alcançada por todos os personagens até o penúltimo capítulo. Os que ainda não chegaram à estação final têm um encontro deveras sangrento, onde Rick deixa o seu lado selvagem finalmente aflorar de novo, ao ver sua cria em perigo. Quando a corda aperta, não há espaço para civilização ou pacifismo, somente para o instinto de sobrevivência e a vazão ao necessário instinto de predação. A guerra cobra o seu preço e a psiquê do ranger vai abaixo e ele experimenta momentos de nostalgia junto a Hershell (Scott Wilson) e de pura letargia. O sangue sobre sua pele mostra o quão feroz ele precisa ser para manter-se vivo e manter os seus vivos – máxima que se testifica ainda mais com os fatos ocorridos no final do episódio derradeiro. Mais uma vez a temporada termina sem um desfecho real e com um enorme gancho para o próximo ano, mas esta conseguiu ser bem melhor construída, especialmente quando comparada ao “brochante” e desestimulante do terceiro ano. A espera pela próxima jornada ao menos é garantida dado o suspense construído desde a retomada, o que já é uma grande coisa, caso a história seja o mínimo inspirada na fase homônima das HQs, certamente terá ótimos momentos, aumentando bastante as expectativas de que o quinto ano supere em qualidade o que até agora foi – apesar dos pesares – o período mais interessante da série.