Com a irritante música Tem Que Valer – da sumida banda Kaleidoscópio – o seriado da Multishow Meu Passado Me Condena se inicia com o casal Fábio e Miá (feitos por Fábio Porchat e Miá Mello), indo em direção à pousada para a lua de mel de seu casamento relâmpago. Os dois mal se conheciam, só se relacionavam há um mês, o que de maneira alguma justifica a falta de informação de um sobre o outro, como o desconhecimento em questões básicas como gostos pessoais, formação em bacharel, datas de aniversário e preferências na cama, o que não condiz em nada com comédias românticas.
Os grilos de Fábio são mostrados logo no início, ao sentir-se completamente inseguro pela vida abastada que o ex-namorado de Miá tinha. A pousada que serve para fundamentar o amor dos dois foi um dia o lugar onde o ex-casal se aninhou. A trama acompanha o casal convivendo com os funcionários do lugar, especialmente Wilson (Marcelo Valle) e Suzana (Inez Viana), um casal divorciado que conduz o estabelecimento, e que, de certa forma, é a contraparte futura dos protagonistas enquanto relação em crise.
O nome da série remete ao completo branco em relação à falta de conhecimento mútuo do casal. Apesar de bonitos, tanto Miá quanto Fábio são pessoas comuns e não donos de beleza estética inalcançável, o que ajuda a fazer um maior mergulho na intimidade das personagens, com o entorno tendo maior ingerência do que o roteiro de Tati Bernardi com auxílio de Leandro Muniz. O drama é basicamente a exploração das inseguranças do personagem de Porchat.
O básico dos scripts é baseado no senso comum dos relacionamentos, normalmente tratando as mulheres como entes inseguras e ciumentas, enquanto os homens, toscos, fúteis, cujo interesse envolve basicamente luta, futebol e afins. A falta de densidade de ambos os personagens até funciona como comentário metalinguístico, para os trejeitos do humor mambembe e clichê.
O formato sem graça serve para basicamente relembrar partes do passado das personagens, fazendo referência ao nome do programa. No entanto, a empatia que seria necessária para que o modus operandi do casal fizesse sentido não ocorre, já que a condição de tratamento do casal é subalterna para as ridículas e repetitivas ocasiões que estão no pretérito de Fábio e Miá.
Após o filme, lançado em 2013, a série retornou para uma segunda temporada, levando o casal Miá e Fábio para uma casa próxima da Lapa, com a estranha coincidência da mudança de Wilson e Suzana para o lugar, abrindo um brechó nas redondezas da nova casa. A métrica continua a mesma, ainda que haja uma evolução leve por parte de Miá e Fábio, que passam a lidar melhor com as questões pretéritas.
O modo como o roteiro de Tati Bernardi trata a segunda temporada abarca tanto as versões de histórias da primeira temporada, como também não nega a versão do filme de Julia Rezende. Os treze últimos episódios servem para mergulhar na intimidade sexual do casal, ainda que não haja um aprofundamento de fato, tampouco são feitas piadas que não ligadas ao conservadorismo.
Meu Passado Me Condena consegue divertir a juventude que cresceu consumindo Zorra Total, Vai Que Cola e afins. É interessante para o público que não tem capacidade de interagir sequer com as comédias que pouco exigiam do espectador feitas pela MTV Brasil, com Marcelo Adnet e companhia, ainda que entre os dois atores principais aconteça uma química interessante, mais graças a Porchat, Mello e Rezende do que por conta dos produtores e do canal, ao menos, o seriado é um dos menos irritantes da antiga grade da Multishow.