Tag: Fábio Porchat

  • Review | Homens? – 1ª Temporada

    Review | Homens? – 1ª Temporada

    Criada por Fábio Porchat, exibida inicialmente no Comedy Central, e posteriormente, pela Amazon Prime Video, a série Homens? mostra Alexandre, um publicitário interpretado pelo fundador do Porta dos Fundos,  um sujeito cheio de dificuldades de relacionamento. O mote dessa primeira temporada mora na dificuldade do protagonista manter uma ereção, inclusive com um ator “interpretando” o seu órgão genital – Rafael Portugal. O programa de oito episódios, tem o objetivo claro de parecer adulto, mas seu humor oscila entre a “quinta série” e boas sacadas.

    Alexandre tem um grupo de amigos, cada um com um estereótipo diferente, o sempre desempregado Gustavo (Gabriel Godoy), o workaholic Pedrinho (Raphael Logam) e o cirurgião cadeirante Pedro (Gabriel Louchard). O quarteto é bastante homogêneo e possui uma boa interação entre eles. Outro aspecto positivo é a fluidez presente nas quebras da quarta parede.

    O elenco fixo, comandado pelo cineasta Johnny Araújo (Chocante) contém algumas personagens femininas, sendo a maioria baseada em estereótipos. A maior parte das vezes elas estão lá ou como enfeite, ou como elemento disruptivo, e dessas, a que mais tem tempo de tela é a prostituta / conselheira / psicanalista interpretada por Lorena Comparato. Esse conceito, além de batido e clichê – a sabedoria popular vive associando profissional do sexo a uma boa conselheira – iguala o trabalho de uma psicólogo com a ser um bom ouvinte.

    Ao menos, boa parte das piadas sexuais são legais, sem soar pudicas ou excessivamente ofensivas. A primeira temporada faz lembrar a premissa do longa E Aí… Comeu?, com um caráter bem menos machista. Suas partes mais inteligentes certamente moram na chacota que se faz com o que é comum no mundo publicitário e com o quão o ser humano é mal resolvido sentimentalmente.

    O final de Homens? se dá com um gancho para uma segunda temporada, e por mais que não tenha um texto primoroso, ele não trata o espectador como bobo. Há uma dificuldade de se manter regular, apesar de se notar claramente em seu elenco uma vontade de discutir muitos temas ao mesmo tempo, e infelizmente, isso faz com que o roteiro se perca.

  • Review | Que História é Essa, Porchat? – 1ª Temporada

    Review | Que História é Essa, Porchat? – 1ª Temporada

    Depois de apresentar um talk show na Rede Record – onde ele mesmo dizia ter dificuldade em encontrar bons momentos ou falas dos entrevistados, visto que havia um número limitado de pessoas disponíveis – Fábio Porchat finalmente traz a luz seu novo programa, no canal de televisão a cabo GNT, como parte do grupo Globo. Em Que História é Essa, Porchat? o que sobressai é um formato simples, onde ele tem três convidados famosos, normalmente de áreas culturais e de trabalho diferentes e que abarcam a arte, variando entre historias engraçadas deles, de conhecidos do próprio ancora e de pessoas anônimas, resumindo  em si a pecha clichê típica dos videos compilados do programa de Jô Soares, onde o convidado fazia o mesmo “morrer de rir”, apelando para que todas as historias tenham esse caráter.

    A primeira temporada tem um total de 20 episódios, e é constituído entre uma mesa redonda de discussão e entrevistas com a platéia, variando entre o círculo central, as laterais onde a família do apresentador e pessoas não famosas ficam, e o balcão de bar onde ocorre o tom mais confessional dos episódios. No começo de cada capítulo há uma clara dificuldade em quebrar o gelo, o trio de famosos ou semi famosos tenta se entrosar e na maioria das vezes tudo parece muito arquitetado para emular uma intimidade falsa, mas essa sensação muito típica dos programas da GNT – vide o as vezes forçado Papo de Segunda que também conta com Fábio – e é até driblada dependendo da espontaneidade dos que compõem a mesa.

    A introdução do programa é por si só curiosa, mostrando ele sob várias facetas, como personagem grego, como descobridor do Brasil Pedro Álvares Cabral ou como odalisca. Ela serve para ambientar a quantidade de mundos, lugares e tempos que serão visitados pelas falas dos que colaboram com Porchat. Os destaques entre os convidados são os que fogem da pecha de astro global, pois figuras  como Tony Ramos, Edson Celulari ou Regina Casé até tem boas historias, mas há muita preocupação em não se queimar ou não queimar algum colega, exceto Miguel Falabella, que consegue ser uma boa interseção entre o astro e o sujeito que não tem receio de contar suas vergonhas.

    As historias por sua vez de Silvero Pereira (de Bacurau), Paulo Vieira (que co-apresentou o Programa do Porchat e está atualmente no bom Fora de Hora), Kiko Mascarenhas (atualmente em Éramos Seis) são não só hilários como também muito palpáveis, e a escolha do canal GNT em disponibilizar as historias no Youtube ajuda a difundir o conteúdo legal do programa, além de ser uma saída inteligente, pois hoje o apresentador é mais associado ao que produz para a internet como o Porta dos Fundos do que pelo que faz para a TV.

    Há uma promessa de que esse misto de Talk Show e programa de variedades volte no ano de 2020, e certamente ainda haverão muitas figuras que orbitam a intimidade dos famosos globais ou não a serem expostas, mas certamente isso será melhor explorado caso não hajam grandes pudores por parte de quem participa deste Que História é Essa, Porchat?, pois da parte do âncora não há qualquer dificuldade de se adaptar ao ambiente de mesa de bar onde os amigos conversam sobre amenidades, dissabores e furadas.

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  • Review | Especial Porta dos Fundos de Natal: A Primeira Tentação de Cristo

    Review | Especial Porta dos Fundos de Natal: A Primeira Tentação de Cristo

    O coletivo Porta dos Fundos publica  vídeos semanais no Youtube e de vez em quando, se aventura a publicar algo além de esquetes. Há séries bem legais , na própria plataforma, participações em dublagens – como em Festa da Salsicha – um filme bem mal falado (Contrato Vitalício) e também um especial de natal produzido com a Netflix em 2018, Se Beber Não Ceie. Para 2019, a parceria foi renovada, e causou muita polêmica, basicamente por ter infligido o politicamente correto com uma figura encarada como divina.

    No especial dirigido por Rodrigo Van Der Put, Maria e José (Evelyn Castro e Rafael Portugal) organizam uma festa para comemorar a maioridade do filho de Deus, que chegava aos trinta anos (na tradição judaico cristã, essa é a idade que um homem sai de casa), e para isso, eles convidam a família para comemorar. De diferente da Bíblia, até esse momento, há o fato de Maria aparentemente permanecer virgem até esse momento (ela teve outros filhos, entre eles até alguns dos 12 apóstolos), e também o fato de José  ser um pobre coitado, ruim até no serviço de carpintaria, fato esse que contraria Se Beber Não Ceie, onde Jesus afirmava que ele era tão bom que cobrava bem caro.

    Outra mudança cabal é a relação com Deus, que é feito por Antonio Tabet que além de usar uma peruca grisalha, ainda usa um coque samurai, em um belo kit de galã feio. A chacota até esse momento não é tão grandiosa, mas obviamente há quem reclame por se mostrar o Deus Pai como alguém vaidoso, o que aliás, não faz muito sentido, pois um dos fatores que faz Jeová, Zeus, Odin e outras entidades serem o que são é exatamente a necessidade de adularem ela.

    Jesus é vivido por Gregorio Duvivier, e ele leva Orlando para casa, sem saber da surpresa. Seu parceiro é interpretado por Fábio Porchat (que também assina o roteiro junto a Gustavo Martins), e é nessa relação que mora a maioria das reclamações, basicamente porque se levanta a possibilidade de ou o futuro Cristo ser homossexual, que reprime sua sexualidade por conta do que podem pensar, como pode ser também um bissexual, curioso com sua condição recém descoberta, após 40 dias no deserto. A gritaria revela obviamente o preconceito com a orientação LGBT em geral, como se esse comportamento fosse naturalmente libertino ou digno de vergonha, o que é obviamente um comportamento inaceitável e mesquinho da parte de quem reclama.

    A questão é que esta versão talvez seja a menos inspirada das muitas versões do Porta dos Fundos para o natal. As atuações estão muito no automático, Duvivier faz o típico garoto confuso, Portugal está apagado, Porchat abusa de caras e bocas e não apresenta nada novo, assim como Tabet. Não há muito investimento em cenário, o que nem seria um problema, pois o de 2018 também é assim, mas aqui não há muito trabalho em texto. As piadas são forçadas mas não por viés blasfemo, e sim por faltar originalidade, e por repetir momentos pouco inspirados do próprio grupo.

    É claro que há momentos engraçados em A Primeira Tentação de Cristo, mas a maioria absoluta de seus aproximadamente quarenta minutos é só de uma obra que tenta soar audaciosa, mas que esbarra em só arranhar a superfície, fazendo até algumas críticas sociais, mas ainda assim apresentando a maioria da forma mais óbvia e banal possível.

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  • Crítica | Frozen 2

    Crítica | Frozen 2

    Frozen – Uma Aventura  Congelante foi um um sucesso tão estrondoso que a Disney resolveu em animações seguir na esteira do que já vinha fazendo com a Pixar, lançando uma continuação para o cinema, ao invés de mandar para o mercado de home vídeo. Frozen 2 estrearia mais de meia década depois, e seu começo mostra um flashback, onde o rei e a rainha pais de Elsa e Anna contando as duas irmãs uma historia sobre uma floresta encantada pelo pai, ainda pequeno, e esse conto mostra não só um momento de nostalgia, mas também de lamento, em um conflito estranho entre os povos.

    A variação de tempo é grande, no presente, 34 anos após este prólogo, Elsa ouve um som estranho, que varia entre o chamado sagrado que reside até em crenças religiosas reais, e um canto sedutor semelhante ao das sereias em alto mar. A direção deste “uivo” vem da floresta mostrada anteriormente, e após uma ação da natureza, o grupo de aventureiros vai naquela direção, mostrando que a monotonia não seria o norte dos personagens.

    Os diretores Chris Buck e Jennifer Lee retornam para este capitulo, que inverte toda a lógica temporal, se situando na estação do Outono e não no Inverno como normalmente se esperaria. Este novo cenário ressalta um aspecto que já vinha sendo um sucesso no primeiro filme, que é a participação do boneco de neve Olaf. O personagem que só permanece vivo graças a magia da protagonista real  é ainda mais engraçado e brilhante, um alívio cômico que monopoliza a inteligência e as discussões mais filosóficas, sendo ele o catalisador das temáticas mais adultas.

    A trajetória de Elsa é bem voltada para lógica da Jornada do Herói que Joseph Campbell pregava em seu livro O Herói de Mil Faces, e a etapa mais destacável emocionalmente falando é a da recusa ao chamado, e a tragédia que poderia volta a acometer as  duas irmãs. Mesmo tendo evoluído, Elsa continua muito humana, muito receosa em cometer falhas e em deixar os seus em perigo e o retorno a essa temática não soa como um retrocesso narrativo, e sim como uma madura abordagem a recaídas tão comuns ao cotidiano de pessoas reais, que se vêem vacilantes e com medo de cometer sempre os mesmos erros primários.

    Os números musicais são bons, fazem lembrar os clipes de bandas de sucesso dos anos 90, como as  Boy Bands como Backstreet Boys e N’Sync, ou o rock de letras mais melosas como os de Jon Bon Jovi. A animação é bastante bonita, os personagens novos e antigos tem os traços muito bem delineados, os cenários grandiosos e naturais reiteram o caráter épico da  aventura e tornam a historia de conciliação e de resgate as origens em algo grandioso e agregador.

    Fronze 2 tem coragem para lidar com perdas irreparáveis, tem um humor rasgado e um sentimentalismo direto e hilariante. A versão que Fábio Porchat faz de Olaf rouba a cena a quase todo momento, mas esse passa longe de ser apenas mais um filme onde o personagem mais engraçado é o único fator diferencial, uma vez que essa é uma historia muito preocupada em incluir e em fazer seu publico alvo infantil refletir sobre as diferenças e sobre a não necessidade de seguir um destino pré programado.

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  • Crítica | Chorar de Rir

    Crítica | Chorar de Rir

    Há pouco tempo atrás, quando um filme estreava protagonizado por Leandro Hassum, isso era sinônimo de sucesso . O tempo passou e as globochanchadas não se mostraram tão rentosas, ainda que O Candidato Honesto 2 tenha ido bem de bilheteria. O novo filme de Toniko Melo tenta fugir dessa pecha, produzido pela Warner, Chorar de Rir é focado em Nilo Perequê, personagem humorista que passou pelo stand up comedy, por programas de gincana e que atualmente, apresenta um show de tv que tem o nome do longa.

    O sujeito vive confortavelmente e está prestes a ganhar um prêmio bem importante, e sua rotina é repleta de piadas batidas e trocadilhos fracos. Nilo se vê como um homem injustiçado e mal quisto pela crítica e pela classe artística, que o vê como um mero contador de piadas, e esse desapreço é compartilhado também por sua ex, a atriz Barbara  ( Monique Alfradique), que protagoniza a novela das 6, e que tem receio de ser encarada como namoradinha do Brasil para isso. O roteiro de José Roberto Torero busca desconstruir estereótipos, mas é muitíssimo caucado neles, baseando suas piadas em onomatopeias, efeitos sonoros típicos de vinhetas de rádio e anedotas preconceituosas.

    Nilo quer se reinventar, e busca Tulio Ferro (Felipe Rocha), um diretor que o despreza por completo para juntos fazer uma peça shakespeariana, fato que reabre feridas antigas até de seu relacionamento com Barbara. O texto até se esforça neste ponto, para ser um exercício de reflexão sobre a comedia, drama e sobre a frivolidade de categorizar um gênero como superior ao outro, mas isso é mostrado com piadas tão pueris e infantis que mata qualquer reflexão, com arquétipos exageradíssimos, repleto de clichês, parecendo mal feito até nas cenas musicais.

    A tentativa de soar lírico e de referenciar obras dantescas beira o patético, o excesso de humor pueril faz perder toda a tentativa de fazer drama, e mesmo dentro das piadas poucas realmente tem graça. Mesmo nas obras de Roberto Santucci haviam piadas físicas bem encaixadas, mas aqui elas rareiam.

    Os aspectos técnicos também pouco acrescentam. Fotografia, montagem e trilha sonora são genéricas e não auxiliam o combalido texto, nem em fazer comedia e nem em fazer refletir, praticamente o único momento engraçado são as cenas que ocorrem nos créditos, onde Fabio Porchat, Caito Mainier e Rafael Portugal podem fazer seu numero sem as amarras de um script tão tacanho.

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  • Crítica | Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola

    Crítica | Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola

    Fabrício Bittar e Danilo Gentili já haviam trabalhado juntos em Politicamente Incorreto, uma série televisiva que buscava expressar as polêmicas opiniões políticas do apresentador de talk show em um programa semanal humorístico. Já Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola não tem pretensões de retratar qualquer viés ideológico, sendo apenas uma adaptação do livro homônimo do apresentador de The Noite.

    A história mostra os estudantes Pedro (Daniel Pimentel) e Bernardo (Bruno Munhoz), sendo que o primeiro está com notas baixas, devido a um período turbulento, fruto da morte de seu pai. Logo, ele descobre que há um caderno repleto de peças e traquinagens, escrito pelo antigo pior aluno do Colégio Albert Einstein, chamado apenas de Palmito (Gentili). Logo, os dois passam a frequentar a casa do sujeito, um bon vivant e trapaceiro, que aparenta viver sem quaisquer preocupações sociais ou gerais.

    Não há muita pretensão dentro do longa metragem, o alvo dele é ser basicamente uma das comédias que permeavam as tardes do SBT nas sessões do Cinema em Casa, e fora a ausência de carisma dos personagens principais, o clima é estabelecido dentro dessa proposta. A questão é que  os coadjuvantes são sub-aproveitados, desde Carlos Villagrán (o Kiko do seriado Chaves) que faz o diretor da escola, até Joana Fomm e o cantor Rogerio Skylab, a exceção positiva é Moacyr Franco, que faz um zelador rabugento que parece concentrar em si toda a alma do filme, além de ter em sua rotina os melhores momentos do roteiro.

    O texto de Gentili, Bittar e André Garatinacho possui algumas piadas clichês, que tentam tornar o filme em um Porkys para o público infanto-juvenil. A maior parte dos momentos humorísticos parece confundir bullying a simples brincadeiras. Ainda que o filme não tenha obrigação alguma de traçar um panorama social do país, há no entanto uma necessidade de parecer retrógrado até nas pequenas coisas. O papel de Fábio Porchat, por exemplo, um sujeito traumatizado graças as peripécias de Palmito no passado, o “transformam” em um pedófilo. O argumento é perigoso, primeiro pelo simplismo de colocar abusadores como alguém que sofreu um trauma social como um padrão, bem como o tema também soa simplista se explorarmos o viés psicológico, afinal, diversos estudos psicanalíticos aponta que essa parafilia não escolhe como vítima nenhum gênero em si, mas procura aqueles mais vulneráveis. 

    Apesar disso, o filme conta com um bom ritmo, contudo há poucos momentos realmente divertidos. A narração em off tenta emular um estilo parecido com o de John Hughes, mas claramente a tentativa não casa com todo o clima descolado e malemolente que Como se Tornar o Pior Aluno da Escola entrega. Sequer a participação de Villagrán possui qualquer brilho ou momento inspirado, o que se vê são repetições de bordões bobos, além de uma tentativa tola do roteiro de antecipar possíveis críticas ao filme. A quebra da quarta parede também é executada porcamente e quase não há o que valorizar no resultado final, restando apenas a tentativa de transformar um produto careta em algo politicamente correto, mas que no final das contas se mostra banal em última análise.

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  • Crítica | Porta dos Fundos: Contrato Vitalício

    Crítica | Porta dos Fundos: Contrato Vitalício

    Nem mesmo o estrondoso sucesso do canal do Youtube do grupo de humor Porta dos Fundos e seus milhões de inscritos parecem ter salvo o longa-metragem Contrato Vitalício, de Ian SBF. Difícil acreditar que a turma de Fábio Porchat e Gregório Duvivier tenham errado tanto, principalmente ao se deparar com trabalhos regulares e satisfatórios, longe do formato de esquetes curtas, como foi o caso das web-séries em formato de telefilme como ocorreu com Viral, Refém, e mais recentemente, na série produzida para a Fox Brasil, O Grande Gonzalez.

    Sendo assim, o problema do longa não reside no fato do grupo ter tido dificuldade em transitar em uma mídia diferente da habitual ou mesmo de não estarem acostumados em trabalhar com textos de longa duração. O problema está na ausência do humor ácido e crítico, tornando-se uma história inofensiva e nada original, apenas mais uma comédia rasteira como tantas outras e, portanto, distante daquele estilo pelo qual o Porta dos Fundos se tornou conhecido.

    Na trama, o ator Rodrigo (Porchat) e o diretor Miguel (Duvivier) são premiados em Cannes e durante a comemoração, assinam um contrato vitalício para trabalharem juntos em todos os filmes dali pra frente. Ocorre que, após a noite de bebedeira, Miguel desaparece no banheiro do hotel e somente dez anos depois, após o retorno de Rodrigo à Cannes como jurado, Miguel reaparece no mesmo hotel, e decide fazer um filme para contar o que aconteceu com ele durante os anos ausentes, e utiliza o contrato celebrado com seu amigo para contratá-lo. Até aqui, nada demais. O problema se encontra justamente nessa lacuna de dez anos que cobre o desaparecimento de Miguel, já que, segundo ele, logo após a noite da premiação em Cannes, ele foi sugado por alienígenas para o centro da Terra

    Se o Porta dos Fundos é conhecido por muitas vezes explorar a comédia do absurdo, numa versão brasileira e sem o mesmo talento de um Monty Python, em Contrato Vitalício eles se aproximam muito mais de um besteirol como Se Beber, Não Case. As oportunidades desperdiçadas com textos infantis são inúmeras, e isso fica evidente na primeira cena do filme, quando Rodrigo e Miguel discursam após ganharem a Palma de Ouro, despejando piadas preconceituosas e sem graça, um claro momento que poderia ser melhor utilizado em um humor ácido direcionado ao mundo do entretenimento e a crítica em geral, em um texto raso que beira os piores momentos do Casseta & Planeta.

    O mesmo pode ser dito sobre toda a metalinguagem existente na trama de Miguel em sua tentativa de transpor a história de seu desaparecimento para os cinemas. Um dos momentos mais enfadonhos do longa-metragem, no qual abusam do humor físico e de um claro problema de montagem que se perde no meio de tantas bobagens.

    Ainda assim, há de se destacar o trabalho de atuação de Antonio Tabet interpretando um detetive/matador de aluguel, como também de Júlia Rabello como uma preparadora de elenco. A trama tem seus pequenos momentos, com críticas a indústria e aos produtores de conteúdo na internet, no entanto, soa pequeno demais dentro da quantidade de erros existentes no produto final.

    Porta dos Fundos: Contrato Vitalício surge como um mar de possibilidades desperdiçadas em atuações histriônicas e um texto que caminha minuto a minuto para o humor escrachado, torpe no pior sentido, restando apenas pequenos lampejos do grupo de humor que estamos habituados a ver.

  • Crítica | Tamo Junto

    Crítica | Tamo Junto

    tamo-junto

    Após um início promissor e despretensioso no melancólico Apenas o Fim e um filme no mesmo estilo, Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo da Minha Vida, Matheus Souza se recolheu e fez pouco cinema, trabalhou em uma série na Multishow (Vendemos Cadeiras) e fez peças de teatro, além de atuar no longa-metragem de seu novo padrinho no cinema, Domingos de Oliveira. Tamo Junto tem algo em comum com BR 716, aliás, dois fatores, que é a atuação do próprio Matheus e de Sophie Charlotte como ícone máximo de beleza inalcançável.

    A história acompanha Felipe (Diogo Soares) um jovem cuja vida é desinteressante e que decide subitamente terminar com a própria namorada possessiva, vivida por Fernanda Souza. A reação agressiva que a moça tem o faz ir para o hospital, onde reencontra Paulo (interpretado pelo realizador), um amigo com o qual perdeu o contato graças a pressa da vida. Ambos tem em comum o fato de não ter mudado nada desde os tempos de escola, sem maturidade ou perspectivas de futuro.

    A apresentação dos personagens é curiosa, uma vez que quase todos esses são homens passivos, fracos, desinteressantes e com extrema dificuldade de dicção. Mesmo as participações de Fábio Porchat, Antônio Tabet e Rafael Queiroga acontecem nessa toada. Entretanto, nas atuações, o fator mais irritante é ligado claro ao diretor que se insere como ator, fazendo uma versão menos talentosa de Woody Allen, evocando um tipo de nerd anacrônico e anti-social, que em caricatura, funcionaria muito bem nos anos oitenta, não e 2016.

    O scritpt de Matheus, Bruno Bloch e Pedro Cadore possui sérios problemas de concepção, raramente os eventos fazem sentido, e quando fazem, são fundamentadas em clichês muito fracos, apelando para assuntos de retomada de amizades antigas, de descoberta de nerds tardios e fracassos amorosos. A ideia de tentar descontruir metalinguisticamente um gênero é maravilhosa, mas não há qualquer possibilidade de comparar este com uma versão de Pânico de Wes Craven voltado para comedias românticas.

    A tentativa de Tamo Junto em perverter a questão do par ideal e de desdenhar do hipster acaba atingindo até mesmo Apenas o Fim, filme de estreia do cineasta, além de servir como uma crítica a si mesmo, já que o longa também tem um caráter de indie movie. O todo é cansativo, a personagem de Charlotte é praticamente a mesma de BR 716, com o acréscimo de algumas indiscrições e inseguranças. As referências a Dama na Água de M. Night Shyamalan ocorrem só nos piores momentos e a intenção de misturar Picardias Estudantis com Ruby Sparks soa pobre, retificando a ideia de que o longa não possui uma identidade clara, estabelecendo a qualidade deste em algo abaixo até da linha de mediocridade das comédias nacionais, sendo pouco menos irritante que o comum as chanchadas atuais.

  • Crítica | Angry Birds: O Filme

    Angry Birds o FIlme

    Adaptações de vídeo games comumente apresentam filmes vazios de conteúdo e qualidade narrativa risíveis. Coube a Clay Kaytis e Fergal Reilly adaptar o jogo para a plataforma mobile Angry Birds, usando como base o roteiro de John Vitti, que reúne a experiência como roteirista no The Office americano, Os Simpsons e Alvin e os Esquilos. A história é focada em Red, um dos pássaros primários nas missões do game. Na versão original é dublado pelo ator Jason Sudeikis, que já havia trabalhado com Vitti antes, em Saturday Night Live.

    Angry Birds: O Filme é a estreia na direção de Kaytis e Reilly, que já haviam cooperado com o departamento de arte de Detona Ralph, Frozen: Uma Aventura Congelante e Hotel Transilvânia. A história do filme é bem simples, mostrando uma sociedade de aves, que não têm capacidade de voar e que vivem seus dias em torno da busca cega pela felicidade, ignorando seus sentimentos de raiva, tristeza e amargura, exceção feita ao entregador solitário e órfão Red, que somente dá vazão a essas sensações graças ao fato de ser órfão e não ter tido contato com seus pais jamais, não sabendo seu paradeiro ou se ainda estão vivos.

    O tema musical de Heitor Pereira é repaginado logo nos primeiros instantes, mas é praticamente ignorado no resto da duração do filme, que basicamente se dedica a discutir conceitos de alegria obrigatória, em muito semelhante ao estudo de Luiz Felipe Pondé em Tirania da Felicidade, ainda que neste argumento tais ideias sejam muito mais sugeridas do que aprofundadas. Neste ínterim, Red é levado a uma terapia para controlar seus impulsos, então conhece os outros pássaros que formam os atacantes do game.

    A persona de Red é basicamente a única que se permite ser complexa, já que ele é crédulo o suficiente para acreditar no personagem da Mega Águia – uma ave lendária, que ainda voava, e que viveria no topo da montanha da ilha – e ainda assim é cético com as boas intenções dos porcos viajantes que abarcam a praia, autênticos piratas que ludibriam o povo bobo e roubam seus ovos a fim de comê-los, não sem antes entreter com pão e circo os animais alados.

    Ao mesmo tempo em que a trilha sonora funciona muito bem, com hits como Paranoid do Black Sabbath e I Will Survive, atua também como desconstrução do tema infantiloide, a dublagem brasileira faz perder o foco das piadas, apelando demais para gírias e expressões de linguagem atuais que basicamente fazem o texto ficar datado, com possibilidade de expirar qualidade em poucos meses. O grupo de dubladores é liderado por Marcelo Adnet, que, como em Os Penetras, serve de escada para outro humorista, no caso, aqui, Fábio Porchat.

    Angry Birds – O Filme apresenta uma velha história de superação, vista em dezenas de outros produtos tradicionais de animação infantil. Não tenciona reinventar coisa alguma e consegue distrair facilmente o público alvo. Evidentemente, não traz um texto muito filosófico para os adultos, como nos filmes da Pixar, o que dá ainda mais significado ao feito do longa, que consegue superar demais o estigma de ser um filme sobre games.

  • Crítica | Meu Passado Me Condena: O Filme

    Crítica | Meu Passado Me Condena: O Filme

    Meu Passado Me Condena 1

    Começando pelo processo civil de casamento, entre as personagens Fábio e Miá, executados por Fábio Porchat e Miá Mello, Meu Passado Me Condena: O Filme emula as mesmíssimas características de outros filmes de derivados da programação da Multishow, como Cilada de Bruno Mazzeo, ao usar os nomes dos interpretes nas personagens e claro, se valendo também da mesma miscelânea de piadas  forçadas e reprisadas, provenientes da versão televisiva.

    A direção de Julia Rezende se vê diferenciada da abordagem televisiva, no tocante a fotografia e direção de arte, levemente superiores a maioria dos filmes da Globo Filmes. Ao contrário do descompromissado seriado, o background do casal é mostrado em intimidade, com revelações até sobre as profissões de ambos. O roteiro de Porchat, Tati Bernardi e Leonardo Muniz é levemente mais inspirado do que os produtos anteriores, se passando antes do visto na programação do canal, ainda que haja claras contradições entre um e outro, inclusive com reciclagem dos personagens de Suzana (Inez Viana) e Wilson (Marcelo Valle), que deixam de lado a funcionalidade na pensão da serra para exercer seus papéis no cruzeiro, que obviamente inclui uma amizade cheia de alto e baixos entre os quatro caracteres.

    O script recorre a piadas sobre trocas repetitivas de roupas, da parte da esposa e claro, a exploração do passado da mulher, repleto de surpresas por conta do total desconhecimento do casal recém enlaçado, com a presença do pomposo ex-namorado de Miá, Beto Assunção(Alejandro Claveaux), que concentra na sua atual mulher, Laura (Juliana Didone) um oásis de desejo e luxúria, que relembra o passado de Fábio também.

    Mesmo com os esforços de Rezende, toda a trama e abordagem faz lembrar os filmes de Roberto Santucci e demais outros diretores genéricos do estúdio. O romance bobo ao menos tem em sua base uma química que já se provou mais do que eficaz, e que sobrevive mesmo com as tiradas repetitivas e com os clichês de comédias de erros, exibindo uma interação que não abraça somente a docilidade típica dos romances engraçadinhos estadunidenses.

    Meu Passado Me Condena: O Filme é uma viagem a intimidade de um casal comum, sem nada de absolutamente novo, mas que consegue não reunir todos os terríveis defeitos dos últimos filmes humorísticos malfadados de Fábio Porchat, ainda que o final reúna mais uma quantidade grande de sequências bregas e soluções fáceis, artifícios típicos de filmes feitos a toque de caixa, para suprir a demanda de um público fútil e idiotizado.

  • Review | Meu Passado Me Condena

    Review | Meu Passado Me Condena

    meupassado3Com a irritante música Tem Que Valer – da sumida banda Kaleidoscópio – o seriado da Multishow Meu Passado Me Condena se inicia com o casal Fábio e Miá (feitos por Fábio Porchat e Miá Mello), indo em direção à pousada para a lua de mel de seu casamento relâmpago. Os dois mal se conheciam, só se relacionavam há um mês, o que de maneira alguma justifica a falta de informação de um sobre o outro, como o desconhecimento em questões básicas como gostos pessoais, formação em bacharel, datas de aniversário e preferências na cama, o que não condiz em nada com comédias românticas.

    Os grilos de Fábio são mostrados logo no início, ao sentir-se completamente inseguro pela vida abastada que o ex-namorado de Miá tinha. A pousada que serve para fundamentar o amor dos dois foi um dia o lugar onde o ex-casal se aninhou. A trama acompanha o casal convivendo com os funcionários do lugar, especialmente Wilson (Marcelo Valle) e Suzana (Inez Viana), um casal divorciado que conduz o estabelecimento, e que, de certa forma, é a contraparte futura dos protagonistas enquanto relação em crise.

    MeuPassado2

    O nome da série remete ao completo branco em relação à falta de conhecimento mútuo do casal. Apesar de bonitos, tanto Miá quanto Fábio são pessoas comuns e não donos de beleza estética inalcançável, o que ajuda a fazer um maior mergulho na intimidade das personagens, com o entorno tendo maior ingerência do que o roteiro de Tati Bernardi com auxílio de Leandro Muniz. O  drama é basicamente a exploração das inseguranças do personagem de Porchat.

    O básico dos  scripts é baseado no senso comum dos relacionamentos, normalmente tratando as mulheres como entes inseguras e ciumentas, enquanto os homens, toscos, fúteis, cujo interesse envolve basicamente luta, futebol e afins. A falta de densidade de ambos os personagens até funciona como comentário metalinguístico, para os trejeitos do humor mambembe e clichê.

    O formato sem graça serve para basicamente relembrar partes do passado das personagens, fazendo referência ao nome do programa. No entanto, a empatia que seria necessária para que o modus operandi do casal fizesse sentido não ocorre, já que a condição de tratamento do casal é subalterna para as  ridículas e repetitivas ocasiões que estão no pretérito de Fábio e Miá.

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    Após o filme, lançado em 2013, a série retornou para uma segunda temporada, levando o casal Miá e Fábio para uma casa próxima da Lapa, com a estranha coincidência da mudança de Wilson e Suzana para o lugar, abrindo um brechó nas redondezas da nova casa. A métrica continua a mesma, ainda que haja uma evolução leve por parte de Miá e Fábio, que passam a lidar melhor com as questões pretéritas.

    O modo como o roteiro de Tati Bernardi trata a segunda temporada abarca tanto as versões de histórias da primeira temporada, como também não nega a versão do filme de Julia Rezende. Os treze últimos episódios servem para mergulhar na intimidade sexual do casal, ainda que não haja um aprofundamento de fato, tampouco são feitas piadas que não ligadas ao conservadorismo.

    Meu Passado Me Condena consegue divertir a juventude que cresceu consumindo Zorra Total, Vai Que Cola e afins. É interessante para o público que não tem capacidade de interagir sequer com as comédias que pouco exigiam do espectador feitas pela MTV Brasil, com Marcelo Adnet e companhia, ainda que entre os dois atores principais aconteça uma química interessante, mais graças a Porchat, Mello e Rezende do que por conta dos produtores e do canal, ao menos, o seriado é um dos menos irritantes da antiga grade da Multishow.

  • Crítica | Meu Passado Me Condena 2

    Crítica | Meu Passado Me Condena 2

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    Como era de se esperar, a nova aventura de Miá e Fábio ocorre no exterior, como aconteceu com as sequências de Até Que A Sorte nos Separe, Qualquer Gato Vira Lata e De Pernas Por Ar, instaurando a tradição de Roberto Santucci para os produtos da Globo Filmes. O filme de Julia Rezende apresenta uma sobriedade maior que citados anteriormente, mas nada tão distante em termos de qualidade. Em Meu Passado me Condena 2, Miá Mello e Fábio Porchat convivem em crise conjugal, vivendo o cotidiano na mesmice com as típicas reclamações de quem está em um relacionamento fracassado, à beira de um iminente divórcio.

    A aventura começa na morte da avó de Fábio, obrigando o inquieto par a ir para Portugal para se despedir da falecida, além de reunir a possibilidade de um recomeço para ambos. As coincidências  da história anterior prosseguem ao encontrarem Wilson e Suzana, interpretados novamente por Marcelo Valle e Inez Viana, agora donos da funerária. Enquanto tais reencontros são naturais, o excessivo tempo em que o casal central está junto se agrava ainda mais pelo conflito entre cariocas e paulistanos. Somado as brigas corriqueiras, é notável a paixão menor do casal.

    Em cena, Porchat tem uma presença cômica muito marcante, explorando essencialmente seus próprios erros e dificuldades em se enquadrar no mundo dos adultos, quase sempre deslocado nos cenários urbanos e também rurais. O velho conflito de interesses esbarra no passado do rapaz, piorando com o flerte com Ritinha (Mafalda Pinto), antiga namorada e moradora da região, prometida a Álvaro (Ricardo Pereira). O conjunto de entreveros causa mais problemas matrimoniais.

    Os dois se entregam ao inevitável estigma do fracasso na relação, aceitando de bom grado as tentações que lhe parecem óbvias. Existe um estranho louvor as relações fracassadas, variando estre essa paradigma e alívio cômico com piadas físicas, com Porchat fazendo as vezes de Jerry Lewis, ao tentar esconder suas indiscrições sexuais e desventuras de infidelidade.

    A cafonice típica das comédias românticas está presente no desenrolar destas aventuras amorosas, produzindo diversas redenções e desculpas para traições e casos amorosos que escondem um machismo velado, apesar de algumas reviravoltas contradizerem esta posição. De qualquer maneira, há uma forte carga de culpa designada a mulher, como se o inferno da rotina fosse exclusivamente ligado ao comportamento feminino. O papel do homem acomodado na relação é levado como algo natural, temperado com fracas desculpas e argumentos piores, justificando a ideia de que não as relações não devem se modificar e que os pares devem prosseguir mesmo com defeitos.

    Apesar de toda essa vertente frívola, Meu Passado Me Condena 2 é mais engraçado que a história anterior e muito disso se deve ao esforço descomunal de Porchat em entregar um bom personagem nesta produção que também se destaca pela boa fotografia de Dante Belluti.

  • Crítica | Entre Abelhas

    Crítica | Entre Abelhas

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    Unindo grande parte dos que produzem o conteúdo para o canal de vídeos Porta dos Fundos, incluindo entre eles o diretor e corroteirista Ian SBF, além de grande parte do elenco, o longa Entre Abelhas remonta uma tragicômica jornada que discute causas sérias, apesar da face jocosa de seu principal astro, Fábio Porchat. O ator/comediante apresenta uma afetação poucas vezes vistas em sua extensa carreira, interpretando o melancólico – ao menos por momento – editor de vídeo Bruno, reforçando a aura de metalinguagem que permeia o roteiro.

    Bruno se vê em uma situação calamitosa com o fim de seu casamento com Regina (Giovana Lancellotti) e a recente mudança para o quartinho no apartamento de sua mãe (Irene Ravache), tendo toda a configuração de sua rotina mudada, apesar dos esforços contínuos de seus amigos mais próximos. Para piorar a situação, sua contraparte semi-fraterna é vivida por Marcos Veras, que interpreta Davi, uma figura quase tão pedante quanto a carreira do assistente de palco de Encontro.

    Em meio ao cenário caótico e depressivo que se tornou seu cotidiano, ocorrem eventos entrópicos, com lampejos de possíveis alucinações no dia a dia do rapaz. A câmera SBF o persegue, servindo como um stalker da situação, antevendo a questão que só seria revelada após muito tempo de tela, remetendo à solidão em que Bruno se meteria.

    Porchat consegue imprimir uma atuação inspirada, sendo vívida dentro das limitações do próprio artista, que se vale dos próprios esforços no roteiro para não se expor além do devido. Sua persona invoca um homem comum, que se vê em uma situação estranhíssima, fazendo alusão a alguns maus modernos, entre eles a depressão, a sensação de isolamento e agorafobia. Aos poucos, o profissional de áudio visual vê as pessoas sumindo com uma incidência cada vez maior, e isso faz com que entre em pânico, lançando mão de uma gama de prováveis soluções, alternativas das mais esdrúxulas.

    Os elementos visuais do roteiro ajudam a compor o belo quadro que se pinta. O uso contínuo do transporte público por parte do personagem, mesmo tendo ele um veículo, remete ao desespero por uma coletividade, o completo inverso da solidão que vive e que foi agravada pela nova “condição”. A sensação de que está em uma eterna transição também se manifesta através das caixas que ocupam a casa de sua mãe, nunca desfeitas, fruto da necessidade que têm de não aceitar seu novo estado conjugal.

    O desespero de Bruno é tanto que ele faz algo impensável, e começa a se consultar com um psicanalista, com o qual trata de contar cada possível trauma de sua vida, tudo obviamente em vão. A negação do óbvio não garante qualquer alívio a sua alma, pelo contrário, só piora o teatro agridoce a que se submete, fazendo de seu oikos um palco para figuras bizarras e grotescas, mesmo aqueles que o cercaram a vida inteira.

    Apesar da narrativa não usual, especialmente se comparada à carreira dos artistas, o filme corre bem. É curto e grosso em sua abordagem, mas transborda riqueza de detalhes em relação aos sentimentos, dissabores e emoções nele compreendidos. O final beira o inconclusivo. Mesmo diante da possibilidade de cura, o desfecho não consegue ser otimista, uma vez que a mostra de que alguma recuperação pode ocorrer se manifesta em uma pessoa que vende afeto, demonstrando a fala do psiquiatra de que o subconsciente de Bruno é quem escolhe quem some e quem fica, zerando todos os que não conseguem resolver sua carência. Diante das teorias, Entre Abelhas consegue ser cativante, empático e moderno, sem apelar para piadas fracas, nem pra maneirismos exagerados. Uma história tão comum que poderia ser verdadeira.