O Proxeneta foi a primeira telenovela realizada pelo Hermes e Renato após sete anos de casa na antiga MTV, a qual mal deixava um horário fixo para a exibição dos quadros do grupo. O formato episódico e com tema recorrente atraiu a atenção de Zico Góes, o produtor da emissora, pois trataria questões espinhosas como assassinato, economia, concorrência industrial, “homossexualismo”, tráfico de drogas, caguetagem e vício.
“Porra, essa vida é foda” – senhor Franco Faraco (Bruno Sutter) diz ao olhar a paisagem urbana, contemplando sua rotina estafante e sofrida. Presidente da empresa de vasos sanitários Barro na Louça Corporation, sua vida é acometida por um “acidente” automobilístico que causa nele um profundo traumatismo craniano (na cabeça, como dito por uma repórter). A situação cheira à conspiração, uma vez que o empresário é muito importante e tem muitos inimigos. A questão do Doutor Faraco une os diversos núcleos da novela. Para Gildo (Gil Brother), é difícil entender como um homem que lhe ensinou tudo no mundo dos negócios pode ter sofrido algo tão grave. Em seu discurso é possível notar muitas lamentações, como “é uma grande perca, seu Faraco” (sic), mas isso não faz com que ele tire os olhos de seu foco maior: o negócio envolvendo o narcotráfico e a possibilidade de vazamento de informação dentro de sua organização, o que mostra que em ambos os ramos, louça e café, não há muitas diferenças. O modus operandi de Gildo é o de ser uma pessoa de alta periculosidade e instinto de perversidade, livrando-se de seus inimigos, pondo-os dentro daquele caixote.
Uma questão muito periquitante e intimamente ligada a Gildo é o drama de Samuca (Adriano Pereira), um jovem entregue ao vício do café que tem sua mãe como cúmplice, uma vez que ela tem os olhos vendados – literalmente – para essa situação. Sua família é formada por pessoas muito diferentes, mas de dramas muito reais.
Ralf Romero (Fausto Fanti), o playboy e imediato de Faraco fica mal, obviamente, com a possível perda do amigo, mas vai até a sua casa e dança ao som da trilha sonora de John Cafferty para Stallone Cobra. Antes disso, ele se declara a bela Silvinha, com frases inspiradas como “A distância nos separa, mas o pensamento nos une“, até que finalmente declara-se à garota dizendo que ela é muito gata. Ele age de modo incrivelmente descontraído e desinibido para quem está de luto. Sua movimentação é muito suspeita.
Um dos protagonistas é Bichinha de Souza, personagem de Marco Antonio Souza Alves, uma “mulher de piruzinho”, criada junto a dona Catarina, fazendo os serviços de beleza da primeira-dama da Barro na Louça. A gratidão da moça a Faraco é infinita, graças ao bolo e ao sorvete que este dava e aos cachorros-quentes que pagava, mostrando o quanto ela tem um reconhecimento justo a quem lhe honrou. Bichinha é quase casada com seu amado, o bruto Jorge (ou Zorge, feito por Felipe Torres), um sujeito simples mas que jamais descriminou sua orientação sexual. Mas a relação dos dois não é um mar de rosas, uma vez que Zorge é um homem turrão, bronco e violento, perdendo as estribeiras ao ser movido pelo ciúme dos olhares nada amigáveis provindos dos pagodeiros da esquina.
Um dos bons embates do folhetim é o de Catarina e do Detetive Max, ambos personagens de Marcos Pereira. Utilizando um chroma key dos mais ardis da televisão nacional, evidencia-se uma trama envolvente de suspense. No entanto, a relação mais espinhosa é caracterizada por Gildo e Samuca. Visando não entrar em vacilação, o traficante avisa aos seus asseclas o quão importante é vigiar o trabalho, além de apresentar a nova novidade ao usuário, o cajuzinho, uma droga ainda mais pesada que o café, de modo que, para usá-la, é bom pegar leve. O fumo desta substância, chamada de a nova onda do verão, causa em Samuel um enorme barato, jogando-o numa bad trip das mais psicodélicas.
Os atentados a Faraco prosseguem, assim como os dramas da família de Sindoca. Primeiro com o vício cada vez mais agravado de Samuca, depois com a séria complicação de saúde do pai da família, o Sindo Sênior, que é diagnosticado com cárie. Outros dramas pioram, com mais e mais surras de Zorge em Bichinha. Impressionante é que praticamente em todas as situações há uma enorme negligência por parte dos que sofrem as ações violentas, sejam as físicas ou as comportamentais. O vício – tanto em tóxicos mais pesados e ilegais quanto naqueles que são bem vistos pela sociedade, como a cachaça de Zorge – é mostrado como algo péssimo e real. Ainda assim, a esperança subsiste, pois Bichinha é sorteada para o programa do João Gordo, enquanto Gildo relembra sua juventulidade em que Faraco estava bem, sem usar fraldas e fora daquela cama de hospital. As cenas são de cunho emocional dos mais trágicos e emocionantes, de cortar o coração.
Finalmente Senhor Faraco sai do coma, mas é esmagado por um armário assim que ele começa a comemorar sua recuperação. Seu lado esquerdo do corpo fica paralisado. Ocorrem outras situações complicadas, como a expulsão de Samuca de casa após brigas com seu pai, motivadas obviamente pela questão dos entorpecentes. Gildo também cresce em seus negócios, exportando o cajuzinho para Cochabamba, na Bolívia, via Tcholopez, um narcotraficante internacional. A droga faz sucesso com o Seu Muchacho, e o traficante revela a fórmula do produto: retirado da folha do estrato da pasta da obra-prima do guloseima, ar-condicionado por cinco dias, depois retira-se, bota na forma, enrola, e está pronto para fumar. O alvo é enviar essa droga a América, em locais como Oklahoma, Detroit, Massachusetts etc. A ambição de Gildo alcança êxito com uma mala repleta de dólares.
Os momentos finais são muito emocionantes. Samuca é confundido na rua com um cão sarnento e é transformado em sabão. A barra que o clã Sindoca tem que aguentar é pesada. A Bichinha ganha na loteria e pode finalmente realizar seus sonhos tão caros, como banhos de loja, desfiles de patins em discotecas etc. Ralf sente-se mal porque o Barra na Louça sofre um deficit de 30%, o que prova que só estilo não faz um bom empresário. Ao dar uma resolução a todos os núcleos mais importantes da história, cada um ganha o seu respectivo final feliz, até com a triste ventura do vilão. A cena final com a queda do carro do playboy empresário é genialmente executada. O casamento de Bichinha e Zorge finalmente ocorre; a noiva recompra as ações da Barra na Louça e dá de presente ao seu mentor, que consegue voltar a andar. Gildo prospera, tudo aparenta estar belo, exceto pela ainda incógnita identidade do assassino Galocha, mas, como não poderia deixar de ser, isso pouco importa. Uma fala de Gildo, ao final, simboliza como o público deveria absorver o desfecho aberto do folhetim, transformando a fala para Bichinha numa mensagem ao público: “seje feliz, ô viadinho!”