Review | Websérie: Eu Mesmo – Primeiros Episódios

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Sabe essa nossa intenção generalizada de agradar a todos? Sabe, sim. O medo de mostrar nossa autenticidade ao meio que vivemos, ou seja, nunca a sociologia foi tão fácil de aprender. Numa sociedade em que cada um precisa, deve e tem que ter suas verdades na ponta da língua, sobre qualquer verdade alheia, webséries têm sido um meio pessoal em prol de uma grande visibilidade multimídia para, ao invés de mostrar quem somos como coletivo, reproduzir sátira e alternativamente como cada um é, enxerga, prova e sente o mundo. Primeiro o interior, antes daquele que nos faz ser como somos. Meio o que o Cinema, TV e o Teatro sempre ajudaram a aprimorar, apenas com forma e plataforma mais ambiciosa, por mera excelência artística.

Nos primeiros seis episódios distintos, dialéticos e diversos nos temas preservados através do seu único protagonista, Gregório, pode-se notar as razões para os próximos capítulos de Eu Mesmo já estarem em gestação na cidade do Rio de Janeiro. A proposta cativa não pela simplicidade envolta em análise psicológica, mas pela interatividade e metalinguagem através de diálogos e esquetes que conversam entre si, conjurando pequenos curtas-metragens que, no mural que conserva a qualidade de todos, acabam por se completar, na ânsia de ilustrar uma existência sem contornos definidos senão por ela mesma.

Ao longo de atitudes shakespearianas e claras influências dualistas de Woody Allen no contraste particular do ser o que é, em pleno envolvimento multifacetado de se viver numa metrópole urbana do século XXI – onde o conceito de Durkheim vem à tona acerca da necessidade das sociedades orgânicas de fazer o individual se sobrepor, na aquarela das calçadas, ao público -, o primeiro sexteto de episódios de larga identificação popular é a introdução ao universo de Gregório, com argumentos sobre o futuro e o passado a partir da perspectiva de uma geração ainda em construção do seu próprio mundo; espaço novo de questionamentos além-tempo.

De visão pessoal, evitando o egoísmo, a autocrítica, ou de ser exclusiva ao próprio umbigo, por vias onde facilmente culminaria no desinteresse inevitável, a impressão é que cada pequena história – não dependente da outra, ainda que parte do mesmo mosaico – é um relato extraído e atuado em divãs coloridos e não semelhantes, onde quem é agraciado com conclusões somos nós, diretamente, durante todas as projeções rápidas e ritmadas. Assim sendo, graças a uma montagem invisível, indutiva ao riso e ironia do conteúdo de Eu Mesmo, que tem formato de televisão, aspecto de cinema e atuações expressionistas, como montagens teatrais que valem dez reais e sempre lotam a plateia devido ao resgate do que é descomplicado, neste nosso “mundo de cada um”. Cada um avesso à total objetividade e pura clareza nas nossas inexatas relações de interesse, na maioria do tempo.

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