Um Corpo que Cai e Intriga Internacional, David Carbonara e sua mina de ouro tocam pela última vez e fazem aqueles 30 segundos abrirem o último episódio de Mad Men.
Como começar melhor o fim do que lembrar o espectador que já estamos nessa estrada há quase 10 anos? Basta, após os créditos, encararmos um deserto e, à la Mad Max, o barulho ensurdecedor de um carro dirigido por Don Draper, de capacete e óculos. O próprio personagem nos recorda da conversa com sua filha dizendo que tudo passou rápido demais. Depois de encerrar 2014 com a cena mais inesperada e, provavelmente, uma das mais belas na história das produções pra TV, o último episódio de Mad Men se concentra exclusivamente em não parecer o fim de nada, e apenas mais um episódio muito bem executado como todos os outros.
Matthew Weiner volta para continuar cavando o buraco que abriu dirigindo e roteirizando. Temos pequenas jóias de diálogos entre amigos que parecem não se ver ou se encontram na mesma frequência de tempos anteriores em algumas passagens do episódio. Aquelas três pessoas, que começaram como coadjuvantes do grande diretor de arte da Madison Avenue, agora possuem algo próprio, apesar de não tão grande, e fizeram tanta presença nessa história quanto ele. São bons amigos agora, estão longe uns dos outros e vão continuar assim daqui em diante.
Ken e Joan nos relembram novamente sobre o dinheiro. Ele sempre estará ali. Foi o dinheiro que traçou o caminho de todos, retornando eventualmente como prioridade. O Dinheiro pra Joan é o respeito de poder trabalhar com o que quer, de estabelecer seu nome e não precisar estar na sombra de ninguém, um preço que aceita sem hesitar. Para Peter foi finalmente a chance de reconquistar Trudye, largar toda a estrada que consequentemente resultou no seu divórcio, mas que, ainda assim, deixa boas memórias pra trás.
O trabalho é o corpo dessas pessoas; não o fazem pelo dinheiro, mas pelo hábito. Não interessa se algo não se encaixa ou se tudo não se encaixa mais: simplesmente é necessário fazer. Um processo quase mecânico, assim como precisar de dinheiro. Peggy reflete muito bem essa faceta do trabalho durante a série, e curiosamente é Joan e ela que se mostram mais viciadas no que fazem antes de qualquer outro.
Mas antes de olhar para trás, Sally e Betty nos lembram de que tudo que está acontecendo agora vai continuar acontecendo também daqui pra frente. Faz parte do grande abismo que essas pessoas viveram no decorrer de cada temporada (não podendo faltar um ultimo “What?”). Ninguém, de fato, nunca está ou esteve bem por muito tempo, mas ainda assim há espaço aberto para vermos Peter e Trudy como um casal prometido e feliz a caminho de seu jatinho particular. Certamente, se ele irá seguir pelo caminho de Don como pessoa, como já havia feito algumas vezes, é incerto, mas foi um final feliz.
E o Don? Não é a primeira vez que vai embora aleatoriamente para qualquer lugar. Repetir o mesmo processo há mais de 20 anos não deve ser simples, muito menos mecânico. Mais uma vez com outra mulher e outro problema que irá corroê-lo por dentro da mesma forma como qualquer outro problema. Don é a pessoa que mais tenta juntar pequenos pedaços de um todo desfeito há muito tempo. Poderíamos esperar qualquer coisa menos um retiro espiritual como opção para acabar com sua decadência contínua.
De todos, ele é o único que precisou encarar tudo o que representa e faz esse exercício todos os dias naquele lugar com sua própria imagem refletida na vida de outra pessoa. Precisou ver o abismo de outros e se prender ao próprio abismo sem beber ou fugir (de novo). Encarar que é um péssimo pai e que nunca irá fazer parte importante de uma família que ele já teve ao seu lado, a qual hoje não existe mais. É triste pensar que sua última conversa com Peggy foi uma carta de confissão, quase como um suicídio. A sensação de que algo ruim estava por vir é cortada de maneira sobrenatural pela declaração de amor de Stan por Peggy. Sem nenhum tipo de preparação, com a própria Elizabeth Moss cortando o clima da declaração, mostrando que aquilo está completamente perdido no meio de tudo. e daí lembramos: é o ultimo episódio.
Com o tempo quase esgotado, vemos Roger e Marie finalmente juntos (quem sabe até o fim dessa vez), e passamos por todos os outros personagens novamente, cada um mais distante do outro e certamente com os mesmos problemas de sempre. Don finalmente aparece, em seu estado mais zen já antes visto. O som de tudo cessa e a meditação ilustra ordem e controle de todo aquele abismo que ele se encontrava, porém um sorriso aparece. Ele finalmente conseguiu se dividir da sua pior parte? Ele voltou a trabalhar e aquela propaganda da Coca-Cola é de sua autoria? Não saberia dizer, mas é certo que algo ali mudou, pelo menos em parte.
Se pudesse chutar, diria que o episódio 7 encerraria o programa de forma que não pudéssemos pensar em nada disso. Mas, ao mesmo tempo, seria uma lágrima no final das contas, e não um sorriso curioso que encerraria uma das maiores produções na história da TV. Sentirei falta de pensar no que ele poderia ter sido.
Atenção: este review contém spoilers de toda a série. Siga por sua conta e risco.
Mad Men entrou para o seleto grupo de séries que mudaram a televisão americana atual, ao lado de Breaking Bad, The Sopranos, Deadwood, The Wire e Six Feet Under. A série criada por Matthew Weiner relata a rotina dos homens e mulheres que modernizaram a publicidade a partir dos anos 60.
Entre os turbulentos anos de 1960 a 1970, acompanhamos as principais figuras da agência de publicidade nova-iorquina Sterling Cooper, centralizadas na figura de seu misterioso diretor de criação, Don Drapper.
Por se tratar de uma série que acompanha a rotina dos mesmos personagens em um ambiente que pouco altera com o tempo, as mudanças em Mad Men poderiam ser ainda menos perceptíveis de uma temporada para a outra se não fossem as contextualizações históricas. Os grandes eventos da época foram agentes importantes para as mudanças que a publicidade sofreu. Não obstante, os anos 60 são reconhecidos nos Estados Unidos como a grande fase em que houve a quebra do padrão em toda a cultura, além das manifestações políticas contra a guerra do Vietnã, a ascensão da mulher no mercado de trabalho e os conflitos raciais através da luta dos direitos civis.
Os personagens principais da série na primeira Sterling Cooper
No entanto, os três atos da série podem ser identificados entre antes e depois do divórcio de Don, e após o seu afastamento da agência.
A primeira temporada consolida os personagens principais da agência, os “homens loucos” que modernizaram a publicidade. Eles são compostos pelos chefes de atendimento que lidam diretamente com os clientes e o núcleo de criação que dá ideias para o seu diretor fazer as apresentações, e assim conquistá-los e mantê-los. No entanto, é através da rotina de Don Drapper que vemos quase tudo o que acontece na agência, além dos seus inúmeros casos extraconjugais. Aos poucos, também vemos como Don vai se mostrando um personagem com passado misterioso que ele tenta a todo o custo esconder; sua única fraqueza aparente. Don na verdade se chama Dick Whitman, filho de uma prostituta, sem família, que na guerra da Coreia acaba assumindo a identidade do seu superior para fugir do conflito.
É aqui também que vemos o outro lado da Sterling Cooper através da contratação da nova secretária de Don, Peggy Olson e do trabalho de quem a contratou, a secretária geral Joan Harris. O manjado artifício nos permite conhecer o funcionamento da Sterling Cooper através de um novo personagem, além de mostrar o lado das mulheres da empresa, o que permite problematizar o sexismo no trabalho. Não à toa, as duas personagens crescem de importância já no final da primeira temporada, com Peggy se tornando redatora e Joan resolvendo problemas cada vez maiores. O terceiro núcleo se fixa na residência de Don, através da sua esposa Betty, dona de casa que cuida dos seus dois filhos.
Na segunda temporada temos o evento histórico da crise de mísseis de Cuba. Apesar de ser somente nos episódios finais, o evento histórico dialoga com os principais acontecimentos: Duck Phillips, apresentado na temporada anterior, trouxe instabilidade a todos os personagens principais da agência, e não à toa ele se torna o responsável pela compra da Sterling Cooper pela Putnam, Powell & Lowe, uma agência inglesa.
Don tem um novo caso, agora com a esposa de um comediante que destrata seus clientes, algo que se torna um resumo da sua vida no momento, já que não consegue respeitar seu casamento depois do acordo que fizera com a própria esposa e ainda termina por engravidá-la. Aliado a isso, em uma viagem com Pete, Don acaba sumindo, e assim conhecemos Anna Drapper, esposa do verdadeiro Don, o que faz com que comece o colapso do seu casamento.
Peggy Olson, interpretada por Elisabeth Moss, liderando a sua equipe
Na terceira temporada vemos uma mudança na Sterling Cooper, agora controlada pelos ingleses sob o comando de Lane Pryce. A mudança de rotina com a fusão afeta menos a publicidade em si e mais a forma de trabalho do núcleo principal da agência. Como não possuem mais o controle, Don Drapper e a sua equipe agora têm que seguir ordens de Londres das quais discordam, sendo o caso mais emblemático do Jai Alai: aceitar o investimento de um cliente em algo que eles sabem que está fadado ao fracasso. Somado a outras complicações com clientes, o desgaste com Londres vai crescendo até que os publicitários tomam uma decisão: sair da empresa que venderam antes de uma nova aquisição e fundar a sua própria agência levando os clientes que conseguirem.
Enquanto isso, a relação de Don com a sua esposa se desgasta, apesar do nascimento do novo filho. A crise se agrava ainda mais com a morte do pai de Beth, o que a faz buscar em Harry Francis um amante e no fim da temporada terminar se divorciando de Don, decisão que encerra o primeiro grande ato da série.
Uma das cenas mais brilhantes da série: o carrossel
A quarta temporada traz uma mudança no protagonista e inicia o segundo ato de Mad Men. Agora solteiro, Don está vivendo solitário em seu apartamento experimentando a vida de Dick Whitman que ele tinha deixado para trás. Entre prostitutas e curtos relacionamentos que não dão certo, ele passa a beber ainda mais.
A sua instabilidade acaba sendo a síntese de todos os personagens da nova agência Sterling Cooper Draper Pryce. É nesta temporada que vemos todos os personagens enfrentando ou começando a ter problemas pessoais mais sérios, além da nova agência se tornar instável financeiramente por causa dos novos e incertos clientes. Para piorar a situação, a SCDP perde Lucky Strike, o seu principal cliente, e em uma tentativa desesperada de salvar o negócio, Don comete um erro grave, o que acaba sendo o início do seu declínio na empresa. Assim como o divórcio foi um trauma para o protagonista, a perda da Lucky Strike o foi para a agência. E ambos agora seguem se recuperando.
Na quinta temporada, Don está casado com sua ex-secretária Megan, e o equilíbrio volta um pouco para a sua vida ao se afastar dos casos extraconjugais e, por consequência, ao funcionamento da própria SCDP. Somente no último episódio, ele dá indícios de que voltará a ter uma possível amante. Lane Pryce comete suicídio no final por um erro que ele mesmo cometeu, e a empresa acaba expandindo.
O assassinato e a morte das enfermeiras em Chicago também marca esta quinta temporada em se tratando dos direito civis dos negros e das mulheres. A barbárie causada em 1966 permite a discussão sobre o racismo e o sexismo no mercado de trabalho. Assim, no final da temporada, Peggy recebe proposta da agência rival e decide ir, e Joan Harris se torna cada vez mais indispensável dentro da SCDP.
Na sexta temporada, a SCDP, que havia voltado a crescer, acaba se fundindo com a agência do antigo rival de Don, Ted Chaough, a Cutler Gleason Chaough. Por causa dessa união, a nova agência acaba tendo maiores problemas, como lidar com os dois diretores de criação no mesmo lugar. O assassinato de Martin Luther King serve como contexto histórico para discutir o racismo na sociedade americana e a luta pelos direitos civis dos negros através de Dawn Chambers, a secretária de Don. A principal figura negra dentro da agência acaba representando todo o preconceito sofrido.
Com o novo casamento consolidado, Don voltou a ter amantes, e sua arrogância está ainda maior, o que só reforçará a sua queda dentro da própria empresa, iniciada com a sua decadência na quarta temporada. A sexta temporada termina o segundo ato de Mad Men com o afastamento de Don da agência.
Assim como Breaking Bad, que termina o ato principal na penúltima temporada, a sétima e última temporada soa como um grande epílogo. Don Drapper, desvinculado da agência e mais solitário do que nunca, agora tem que se virar para voltar a ser uma pessoa relevante tanto no mundo publicitário quanto na vida pessoal e familiar. Ele começa passando seu tempo entre Nova York e Los Angeles, onde agora vive a sua esposa Megan, o que faz com que a sua vida fique ainda mais perdida. A luta para ser readmitido de volta a Sterling Cooper passa por entraves entre os sócios, e Don tem que voltar a provar o seu valor. Aqui vemos uma faceta já mostrada na série, mas através de Peggy: como um iniciante em publicidade virou o principal e mais desejado diretor de criação. É também aqui que vemos a chegada do homem à Lua, em 1969, e isso dialoga com a chegada de uma nova tecnologia na agência: a computação. A inovação representa um novo momento para todos, pois Peggy agora chegou onde jamais esteve ao se apresentar para um cliente grande, e, com a morte de Bert Cooper, tudo muda.
Joan Harris, vivida por Christina Hendricks
A segunda parte da última temporada inicia pela quinta vez com a mudança de nome da agência após ser vendida/passar por fusão/absorvida pela McCann-Ericksson. Don inicia um romance com uma garçonete misteriosa que desaparece, e isso dá o tom de toda a temporada final da série: a magia por trás de Mad Men chegou ao fim. Todos os personagens principais se desvinculam de alguma forma do trabalho que estavam acostumados. Matthew Weiner, o criador da série, dá indícios o tempo todo nesta temporada que ela está terminando: a morte de Cooper, o segundo divórcio de Don, a venda do seu apartamento, o câncer de Betty, a segunda demissão de Joan e de Ken Cosgrove, e o devaneio que leva Don a se aposentar do trabalho.
Don Drapper, interpretado por Jon Hamm
A jornada final do protagonista é a desconstrução de Don Drapper para voltar a ser Dick Whitman. Ao dirigir sem rumo pelo país e acabar em um hotel de beira de estrada onde o dono é um veterano da Segunda Guerra Mundial, voltamos ao soldado que admite que causou a morte do seu superior e ficou com seu nome. Neste mesmo lugar, vemos um vigarista que rouba dinheiro e consegue bebida alcoólica, duas coisas que Dick fez ao se passar por Don metade da vida inteira: ganhar dinheiro sendo aquilo que não é, ou, em suma, a essência da publicidade. Don é levado pela sobrinha de Anna Drapper, esposa do Don original, a um retiro espiritual para a sua final desconstrução do personagem. É emblemática a cena onde ele abraça um senhor que compartilha o sonho de ser aquilo que todo mundo é: uma pessoa irrelevante para a própria família. Finalmente ele deixa de ser Don Drapper de vez ao abandonar seus filhos e volta a ser Dick Whitman, um desconhecido para a sociedade.
A estrutura de Mad Men é toda baseada em The Sopranos, inclusive não é segredo nenhum que Matthew Weiner, enquanto roteirista da série, via como mentor David Chase, criador de Sopranos. Ambas tratam a rotina de um grupo de homens poderosos liderados por um chefe, o “Don”, protagonista. Os cabos e soldados da máfia são os chefes de atendimentos das agências, que respondem a ele para aprovar ou não as peças publicitárias ou ajudar com alguma coisa, e resolvem problemas dos seus clientes, sendo que nenhum deles respeita a própria esposa e tem amantes. Apesar de aparentar ser um homem forte, Don Drapper sofre do mesmo mal de Tony Soprano: a ansiedade de ter o tempo todo que representar um papel que ele não é. Enquanto Don Drapper na verdade é Dick Whitman, Tony Soprano não é o chefão da máfia, mas uma pessoa frágil.
O momento em que Dick Whitman vira Don Drapper
Por se tratar do cotidiano de uma agência de publicidade que lida basicamente com os mesmos clientes, fica mais difícil pontuar as diferenças entre uma temporada e outra. Para tal, são usados os grandes eventos dos anos 60, que acabam servindo para discutir parte dos problemas da Sterling Cooper. Acaba que o microcosmo da agência serve como uma versão resumida da própria América.
Se Breaking Bad prima pela direção e The Wire pelo roteiro realista, um dos grandes diferenciais de Mad Men é a discussão política, social e cultural da sociedade americana através da publicidade. Não à toa a série se passa nos anos 60: os produtos que sempre foram feitos para os públicos certos agora enfrentam mudanças intensas nunca antes sentidas na sociedade.
A desconstrução do mito norte-americano, que começa na falência do american way of life centrado na família de Don, passando pela força de um capitalismo baseado na exclusão ao deixar mulheres e negros em posição inferior, enfrenta a hostilidade da guerra do Vietnã e da crise de mísseis de Cuba. Além disso, é brigado a se adaptar à contracultura e ao movimento hippie, mas termina com uma esperança quando o homem chega à Lua e vence a corrida espacial. Como se adaptar a essas mudanças? Os EUA continuam sendo o modelo ético e moral para a sua própria população? E que população é essa? Será que o mundo também está mudando? Como nós vamos nos vender agora? E que novo mundo é esse?
A outra discussão da série é a filosofia e a moral da publicidade. Como transformar o inútil em um desejo? Como vender algo para alguém que não precisa daquilo? É ético tentar moldar o caráter de alguém? O todo poderoso chefe de criação Don Drapper na verdade é alguém que se passa por outra pessoa o tempo todo, alguém que negou a sua própria história e personalidade, e construiu outra para chegar ao poder de persuasão sob os demais como diretor de arte. E o que é a publicidade senão a vitória da persuasão sobre a personalidade?
Bert Cooper e Roger Sterling, dois dos melhores personagens da série
Por fim, algumas curiosidades da série. É comum nas salas de roteiristas o criador da série, ou showrunner, reescrever os episódios de algum dos roteiristas, porém mantendo o crédito original. Matthew Weiner mudou isso e ele se deu crédito em quase todos os episódios da série como co-autor. Para quem quiser se aprofundar: a lista de alguns livros que os personagens leram durante a série; o figurino que os atores usam de acordo com os seus personagens; um guia pela direção de arte da série; e a história do publicitário Draper Daniels, principal referência para a criação do protagonista.
Além da direção de atores, direção geral e direção de arte, a atuação da série é outro ponto forte de Mad Men. Jon Hamm dá vida a Don Draper; a ótima Elisabeth Moss é Peggy Olson; Vincent Kertheiser como Pete Cambell; Christina Hendricks é Joan Harris; a limitada January Jones vive Betty Drapper e depois Betty Francis; Rich Sommer é Harry Crane; Aaron Stanton vive Ken Cosgrove; a boa atriz Jessica Paré dá vida a Megan, ex-secretária e segunda esposa de Don; Jay R. Ferguson vive Stan Rizzo, o melhor amigo da Peggy; o limitado Michael Gladis é Paul Kinsey; Bryan Batt como Salvatore Romano; por último o sempre ótimo Jared Harris é Lane Price; e sem esquecer do bom ator John Slattery como Roger Sterling e Robert Morse como Bert Cooper.
Mad Men é o tipo de série que vale a pena simplesmente por tudo o que a história representa. Ela não somente foge do padrão das séries na TV fechada, mas também consegue contar uma boa história usando um ótimo fundo histórico.
No oitavo episódio da segunda temporada de Breaking Bad, um novo personagem coadjuvante se tornaria o aliado legal da dupla Walter White e Jesse Pinkman. A figura de Saul Goodman era um dos alívios cômicos do drama e se destacava pela interpretação de Bob Odenkirk como um advogado picareta com língua afiada à procura de uma carreira de sucesso. A lábia do conselheiro confortava até mesmo clientes com grandes problemas com a lei. Sob seu ponto de vista, não havia caso perdido, uma prova de sua capacidade em lidar com situações potencialmente ruins.
A aclamada série encerrou-se originalmente em 29 de setembro de 2013 com um desfecho amargo para a maioria das personagens. Enquanto isso, o criador da série, Vince Gilligan, recebia elogios pelo excelente trabalho de composição do seriado, tanto em roteiro quanto na estética apurada que trouxe maior originalidade ao drama, e logo planejava sua próxima narrativa. Uma história envolvendo um dos personagens de sua maior produção.
Criada em parceria com o diretor Peter Gould, Better Call Saul é o retorno de Gilligan à sua obra de maior sucesso, agora através de um spin-off focando o advogado sem escrúpulos. A obra surge na inevitável sombra deixada pela série anterior com a missão ingrata de estabelecer as mesmas estruturas narrativas – afinal, a equipe criativa é a mesma – mas também apresentar uma história diferente daquela vista anteriormente. A trama retorna seis anos no passado para conhecermos a ascensão do jurista, uma história que em algum momento do futuro se cruzará com a de Breaking Bad. Trata-se de um difícil desafio: primeiro em compor uma série que mantenha a qualidade sem parecer mera cópia; segundo, o público torna-se ansioso por participações especiais, inferências e outros recursos narrativos que explicitem a ligação que há entre cada produção. Evidentemente, comparações são inevitáveis mas também funcionam para observamos o quanto a linguagem das duas narrativas é semelhante, mantendo cinematograficamente uma espécie de fidelidade intrínseca.
Mesmo situada em 2002, espaço temporal anterior a Breaking Bad, a primeira cena é um vislumbre do futuro após os acontecimentos do desfecho do seriado. O preto e branco apresentam-se na observação explícita de um tempo diferente e invadem o cenário adquirindo um tom poético, como se expressassem o sentimento interno de Saul. Um homem criminoso que vive com medo de ser pego a qualquer momento, cujo ponto alto do dia é a nostalgia do passado, quando era um advogado de renome destacando-se em comerciais televisivos à procura de prováveis clientes. Além dessa primeira sequência, as aberturas dos episódios contêm objetos específicos que remetem ao auge do bacharel: gravatas, a lista amarela de telefones com seu anúncio em destaque, o carro luxuoso que dirigia; imagens que se aliam à música e aos efeitos extravagantes nas curtas aberturas.
A primeira temporada, lançada em dez episódios, pode ser dividida em dois atos distintos, sendo o sexto episódio o entreato entre arcos narrativos. A estrutura segue a mesma base de Breaking Bad: apresenta uma personagem principal, James McGill, e depois introduz outro importante personagem, Mike Ehrmantraut, reconhecido rapidamente pelo público como o velho turrão responsável pelo trabalho sujo da trama, formando o segundo núcleo narrativo. Como na dupla White/Pinkman, há um personagem principal cuja história transforma-o em carismático desde o princípio, e um segundo que surge de maneira tímida e, aos poucos, conquista o público. Duas representações diversificadas que equilibram a série em razão das personalidades diferentes de cada papel.
Seguindo a lógica de uma temporada dividida em dois atos, temos o primeiro movimento como abertura e apresentação da personagem, sua vida e dramas iniciais. James McGill é um homem da lei à beira da falência, vivendo dia após dia à procura de clientes que não vêm, trabalhando como defensor público do município em troca de pouco capital. A única família que possui é um irmão doente, sócio de uma famosa firma de advocacia e que permanece trancado em casa com aversão a qualquer onda eletromagnética.
Durante os cinco primeiros episódios, a história se desenvolve para apresentar ao público que o caráter de James McGill é diferente daquele visto em Saul Goodman. Observamos um advogado ainda dentro da lei e preocupado com uma visão levemente moral de fazer o bem. Afinal, não há caminho fácil nos roteiros de Gilligan e sua equipe. Trabalhando em tramas antagônicas, com as tradicionais cenas longas e espaçadas, filmadas com ângulos de visão que acompanham objetos em cena e espaços abertos, nem tudo acontece da maneira mais simples.
A densidade rege o sexto episódio, Five-O, apresentado como entreato desses arcos. Entreato porque modifica a estrutura em relação aos episódios anteriores, utilizando o flashback para trazer à tona o passado dramático de Mike. A alta densidade dramática é uma via de mão dupla, tanto para o ator Jonathan Banks como para o público que, finalmente, observa parte do interior obscuro, outrora lacunar, da personagem. Um dos episódios que sempre será recordado pela modificação estrutural em um momento-chave. Mike é um personagem sem empatia mas que causa impacto. O passado justifica seu distanciamento e coloca-o em um interessante paradoxo: para manter o que resta de seu núcleo familiar, o homem é capaz de fazer tudo que estiver nas mãos. Tanto Mike quanto Jimmy têm à família grande estima, porém o primeiro busca reuni-la enquanto o segundo rompe ainda mais os vínculos que possui.
Após o bom entreato, o segundo movimento foca a breve parceria entre Jimmy e Mike, ao mesmo tempo que dá prosseguimento à história de ambos, demonstrando que o enfoque será novamente uma dupla assimétrica de personagens que definem, de uma vez por todas, personalidade e objetivos. Jimmy se torna motivado a ser um bom jurista, confrontando o irmão, que ainda o vê como um pária; e Mike aceita a importância da família em sua vida com disposição de fazer tudo para que a neta tenha um bom futuro. Estabelecidos o cenário e o comportamento de cada um, o drama se encerra seguindo um recurso tradicional da obra de Gilligan: o anticlímax.
Substancialmente sabemos que não existirá bem ou mal em Better Call Saul, não o conceito delineado e simplista. McGill representa essencialmente o homem bom vindo de um passado obscuro no qual era conhecido como trambiqueiro. A longo prazo, sente que não terá retorno diante desse caráter positivo, evidenciando um mundo às avessas que não traz louros aos bem-afortunados. Uma discrepância que adensa o drama da personagem e retira o maniqueísmo de bom e mau, ou certo e errado.
Com um público oriundo da série anterior, é necessário um equilíbrio entre o que é tradicional para ambas e o que essa pode trazer de novo. O público sempre torna-se ansioso por participações especiais e inferências da história anterior. Evitá-las seria o melhor para a produção, a fim de que ela possa desenvolver sua própria identidade. Mesmo que Albuquerque seja uma cidade pequena, não são necessárias coincidências para chamar o público: a qualidade do produto anterior já o cativou suficientemente para começar a assistir ao novo drama, mas depende desse novo início a motivação para que o espectador permaneça à frente da TV. É essa consciência que os roteiristas devem ter para não entregar tudo o que o público deseja, e dessa forma não diluir a trama.
Mantendo a estrutura narrativa, o enfoque dramático e o estilo de filmagem, Better Call Saul entrega uma boa primeira temporada. Ainda que demonstre laços com a série anterior, prova-se eficiente em seu objetivo de apresentar um novo ângulo dos personagens conhecidos. Para evitar que a série também se torne uma das mais baixadas ilegalmente pela rede, o canal AMC desenvolveu uma boa parceria com a Netflix, e um dia após a exibição no canal, às segundas-feiras, o episódio é disponibilizado no sistema online, chegando também ao Brasil com apenas um dia de atraso. Uma boa saída para evitar o download desenfreado e mais um sinal de que os canais televisivos devem mudar a maneira de lidar com o público para se manterem ativos e próximos das necessidades atuais de seus consumidores.
A série canadense-americana de quatro temporadas, produzida pela Fox e distribuída pela AMC, é um remake da bem-sucedida série dinamarquesa Forbrydelsen, de 2007. A série se passa em Seattle e acompanha a investigação do assassinato da adolescente Rosie Larsen (Katie Findlay). Cada episódio é, aproximadamente, um dia na investigação conduzida por Sarah Linden (Mireille Enos) e seu novo parceiro Stephen Holder (Joel Kinnaman).
O roteiro se apoia em alguns clichês que, mesmo sendo clichês, ainda funcionam bem por estarem cuidadosamente estruturados:
• O investigador que está prestes a abandonar seu cargo, trocando-o por uma nova vida e que se vê “obrigado” a ficar e resolver um último caso. Na série, Linden vai se mudar para outra cidade com o filho e seu futuro marido, mas vê-se envolvida demais com a história da vítima e protela a viagem indefinidamente.
• Uma parceria não desejada – e não planejada – que desagrada o protagonista, ao menos no início. Na série, Holder chega à divisão de Homicídios, vindo da divisão de Narcóticos, para ocupar a vaga deixada por Linden. Como ela vai ficando, decidida a resolver o caso, acabam se tornando parceiros.
• Parceiros com personalidades diferentes – este é um clássico, quase obrigatório em filmes com duplas. Na série, enquanto Linden é a veterana mal-humorada, calada e durona, Holder é o recém-chegado falastrão, descolado e com ginga de malandro. Ele fuma feito uma chaminé; ela largou o vício e passa o tempo todo mascando chicletes com nicotina. Ela tem família, mas a negligencia em detrimento das investigações; ele está sozinho, tentando resgatar a confiança da irmã e o convívio com o sobrinho. E mais um rol de características que se opõem e, ao mesmo tempo, se completam.
Há alguns detalhes que fazem lembrar bastante Twin Peaks. Além da referência óbvia, já que a premissa de ambas é o assassinato de uma jovem, aparentemente sem motivos. Troca-se “Quem matou Laura Palmer?” por “Quem matou Rosie Larsen?”. Mas não é apenas isso. A investigação, encontrando pistas falsas que levam a falsas suspeitas, apesar de todos os envolvidos serem culpados de alguma coisa – não exatamente do crime sendo investigado. As revelações sobre as atividades extra-curriculares da adolescente, totalmente desconhecidas dos familiares. Some-se a isso o fato de que as suspeitas apontam para um cassino em território indígena, de que uma das pistas vem de um reflexo num vídeo, de que há uma rede de prostituição que permeia a trama. Mas diferente da obra de David Lynch, esta não tem um pé no fantástico, nem se vale do nonsense para envolver o público.
A primeira temporada cobre as duas primeiras semanas da investigação. E para desgosto dos espectadores, termina sem ter resolvido efetivamente o caso. Na verdade, há uma suspeita muito forte sobre um dos personagens dada por uma prova cuja autenticidade é questionada nos últimos minutos do episódio. A segunda temporada abarca mais duas semanas de investigação, em que, além de caçar pistas que apontem o verdadeiro assassino, Linden e Holder vêem-se enredados em tramas cada vez mais complexas que colocam em risco inclusive sua confiança mútua, além de questionar a integridade da força policial de Seattle.
A terceira temporada reaviva um caso do passado, resolvido por Linden e seu ex-parceiro – e ex-amante – James Skinner (Elias Koteas), quando um assassinato apresenta várias coincidências no modus operandi com esse outro. As investigações fazem Linden mergulhar no passado e mexer em “cicatrizes” mal fechadas. Com o roteiro um pouco mais enxuto que as duas primeiras temporadas, talvez com ritmo um pouco lento no início para alguns espectadores, tem um arco dramático cujo desfecho é de tirar o fôlego. O final é daqueles que dá vontade de “voltar a fita” e rever para se certificar de que foi aquilo mesmo que ocorreu. Há outros, mas esse é o “momento PQP” mais significante de toda a série.
A série que, para desagrado do público, havia sido cancelada após o término da terceira temporada, voltou para uma quarta temporada graças à Netflix, que solicitou que fosse dado ao público um desfecho decente numa temporada de encerramento. Lógico que não foi apenas boa vontade da empresa. A Netflix notou o desempenho que a série vinha tendo no chamado binge watching (mais conhecido como maratona de série), acreditou nesse potencial e bancou a quarta temporada. Nela, enquanto Linden e Holder lidam com as consequências dos atos do final da terceira temporada, investigam o assassinato de toda uma família em que o filho mais velho, principal suspeito, foi baleado na cabeça e perdeu a memória do acontecido.
É lógico que a resolução dos crimes é importante, mas vale notar que nem por isso as tramas secundárias são deixadas de lado. Mesmo que eventualmente alguns arcos menores possam ser classificados como fillers (no popular, “encheção de linguiça”), pouco agregando ao arco narrativo principal – principalmente na segunda temporada – , é inegável o cuidado no seu desenvolvimento. Mais incrível foi a forma como pequenos detalhes da primeira temporada foram resgatados de modo a se encaixarem nos eventos da terceira. A convergência dos arcos narrativos foi bastante consistente, não deixando pontas soltas nem perguntas sem respostas.
Mas de nada adianta uma boa história, se os personagens não cativam o público. E a construção dos personagens é mais um trunfo da série. Nenhum deles é raso, uni ou bidimensional. Todos são tridimensionais e complexos como qualquer pessoa. E como qualquer pessoa, o espectador vai conhecendo cada um deles aos poucos, reunindo informações que vão sendo dadas com parcimônia. E por se ter tão poucas informações, inicialmente nem é assim tão fácil se identificar com Linden ou Holder. Não há flashbacks lacrimosos, explicando essa ou aquela motivação do personagem, nem mesmo atos altruístas ou heroicos no intuito de cativar o público imediatamente. Não há qualquer didatismo, o roteiro confia que o espectador tem capacidade de pensar suficiente para juntar os pontos sozinho.
Emendando, não bastam bons personagens se os atores não tiverem boas performances. E Enos e Kinnaman formam uma das melhores duplas policiais dos últimos anos. Não dá para saber o quanto estava no roteiro e o quanto se deve aos dois, mas a interação entre eles vai além do contraste entre duas personalidades fortes e distintas. Certamente, o sorrisinho cínico que Linden dá para quase tudo foi uma adição muito bem-sucedida feita por Enos, assim como a fala malemolente de Holder. Mas além dos protagonistas, vale destacar o vilão da terceira temporada, Ray Seward (Peter Sarsgaard). Sarsgaard representa com perfeição a ambiguidade do personagem que, mesmo condenado à morte, ainda destila sua verve violenta sem poupar ninguém.
Num primeiro olhar, a série pode parecer depressiva, principalmente por ser ambientada num local em que sempre chove, o que contribui para o clima mais lúgubre. Mas, ao final, recompensa o espectador por privilegiar sua inteligência, entregando uma season finale que faz jus ao restante da série.
A retomada da quarta temporada volta como um autêntico recomeço, a maioria dos personagens está a procura do seu lugar graças a forçada realocação que aconteceu após a malfadada invasão da prisão impetrada pelo Governador. O episódio é mais uma vez dirigido pelo veterano Greg Nicotero (que certamente foi o responsável por prover os mortos de vermes mesmo nos buracos “recém feitos” em seus corpos) é muito competente em mostrar a devastação moral que foi causada nos sobreviventes, especialmente no que restou do clã Grimes. Rick (Andrew Lincoln) e Carl (Chandler Riggs) não conseguem se entender, num misto de pena, desconfiança motivada por falhas físicas, e claro, a não capacidade do pai em salvar os outros membros da família. Para piorar, o ex-policial se mostra deveras inseguro e paranoico, todas as suas atitudes são muito calcadas na inabilidade e na dificuldade em se adaptar ao novo status quo.
O grupo é dividido e tenta se manter vivo, cada um a sua maneira. Os signos visuais melhoraram consideravelmente, os poucos que ainda têm esperança são cercados por abutres, aves que se alimentam de carniça, à espera de que suas presas finalmente sucumbam. Terminus é o lugar para onde os sobreviventes vão, com uma promessa de que nesse oásis, as coisas voltariam ao normal, ou mais próximo disso. Praticamente todo o grupo de protagonistas se encaminha para lá, exceto pelas baixas mostradas da terceira temporada. O roteiro de Robert Kirkman melhorou nos aspectos relacionados a sobrevivência, nada é mais tão fácil, apesar de alguns momentos transbordarem pieguice e o sentimentalismo típico das searas anteriores. A época se diferencia das outras pela descaracterização do grupo e pela trama dividida em núcleos que conseguem gerar o mesmo nível de interesse em praticamente todos eles e sem um antagonista forte na maior parte da temporada.
Uma das sub-tramas mais interessantes é a que envolve Carol (Melissa McBride), Tyreese (Chad L. Coleman), Mika (Kyla Kenedy) e Lizzie (Brighton Sharbino), reprisando o drama semelhante ao da história em quadrinhos, mas sem um desfecho tão palatável e “justiceiro” quanto o original. É ainda mais forte do que o primeiro, ainda que as raízes do problema não sejam tão bem construídas quanto o caso primordial. É no mínimo curioso que a falha de interpretação da menina seja tão semelhante ao delírio da personagem Carol nos quadrinhos. O desfecho das pendências morais da senhora de meia-idade é um ponto muito interessante da trajetória, coerente e competente, além de enriquecer o personagem, mostrando o quão pesada ficou sua consciência.
A jornada de Glenn (Steven Yeun) atrás de sua amada é cortada pela de Abraham (Michael Cudlitz) e seus amigos, que querem chegar a Washington, levando um cientista que saberia a razão do apocalipse zumbi. O trio de aventureiros é bastante parecido com a sua contra-parte original, o que faz deles personagens bastante caricatos até. Para o sino-americano o objetivo que tanto busca é alcançado. As coincidências são enormes, as chances disto acontecer vão aumentando aos poucos, e dados os exageros anteriores, este passa a não ser tão gritante, ainda que tenha em si um bocado de incongruências.
A “nova Canaã” não é alcançada por todos os personagens até o penúltimo capítulo. Os que ainda não chegaram à estação final têm um encontro deveras sangrento, onde Rick deixa o seu lado selvagem finalmente aflorar de novo, ao ver sua cria em perigo. Quando a corda aperta, não há espaço para civilização ou pacifismo, somente para o instinto de sobrevivência e a vazão ao necessário instinto de predação. A guerra cobra o seu preço e a psiquê do ranger vai abaixo e ele experimenta momentos de nostalgia junto a Hershell (Scott Wilson) e de pura letargia. O sangue sobre sua pele mostra o quão feroz ele precisa ser para manter-se vivo e manter os seus vivos – máxima que se testifica ainda mais com os fatos ocorridos no final do episódio derradeiro. Mais uma vez a temporada termina sem um desfecho real e com um enorme gancho para o próximo ano, mas esta conseguiu ser bem melhor construída, especialmente quando comparada ao “brochante” e desestimulante do terceiro ano. A espera pela próxima jornada ao menos é garantida dado o suspense construído desde a retomada, o que já é uma grande coisa, caso a história seja o mínimo inspirada na fase homônima das HQs, certamente terá ótimos momentos, aumentando bastante as expectativas de que o quinto ano supere em qualidade o que até agora foi – apesar dos pesares – o período mais interessante da série.